O dia a dia de trabalho em shopping centers é mal visto por muitas pessoas, com “fama” de ambiente de pouca remuneração para um trabalho que é cansativo, extenuante, repleto de exigências e com poucos benefícios em retorno. Recentemente, muitos internautas compartilharam e debateram em meio a diversas opiniões distintas o relato de uma vendedora carioca que falava de rotinas com assédio moral e sexual, jornadas sem horário fixo, longas horas de pé e metas de venda quase inatingíveis das quais depende o recebimento das comissões que se integram ao salário fixo, que seria baixo.
Os últimos dias do ano, muito aguardados pelo comércio e mercado varejista para ampliar o faturamento com o crescimento das vendas de presentes de natal e ano novo, costumam ser bastante cheios para os funcionários de lojas de shopping centers, especialmente quando os estabelecimentos comerciais ampliam o horário de funcionamento próximo às festas de final de ano. Nesse cenário, o LeiaJá elaborou uma reportagem ouvindo pessoas que trabalham e trabalharam em lojas de shopping centers para entender como é, afinal, trabalhar neste segmento comercial e quais são as vantagens e desvantagens desse emprego.
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“Mas eu gostava”
Aline kathyllyn já trabalhou em uma loja de roupas em um shopping localizado na cidade do Recife durante mais de três anos e meio e atuava como assistente, ajudando os clientes no que eles precisavam a respeito dos produtos que estavam a venda. Aline, que também é cantora em bandas de brega, conta que, em dias comuns, trabalhava com jornadas de 7h20 por dia, com mais uma hora de intervalo para descanso e almoço, totalizando 8h20 de trabalho, sempre de pé. As folgas, segundo ela, eram no regime de seis dias de trabalho para uma folga, ganhando também um dia livre durante a semana se fosse trabalhar no domingo e um dia a mais de folga no mês caso trabalhasse em feriados.
Em dias de maior movimento em que a loja precisava, a carga horária podia ser aumentada em mais duas horas, totalizando uma jornada de trabalho com 10h20. Outra exigência dizia respeito à aparência, segundo Aline: era preciso estar usando farda, sempre maquiada e cabelos sempre arrumados. No entanto, ela destaca que não havia discriminação sobre cor ou volume dos cabelos dos funcionários, por exemplo.
A remuneração, de acordo com ela, era de R$ 1060, além das gratificações que dependiam de alcançar metas estabelecidas pela chefia. Sem meta, sem gratificação. Aline conta que se conseguisse bater completamente a meta durante seis meses, a gratificação era de 25% do salário, mas que o departamento tinha um volume de vendas muito grande e que com a queda do movimento trazida pela crise financeira, atingir a meta se tornava ainda mais difícil.
Perguntada sobre quais eram as maiores dificuldades, Aline explica que o mais difícil era lidar com pessoas, principalmente alguns dos clientes que, segundo ela, “já saem de casa com mal humor e descontam em qualquer pessoa”, e que a lidar com os chefes era tranquilo mesmo tendo momentos desagradáveis. Apesar disso, Aline afirma que mesmo sendo difícil, era um trabalho que lhe agradava. Segundo ela, era uma rotina “um pouco cansativa, mas eu gostava”.
“Sempre tem um jogo de cintura”
Angelle Weslanne atua em uma empresa que vende joias e semi-joias em um shopping localizado no município de Jaboatão dos Guararapes no setor de vendas e, segundo ela, seu papel é “manter meu setor de trabalho agradável para receber meus clientes”. Ela recebe R$ 1015 e uma comissão de 3% e cima do valor vendido e recebe premiações caso bata metas estabelecidas pela loja.
Angelle precisa trabalhar sempre com calçados pretos, maquiada, com farda e cabelos alinhados. Angelle trabalha de pé, mas segundo ela tem a oportunidade de se sentar também. Sobre o ambiente de trabalho nos shoppings, Angelle acredita que “quem faz o setor de trabalho também é você” e que “para um bom funcionário nunca vai existir ambiente ruim para se trabalhar”. Apesar disso, ela conta que já ouviu de amigos que trabalham em outras lojas de shoppings relatos de empresas que não reconhecem o serviço prestado pelos funcionários e também de salários muito baixos.
Perguntada sobre a existência de dificuldades para trabalhar com o público, ela explica que é um trabalho por vezes difícil, mas que há treinamento para desempenhá-lo sem maiores problemas. Segundo Angelle, “sempre existe em todos os lugares o cliente que quer tirar sua paz mas somos capacitados para saber lidar com todas as situações, a forma de falar é o ponto principal de um início de uma boa conversa e quem mais sabe se sair educadamente sou eu”.
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