Tópicos | Quinzena dos Realizadores

O filme "Sem seu sangue", da brasileira Alice Furtado, foi selecionado para a mostra Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.

A mostra independente e não competitiva, que acontecerá entre 15 e 25 de maio, exibirá 24 longas-metragens, com 16 cineastas selecionados pela primeira vez.

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"É uma bela descoberta, um filme que, com toques do gênero fantástico, explora o desejo feminino", afirmou a organização sobre o filme brasileiro.

Um dos destaques da mostra será "The lighthouse", do americano Robert Eggers, que foi revelado pelo filme "A Bruxa".

O novo filme de Egges, com os atores Robert Pattinson e Willem Defoe, é uma história "hipnótica e de alucinação" ao redor de dois guardas que trabalham em um farol no início do século XX.

A Quinzena dos Realizadores homenageará este ano o consagrado cineasta americano John Carpenter e também receberá Robert Rodriguez, que exibirá o filme "Red 11", criado com 7.000 dólares, o mesmo orçamento do famoso "El Mariachi", de 1992. Rodriguez revelará os segredos da produção durante uma aula.

A diretora brasileira Beatriz Seigner considera o cinema uma janela para o exterior, e com "Los silencios", exibido nesta sexta-feira em Cannes, ela viaja a uma ilha amazônica onde os colombianos "vivem" com seus mortos pelo conflito.

Depois de ter rodado a primeira coprodução Índia-Brasil com "Bollywood Dream" (2010), que participou de maio de 20 festivais, Seigner explora, com um olhar de documentarista que não abre mão da magia da ficção, um território muito mais próximo, mas nem por isso mais familiar.

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"O Brasil olha demais para Europa e Estados Unidos, e ignora a realidade dos próprios vizinhos", disse à AFP, ao falar sobre seu filme, selecionado para a mostra paralela Quinzena dos Realizadores.

A diretora admite que foi a primeira a ficar surpresa: quantos colombianos deslocados no Brasil vivem traumatizados pela perda de um parente durante o conflito com a guerrilha das Farc?

"Os colombianos são a segunda comunidade de imigrantes em nosso país. Pesquisei, entrevistei quase 80 famílias e percebi a amplitude do fenômeno", disse.

Ao mesmo tempo que o governo e as Farc iniciavam em 2012 um delicado processo de paz, Seigner imaginava seu filme, focado no luto, o capítulo mais insuportável de meio século de conflito.

- Fantasmas -

Na chamada "ilha da fantasia", um pequeno território alagado parte do ano e situado na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, Seigner encontrou seus protagonistas.

Nesta terra de ninguém, deslocados pelo conflito chegaram durante anos para começar do zero, criando uma comunidade solidária e que chora por seus mortos... convivendo com eles.

Como é possível continuar vivendo depois do assassinato de um parente querido? Beatriz Seigner mostra o sofrimento com a história de Amparo (Marleyda Soto), uma mãe que desembarca na ilha com os dois filhos.

Na localidade, a família conviverá com o marido e pai (Enrique Díaz), desaparecido.

"Muitos colombianos, enquanto não encontram o corpo, seguem vivendo como se a pessoa estivesse viva: servem comida na mesa, pedem conselhos. É uma maneira de manter a esperança e lidar com a perda".

Assim, de modo paralelo à luta diária para encontrar um emprego, educar os filhos e recompor os laços sociais, Amparo e os demais moradores lidam com seus "fantasmas".

Além dos dois atores, o restante do elenco é formado por moradores da região e muitos interpretam os próprios papéis, da avó até o presidente da comunidade.

"Tudo é real na ilha da fantasia", afirma Seigner.

- Catarse -

Para uma das cenas mais sensíveis e difíceis, a cineasta reuniu guerrilheiros, paramilitares e parentes de vítimas, todos de luto. O resultado foi uma catarse.

"Queria que se expressassem. Perguntei se poderiam perdoar. Para muitos isto é impossível, mas alguns se perguntam pelo menos sobre como conviver. Admiro os colombianos porque fazem estas perguntas", destaca Seigner.

"Los silencios" recebeu o apoio do "Cine en construcción", uma iniciativa dos festivais de San Sebastián e Cinelatino de Toulouse que ajuda filmes na fase de pós-produção.

Para o próximo trabalho, Beatriz Seigner vai seguir o mesmo caminho: ela filmará no oeste da África um documentário sobre os griots, contadores de histórias e mediadores de conflitos.

O curta-metragem Sem Coração (PE), que contou com direção, montagem e roteiro dos jovens pernambucanos Nara Normande e Tião, participará da mostra Quinzena dos Realizadores, que acontece simultaneamente com o Festival de Cannes. O filme, produzido pela Trincheira, Garça Torta e CinemaScópio, é o único representante do Brasil da ocasião e foi rodado em sua maior parte no Litoral Norte de Alagoas, entre as cidades de São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras. O LeiaJá conversou com Nara Normande sobre a realização deste trabalho e a indicação para participar do Festival de Cannes. Confira o bate-papo:

O que vocês fizeram para participar do festival?

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A organização do Quinzena dos Realizadores abre anualmente o período de inscrição, e assim que soubemos que as inscrições estavam abertas nós fizemos a nossa. Quando enviamos o curta Sem Coração ele ainda não estava na versão final. As imagens, por exemplo, ainda estavam em baixa qualidade. Mas resolvemos enviar o nosso trabalho mesmo assim e fomos convidados para participar da mostra.

Você já esteve em Cannes antes?

Já fui a Cannes duas vezes. A primeira foi em 2008, acompanhando o Tião, que também é diretor do Sem Coração. Na ocasião ele ganhou um prêmio (troféu Regard Neuf) com Muro. Já a segunda vez que fui pra lá foi por conta própria mesmo, só para participar do evento. Desta vez, indo com um filme concorrendo, é outra história, outro gostinho, até porque o Festival de Cannes traz bastante prestigio e reconhecimento às obras, independente de qualquer coisa.

Como foi a produção do curta?

Sem Coração foi gravado em película 16mm em algumas áreas do litoral norte de Alagoas. Algumas cenas também foram gravadas em Maceió e no Recife. Em março do ano passado começamos o trabalho e só as filmagens duraram três semanas, mas tem toda a parte da pré-produção e montagem, entre outros pontos que fazem parte da elaboração de um filme. Agora estamos no Rio de Janeiro para finalizar este trabalho, que passará por alguns retoques como correção da cor, por exemplo.

 

A Quinzena dos Realizadores, mostra paralela à programação oficial do Festival de Cannes, vai apresentar na Croisette 21 filmes de 16 a 26 de maio, com uma forte presença da comédia francesa, mas também uma pitada de suspense e terror. O Brasil estará representado por André Novais Oliveira, com o seu curta-metragem Pouco mais de um mês, uma produção de 22 minutos que mistura ficção e realidade.

As atrizes Robin Wright, Isabelle Huppert, Sandrine Kimberlain, e os atores Harvey Keitel, François Damiens, Guillaume Gallienne e Samy Naceri, de volta a Cannes, estão presentes nos créditos do evento, bem como Yolande Moreau, que irá apresentar o seu mais recente filme como diretora, Henri. Esta mostra, criada pela Sociedade de Cineastas após maio de 1968, não é competitiva. O objetivo é apresentar filmes de jovens diretores e saudar as obras de cineastas reconhecidos.

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A seleção, anunciada terça-feira pelo seu diretor-geral Edouard Waintrop, inclui dezessete filmes em primeira exibição e três documentários, entre eles a autobiografia Um viajante assinada por Marcel Ophuls (85 anos) e seu filho Max Ophuls. O cineasta franco-chileno Alejandro Jodorowsky (84 anos), cujo mais recente filme La danza de la realidad apresenta um retorno à cena de sua infância, será homenageado. Jodo também estará presente em um documentário de Franck Pavich.

A Quinzena, que costuma revelar grandes talentos (Werner Herzog, Nagisa Oshima, George Lucas, Martin Scorsese, Jim Jarmusch e Michael Haneke), estreará com O Congresso do diretor israelense Ari Folman.

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