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A Comissão Estadual da Verdade da Bahia entregou nesta segunda-feira (29) ao governador Jaques Wagner um relatório parcial sobre as violações a direitos humanos ocorridas no período de 1964 a 1985 no estado. São cerca de 300 páginas, indicando 538 pessoas vítimas da repressão política na Bahia. Dos 426 mortos ou desaparecidos, diz o relatório, 32 são baianos. Desses, dez foram mortos na Guerrilha do Araguaia.

No relatório, a comissão faz algumas sugestões. Dentre elas está a alteração da Lei de Anistia, para que não se considerem criminosos aqueles que reagiram à repressão dos militares. “Quem cometeu o crime foram as Forças Armadas, que derrubaram um governo constituído e endureceram o regime com a reação das pessoas que discordavam da ditadura”, disse o coordenador da Comissão Estadual da Verdade, Carlos Navarro, à Agência Brasil. “As pessoas que pegaram em armas para reagir à ditadura eram criminosas? Qual foi o crime do outro lado?”

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Navarro explicou ainda que o relatório sugere um projeto de lei “que previna e combata a tortura que ainda existe nos meios policiais” e pede a revisão do conceito do período entre 1964 e 1985 nas escolas de formação de praças. “O conceito nessas escolas é de exaltação à ditadura. Estamos sugerindo que se reavalie esses conceitos. Não é possível que essa exaltação à ditadura civil-militar continue”.

Navarro destacou também que sugeriu ao governador da Bahia que seja incluído na grade curricular das escolas do estado matérias sobre a memória desse período. “É uma forma de fazer chegar aos estudantes a ditadura. Hoje, o que eles têm é a informação oficial, dos militares”.

Jaques Wagner recebeu o documento e disse que as questões relativas ao relatório final da Comissão Nacional da Verdade, entregue este mês, estão sendo discutidas no Ministério da Defesa, pasta que ele vai assumir a partir de janeiro. “Vários temas já foram tratados pelo ministro Celso Amorim e, sem dúvida, essa parte terá uma continuidade, as consequências do relatório da Comissão Nacional da Verdade”.

A Comissão Estadual da Verdade da Bahia continuará seus trabalhos até a entrega do seu relatório final, em agosto de 2015. A comissão tentará esclarecer as mortes de dois jovens baianos, João Leonardo da Silva Rocha e Uirassu de Assis Batista, que foram enterrados sem que houvesse informações oficiais sobre eles.

Até o momento, foram feitas pesquisas em cerca de 700 documentos, além de 69 depoimentos, obtidos em audiências públicas ou individualmente. Segundo o coordenador da comissão, as Forças Armadas não colaboraram e alegaram que não se submetem a órgãos estaduais. A comissão, no entanto, vai continuar tentando um diálogo com os militares.

A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara vai discutir, nesta quarta-feira (24), o cumprimento da sentença que condenou o Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), sobre o desaparecimento forçado de 70 guerrilheiros no caso conhecido por "Guerilha do Araguaia”, com destaque para os pernambucanos Miguel Pereira dos Santos (Cazuza) e Antonio Ferreira Pinto (Antonio Alfaiate).

A conversa vai acontecer no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco, que recebe nesta semana a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento, em forma de debate, conta com a participação da diretora do Programa do Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) no Brasil, Beatriz Affonso, e Gilles Gomes, coordenador geral da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

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De acordo com Manoel Moraes, à frente das duas relatorias, o momento é importante, pois trata-se da primeira sessão para coleta de informações sobre pernambucanos mortos ou desaparecidos na região amazônica brasileira do Araguaia. “As participações de Beatriz Affonso, como representante do CEJIL e Gilles Gomes são essenciais para preencher as lacunas históricas que ainda existem nesse período e, especialmente, no que diz respeito à guerrilha”, explica Moraes. “A militância de Cazuza e Alfaiate está inserida na relatoria do PCdoB. A história de resistência à ditadura civil-militar e as consequências deste envolvimento transformaram-se em uma das denúncias que levou o Brasil a responder perante à CIDH pelo desaparecimento dos corpos dos guerrilheiros do Araguaia”, atenta Moraes.

Guerrilha do Araguaia -  Movimento guerrilheiro existente na região amazônica brasileira, ao longo do rio Araguaia, entre fins da década de 60 e a primeira metade da década de 70. Criada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha como o objetivo fomentar uma revolução socialista, a ser iniciada no campo, baseado nas experiências vitoriosas da Revolução Cubana e da Revolução Chinesa. O palco das operações de combate entre a guerrilha e o Exército se deu onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam fronteira.

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