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As deportações realizadas pelo Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) caíram para os níveis mais baixos da história da agência, apesar do fluxo de imigrantes cruzando a fronteira também ser recorde. No ano fiscal de 2021 - entre outubro de 2020 e setembro de 2021 - foram 59 mil deportações, bem menos do que as 185 mil do período anterior.

De acordo com estatísticas divulgadas na sexta-feira, o ICE realizou 74 mil prisões de imigrantes ilegais. Os números também representam uma queda significativa em relação aos anos anteriores e reflete a mudança na política de fiscalização do governo de Joe Biden, agora mais concentrado em deter pessoas com antecedentes criminais. Dos imigrantes presos, 49% tinham condenações criminais, disse o ICE.

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"Os agentes do ICE se concentram agora em casos que proporcionam maior impacto na aplicação da lei, mantendo nossos valores como país", disse Tae Johnson, diretor interino da agência, em comunicado. Fonte: Associated Press.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Conselho Nacional de Imigração (CNIg) revogou o próprio acordo, publicado no Diário Oficial de quarta-feira (22), que concedia residência aos migrantes dos países que fazem fronteira com o Brasil. A resolução permitia que essas pessoas ficassem no país por até dois anos, caso não pudessem obter residência através do Mercosul. Essa medida beneficiava principalmente os venezuelanos, que estão sendo deportados após entrar ilegalmente pela fronteira com Roraima.

O Ministério Público Federal, em parceria com ONGs de Direitos Humanos, reforçou que o acordo foi amplamente discutido e precisa ser colocado em prática. A requisição foi feita depois que órgãos ligados ao governo descobriram que os venezuelanos que entram ilegalmente no Brasil estavam trabalhando em condições precárias e transitando sem documentos, com receio de serem deportados.

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Outras organizações, que já haviam solicitado um acordo semelhante em janeiro, pediram explicações quanto à anulação do tratado. O Instituto Migrações e Direitos Humanos, a Cáritas, o Instituto Igarapé, a Missão Paz e a Fundação Avina sugeriram a criação de uma residência provisória para essas pessoas, a fim de evitar um problema social na região.

"Ao voltarmos atrás em uma decisão dessa magnitude, não só passamos uma mensagem equivocada sobre o nosso compromisso humanitário com os venezuelanos como mostramos que políticas que deveriam ser de Estado estão, na verdade, sujeitas a decisões monocráticas e injustificadas por parte dos órgãos competentes ", afirma Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas Direitos Humanos.

Soa a sirene na guarita de San Ysidro de Tijuana. Um agente da "Border Patrol" (Patrulha da Fronteira) avisa que traz 12 mexicanos, que veem o sonho americano se esvair em deportações que Donald Trump promete multiplicar se chegar à Casa Branca.

A maioria chega cabisbaixa, com seus poucos pertences em uma sacola de papel ou de tecido. Muitos nem sequer têm identificação.

- De onde você é? - Por que está próximo deste povo? - Você está trazendo grana?

Um agente mexicano abre o cadeado da porta e, da linha fronteiriça, verifica com várias perguntas se os deportados são realmente mexicanos.

Para ele fica mais fácil descobrir, pois consegue fazer alusões com "armadilhas" usando palavras como "pisto" ou "patojos", que somente na América Central significam dinheiro ou filhos.

Os doze são mexicanos, e, assim que cruzam uma simples porta de madeira, entram no centro de repatriação El Chaparral. "Bem-vindos à casa", anuncia um cartaz. "Goodbye, America" (Adeus, América), diz um dos deportados olhando para trás.

"Melhor que Trump ajude"

Em 2015, 30.000 mexicanos foram expulsos dos Estados Unidos por esta moderna guarita de Tijuana, vizinha a San Diego, Califórnia, que é uma das que mais recebeu deportados do total de 207.398, segundo números oficiais mexicanos.

Chegam a El Chaparral de crianças, adolescentes desacompanhados e grávidas a idosos. São migrantes sem documentos que apenas estavam pulando o muro, que passaram com documentos de outras pessoas na guarita, que saíram da prisão ou que chegaram desorientados porque já estavam há anos vivendo nos Estados Unidos.

Quando perguntados sobre as deportações maciças e o gigantesco muro prometidos por Trump, que na próxima semana será, ao que tudo indica, formalmente nomeado candidato republicano à Presidência, muitos o veem ainda longe ou não o conhecem.

Mas Juan Carlos, um jornaleiro de 35 anos de Sinaloa (norte), é pragmático: "Melhor que esse senhor ajude para que nos paguem melhor aqui e não tenhamos que ir para lá".

Com sua camiseta ainda empoeirada de se esconder no muro, Juan Carlos como o sanduíche que foi dado a ele pelo governo, aguarda na sala de espera do El Chaparral que lhe entreguem sua constância de repatriação junto com a outra dúzia de deportados.

Javil Cortez, um camponês que queria "ser alguém na vida" e melhorar as condições de seus quatro filhos no empobrecido Michoacán (oeste), quer retornar para casa, mas Juan Carlos não se dá por vencido.

"Ameaçaram me levar para a prisão caso eu voltasse, mas não vou cumprir o que prometi a eles. Eu vou voltar", assegura.

"Dreamers" que não se lembram do México

Ainda que a expulsão maciça de estrangeiros dos Estados Unidos tenha antecedentes na Grande Depressão ou na "Operation Wetback" de 1954, a forte onda migratória dos últimos 30 anos se traduziu também em milhões de deportações.

Não foi diferente durante o governo de Barack Obama que, entretanto, impulsionou uma ambiciosa reforma para dar a opção da cidadania a milhões de imigrantes, mas que acabou interrompida pelo Congresso em 2013.

Porém, a política migratória americana pode dar uma guinada se Donald Trump vencer a Presidência e cumprir sua promessa de deportar os 11 milhões de imigrantes dos Estados Unidos, a maioria mexicanos.

"Desde que me lembro, sempre houve este tipo anti-mexicano, a xenofobia. É um problema de grande ignorância sobre o porquê as pessoas migram", disse Nancy Landa, que aos 9 anos chegou com sua família a Los Angeles e, 20 anos depois, foi deportada por El Chaparral porque não tinha seus documentos dentro da lei.

Nancy se formou com honrarias em Administração de Empresas na Califórnia e fazia parte dos aproximadamente 2 milhões de "dreamers" (sonhadores), imigrantes que chegaram crianças aos Estados Unidos e que não puderam regularizar sua situação.

Assim como os pelo menos 200.000 "dreamers" mexicanos deportados desde 2009, Nancy chegou a um país que não conhecia, do qual não tinha documentos e que somente colocou travas a ela.

"É complicado, as pessoas notavam pelo meu espanhol que eu não sou daqui. Senti que existe um estigma contra uma pessoa que passou por uma deportação porque pensam que você tem antecedentes criminais", disse Nancy, que começou trabalhando em um Call Center para o qual era super-qualificada, mas onde valorizavam o seu inglês.

Muitas famílias foram separadas pela deportações e cidades fronteiriças como Tijuana acabaram tornando-se refúgios para os expulsos, que querem ficar mais próximos de seus parentes.

É o caso de Yolanda Varona, que em 2010 teve que deixar seus dois filhos nos Estados Unidos depois que as autoridades descobriram que ela havia morado 17 anos na Califórnia com um visto de turista já vencido.

Toda quinta-feira, esta mulher de 49 anos e fundadora do "Dreamer's Mom" (Mães dos Sonhadores) reúne em um pequeno salão pais e mães deportados, cujos filhos - muitos americanos - ficaram do outro lado. A ideia é falar, canalizar a dor e lutar para reverter essa situação.

Ninguém aqui quer ouvir falar de Trump.

"Eu acho que este senhor está doente. Nem todos os mexicanos são ladrões ou estupradores. Eu acho que nós temos ajudado os Estados Unidos a serem uma nação tão poderosa quanto são", reclama Yolanda.

O certo é que aproximadamente a metade dos estrangeiros deportados dos Estados Unidos é de criminosos, segundo números da Homeland Security.

Mauricio Hernández-Mata cumpriu pena por porte de armas e drogas, e foi deportado em 2010. Mas este mexicano de 34 anos, criado em San Diego, tem uma particularidade: lutou no exército americano no Afeganistão em 2004 e 2005.

"Tudo o que fiz, fiz de coração. Meus feitos e minhas ações devem ser levadas em consideração", pede Hernández, que agora está proibido de entrar no país pelo qual estava disposto a morrer.

Os Estados Unidos vão acelerar o processo de deportação de crianças da América Central, em uma tentativa de deter o aumento no número de menores desacompanhados que entram ilegalmente no país, disse ontem (25) o presidente Barack Obama aos líderes de Honduras, El Salvador e Guatemala durante encontro na Casa Branca.

Em declaração conjunta divulgada depois da reunião, os quatro presidentes anunciaram que pretendem elaborar um plano de ataque às causas da migração, entre as quais a violência e a ausência de oportunidades econômicas em países da América Central. Desde outubro, 57 mil crianças e adolescentes foram detidos depois de cruzar a fronteira com os EUA, o dobro dos casos registrados no ano anterior. A maioria vinha de Honduras, El Salvador, Guatemala e México.

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"Nosso objetivo é criar as condições que permitam aos cidadãos da América Central viver em comunidades seguras com acesso à educação, empregos e oportunidades de avanços sociais e econômicos", disseram os presidentes na declaração.

A expectativa de muitas famílias de que os menores consigam o status de refugiados nos EUA foi contida por Obama. Segundo ele, esse benefício é concedido sob critérios estritos, que não abrangem razões econômicas ou o fato de a pessoa viver em uma "má vizinhança" ou na pobreza.

"Pode haver algumas circunstâncias específicas nas quais uma família pode ser elegível para o status humanitário ou de refugiado", observou. Nesses casos, o pedido deve ser feito no país de origem e não depois de uma travessia "muito perigosa" da fronteira com os EUA.

O aumento no número de menores que entram ilegalmente no país sobrecarregou a imigração americana e gerou uma crise. Grande parte dessas crianças e adolescentes está em abrigos temporários, à espera de audiências com juízes. Nos termos da lei aprovada em 2008 para combater o tráfico de crianças, elas só podem ser deportadas depois de seus casos serem analisados pelo Judiciário.

Na véspera do encontro com Obama, os presidentes de Honduras, Juan Orlando Hernández, e da Guatemala, Otto Pérez Molina, afirmaram que os EUA também têm responsabilidade pela situação da América Central, por serem o maior consumidor das drogas que passam pela região e a principal fonte de armas e recursos usados pelas gangues locais.

Molina defendeu a adoção de um programa semelhante ao Plano Colômbia, no valor de US$ 2 bilhões, enquanto Hernández criticou a Iniciativa de Segurança para a América Central (Carsi, na sigla em inglês), anunciada pelos EUA em 2008.

Em documento divulgado depois do encontro, a Casa Branca disse que o governo americano vai liberar US$ 161,5 milhões este ano no âmbito do Carsi e mais US$ 130 milhões em ajuda bilateral a Honduras, El Salvador e Guatemala.

Outros US$ 300 milhões em ajuda emergencial foram pedidos ao Congresso há pouco mais de duas semanas. O presidente solicitou US$ 3,7 bilhões para enfrentar a crise. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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