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O Brasil notificou na terça-feira, 31, seu primeiro caso "provável" da hepatite misteriosa de origem desconhecida, que tem infectado crianças e adolescentes ao redor do mundo. O País ainda não tem um paciente com diagnóstico confirmado da doença e ainda investiga outros 68 suspeitos, em 16 Estados, a maioria deles no Sudeste.

Ao todo, 95 casos suspeitos da "hepatite misteriosa" foram notificados em território nacional, dos quais 26 foram descartados. O diagnóstico "provável" foi feito na última sexta-feira, 27, mediante avaliação dos resultados laboratoriais de uma adolescente de 16 anos, em Ponta Porã, no interior do Mato Grosso do Sul.

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Desde 3 de maio, a adolescente apresentou sintomas como febre, icterícia, mal-estar e náuseas. Uma semana depois, ela foi internada e os resultados dos testes deram negativo para as hepatites A, B, C, D e E, assim como para arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela). Ela foi encaminhada para a recuperação em casa e segue acompanhada pela vigilância em saúde e assistência, que ainda tentam esclarecer a origem da doença.

De acordo com a cartilha estabelecida pelo Ministério da Saúde, um caso é classificado como "provável" para a nova doença quando apresenta quadro de hepatite aguda com resultados laboratoriais negativos para as hepatites virais A, B, C, D, E; para arboviroses; e sem causa de origem não-infecciosa que justifique o quadro.

Até o último dia 26, a Organização Mundial da Saúde havia identificado 650 casos prováveis da nova hepatite, espalhados em 33 países. Desses, nove morreram.

Abaixo, veja a quantidade de casos em cada Estado que ainda seguem em análise:

SP (16)

MG (9)

PE (7)

RJ (7)

CE (6)

RS (5)

GO (3)

ES (2)

PR (2)

SC (3)

AL (1)

RN (2)

PA (2)

RO (1)

MA (1)

PB (1)

Relação entre hepatite e coronavírus

A origem desse novo tipo de hepatite ainda não foi identificada, mas começa a crescer a quantidade de evidências que a relacione com o avanço do coronavírus entre crianças e adolescentes. Um estudo divulgado na Lancet levantou a hipótese de que a causa poderia ser uma espécie de mistura entre as duas doenças.

"Inicialmente achou-se que o adenovírus seria a causa das hepatites agudas, mas o fato é que ele não aparecia em todos os casos", explicou o infectologista Marcelo Simão, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas. "Em muitas crianças que apresentaram quadros graves não foi possível isolar o vírus; e em algumas na qual foi feito um transplante não se achou o vírus no fígado retirado."

Partículas remanescentes do Sars-CoV-2 no trato intestinal das crianças estariam servindo de gatilho para uma reação exagerada no sistema imunológico a uma infecção posterior pelo adenovírus 41F. A proteína spike do coronavírus é considerada um superantígeno. Ela torna o sistema imunológico mais sensível. Potencializaria o efeito do adenovírus 41F. Normalmente, esse vírus não provoca problemas mais graves. (Colaborou Roberta Jansen)

Um tipo misterioso de hepatite aguda tem despertado a atenção de autoridades de saúde de diferentes países do mundo ao longo das últimas semanas. A doença, que atinge crianças e já é investigada até no Brasil, não é ocasionada por nenhum dos vírus conhecidos da hepatite (A, B, C, D e E) e pode ter entre as suas causas uma relação ainda não esclarecida entre a covid-19 e um tipo de adenovírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou até esta semana 348 casos da doença. A maioria das crianças apresentou sintomas gastrointestinais, icterícia e, em alguns casos, falência aguda do fígado e um quadro que acabou levando à morte.

O Ministério da Saúde criou uma sala de situação para monitorar 41 eventos suspeitos de hepatite aguda de origem desconhecida registrados até agora em território nacional. Entre eles está o de uma adolescente de 14 anos, de Ibimirim, sertão de Pernambuco, que foi hospitalizada em coma e precisou passar por transplante de fígado de emergência na sexta. Com esse, são seis os casos suspeitos da doença apenas em Pernambuco.

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A primeira hipótese foi levantada por autoridades de saúde do Reino Unido. Lá, os primeiros casos foram registrados e tratava-se de uma hepatite causada por um adenovírus. Estudos mostraram que até 70% dos doentes testaram positivo para o adenovírus 41F. Ele afeta mais crianças, jovens e pessoas imunossuprimidas. Provoca resfriado ou problemas intestinais.

"Inicialmente achou-se que o adenovírus seria a causa das hepatites agudas, mas o fato é que ele não aparecia em todos os casos", explicou o infectologista Marcelo Simão, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas. "Em muitas crianças que apresentaram quadros graves não foi possível isolar o vírus; e em algumas na qual foi feito um transplante não se achou o vírus no fígado retirado."

Especialistas notaram também que muitas crianças tinham tido covid-19 antes da hepatite aguda. Um estudo publicado na Lancet na semana passada propôs, então, nova hipótese. Segundo o trabalho, uma combinação entre as duas infecções estaria provocando a doença hepática aguda.Partículas remanescentes do Sars-CoV-2 no trato intestinal das crianças estariam servindo de gatilho para uma reação exagerada no sistema imunológico a uma infecção posterior pelo adenovírus 41F. A proteína spike do coronavírus é considerada um superantígeno. Ela torna o sistema imunológico mais sensível. Assim, potencializaria o efeito do adenovírus 41F. Normalmente, esse vírus não provoca problemas mais graves.

A reação seria similar à provocada na Síndrome Inflamatória Multissistêmica. Essa condição foi identificada em crianças com covid longa. Nesses casos, há uma ativação anormal do sistema imunológico por causa do superantígeno. Ele desencadeia uma reação autoimune extremamente inflamatória. Uma eventual exposição posterior a um adenovírus poderia provocar uma reação ainda mais forte do organismo. É o que pode estar acontecendo nos casos de hepatite aguda.

"A hipótese mais aceita atualmente é de que essa hepatite está sendo provocada por uma reação imunológica exagerada causada pela combinação desses dois vírus que acaba por agredir o fígado", disse Simão, cujo nome integra a lista da Universidade de Stanford, nos EUA, dos cientistas mais influentes do mundo. "Por que o fígado? Ainda não sabemos."

VARIAÇÃO

Outra questão ainda não esclarecida, segundo Simão, é por que os casos de hepatite aguda só começaram a ser notados agora, dois anos depois do início da pandemia. Uma explicação possível estaria relacionada à variante do Sars-CoV-2 atualmente em circulação.

Para o presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaez Brito, a hipótese da combinação dos dois vírus é, atualmente, a mais provável para explicar os casos de hepatite aguda em crianças, embora ainda não esteja fechada.

"O que acontece de diferente neste momento atual da nossa vida é que estamos sofrendo a modulação contínua de uma pandemia", disse Brito. "Somos bombardeados minuto a minuto por um agente infeccioso circulando em uma magnitude gigantesca; qualquer coisa nova que apareça pode ter relação com isso."

Dados da OMS e de estudos feitos em Israel, Estados Unidos e Índia reforçam a hipótese. O trabalho israelense, coordenado por Yael Mozer Glassberg, do Centro Médico Infantil Schneider, mostrou que 11 de 12 crianças que tiveram a hepatite tinham tido covid-19. Nenhuma delas, porém, testou positivo para o adenovírus.

A OMS Europa apontou em um relatório divulgado neste mês que até 70% das crianças com menos de 16 anos que desenvolveram a hepatite aguda tiveram diagnóstico de covid-19 anteriormente. Além disso, explicaram especialistas, outras crianças podem ter tido a doença de forma branda ou mesmo assintomática; ou seja, sem um diagnóstico oficial.

Um trabalho feito nos Estados Unidos e publicado em Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition analisou o caso de uma menina de 3 anos. A garota apresentou falência hepática alguns dias depois de se recuperar de uma covid branda.

"As descobertas da biópsia do fígado e de exames de sangue da paciente são compatíveis com um tipo de hepatite autoimune que pode ter sido deflagrada pela covid", explicou a pediatra Anna Peters, gastroenterologista do Centro Médico do Hospital de Crianças de Cincinnati, nos EUA, responsável pelo estudo, ao comentar o trabalho.

Segundo a especialista, é impossível provar a existência de um vínculo direto entre a covid e a doença hepática. Mas o vírus pode ter deflagrado uma resposta imune anormal. Ela seria geradora do ataque ao fígado.

Um levantamento feito na Índia no ano passado acompanhou 475 crianças que tiveram covid no país. Delas, 47 apresentaram hepatite aguda. Recentemente, com os novos casos surgidos na Europa e nos EUA, pesquisadores se voltaram a esse estudo indiano de 2021.

"O único fator em comum que achamos entre essas crianças foi que todas tinham sido infectadas pela covid", disse o principal autor do estudo, Sumit Rawat, professor associado da Escola de Medicina de Bundelkhand, em Madhya Pradesh, na Índia, em entrevista para agências internacionais. "Provar que a covid está de fato provocando essa hepatite vai demandar ainda muito estudo, mas uma pista importante é que os casos da hepatite caíram quando o Sars-CoV-2 deixou de circular na região e voltaram a subir quando a covid estava em alta."

NADA COM VACINA

A ligação entre os casos de hepatite aguda e a vacina contra a covid, no entanto, foi totalmente descartada. Não há relação direta entre a vacinação e a hepatite. Além disso, a maioria das crianças que apresentaram o quadro agudo de hepatite tinha menos de 5 anos. Ou seja, elas não haviam sido imunizadas contra a covid.

Especialistas acreditam que novas pandemias de vírus emergentes - e seus eventuais desdobramentos -- devem se tornar cada vez mais comuns, por causa do impacto do homem no meio ambiente e no clima. "Estamos vivendo em um mundo complicado, com muitas doenças novas, muitos vírus novos; bactérias às quais não dávamos importância estão agora causando enfermidades graves", disse Simões. "Apesar dos avanços tecnológicos, os desafios são cada vez maiores."

José David Urbaez Brito lembrou que, não por acaso, vivemos no chamado período antropoceno. É a primeira vez que um ser vivo, no caso o homem, alterou de maneira tão profunda e muitas vezes irreversível o seu meio ambiente até que passou a dar nome a uma era geológica. "O homem alterou cadeias geológicas e ecológicas, aumentou a temperatura global de forma perceptível, provocando um impacto profundo na dinâmica dos agentes infecciosos, notadamente dos vírus, que são formas muito simples", disse Brito. "As narrativas têm o poder de racionalizar o que acontece, nos deixando alienados; mas, a verdade é que vivemos um momento apocalíptico de dimensões gigantescas, e a atual pandemia é um sintoma disso."

O Ministério da Saúde monitora pelo menos 16 casos suspeitos de hepatite infantil misteriosa no Brasil, segundo informou o governo nesta segunda-feira (9). Conforme a pasta, os pacientes são monitorados no Estado de São Paulo (6), Rio (5), Paraná (2), Espírito Santo (1), Santa Catarina (1) e Pernambuco (1). A Secretaria da Saúde paulista reporta um caso suspeito a mais: sete.

Há confirmação da doença, cuja origem ainda é desconhecida, em mais de 20 países. Esse tipo específico da hepatite infantil, em 10% dos doentes, pode exigir transplante de fígado e até matar.

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Em São Paulo, os registros foram na capital paulista e nos municípios de São José dos Campos e Fernandópolis. Todos são crianças, dois estão internados, e os demais "evoluem bem", de acordo com o órgão estadual.

O Rio de Janeiro, segundo Estado com mais ocorrências, investiga nesta segunda-feira seis pacientes suspeitos que variam dos dois meses aos oito anos de idade. A contagem do órgão estadual considera um paciente a mais do que a do Ministério da Saúde. A maior concentração dos casos está na capital (três casos), enquanto os outros foram registrados em Araruama, Niterói e Maricá, onde um bebê de oito meses morreu e segue em análise das autoridades, que ainda tentam estabelecer a causa do óbito.

"Estamos acompanhando a evolução da doença no mundo e monitorando junto às vigilâncias municipais os registros de casos suspeitos no estado. O alerta é justamente para que esses pacientes possam ser acompanhados e monitorados de forma correta", afirmou o Alexandre Chieppe, secretário estadual de Saúde, que também pediu atenção de pais e responsáveis aos sintomas. "Se houver qualquer suspeita, elas devem ser imediatamente levadas a um serviço de saúde para que possam ser diagnosticadas e tratadas."

No Paraná, três casos suspeitos da doença foram acompanhados nos últimos dias pelas autoridades de saúde e vigilância sanitária, sendo que um deles já foi descartado. Os outros dois pacientes são meninos entre 8 e 12 anos, e seguem em observação. A Secretaria da Saúde do Paraná, afirmou, em nota que tem "organizado o fluxo de vigilância e o apoio laboratorial", assim como "capacitado os serviços de saúde sobre a doença". A pasta também emitiu nota técnica sobre os sintomas e orientou a rede de vigilância epidemiológica.

Em Itajaí, no interior de Santa Catarina, uma criança de sete anos segue em observação desde que deu entrada no Hospital Pequeno Anjo na última quarta-feira, 4. Ela apresentou quadro de hepatite aguda (inflamação do fígado), icterícia (pele e olhos amarelados), náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, além de aumento das transaminases (enzimas hepáticas). Após o atendimento, recebeu alta hospitalar e segue em acompanhamento ambulatorial.

Ainda não há caso confirmado da nova hepatite aguda e "misteriosa" no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença já foi registrada em mais de 300 pessoas no mundo, a maioria crianças, e sua origem ainda é desconhecida. A entidade afirma ainda investigar a origem e as causas da doença, incluindo as possibilidades de elo com o adenovírus e o novo coronavírus. A OMS descarta, porém, relação com as vacinas contra a Covid-19.

O que se sabe sobre a doença?

Segundo a OMS, a hepatite é uma inflamação que atinge o fígado causada por uma variedade de vírus infecciosos (hepatite viral) e agentes não-infecciosos. A infecção pode levar a uma série de problemas de saúde, que podem ser fatais. Os vírus comuns que causam hepatite viral aguda (vírus da hepatite A, B, C, D e E) não foram detectados em nenhum dos casos confirmados até agora, além de sua manifestação súbita e grave em crianças saudáveis ser considerada incomum.

Os sintomas dessa hepatite aguda são em sua maioria gastrointestinais e incluem dor abdominal, diarreia, vômitos e aumento dos níveis de enzimas hepáticas, além de icterícia (pele e/ou olhos com cor amarelada) e ausência de febre. Como a origem da doença ainda é desconhecida, o tratamento por enquanto se restringe a aliviar os sintomas, manejar e estabilizar o paciente, se o caso for grave.

Embora a síndrome atinja pacientes de até 16 anos de idade, a maioria dos casos está na faixa de 2 a 5 anos. O quadro das crianças europeias é de infecção aguda e a maior parte delas não havia se vacinado contra o coronavírus, o que descarta a princípio algum tipo de relação entre a doença e a imunização.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), uma forma de prevenção contra a hepatite é seguir as medidas básicas de higiene, que incluem lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar. A prática também pode proteger contra a transmissão do adenovírus, um vírus comum que pode causar sintomas respiratórios, vômitos e diarreia. Sua presença foi identificada nas crianças afetadas, mas a ligação entre as duas doenças ainda segue em investigação.

O Ministério da Saúde afirmou nesta sexta-feira (6) que monitora sete casos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida, sendo três no Paraná, e quatro no Rio de Janeiro. A origem da infecção registrada em crianças ainda é desconhecida, mas sabe-se que ela pode desencadear uma série de problemas, incluindo a necessidade de transplante de fígado, e que pode ser fatal.

A pasta informou ainda que os Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) monitoram junto a Rede Nacional de Vigilância Hospitalar qualquer alteração do perfil epidemiológico, bem como a detecção de casos suspeitos da doença, e orienta aos profissionais de saúde e da Rede Nacional de Vigilância, Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública do Sistema Único de Saúde (VigiAR-SUS) que suspeitas sejam notificadas imediatamente.

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Na quinta-feira, 5, o governo da Argentina notificou a confirmação do primeiro caso da doença na América Latina, em um menino de oito anos. Em seguida, o Panamá também confirmou um caso no País. Até então, apenas os Estados Unidos e a Europa haviam confirmado casos da infecção.

Até o dia 3 de maio, mais de 200 casos foram registrados em 20 países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo a grande maioria deles no Reino Unido, primeiro país a reportar a doença. Já houve pelo menos quatro mortes - uma confirmada pelas autoridades britânicas e três pela Indonésia.

Segundo a OMS, a hepatite é uma inflamação que atinge o fígado causada por uma variedade de vírus infecciosos (hepatite viral) e agentes não infecciosos. A infecção pode levar a uma série de problemas de saúde, que podem ser fatais. Os vírus comuns que causam hepatite viral aguda (vírus da hepatite A, B, C, D e E) não foram detectados em nenhum desses casos.

Embora a síndrome atinja pacientes de até 16 anos de idade, a maioria dos casos está na faixa de 2 a 5 anos. O quadro das crianças europeias é de infecção aguda. Muitos apresentam icterícia, que, por vezes, é precedida por sintomas gastrointestinais - incluindo dor abdominal, diarreia e vômitos -, principalmente em pequenos de até 10 anos. A maioria dos casos não apresentou febre.

Em caso de suspeita, recomenda-se fazer testes de sangue (com experiência inicial de que o sangue total é mais sensível que o soro), soro, urina, fezes e amostras respiratórias, bem como amostras de biópsia hepática (quando disponíveis), com caracterização adicional do vírus, incluindo sequenciamento.

Vale reforçar que medidas simples de prevenção para adenovírus e outras infecções comuns envolvem lavagem regular das mãos e higiene respiratória.

Especialistas acreditam que o agente causador da doença seja um adenovírus que é transmitido por contato ou pelo ar. Embora seja atualmente uma hipótese como causa subjacente, ele não explica totalmente a gravidade do quadro clínico. A infecção com adenovírus tipo 41, o tipo de adenovírus implicado, não foi previamente associada a tal apresentação clínica.

Os adenovírus são patógenos - organismos que são capazes de causar doença em um hospedeiro - comuns que geralmente causam infecções autolimitadas. Eles se espalham de pessoa para pessoa e mais comumente causam doenças respiratórias, mas dependendo do tipo, também podem causar outras doenças, como gastroenterite (inflamação do estômago ou intestinos), conjuntivite (olho rosa) e cistite (infecção da bexiga).

Segundo a OMS, há mais de 50 tipos de adenovírus imunologicamente distintos que podem causar infecções em humanos. O adenovírus tipo 41 geralmente se apresenta como diarreia, vômito e febre, muitas vezes acompanhados de sintomas respiratórios. O potencial surgimento de um novo adenovírus ainda está sendo investigado. Outra hipótese é de que haja alguma relação com o novo coronavírus. A possibilidade de ser um efeito adverso da vacina contra a covid-19, no entanto, foi descartada, uma vez que grande parte dos pacientes britânicos não haviam tomado o imunizante.

Setenta e quatro casos de hepatite aguda foram descobertos em crianças do Reino Unido até o dia 8 de abril, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). De lá para cá, os registros têm crescido na Europa e nos Estados Unidos. A origem da infecção, no entanto, ainda é uma incógnita e está sendo apurada.

Por ora, a OMS não orienta restringir viagens aos países com casos da doença e destaca que a prioridade no momento é encontrar a causa dos quadros. A preocupação se deve ao fato de que a infecção pode levar a uma série de problemas de saúde, que podem ser fatais.

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O que é hepatite?

Conforme a OMS, a hepatite é uma inflamação que atinge o fígado causada por uma variedade de vírus infecciosos (hepatite viral) e agentes não infecciosos. A infecção pode levar a uma série de problemas de saúde, que podem ser fatais. Existem cinco cepas do vírus da hepatite: A, B, C, D e E.

Embora todas causem doença hepática, tem modos de transmissão, gravidade, distribuição geográfica e métodos preventivos diversos entre si. Os vírus B e C, diz a OMS, causam doenças crônicas em milhões de pessoas e, juntos, são a principal causa de cirrose hepática, câncer de fígado e mortes relacionadas à hepatite viral. Estima-se que 354 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com hepatite B ou C. A maioria não acessa testes e tratamentos.

De acordo com a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês), os sintomas mais comuns da doença são: urina escura; fezes brancas ou acinzentadas; comichão na pele; olhos e pele amarelados (icterícia); dores musculares e nas articulações; cansaço; perda de apetite; dores de barriga.

Qual a causa da hepatite aguda que aflige crianças do Reino Unido?

Essa é a chave da questão. Por mais que profissionais de saúde e agências do Reino Unido estudem os casos desde janeiro, ainda não encontraram a etiologia dos quadros. De acordo com a OMS, nos casos do Reino Unido, testes laboratoriais descartaram os vírus da hepatite A, B, C, D e E.

Entre os casos do Reino Unido, muitos apresentavam infecção por adenovírus (família de vírus comuns que, em geral, causam doenças leves) ou pelo vírus causador da covid-19, disse a OMS. Recentemente, houve aumento na atividade dos adenovírus na região, que cocirculam com o SARS-CoV-2.

Por mais que sejam investigados como causas potenciais, o papel desses vírus na patogênese (mecanismo pelo qual a doença se desenvolve) ainda não está claro. Nenhum outro fator de risco epidemiológico foi identificado, incluindo viagens internacionais recentes. A UKHSA informou não haver vínculo com a vacina contra covid - nenhum dos casos confirmados recebeu imunizante.

Nesta semana, equipes do Reino Unido divulgaram que um agente infeccioso é a causa mais provável do problema, mas um diagnóstico completo ainda está em investigação pelas autoridades locais.

Quais os sintomas que as crianças do Reino Unido têm apresentado?

O quadro das crianças europeias é de infecção aguda. Muitos apresentam icterícia, que, por vezes, é precedida por sintomas gastrointestinais, principalmente em pequenos até 10 anos.

Qual a idade dos pacientes?

A síndrome atinge pacientes de até 16 anos de idade. A maioria dos casos está na faixa de 2 a 5 anos.

Alguma morte já foi registrada?

Alguns dos pacientes precisaram ser transferidos para unidades especializadas de fígado infantil e seis precisaram de transplante. Nenhuma morte foi registrada até 11 de abril.

Em que países há casos?

Dos casos confirmados, 49 são da Inglaterra, 13 da Escócia e os demais do País de Gales e da Irlanda do Norte, conforme as autoridades do Reino Unido. Após o alerta do Reino Unido, Irlanda, Holanda, Dinamarca e Espanha também notificaram casos confirmados e suspeitos à OMS. Eles ainda estão sob investigação. Autoridades dos Estados Unidos também relataram casos.

Como esses países têm respondido aos casos?

Conforme a OMS, medidas clínicas e de saúde pública foram adotadas no Reino Unido, a fim de coordenar a identificação de casos e de investigar a etiologia da doença. As autoridades estudam o histórico de exposição dos pacientes, aplicam testes toxicológicos e virológicos/microbiológicos. Na Irlanda e na Espanha, as medidas também foram aplicadas

Como prevenir?

Mesmo sem causa identificada, em nota, a diretora de Infecções Clínicas e Emergentes da UKHSA, Meera Chand deu algumas orientações aos pais e responsáveis. "Medidas convencionais de higiene, como boa lavagem das mãos e higiene respiratória, ajudam a reduzir a propagação de muitas das infecções que estamos investigando." Ela também pediu para que fiquem atentos a sinais de hepatite e contatem profissionais de saúde.

Quais foram as orientações da OMS?

Segundo a OMS, como há tendência crescente de casos desde o mês passado no Reino Unido, além de busca extensa, é provável que ocorram mais confirmações antes que a etiologia (causa) seja identificada. A organização encorajou países a identificarem, investigarem e notificarem casos potenciais. Com base nas informações obtidas até agora, a organização recomendou não restringir viagens a países com casos confirmados. Mas destacou que está monitorando o cenário.

Há casos suspeitos no Brasil?

Conforme o alerta emitido pela OMS ainda não há casos confirmados fora da Europa. No entanto, a organização pediu atenção de todos os países-membros. O Estadão fez contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e com o Ministério da Saúde, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

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