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Proteger 30% do planeta e aumentar a ajuda internacional à natureza são as propostas do projeto de acordo apresentado neste domingo (18) pela China na cúpula da ONU em Montreal, um texto que tenta responder à necessidade de ações urgentes para salvar a biodiversidade.

Os países devem aprovar na segunda-feira, com base nesta proposta, qual será o roteiro para a próxima década para travar a perda acelerada de espécies e a degradação dos ecossistemas.

A meta de proteger 30% das terras e dos mares do planeta até 2030, anunciada como ponto-chave dessas negociações, consta na proposta da China, que preside a cúpula.

Em uma tentativa de resolver a espinhosa questão financeira, a China também propõe arrecadar "pelo menos US$ 20 bilhões" em ajuda internacional anual até 2025 e "pelo menos US$ 30 bilhões até 2030".

Os países em desenvolvimento pedem US$ 100 bilhões por ano dos países ricos. Isso representa dez vezes a ajuda atual para a biodiversidade.

Após novas rodadas de intensas negociações, a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, disse estar "otimista" com as metas acordadas, mas afirmou que "provavelmente" terá que se chegar a um meio-termo entre os países em desenvolvimento e os ricos na questão do financiamento.

A Colômbia, um dos países com maior biodiversidade do mundo, insistiu em uma reestruturação do sistema multilateral de financiamento para incorporar a troca da dívida por serviços ambientais, proposta apoiada por vários países latino-americanos, mas que não está no texto preliminar.

"É uma fonte de financiamento que também poderia ser justiça climática e ambiental", afirmou.

O comissário europeu para o Meio Ambiente, Virginijus Sinkevicius, foi mais cauteloso, ao considerar que os valores de financiamento em discussão podem dificultar o consenso.

Mas "se tivermos outros países se comprometendo a atingir essas metas, como a China, acho que pode ser realista", disse ele a repórteres, pedindo que as nações árabes também façam sua parte.

- Compromisso "corajoso" -

"O rascunho do documento final da presidência chinesa é corajoso", disse a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Steffi Lemke. "Ao proteger a natureza, protegemos a nós mesmos."

Especialistas garantem que o chamado objetivo "30x30" é o equivalente para a natureza da meta histórica de 1,5°C para o aquecimento global definido no Acordo de Paris.

O acordo anterior, assinado no Japão em 2010, estabelecia esses números em 17% e 10%, respectivamente.

A proteção dos povos indígenas, guardiões de 80% da biodiversidade da Terra, também é mencionada, demanda amplamente reivindicada pelos representantes dessas comunidades na cúpula.

A proteção de 30% do planeta é "o maior compromisso da história com a conservação dos oceanos e da terra", disse Brian O'Donnell, diretor da ONG Campaign for Nature.

"A conservação nesta escala dá uma chance à natureza. Se aprovada, as perspectivas para leopardos, borboletas, tartarugas marinhas, florestas e populações melhorarão acentuadamente", acrescentou.

Já a ONG Avaaz considerou que a meta de 30% "não é suficientemente ambiciosa".

Essa cifra já foi atingida "de fato" devido ao trabalho "não reconhecido" dos povos indígenas e comunidades locais, destacou a ONG em um comunicado, no qual pediu a proteção de 50% do planeta.

Os cientistas alertam que o tempo é curto: 75% dos ecossistemas foram alterados pela atividade humana e mais de um milhão de espécies estão em risco de extinção.

Este acordo deve suceder ao plano de dez anos assinado em 2010, que não conseguiu atingir quase nenhum dos seus objetivos, falha atribuída à falta de mecanismos de monitoramento, algo que o atual projeto de acordo prevê.

Os detalhes dos cerca de vinte objetivos ainda estão em discussão, e é provável que as negociações se estendam para além do prazo desta segunda-feira, quando deve ser apresentado um documento final.

Funcionários de alto escalão que participaram de negociações cruciais da conferência de biodiversidade da ONU no Canadá disseram, neste sábado (17), que estavam confiantes em chegar a um acordo para salvar a natureza.

Observadores alertaram que as negociações da COP15 destinadas a selar um "pacto de paz pela natureza" corriam o risco de desmoronar devido a divergências sobre quanto os países ricos deveriam contribuir para salvar os ecossistemas das nações em desenvolvimento.

Mas o ministro do Meio Ambiente da China, país que preside a cúpula, disse neste sábado que estava "muito confiante" de que os delegados conseguiriam adotar uma estrutura comum de ação antes do final do evento, na segunda-feira.

"Estou muito confiante de que seremos capazes de manter nossas ambições e chegar a um consenso", afirmou Huang Rinqiu a repórteres.

Seu contraparte canadense, Steven Guilbeault, concordou: "Fizemos um progresso tremendo. Não sei quantos de nós pensávamos que conseguiríamos chegar lá", declarou.

As negociações irão oficialmente até 19 de dezembro, mas podem ser estendidas se necessário.

O que está em jogo no Canadá é o futuro do planeta e se a humanidade pode reverter a destruição do habitat, a poluição e a crise climática, que ameaçam a extinção de um milhão de espécies de plantas e animais.

O acordo resultante deve ser um roteiro para os países seguirem até 2030, depois que o último plano de 10 anos assinado no Japão não conseguiu atingir nenhum de seus objetivos, algo amplamente atribuído à falta de mecanismos para monitorar sua implementação.

As mais de 20 metas em debate incluem um compromisso fundamental de proteger 30% do espaço terrestre e marítimo, algo que se compara com o compromisso do Acordo de Paris de manter o aquecimento global no teto de 1,5°C.

- Dinheiro importa -

Além disso, os ministros buscam pactuar a redução dos subsídios agrícolas que destroem o meio ambiente, obrigar as empresas a monitorar e divulgar seus impactos sobre a biodiversidade e estabelecer políticas sobre espécies invasoras.

Os representantes das comunidades indígenas, que preservam 80% da biodiversidade, querem que o direito de administração de suas terras seja consagrado no acordo final.

A questão de quanto dinheiro os países ricos enviarão aos países em desenvolvimento, que abrigam a maior parte da biodiversidade do mundo, tornou-se um grande ponto de discórdia.

Os países em desenvolvimento dizem que as nações avançadas enriqueceram com a exploração de seus recursos e que é hora de pagarem para preservar os ecossistemas.

Vários países anunciaram novos compromissos, tanto na COP quanto anteriormente. A União Europeia prometeu 7 bilhões de euros até 2027, o dobro de seu compromisso anterior.

Mas esses compromissos ainda estão muito aquém do que os observadores dizem ser necessário e do que buscam os países em desenvolvimento.

O Brasil, em nome de um grande grupo de países em desenvolvimento, pede 100 bilhões de dólares por ano, dez vezes mais do que os recursos aportados atualmente.

Mais de 3 mil cientistas publicaram uma carta aberta pedindo ação imediata para impedir a destruição dos ecossistemas.

"Devemos isso a nós mesmos e às gerações futuras, não podemos esperar mais", disseram.

A COP15 contra a desertificação foi inaugurada nesta segunda-feira (9) em Abidjan, na Costa do Marfim, na presença de vários chefes de Estado africanos, para tentar agir contra a rápida degradação dos solos e responder à “emergência climática”.

Menos conhecida do que sua "irmã mais velha" sobre o clima, esta Conferência das Partes (COP) da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNAPCD, na sigla em inglês), que celebra sua 15ª edição, aborda questões cruciais. De acordo com a ONU, 40% das terras de todo mundo se degradaram.

"Nossa cúpula acontece em um contexto de emergência climática que impacta duramente nossas políticas de gestão de terras e agrava o fenômeno da seca", declarou o presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, durante a abertura da sessão, acompanhada presencialmente por nove chefes de Estado africanos.

"Nossos povos depositam muita esperança em nós. Não temos o direito de decepcioná-los. Vamos agir rápido, vamos agir juntos para dar uma nova vida às nossas terras!", acrescentou.

Durante a COP15, que vai até 20 de maio, os participantes vão tentar propor medidas concretas para frear a desertificação.

“Atenção especial será dada à restauração, até 2030, de 1 bilhão de hectares de terras degradadas, à perenidade do uso da terra diante das consequências da mudança climática e (...) aos riscos de catástrofes como as secas, as tempestades de areia e de poeira e os incêndios florestais", declarou a UNAPCD, em um comunicado.

Esses fenômenos afetam, notavelmente, o continente africano.

Também se prevê abordar o faraônico projeto da "Grande Muralha Verde", que buscará restaurar 100 milhões de hectares de terras áridas africanas, até 2030, em uma faixa de 8.000 km, indo do Senegal ao Djibuti.

A grande conferência sobre a biodiversidade do planeta, COP15, começa nesta segunda-feira (11) na China, com o objetivo de preservar a natureza da mudança climática e da ação humana, depois de uma década perdida em nível mundial.

A 15ª Conferência das Partes (COP) da Convenção sobre a Biodiversidade (CDB) das Nações Unidas acontece de forma virtual de 11 a 15 de outubro, após vários adiamentos provocados pela pandemia de coronavírus, meses antes das negociações presenciais que acontecerão em Kunming, no sudoeste da China, de 25 de abril a 8 de maio de 2022.

A COP15 serve de preâmbulo para a COP26 de Glasgow (Escócia), em novembro, onde a natureza também terá um espaço importante na luta contra a mudança climática.

Maior poluidor do planeta, a China buscou se posicionar, nos últimos anos, como líder mundial em questões ambientais, depois que Washington se retirou de seus compromissos climáticos durante o governo de Donald Trump (2017-2021).

A sessão online, que começa esta tarde, abordará os detalhes de um novo documento com metas para a proteção dos ecossistemas para 2030.

Em debate, está o plano "30/30", que visa a conceder "status" de proteção a 30% das terras e oceanos até 2030, medida apoiada por uma ampla coalizão de países, além do objetivo de eliminar os resíduos plásticos.

A China ainda não se comprometeu com o plano 30/30.

Cerca de um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção, devido à invasão humana de seus habitats, superexploração, poluição, disseminação de espécies invasoras e mudanças climáticas.

A CDB foi ratificada por 195 países e pela União Europeia (UE), mas não pelos Estados Unidos, maior poluidor histórico do mundo. Suas partes se reúnem a cada dois anos.

Na sexta-feira (8), a China disse que "dá alta prioridade à proteção da biodiversidade e ao estabelecimento de uma rede de áreas protegidas e parques nacionais".

Além disso, Pequim planeja apresentar uma "Declaração de Kunming" esta semana, que marcará as linhas de sua liderança ambiental.

As divisões persistem, porém, quanto às metas de ação urgente nas próximas décadas.

França e Costa Rica fazem parte de uma coalizão em apoio à iniciativa de declarar 30% dos oceanos e terras como áreas protegidas até 2030. No sentido contrário, Brasil e África do Sul se opõem ao apelo dos cientistas por ações mais ambiciosas na proteção da diversidade biológica.

Da mesma forma, o financiamento tem sido uma fonte de tensão, em um momento em que os países em desenvolvimento exortam as nações ricas a pagarem por sua transição ecológica.

As discussões sobre biodiversidade na COP15 são separadas da COP26, de maior visibilidade, que começará em novembro, em Glasgow, na Escócia, onde os líderes mundiais terão de enfrentar a crise climática.

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