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O currículo acadêmico apresentado pelo desembargador Kassio Nunes Marques, indicado de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), traz um curso de pós-graduação que não é confirmado pela Universidad de La Coruña, na Espanha. Nos últimos dias, o Estadão consultou universidades citadas no currículo apresentado por Marques sobre os cursos que ele afirma ter feito.

No documento que enviou ao Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), e publicado no site da Corte, Marques menciona que concluiu pós-graduação em "Contratación Pública", pela Universidad de La Coruña. A instituição, porém, ao ser questionada pela reportagem, informou que não oferece nenhuma pós-graduação deste curso. "Informamos que a Universidade de La Coruña não ministrou nenhum curso de pós-graduação com o nome de Postgrado en Contratación Pública", declarou a universidade, em resposta ao Estadão.

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Ao ser questionada diretamente se Kassio Marques participou, ao menos, de alguma atividade com o nome de "Contratación Pública", a Universidade enviou uma cópia de um certificado de Marques, mostrando que o desembargador participou apenas de um curso de quatro dias, entre 1 e 5 de setembro de 2014. "Kassio Nunes Marques participou como ouvinte do "I Curso Euro-Brasileiro de Compras Públicas’, organizado pela Universidade da Coruña, o Programa Ibero-Americano de Doutorado de Direito Administrativo, a Rede Ibero-americana de Compras Públicas, o Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos de Infraestrutura e Grupo de Pesquisa de Direito Público Global, realizado na Escola de Direito da Corunha entre 1 e 5 de setembro de 2014", informa o certificado.

Os questionamentos ao currículo já chegaram ao conhecimento de Kassio Marques. Na audiência virtual que teve nessa terça-feira (6), com sete senadores, o desembargador chegou a fazer comentários aos parlamentares sobre os cursos de pós-graduação. Segundo um senador presente na reunião, o desembargador teria demonstrado preocupação com a repercussão que esse tema poderia ganhar, mas disse aos senadores que, caso ocorresse qualquer polêmica, ele já tinha as justificativas. Em dado momento, Marques chegou a mencionar, inclusive, que não há exigência de formação em Direito para que alguém assuma o posto de ministro do STF, mas sim reputação ilibada.

O currículo de Marques cita também dois cursos de pós-graduação feitos na Universidade de Salamanca, na Espanha: o primeiro, um doutorado em Direito, com especialização em Administração, Fazenda e Justiça; o segundo, um pós-doutorado em Direitos Humanos. Questionada pela reportagem, a universidade afirmou que as informações públicas de alunos estão disponíveis no site da instituição. O doutorado aparece, de fato, na página da universidade - com um detalhe: a tese foi defendida há apenas 11 dias, em 25 de setembro. O pós-doutorado em Direitos Humanos, no entanto, não consta no banco de dados públicos da Universidade de Salamanca.

Mais um curso de pós-doutorado consta no currículo de Kassio Marques, o de Direito Constitucional, pela Universidade de Messina (Universitá Degli Studi di Messina), na Itália. Questionada pela reportagem há quatro dias, a universidade ainda não respondeu sobre a atuação do desembargador neste curso.

Chama ainda a atenção o fato de Kassio Marques, com 48 anos de idade, ter concluído o doutorado apenas 11 dias atrás e já possuir dois pós-doutorados consumados em sua carreira acadêmica. O desembargador também não faz uso de um instrumento regularmente utilizado para comprovar a experiência acadêmica, o currículo Lattes, ferramenta básica usada para atestar, com detalhes, a formação e vida acadêmica.

No Brasil, Kassio Marques informou, em seu currículo, que possui mais uma pós-graduação, dessa vez em Ciências Jurídicas, pela Faculdade Maranhense - MA. A reportagem não localizou nenhuma instituição de ensino superior com esse nome que ofereça essa pós-graduação. A Faculdade Maranhense (FAM), contatada pela reportagem, informou que não tem cursos relacionados ao Direito. A Faculdade Maranhense São José dos Cocais, contatada pela reportagem nesta segunda-feira, 6, ainda não respondeu se o curso é ofertado e ou se Kassio Marques foi aluno da instituição.

Com relação à graduação de Marques, em Direito, pela Universidade Federal do Piauí, a universidade confirmou que ele finalizou o curso em 1994 e disse que ele teve obteve Índice de Rendimento Acadêmico de 8.3704 pontos, "sem qualquer registro que desabone sua conduta acadêmica".

Cada uma dessas informações foram enviadas, por meio de mensagens, a Kassio Marques, pedindo esclarecimentos sobre os cursos citados, ano e tempo de duração. Até o momento, não houve nenhuma resposta. O Estadão enviou as mesmas perguntas ao TRF-1 nesta terça-feira. A assessoria de imprensa do tribunal informou que "não está autorizada a falar em nome do desembargador federal Kassio Marques, que, por ora, não está respondendo às demandas da imprensa". O TRF declarou que, conforme informado pelo gabinete do magistrado, o currículo oficial atualizado está disponível no portal do tribunal.

Nesta terça-feira, durante visita a senadores no Congresso, Kassio Marques chegou a lembrar que a formação acadêmica, de fato, não seria um fator decisório na escolha de um ministro do STF. Ao comentar sua postura de defesa contra a corrupção, ele afirmou que "ficaria perplexo se fosse indicado qualquer cidadão brasileiro, seja ele advogado, magistrado, ou outro cidadão, pois a Constituição não exige que seja sequer bacharel em Direito para ser ministro do Supremo Tribunal Federal, que fosse contra o combate à corrupção".

De fato, não é preciso ser formado em Direito para ser ministro do STF. O requisito do "notável saber jurídico", conforme previsto em lei, pode ser alcançado por qualquer pessoa com qualquer formação, e reputação ilibada.

O Senado fará a sabatina do desembargador Kassio Nunes Marques, indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 21 de outubro. A data foi fechada em reunião de líderes partidários na manhã desta terça-feira (6).

O indicado do presidente Jair Bolsonaro para a vaga do decano Celso de Mello, que se aposenta no dia 13, será sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de uma votação secreta no colegiado e no plenário, que pode acontecer no mesmo dia, a depender da duração da arguição. Para ser aprovado, Kassio Marques precisa de, no mínimo, 41 votos favoráveis entre os 81 senadores.

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A presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), deve anunciar o relator da indicação na próxima quinta-feira, 8. Um dos cotados é o líder do MDB, Eduardo Braga (AM). Tebet pode, no entanto, escolher outro nome ou assumir a relatoria.

Indicado para o Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro Jorge Oliveira deve ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) no dia 20. Indicados de Bolsonaro para agências reguladoras, por sua vez, serão ouvidos por senadores no dia 19.

Bolsonaro volta a defender Kassio

Como vem fazendo desde a semana passada, Bolsonaro voltou a rebater críticas à indicação. O presidente destacou que Kassio tem sido acusado de "tudo" e tratado como "um dos bandidos mais procurados do Brasil". "Impressionante. Tudo que se aproxima de mim... Acusaram o cara de tudo, parecia até que ele era um dos bandidos mais procurados do Brasil", disse.

A escolha do mandatário para a vaga na Corte tem sido criticada por aliados do governo e apoiadores do governo.

Na saída do Alvorada nesta terça, em conversa com apoiadores, o presidente elencou e rebateu críticas direcionadas ao desembargador, como a de que ele teria possíveis ligações com o PT. Kassio atua no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) desde 2011, quando foi escolhido pela então presidente Dilma Rousseff. Bolsonaro destacou que a escolha ocorreu por "lista tríplice" e que todos os desembargadores passaram pelo mesmo processo durante o governo petista.

Bolsonaro também voltou a ressaltar que Kassio não foi responsável por decisão envolvendo o terrorista italiano Cesare Battisti. Ele citou que o STF, em 2009, decidiu sobre o assunto, votando que competia ao presidente da República autorizar, ou não, a extradição de Battisti.

A indicação do desembargador Kassio Marques para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) fez aumentar o número de antigos bolsonaristas que partiram para o confronto aberto com Jair Bolsonaro, acusando o presidente de "traição" aos compromissos assumidos na campanha de 2018. O anúncio para a Corte provocou fortes críticas e uma onda de descontentamento, com ameaças de debandada e pressão para que Bolsonaro mude o nome do indicado.

O grupo dos desiludidos, já integrado por ex-ministros, como Sérgio Moro - que no passado chegou a ser cotado para uma vaga no STF -, tem aumentado. Os ataques vêm agora de todos os lados, principalmente da ala "raiz" do bolsonarismo, e a hasthag #BolsonaroTraidor desponta com força nas redes sociais.

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Empresários, militares, evangélicos e ativistas ideológicos apontaram a escolha de Marques como "grave erro" e uma oportunidade perdida de nomear um "conservador" para a cadeira do ministro do STF Celso de Mello, que se aposentará no próximo dia 13. Nesta segunda, 5, Bolsonaro comparou a escolha do ministro à escalação da seleção brasileira. O encontro de Bolsonaro na casa do ministro do STF Dias Toffolli, no sábado, com a presença de Marques e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), agravou a situação.

O movimento Vem Pra Rua, que liderou manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), passou a criticar o presidente. "Na campanha, Bolsonaro prometeu enfrentar o sistema. No poder, Bolsonaro negociou a indicação de Kassio Nunes com Gilmar, Toffoli e Davi Alcolumbre. Existe traição maior que essa?", perguntou o Vem Pra Rua em post publicado nas redes, também citando o ministro do STF Gilmar Mendes.

O movimento começou a entoar a palavra de ordem "Fora, Bolsonaro" e está sugerindo protestos em todo o País, no próximo dia 25. "Falando sério. Precisamos pensar numa forma de acolher quem desembarca dessa canoa furada do bolsonarismo", disse outra mensagem do Vem pra Rua.

No Congresso, deputados como Joice Hasselmann - que foi líder do governo no Congresso e hoje é candidata do PSL à Prefeitura de São Paulo -, Alexandre Frota (atualmente no PSDB) e o senador Major Olímpio (PSL-SP) fazem parte do time dos desiludidos com Bolsonaro. Ex-juiz da Lava Jato, Moro virou inimigo.

Bolsonaristas ligados ao mercado também deram sinais de desembarque. O tom mais forte veio de um dos responsáveis por apresentar ao presidente o ministro da Economia, Paulo Guedes, até pouco tempo atrás um dos pilares do governo. "Hora de desembarcar. Acabou. Um erro dessa envergadura não se faz por acaso", reagiu Winston Ling, empresário e investidor sino-brasileiro, partidário da causa conservadora e do liberalismo.

Sabatina

Antes de ser nomeado, Kassio Marques ainda precisa passar por uma sabatina no Senado. Ontem mesmo, ele começou a pedir apoio em visita ao Congresso. Ao mesmo tempo, aliados de Bolsonaro cobram que ele recue da decisão. "A escolha do novo integrante do STF pelo presidente pode ser revertida se houver pressão da base ativista conservadora. Bora pressionar?", postou Ling no Twitter.

Porta-voz do grupo "300 do Brasil", a ativista de extrema-direita Sara Giromini, que chegou a ser presa em junho, acusada de organizar atos antidemocráticos, usou de ironia para subir o tom contra Bolsonaro.

"Que inveja eu tenho do Toffoli. Ele pelo menos ganhou um abraço do Bolsonaro", disse Sara, em mensagem nas redes. "Não reconheço Bolsonaro. Não sei mais quem ele é", emendou a militante, afirmando ter sofrido pressão do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para não atacar o Supremo nem o Congresso. O general admitiu ter pedido ao grupo para moderar suas posições, mas disse não ter havido "qualquer tipo de discórdia, reprimenda ou ameaça".

Bolsonaro também se queixou ontem de uma "autoridade" do Rio, por quem "prezava muito", que protestou contra a indicação de Marques. "Estou chateado, sim. O pessoal que me apoia virando as costas, (dizem que) não votam mais", admitiu Bolsonaro. "Essa autoridade do Rio de Janeiro queria que indicasse o dele. Fez vários vídeos, uma autoridade que diz que tem Deus no coração."

O recado era endereçado ao pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que criticou a indicação de Marques para o STF.

"Sou aliado, mas não sou vaquinha de presépio", disse Malafaia ao Estadão. Horas depois, o pastor divulgou um vídeo contando que levou a Bolsonaro uma lista com três nomes aprovados pela frente parlamentar evangélica: Jackson Di Domenico, José Eduardo Sabo Paes e William Douglas. "Como eu queria impor alguém meu? Isso é querer desviar o foco", disse Malafaia, irritado.

Até mesmo o bolsonarista Allan dos Santos, do programa Terça Livre, criticou a escolha do presidente. "Há uma enorme diferença entre bajular e compreender as circunstâncias, entre confiar e aceitar calado decisões ruins. Não trate como seita quem acreditou em você como um ser humano, Jair Bolsonaro. Explique sem exigir fé. Exija a razão e seus eleitores decidem", afirmou.

Presidente defende encontros com Maia e Toffoli

O presidente Jair Bolsonaro defendeu ontem seus encontros com autoridades do Legislativo e do Judiciário criticadas por parte dos seus apoiadores. No sábado, ele se reuniu com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o que gerou reclamações nas redes sociais. Ontem, esteve com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Com quem eu tomei café agora, alguém sabe? Rodrigo Maia. E daí? Estou errado? Quem é que faz a pauta na Câmara?", disse Bolsonaro a apoiadores, no Palácio da Alvorada, quando um deles questionou se era difícil governar com o STF. "Não entro no detalhe. É um Poder que respeito", afirmou o presidente.

Sobre a indicação de Kassio Marques ao STF, disse que é como escalar a Seleção Brasileira. "Todo mundo tem seu nome, e aquele que não entrou o nome reclama, aí começa a acusar o cara de tudo."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Enquanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), trabalha pela aprovação rápida da indicação do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), senadores lavajatistas preparam um "dossiê" para levantar o histórico do desembargador Kassio Nunes Marques, seus posicionais sobre temas polêmicas e envolvimento com investigados.

Os parlamentares querem saber, por exemplo, se o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) pode ser favorecido pelo candidato a ministro no STF. O filho mais velho do presidente é investigado pela prática da "rachadinha" no período em que foi deputado estadual no Rio de Janeiro. O caso é julgado no Tribunal de Justiça fluminense, mas há um recurso do Ministério Público que discute o foro do senador em análise pela Corte.

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"Tem que ser apurada a sugestão de que há padrinhos, parceiros e amigos que figuram entre os investigados", afirmou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

O desembargador também deverá ser provocado sobre a possibilidade de reeleição de Alcolumbre e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Uma ação no STF tenta barrar essa possibilidade, hoje vedada pela Constituição.

A reunião de apresentação de Kassio Marques na casa do ministro Gilmar Mendes, relator do caso, foi intermediada por Alcolumbre.

"É inegável o notável saber jurídico e a reputação ilibada, mas a forma que a escolha foi feita é já chegar pela porta dos fundos", afirmou o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP).

Mais cedo, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), avisou que a sabatina de Marques não ocorrerá antes do dia 13 de outubro, quando o ministro Celso de Mello se aposenta. A medida, segundo ela, é uma forma de "respeito" ao decano da Corte.

A indicação de Marques por Bolsonaro foi publicada na edição desta sexta-feira, 2, do Diário Oficial da União. O escolhido ainda precisa ser sabatinado na CCJ e ser aprovado pelos senadores na comissão e depois no plenário.

A votação deve ser secreta e com a presença dos senadores em Brasília - desde o início da pandemia da covid-19, o Senado tem feito sessões virtuais. Para ter a sua indicação ao Supremo confirmada, Marques precisa do aval de 41 dos 81 senadores.

A Associação dos Magistrados Brasileiros - maior entidade de juízes do País, que reúne mais de 14 mil magistrados - divulgou nota pública, na manhã desta sexta (2), manifestando apoio à indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga no Supremo Tribunal Federal. A entidade diz ainda confiar na 'independência e na capacidade técnica' do magistrado para ocupar a cadeira que será deixada pelo decano da corte, ministro Celso de Mello, no próximo dia 13.

A escolha por Kassio Marques foi confirmada pelo presidente Jair Bolsonaro, nesta quinta (1º), durante sua transmissão ao vivo semanal nas redes sociais. O presidente destacou a 'amizade' com o desembargador, com quem, segundo disse, já tomou 'muita tubaína'. Bolsonaro disse ainda que tinha uma lista com dez nomes em sua mesa para a analisar e optou por Kassio Marques depois de conversar com ele.

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Na manhã desta sexta, o nome escolhido por Bolsonaro foi publicado no Diário Oficial da União, assim como a concessão da aposentadoria a Celso de Mello a partir do dia 13. Na mensagem, o presidente destaca que o envio da indicação nesta sexta-feira 'considera a necessidade de prévia organização para o funcionamento das deliberações dessa Casa (o Senado), em virtude do estado de calamidade pública decorrente da pandemia do coronavírus'.

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) também se manifestou sobre a indicação do desembargador, afirmando que ele está 'habituado a julgar temas complexos e de competência do Judiciário da União', além de ter 'trajetória profissional e formação acadêmica consistentes'. "Ele preenche os requisitos constitucionais para o cargo e saberá desempenhar sua futura função com empenho, dedicação e equilíbrio", defendeu a entidade.

Piauiense, Kássio Nunes Marques tem experiência como advogado e desembargador eleitoral no Piauí, e compõe, há nove anos e por indicação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), os quadros do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) - o maior do País em jurisdição territorial, responsável por 13 Estados além da capital federal, onde é sediado.

O desembargador, que tem 48 anos, se nomeado, poderá ficar na Corte até 2047. Ele ainda deverá passar por sabatina no Senado e para ser aprovado e assumir a vaga no STF, precisará receber o aval da maioria dos 81 senadores, em votação secreta.

A escolha de Marques agradou a uma ala do Supremo e a políticos do Centrão, que querem enfraquecer a Lava Jato. Por outro lado, como mostrou a repórter Jussara Soares, a indicação conseguiu o feito de criar um consenso entre militares, ideológicos, evangélicos e auxiliares considerados técnicos, que, nos bastidores, relataram desapontamento com o nome escolhido e surpresa com a rapidez da confirmação.

Confira a íntegra da nota da AMB

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) manifesta seu apoio à indicação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

A AMB, maior entidade representativa da magistratura nacional, reitera a confiança na independência e na capacidade técnica do magistrado para ocupar o cargo na mais alta corte do país, em conformidade com a Constituição e as leis da República

Confira a íntegra da nota da Ajufe

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) parabeniza o Desembargador Federal Kassio Nunes Marques pela indicação para integrar o Supremo Tribunal Federal (STF) após a aposentadoria do decano da Corte, Ministro Celso de Melo.

Magistrado Federal há quase 10 anos, Kassio Marques conhece bem a realidade da Justiça Federal e dos juízes e juízas federais, além de estar habituado a julgar os temas complexos e de competência do Judiciário da União. Tem uma trajetória profissional e formação acadêmica consistentes. Formado em Direito pela Universidade Federal do Piauí, advogou por 15 anos e integrou o Tribunal Regional Eleitoral. Especializado em direito tributário pela Universidade Federal do Ceará, também é mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Lisboa e doutor pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

A Ajufe deseja ao Desembargador Kassio Nunes, seu ilustre associado, toda sorte e sucesso durante a sabatina que será submetido no Senado Federal. Ele preenche os requisitos constitucionais para o cargo e saberá desempenhar sua futura função com empenho, dedicação e equilíbrio.

A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), avisou que o colegiado só vai realizar a sabatina do indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) após o dia 13 de outubro, quando o ministro Celso de Mello se aposenta. O presidente Jair Bolsonaro indicou desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga do decano no Supremo. O escolhido precisa ser sabatinado na CCJ da Casa e ser aprovado pelos senadores em uma votação secreta e presencial na comissão e depois no plenário.

"Esclareço ainda: em respeito ao Senhor Ministro Celso de Mello, não realizaremos a referida sabatina antes do dia 13. E, como presidente da CCJ, a escolha do relator somente ocorrerá, após recebimento oficial da mensagem", afirmou Simone Tebet em nota.

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A tramitação da indicação depende de um ato da Mesa Diretora da Casa. Na prática, caberá ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), dar o pontapé inicial para a apreciação. Conforme o Broadcast Político antecipou na quinta-feira, o amapaense se colocou como o principal articulador para a aprovação do nome.

"Vamos aguardar o despacho da Mesa Diretora e, em função da pandemia, a data dependerá de acordo com os líderes partidários, por se tratar de votação secreta e presencial", afirmou a presidente da CCJ, na nota.

Silas Malafaia não gostou nem um pouco do nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O pastor classificou a indicação de Kassio Marques, para ocupar a vaga de Celso de Mello no Supremo, como "absurdo vergonhoso". 

Malafaia se manifestou através de suas redes sociais, no Twitter e YouTube. Em um vídeo, ele disse estar à vontade para tecer críticas pois é um dos defensores "mais ardorosos" do presidente porém não "alienado" e por isso fez questão de se posicionar.

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Em seu discurso, Silas relembrou também que o próprio presidente havia garantido colocar alguém "terrivelmente evangélico" na vaga e afirmou que ele só apoiaria nomes que "líderes evangélicos e a bancada parlamentar apoiassem". "Meu presidente, com todo o respeito, como é que o senhor vai indicar o STF um cara nomeado por Dilma, amigo da petralhada, com posições socialistas, que segundo estou recebendo aqui tem mais de 30 representações contra ele no CNJ? Isso é uma vergonha".

Por fim, Silas disse que a indicação não precisava ser de alguém evangélico, mas no mínimo, um nome "terrivelmente da direita". "Eu termino dizendo, presidente, o senhor está aí por uma ação de Deus para combater exatamente isso que o senhor tá favorecendo agora. Jamais o senhor poderia ceder. Deus honra a quem honra a Deus, mas quem despreza a Deus o Senhor também o despreza. Fica aqui o meu protesto, minha indignação. Que Deus tenha misericórdia do Brasil". 

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O presidente Jair Bolsonaro defendeu a indicação do desembargador Kassio Nunes, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em live nesta quinta, 1º, o presidente disse que busca um nome que seja "leal às nossas causas" dentro da Corte e ironizou: "Vocês querem que eu troque pelo Sérgio Moro?"

"No ano passado todo, até mais ou menos abril deste ano, vocês queriam quem para o Supremo? Vocês queriam Sérgio Moro para o Supremo. E me ameaçavam: 'Se não for Sérgio Moro para o Supremo, acabou!'", afirmou Bolsonaro. "Agora, vocês querem que eu troque o Kassio pelo Sérgio Moro? E daí? Querem que eu faça o que? Acham que ele vai ser o ministro lá que vai ser leal às nossas causas?"

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A indicação de Kassio agradou políticos do Centrão, que buscam enfraquecer a Lava Jato, e a ala do Supremo que faz restrições a investigações conduzidas pela força-tarefa, como os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. O nome, porém, foi criticado por conservadores e grupos aliados do Planalto por decisões tomadas no passado e por não ser o perfil "terrivelmente evangélico" prometido.

Ao Estadão, o presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) Uziel Santana criticou a indicação de Kassio Nunes.

"Em que pese as qualidades do Desembargador Kassio, acreditamos que ele não é o melhor nome que se adeque ao perfil conservador de magistrado que o próprio Presidente Bolsonaro anunciou", afirmou. A entidade defende o nome do ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, que é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança, em Brasília.

Na live, Bolsonaro garantiu que a segunda vaga que deverá abrir no seu mandato, em julho do ano que vem com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, será destinada a um nome evangélico e que vote "com os interesses dos conservadores".

"O primeiro requisito é ser evangélico, o segundo é tomar tubaína comigo", afirmou. "Eu quero que a pessoa vote com suas convicções, com os interesses dos conservadores, mas que busque maneira de ganhar uma coisa lá também. Eu não quero que ele entre mude e saia calado, quero que ele converse".

Mendonça e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, estariam "na fila", segundo o presidente.

Lagostas

Bolsonaro também aproveitou a live semanal para rebater críticas feitas ao desembargador Kassio Nunes sobre decisão que garantiu a compra de lagostas e vinhos importados para o Supremo Tribunal Federal (STF), no ano passado. O presidente chegou a dizer que o caso foi movido por "alguém" - a ação era de autoria da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do Planalto.

"Não tem nada demais comer lagosta", afirmou Bolsonaro. "Não tem nada demais, qual o problema comer lagosta? Quem pode, come, quem não pode, não come."

A decisão de Kassio Nunes foi a que permitiu uma polêmica licitação do Supremo para a compra de bebidas, entre elas vinhos importados e premiados, e refeições, incluindo lagosta.

Na época, o pregão, que previa o gasto de até R$1,13 milhão, chegou a ser suspenso no âmbito de uma ação popular movida pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP). A parlamentar bolsonarista criticou o "luxo desnecessário" a membros do STF e acusou "potencial ato lesivo à moralidade administrativa" com a compra. A licitação também entrou na mira do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), mas acabou liberada por determinação do desembargador.

O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quinta-feira, 1º, a escolha do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), para assumir a vaga aberta na Corte com a aposentadoria de Celso de Mello, no próximo dia 13 de outubro. Em transmissão ao vivo pelas redes sociais, o presidente disse que o nome de Marques deve sair no Diário Oficial da União desta sexta-feira. Ele também reiterou que indicará um evangélico para assumir a cadeira de Marco Aurélio Mello, que se aposenta em julho do ano que vem.

"Sai publicado amanhã, por causa da pandemia, o nome do Kassio Marques para a primeira vaga no STF. A segunda vaga será para evangélico. Ele está levando tiro. Qualquer um que eu indicasse levaria tiro. Tinha currículo na minha mesa, mas eu não conhecia. O que é lamentável das dez a gente escolhe uma. O resto começa a acusar o cara", afirmou o presidente.

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Bolsonaro já havia comunicado a escolha de Marques aos ministros do Supremo Gilmar Mendes e Dias Toffoli, na noite de terça-feira, 29, em um encontro na casa do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O nome agradou a políticos do Centrão, que querem enfraquecer a Lava Jato, e à ala do Supremo que faz restrições a investigações conduzidas pela força-tarefa. Gilmar e Toffoli fazem parte deste grupo.

Uma vez oficializada a indicação de Marques, ele ainda deverá passar por sabatina no Senado. Para ser aprovado e assumir a vaga no STF, o desembargador precisará ser aprovado pela maioria dos 81 senadores, em votação secreta.

Apesar de agradar ao Centrão, Marques passou a ser "fritado" por militantes bolsonaristas desde ontem, quando a escolha do presidente foi divulgada. Mensagens que circularam pelo WhatsApp e em plataformas como Twitter e Facebook lembravam que o desembargador foi indicado para o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região pela então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2011. Citava, ainda, sua ligação com o governador do Piauí, Wellington Dias, também do PT.

Natural do Piauí, com larga experiência como advogado, Kassio Nunes Marques, de 48 anos, ficou surpreso ao assumir o posto de desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), em 2011, por indicação da então presidente Dilma Rousseff. Encontrou um acervo de 22 mil processos em seu novo gabinete, além de um fluxo de cerca de mil novos casos por mês chegando à mesa que ocuparia.

Questionado por uma TV local sobre o que faria com o estoque "tão grande" e como iria diminuir a pilha de casos, o desembargador respondeu, sorrindo, que era necessário "primeiro ter muita fé em Deus", depois, "no trabalho que vou desempenhar".

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Advogados com acesso aos tribunais superiores de Brasília avaliam o desembargador como uma "pessoa muito séria", com atuação "dura" contra poderosos e olhar "sensível" para questões humanitárias. Segundo pessoas que conviveram com o magistrado, Marques tem um perfil centrado, discreto e religioso - ele é católico -, sem ser radical. É considerado no meio jurídico como um juiz "garantista", que costuma privilegiar questões como o amplo direito de defesa ao julgar uma ação.

Uma das decisões que marcaram a carreira de Marques foi a condenação de uma promotora de Brasília pela tentativa de extorsão ao ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. O desembargador foi o relator do caso e entendeu que a promotora Deborah Guerner e o marido dela, Jorge Guerner, exigiram R$ 2 milhões de Arruda para não divulgar um vídeo em que ex-chefe do Executivo local aparecia recebendo propina. A gravação deu início à Operação Caixa de Pandora, que resultou na cassação de Arruda.

Em outro caso de repercussão, em 2015, Marques votou contra a deportação do italiano Cesare Battisti, condenado em seu país pela morte de quatro pessoas. Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu asilo político a Battisti, mas uma juíza de primeira instância havia determinado que ele fosse enviado para a França. A decisão, no entanto, foi revogada pelo TRF-1. Battisti só foi deportado no ano passado. O desembargador tem relação com outro integrante do PT. Ele é próximo do governador do Piauí, Wellington Dias, que esteve em sua posse no tribunal.

Na área humanitária, colegas da advocacia citam uma decisão monocrática (individual) do desembargador, em 2018, que liberou a entrada de venezuelanos em Roraima. Desde então, Marques virou um estudioso do fluxo migratório no Brasil. A decisão mais polêmica do magistrado envolveu, ironicamente, o Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio de 2019, Marques liberou uma licitação da Corte para a compra de vinhos premiados e lagosta.

Em entrevista ao site jurídico Conjur, em 2018, disse ser "fã do poder de síntese" na hora de proferir votos, uma característica que contrasta com a de Celso de Mello, a quem pode vir a substituir. "Evito o proselitismo jurídico, bem como não sou afeito a produzir decisões judiciais como se fossem artigos científicos", disse ele na ocasião. Na mesma entrevista, também revelou ser mais afeito à telinha do que aos livros em seu tempo livre. "Gosto mais de filmes, é mais acessível: o que mais me distrai na realidade é ficção científica. Quanto mais mentiroso o filme, melhor para mim (risos)."

O presidente Jair Bolsonaro informou a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que escolheu o desembargador Kassio Nunes Marques, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), para assumir uma cadeira na Corte. A vaga é a do decano Celso de Mello, que vai se aposentar em 13 de outubro. O nome agradou a políticos do Centrão, que querem enfraquecer a Lava Jato, e à ala do Supremo que faz restrições a investigações conduzidas pela força-tarefa.

Bolsonaro comunicou sua decisão durante encontro, anteontem à noite, com os ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli. A reunião ocorreu na casa de Gilmar e foi intermediada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) (mais informações nesta página). Na conversa, Bolsonaro defendeu a harmonia entre os Poderes e deu sinais de que deseja se aproximar do STF, com quem teve vários confrontos recentemente. Gilmar e Toffoli integram o grupo da Corte que faz críticas à Lava Jato.

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Embora Kassio tenha bom relacionamento com políticos e magistrados, o presidente da Corte, Luiz Fux, reagiu com contrariedade à indicação do ex-vice-presidente do TRF-1. A irritação de Fux, segundo apurou o Estadão, foi porque ele enxergou interferência de Gilmar na decisão de Bolsonaro.

Fux só soube da escolha do desembargador pela imprensa. Ele nunca escondeu a preferência pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Luis Felipe Salomão. Até recentemente, Kassio estava em campanha para uma cadeira no STJ, no lugar de Napoleão Nunes Maia, que se aposenta em dezembro.

Na prática, o agora favorito de Bolsonaro para o Supremo - que não é "terrivelmente evangélico" nem toma cerveja com ele, duas condições antes consideradas essenciais pelo chefe do Executivo -- ainda precisa ser formalizado. Somente após esta etapa o indicado passará por uma sabatina no Senado. Ontem, porém, políticos do Centrão - bloco que reúne cerca de 200 parlamentares - já comemoravam a decisão.

"Todos nós do Piauí estamos na torcida para que se concretize a indicação do dr. Kassio como novo ministro do Supremo Tribunal Federal, que seria o primeiro piauiense em mais de 50 anos no STF", escreveu no Twitter o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas.

Caso a indicação de Kassio, de 48 anos, seja mesmo confirmada, ele será o primeiro representante do Nordeste na atual composição da Corte. O último foi Carlos Ayres Britto, que é sergipano e se aposentou em 2012. De olho no projeto da reeleição, em 2022, Bolsonaro tenta se aproximar cada vez mais do Nordeste, antigo reduto petista. Recentemente, ele viu sua popularidade crescer na região, de acordo com pesquisa Ibope encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Fritura

Ao mesmo tempo em que o Centrão aplaudia, muitos militantes bolsonaristas "fritavam" o desembargador nas redes sociais. Mensagens que circulavam pelo WhatsApp e em plataformas como Twitter e Facebook lembravam que Kassio havia sido indicado para o Tribunal Regional Federal da 1.ª Região pela então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2011. Diziam, ainda, que ele é "ligado" ao governador do Piauí, Wellington Dias, também do PT.

No Palácio do Planalto, auxiliares de Bolsonaro observavam, à noite, que a indicação de Kassio não está 100% fechada. Aliados do presidente chegaram a enviar fotos a ele nas quais o desembargador aparece sorridente, ao lado de Dias.

Para o ministro Marco Aurélio Mello, que se tornará o mais antigo na Corte com a saída de Celso de Mello, o perfil de Kassio é positivo. O desembargador é considerado garantista (mais informações na pág. A6). "É sempre bom ter garantistas na Corte, pois nossa atuação é vinculada e os direitos e franquias constitucionais e legais, eles são acionados por quem cometer desvio de conduta", afirmou Marco Aurélio, que vai se aposentar em julho de 2021.

A expectativa no STF é a de que temas como aborto tenham forte resistência de Kassio, se ele ocupar uma cadeira na Corte. O desembargador é conhecido pelo conservadorismo na agenda de costumes.

O nome surgiu na última hora como solução para os problemas de Bolsonaro, que tinha como opções os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e da Justiça, André Mendonça. A avaliação é a de que tanto Jorge quanto Mendonça ocupam cargos-chave e a indicação de qualquer um deles implicaria em uma obrigatória mexida no governo. Além disso, no Congresso, o nome de Mendonça enfrenta resistências.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro fez chegar ao Supremo Tribunal Federal que deve indicar o desembargador Kassio Nunes Marques, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), para assumir uma cadeira na Corte. O nome foi bem recebido no tribunal. Na avaliação de magistrados, Marques tem um perfil centrado, discreto e religioso, ao que lhes parece, sem ser radical. Marques não figurava entre os cotados para a vaga, aberta com a aposentadoria do decano da Corte, Celso de Mello, no próximo dia 13. O desembargador, que tem 48 anos, se nomeado, poderá ficar na Corte até 2047.

A informação da indicação foi revelada pelo jornal O Globo.

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Ministros do Supremo consultados pelo Estadão disseram que a forma como foram comunicados não fez parecer que o governo esteja "testando" o nome de Kassio Marques, para ver se haveria reações negativas, como já ocorreu em outros casos.

A expectativa no STF é que temas como aborto devem ter forte resistência de Marques, caso ele assuma mesmo uma cadeira na Corte.

Em entrevista ao site jurídico Conjur em 2018, o desembargador também já tratou de outro tema polêmico discutido recentemente pela Corte: defendeu a possibilidade de prisão em segunda instância quando há decisões fundamentadas. "O recolhimento ao cárcere não é um consectário lógico que prescinda de decisão fundamentada e análise das circunstâncias de cada caso. Há a necessidade de a ordem ser, além de expressa, fundamentada", afirmou à época. No ano passado, a Corte decidiu que é necessário esperar o fim do processo - o chamado trânsito em julgado, no jargão jurídico - para determinar a prisão.

Na mesma entrevista, disse "fã do poder de síntese" na hora de proferir votos, uma característica que contrasta com a de Celso de Mello, a quem pode vir a substituir. "Dificilmente, leio um voto todo em sessão; geralmente explico o caso em dois ou três minutos. Evito o proselitismo jurídico, bem como não sou afeito a produzir decisões judiciais como se fossem artigos científicos", disse ele na ocasião. Já o decano é conhecido por seus longos e bem fundamentos votos.

"Acredito que o magistrado precisa se aperfeiçoar, e buscar experiências novas, na comunidade, no dia a dia do cidadão brasileiro, mas também de outras culturas e sistemas jurídicos", afirmou Marques, ainda na entrevista para o Conjur, em que também revelou sua predileção para filmes de ficção. "Gosto mais de filmes, é mais acessível: o que mais me distrai na realidade é ficção científica. Quanto mais mentiroso o filme, melhor para mim (risos)."

Uma vez confirmada a indicação, ele ainda precisará passar por sabatina no Senado e ter o nome aprovado pelo plenário. Como mostrou o Estadão, há um acordo entre o Palácio do Planalto e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para que a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ocorra imediatamente após Bolsonaro anunciar a escolha. O movimento tem o objetivo de evitar que o indicado fique exposto a um desgaste público. Segundo apurou o Estadão, não é este o caso de Kassio Marques.

Relação com Bolsonaro

Bolsonaro mantém relação com Kassio Marques desde os tempos em que era deputado. Segundo um integrante do primeiro escalão, é a ele que o presidente se referia quando disse que queria um ministro do STF que "bebe cerveja".

Anteriormente, Bolsonaro havia dito que indicaria um ministro "terrivelmente evangélico". Recentemente, a integrantes da bancada evangélica, presidente passou a dizer que sua indicação seria de uma nome alinhado aos propósitos conservadores do governo.

Considerado favorito até então para a vaga de Celso no STF, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, teria sinalizado a vontade de não ser indicado neste momento, segundo auxiliares disseram ao Estadão. Embora tenha conseguido o apoio do Congresso e trabalhasse para diminuir a resistência ao seu nome no STF, ele era visto como reservas por integrantes da Corte por ter um currículo na área jurídico pouco expressivo. Como acumula o comando da Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), a estratégia é Oliveira seguir na função e ganhar estofo até a próxima oportunidade - Bolsonaro ainda terá mais uma vaga para indicar, em julho do ano que vem, com a aposentadoria de Marco Aurélio Mello.

Embora ainda não oficializada pelo Palácio do Planalto, a possibilidade de Marques assumir uma vaga no Supremo foi comemorada pelo líder do PP no Senado, Ciro Nogueira (PI). Aliado de Bolsonaro, o senador é do mesmo Estado do magistrado.

"Sem dúvida, a escolha do presidente Jair Bolsonaro seria um gesto de reconhecimento da capacidade do povo do Piauí e de todo o Nordeste", escreveu Nogueira em sua conta no Twitter. Na última semana, interlocutores do Planalto conversaram com integrantes do Centrão sobre a indicação.

Currículo de Kassio Nunes Marques

Kassio Nunes Marques nasceu em Teresina (PI) e tem 48 anos. É bacharel em Direito pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e tem especialização em Processo e Direito Tributário pela Universidade Federal do Ceará (UFCE). Além disso, obteve os títulos de mestre pela Universidade Autônoma de Lisboa.

Nunes já atuou como desembargador e ocupou cargos na seccional do Piauí da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Também já atuou no Conselho Federal da ordem como suplente e chegou a integrar a Comissão Nacional de Direito Eleitoral e Reforma Política. Entre 2008 e 2011, foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí.

Em 2011, foi nomeado desembargador federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) no quinto constitucional, dedicado à advocacia. Foi indicado ao cargo pela então presidente Dilma Rousseff (PT), assumindo a vaga de Carlos Fernando Mathias de Souza, que se aposentara, após ser o mais votado em lista tríplice da OAB.

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