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A aceleração exponencial dos índices da Covid-19 no Agreste de Pernambuco intensificou a suspeita do surgimento de uma nova variante do vírus na região. As UTIs estão lotadas com pacientes graves e uma quarentena rígida foi instituída nos municípios, mas não atende todo o Estado. Em entrevista ao LeiaJá, a vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Bernadete Perez, considera que a descoordenação das autoridades sanitárias locais amplia as chances de uma nova cepa brasileira.

"As variantes aconteceram nos lugares em que a epidemia estava francamente em descontrole e Pernambuco têm sido um verdadeiro laboratório a céu aberto do vírus. Nossa situação é de calamidade! Ninguém suporta mais tanto sofrimento, famílias desfeitas, mortes evitáveis, comunidades morrendo", alerta a sanitarista, que discorda do formato restritivo desigual decretado até o próximo dia 6.

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Para a médica, as medidas são insuficientes e tardias, pois "Pernambuco precisa de uma medida restritiva rigorosa de, pelo menos, 14 dias, e a gente tá defendendo de 21 dias de lockdown no estado. Os alertas são fracos, as pessoas circulam e nem se protegem".

Do ponto de vista sanitário, há tempos a condição crítica já deveria ter sido respondida com um novo lockdown. Entretanto, conforme a vice-presidente, interesses além da Saúde dos pernambucanos podem explicar a postura do Governo do estado.

“Ao que parece, nada tem relação com a vida das pessoas e muito tem relação com a proteção dos empresários em Pernambuco. É o que nos parece quando a gente vê esse plano de restrição do Estado, que é absolutamente insuficiente, paradoxal e contraditório com a situação epidemiológica", afirma.

Pouco se sabe sobre as cepas já identificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas "é possível que existam outras tantas variantes ainda não descobertas a nível mundial", pontua Perez.

Ela cobra pela vigilância genômica dos casos suspeitos e agilidade na vacinação, pois a mutação pode influenciar na eficácia dos imunizantes e fazer com que o vírus evolua para uma forma mais transmissível e letal. "A única proteção que a gente tem hoje é a capacidade de reação individual do organismo de cada um, porque a gente não tem uma política de enfrentamento à pandemia pelas autoridades sanitárias", critica.

Além de desaprovar a forma como Pernambuco enfrenta a pandemia, vale destacar que a população precisa apoiar tanto as restrições, quanto as normas de proteção, como uso adequado de máscara, higienização das mãos e distanciamento social. "Quanto mais infectados e replicação viral a gente tem, maior probabilidade de mutações levando a novas cepas e novas variantes com características que a gente não sabe qual é", adverte.

A resposta do Governo

Questionado pelo LeiaJá sobre o andamento da investigação dessa possível variante que circula pelo Agreste, o Governo de Pernambuco se restringiu a informar que vem “atuando para fazer o sequenciamento genômico de amostras de pacientes confirmados para a Covid-19 para verificar as possíveis variantes em circulação”.

Frente à 5ª semana de alta nos índices da Covid-19 em Pernambuco, a iminência da 'segunda onda' de infecções põe em xeque a estratégia das autoridades de controle e evidencia o descompromisso da população. A descoordenação na distribuição da vacina e a falta de colaboração, que mais uma vez deve ser corrompida nas festas de fim de ano, traz ares pessimistas para 2021, como explica a Vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Bernadete Perez, em entrevista ao LeiaJá.

A supervisora do Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ratifica que a pandemia nunca esteve controlada, e sim, freada pelas medidas de distanciamento mais rígidas em maio. Contudo, a flexibilização considerada precoce e irresponsável, e a condução das campanhas eleitorais em uma situação de iminente colapso da rede de saúde projetam um futuro adverso. "Infelizmente, a gente tem que esperar o pior porque combinar essa pandemia arrastada, com o cansaço e com esse Governo Federal criminoso, que tem sido completamente ausente. Como não temos previsão para a chegada da vacina, janeiro com certeza estará pior", alerta Bernadete.

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O último boletim divulgado informa que o estado acumula 210.081 casos e 9.459 vítimas fatais. Independente da crescente, o horário do comércio foi estendido, setores considerados não-essenciais e bares são reincidentemente notificados por desrespeitar as regras do Plano de Convivência. Por outro lado, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) se orgulha de ainda ter 19% leitos de UTI disponíveis, no entanto tal relação é classificada 'perversa' pela especialista. "Eu discordo quando dizem 'se tiver UTI liberada, libera a flexibilização'. Isso é um absurdo. É como dizer 'eu sei que as pessoas vão se infectar, eu sei que em torno de 5% vão morrer'. Isso é muito perverso", criticou.

LeiaJáImagens/Arquivo

Um novo lockdown geral seria inviável, porém a flexibilização deva ser reavaliada, mesmo com o recuo no setor de eventos. "Restrição de mobilidade, rigidez no isolamento, distanciamento físico de pessoas, proteção social e políticas de controle e fiscalização de aglomerações", foram elencados pela médica, que lamenta a inversão de prioridades em relação às reaberturas. Para ela, a conquista de uma condição segura deveria privilegiar primeiro as escolas.

Em absoluta desaprovação, Bernadete repudia a narrativa tomada pelo presidente Jair Bolsonaro, que enfraquece o combate à Covid-19 e propaga a desconfiança quanto ao imunizante. "A mensagem é de completo abandono do povo brasileiro. O governo passa que é um problema menor e continua negando o impacto da pandemia. Se apega em kits mágicos ineficazes de medicamentos e negam a gravidade", assegurou.    

Na sua visão, o plano de imunização ao invés de comemorado, encontrará dificuldades para ser posto em prática por sua falta de planejamento. "Ao mesmo tempo que o presidente diz 'quanto antes a gente conseguir a imunidade coletiva, melhor'. Só que a imunidade coletiva sem vacina, que é o que eles tão fazendo, significa milhares de mortos", acrescentou. 

Treze vagas temporárias e um salário mensal de R$ 3.662,70 reais. É com esse número de vagas e um salário significativo que a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco iniciou as inscrições para a seleção pública que visa contratar, temporariamente, 13 sanitaristas.

As vagas são para uma jornada de 40 horas semanais. Para participar do concurso, os candidatos interessados deverão atender a dois requisitos. São eles: ter formação em curso superior e pós-graduação nas áreas de saúde pública e coletiva, com carga horária de no mínimo 360 horas, ou ter experiência na área de dois anos.

As inscrições vão até o dia 31 de outubro. Elas podem ser de forma presencial, nos locais indicados no edital; ou via Sedex, encaminhando o formulário de inscrição e caderno de apresentação dos documentos (disponíveis nos anexos II e III do edital) para a Diretoria Geral de Gestão do Trabalho. Para mais informações sobre o concurso, os interessados podem acessar o site do órgão. Lá, além de visualizar o edital, os candidatos podem conferir os documentos necessários para participar do concurso.

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