Tópicos | Reforma Migratória

Após anos de negociações e de uma noite frenética, os eurodeputados e os representantes dos Estados-membros da União Europeia (UE) aprovaram nesta quarta-feira (20) uma ampla reforma do sistema migratório do bloco, que prevê um mecanismo de solidariedade obrigatória e controles mais severos.

"Alcançamos um acordo político nos cinco pontos do novo Pacto sobre Migração e Asilo da UE", escreveu na rede social X a presidência semestral espanhola da UE.

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A Alemanha celebrou a reforma, que chamou de "urgente e necessária", que foi negociada pelas instituições comunitárias por mais de sete anos.

A reforma prevê controles mais rigorosos na chegada de migrantes à UE, centros fechados perto das fronteiras externas para expulsar de maneira mais rápida aqueles que não têm direito a asilo, além de um mecanismo de solidariedade obrigatória entre os Estados-membros, para beneficiar os países sob maior pressão migratória.

O acordo político anunciado nesta quarta-feira ainda precisa ser aprovado formalmente pelo Conselho Europeu, ou seja, o fórum dos 27 Estados-membros, e pelo Parlamento Europeu.

O objetivo é que os textos do acordo sejam aprovados em definitivo antes das eleições europeias de junho de 2024.

A questão domina o debate em vários países europeus, incluindo a França, onde na terça-feira à noite foi aprovada uma lei migratória que provocou uma grande crise na base do governo do presidente Emmanuel Macron, devido ao apoio da extrema-direita à iniciativa.

A reforma europeia recebeu críticas das organizações de defesa dos direitos humanos.

Quase 50 ONGs, incluindo Anistia Internacional, Oxfam, Caritas e Save the Children, divulgaram na segunda-feira uma carta aberta aos negociadores para alertá-los sobre o risco de acabar com um "sistema mal elaborado, caro e cruel".

- Solidariedade obrigatória -

A reforma estabelecida em Bruxelas conserva a atual regra, com a qual o país de entrada na UE de um demandante de asilo é responsável por seu processo.

No entanto, para ajudar os países mediterrâneos, como Itália, Espanha e Grécia, onde chegam milhares de migrantes, a reforma estabelece um sistema de solidariedade obrigatória em caso de forte pressão.

Isto significa que os demais Estados-membros da UE devem contribuir para aliviar a pressão: recebendo alguns solicitantes de asilo - uma medida conhecida como recolocação - ou com o repasse de apoio financeiro.

A reforma também prevê um sistema de "filtragem" para os migrantes em sua chegada ao território da UE, assim como "um procedimento na fronteira" para aqueles que, estatisticamente, têm menos possibilidades de obter asilo. Estes serão retidos em centros, de onde poderão ser expulsos de maneira mais rápida para seus países de origem ou de trânsito.

O procedimento será aplicado aos cidadãos de países que registram taxa de reconhecimento do status de refugiado inferior a 20%, com base na média da UE.

Durante a negociação, o Conselho insistiu que este procedimento, que implica uma forma de detenção em centros localizados perto das fronteiras ou aeroportos, também deve ser aplicado às famílias com crianças de menos de 12 anos.

O Parlamento Europeu obteve, no entanto, garantias sobre um mecanismo de vigilância dos direitos fundamentais neste caso de procedimentos, sobre as condições de acolhimento das famílias com crianças pequenas e sobre o acesso dos migrantes a assessoria jurídica gratuita, informou à AFP a eurodeputada francesa Fabienne Keller, relatora do um dos textos.

A UE registra atualmente um aumento nas chegadas de migrantes sem documentos e de solicitações de asilo. Nos 11 primeiros meses de 2023, a agência Frontex relatou mais de 355.000 passagens pelas fronteiras externas do bloco, o que representa um aumento de 17% em termos anuais.

Os pedidos de asilo podem superar um milhão até o fim do ano, segundo a agência da UE para o asilo (EUAA).

Centenas de imigrantes se manifestaram nesta segunda-feira (14) em frente à Casa Branca, em Washington, e em outras cidades dos Estados Unidos, e milhares não foram trabalhar em resposta a uma convocação no TikTok para reivindicar uma reforma migratória.

Aos gritos de "não somos um, não somos cem, somos milhões, conte-nos direito!" e "o que queremos? Cidadania, agora, agora, agora", centenas de imigrantes enfrentaram um frio congelante para dizer ao presidente Joe Biden que "se sentem decepcionados e querem que ele cumpra as promessas da campanha eleitoral", disse à AFP Carlos Eduardo Espina, o influenciador que convocou o protesto na rede social.

"Presidente, acorde, essas pessoas que levaram a frente (o país) durante a covid, que cultivaram a terra e levaram comida para as mesas, as mulheres que cuidaram das crianças, os idosos, os que trabalharam na limpeza, na lojas, na construção, as empregadas domésticas" querem ser reconhecidas, declarou no microfone Lenka Mendoza, de origem peruana.

- Os esquecidos -

“São heróis que trabalharam durante a pandemia e não podemos permitir que continuem esquecidos”, acrescentou a mulher, que sabe muito bem o que significa lutar por seus ideais.

No mesmo local, em frente à Casa Branca, há oito anos, fez uma greve de fome de 18 dias para que o ex-presidente Barack Obama assinasse um programa para ajudar pais sem documentos com filhos americanos, que posteriormente seu sucessor Donald Trump encerrou.

Atualmente, estão pedindo a Biden um caminho para a cidadania. O presidente propôs uma reforma para levar cidadania a 11 milhões de imigrantes indocumentados em um país que não tem uma lei desse tipo há 35 anos, mas suas principais iniciativas estão paralisadas, sem apoio suficiente no Senado, onde ele se depara com uma oposição frontal dos republicanos e de alguns centristas.

A iniciativa "Um Dia Sem Imigrantes" - que conta com o apoio de parlamentares como Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha, e Ilhan Omar, ex-refugiada somali e muçulmana - mobilizou milhares de pessoas desde que Espina, que tem mais de 2,5 milhões de seguidores no TikTok, a convocou há menos de 15 dias.

A data escolhida corresponde ao Dia dos Namorados nos EUA. “É um dos dias de maior gasto no país. Mas se não fossem os imigrantes, esse dia tão comercial não seria possível", diz a página do movimento no Facebook.

- "É assim que nos pagam" -

O mexicano Leopoldo López, de 43 anos, foi um dos que decidiu aderir à ação e fechou sua empresa de mudanças em Nova York. "Não estamos roubando aqui, estamos criando empregos. Emprego 12 cidadãos e viajo pelo país onde preciso de mão de obra e dou trabalho", disse à AFP.

"Trabalhamos batendo de porta em porta para movimentar a votação e é assim que nos pagam, com essas injustiças", queixou-se Anselmo Salazar, referindo-se aos democratas, diante dos manifestantes que gritavam palavras de aprovação. "Quero te dizer, Joe Biden: se não cumprir sua promessa, ficará sonhando com a reeleição."

Em 2020, os latinos foram a maior minoria com participação nas urnas e, segundo algumas estimativas, votaram em torno de 70% nos democratas e quase 30% nos republicanos, embora os percentuais variem muito entre estados.

Os organizadores do protesto desta segunda-feira pedem a todos os migrantes nos Estados Unidos que liguem e escrevam para os congressistas de seu estado para solicitar que se mobilizem por "uma reforma migratória para todos, que lhes permita trabalhar legalmente e viajar livremente (...) sem risco de deportação”.

"Aqui não temos lados políticos", afirma Espina. "Não apoiamos mais promessas, mas sim fatos."

A reforma migratória integral a debate no Senado norte-americano entra nesta segunda-feira em sua semana decisiva, após uma proposta republicana que duplicaria o número de agentes na fronteira com o México.

Em troca de uma quase-militarização da fronteira, uma maioria bipartidarista dos 100 senadores norte-americana parece finalmente disposta a aceitar uma via para a legalização de onze milhões de imigrantes sem papéis.

A emenda dos senadores John Hoeven e Bob Corker endureceria a vigilância nos pouco mais de 3.000 quilômetros de fronteira com o México, começando pela duplicação dos efetivos, de 21.000 policiais a 42.000, além de completar outros 1.100 quilômetros de cerca.

"A emenda estipula que nenhum imigrante ilegal possa pedir residência permanente legal até que tenha passado no mínimo dez anos e até que tenha êxito em cinco condições de segurança", explicou o escritório de imprensa de um dos senadores mais envolvidos na reforma, o republicano Marco Rubio.

As empresas norte-americanas deverão aceitar um sistema obrigatório de verificação de identidade dos trabalhadores e os estrangeiros se verão submetidos a checagens biométricas na entrada e na saída do país, entre essas cinco condições mencionadas.

A emenda busca aplacar as críticas dos setores mais conservadores do Partido Republicano, que é minoria no Senado, mas que controla a Câmara dos Deputados, onde o êxito do projeto de lei é incerto.

No governo, a reação a esta nova emenda apresentada na sexta-feira foi positiva.

A emenda "dedicará importantes recursos adicionais ao robusto sistema de segurança na fronteira" já em vigor, reagiu a secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano.

Os Estados Unidos deportaram cifras recorde de imigrantes ilegais nos últimos cinco anos, mais de 1,2 milhão, e a detenção de imigrantes ilegais na fronteira caiu 67% entre 2000 e 2010, segundo cálculos independentes.

Os especialistas ressaltam, por outro lado, que, em torno de 40% dos onze milhões de ilegais ficaram nos Estados Unidos após o vencimento do visto.

"A solução não é injetar mais dinheiro", disse um dos senadores que se opõe à reforma, Jeff Sessions (Alabama).

A duplicação da Patrulha Fronteiriça e o restante das medidas, como a mobilização de drones, poderia custar até 30.000 milhões de dólares.

A experiência da última grande reforma migratória em 1986, que se resultou em milhões de novos cidadãos, mas também com o cumprimento da vigilância na fronteira, está presente nos debates da Câmara.

Contudo, a maioria democrata quer que seja votado nesta segunda-feira o fim dos debates desta emenda, para votá-la, possivelmente, em meados da semana, e talvez a reforma integral no final da mesma.

"O projeto de lei não é perfeito. É uma concessão. Ninguém vai conseguir tudo o que quer; nem os democratas, nem os republicanos, nem eu", declarou este sábado o presidente Barack Obama em seu discurso semanal.

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