Foram muitos anos de espera, muitos boatos e muita expectativa, mas valeu a pena. Neste sábado (21), cerca de 60 mil pessoas estiveram no Estádio do Arruda para assistir a histórica apresentação de Paul McCartney no Recife. Desde cedo, o entorno do Arruda ficou tomado por uma multidão ansiosa pelo início do show. No assunto, o repertório que o cantor executaria, a história do Beatles, os sucessos de Paul e a felicidade de poder testemunhar o show de um dos maiores músicos vivos.
Os portões foram abertos por voltas das 18h30, quando filas gigantescas já estavam formadas nas avenidas Beberibe e Professor José dos Anjos. Há quem tenha vindo de longe e chegado cedo para participar do mega evento. João Paulo Alves da Silva veio de Itatuba, município paraibano perto de Campina Grande, sozinho. Ele, que chegou por volta das 15h ao Arruda, não veio para o show do sábado, mas para a segunda apresentação do ídolo, que acontece neste domingo (22). "Vou acampar aqui para amanhã ver o show", afirma o jovem, "Vou realizar meu sonho de conhecer Paul McCartney".
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A entrada das pessoas no estádio se deu sem grandes problemas, e aos poucos o Arruda foi sendo tomado por dezenas de milhares de fãs, que lotaram o anel superior, as cadeiras e toda a área em frente ao palco. Às 21h30, o mito entrou no palco com sua banda, para delírio geral do público, e iniciou seu show com "Magical Mistry Tour", canção que dá nome a um dos discos dos Beatles. Logo emendou com Junior's Farm, do Wings, e a clássica All my loving, cantada com força por milhares de pessoas.
Em, seguida anunciou que iria cantar pela primeira vez no Brasil uma canção, e tocou The Night Before, dos Beatles. Paul não aguentou nem os dez primeiros dez minutos do show com o casaco que vestia e o tirou, por conta do calor habitual do Recife. Muito simpático, o britânico falou muitas coisas em português durante toda a apresentação, apresentando algumas canções e agradecendo o público, que veio abaixo quando ele disse: "Povo arretado!".
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A segunda parte do show é formada de músicas mais lentas, com Paul ao piano. Após The Long and Winding Road, Paul cantou "My Valentine", que fez para sua atual namorada, Nancy. O cantor fez outras homenagens, tocando Maybe I'm Amazed e avisando que essa canção é dedicada à sua primeira esposa, Linda. Outro homenageado foi o parceiro de composições nos Beatles, John Lennon, para quem Paul escreveu Here Today, canção que entoou depois de tocar sozinho a bela Blackbird.
George Harrison, outro integrante dos Beatles não foi esquecido. Empunhando um ukelele, instrumento típico do Havaí de som suave, Paul afirmou: "Não sei se vocês sabem, mas George Harrison era um ótimo tocador de ukelele", para depois tocar Something, linda composição do amigo gravada com os Beatles. Quando terminou, pessoas no público lembraram do quarto integrante do quarteto de Liverpool, Ringo Star, e Paul puxou, de improviso, a canção Yellow Submarine, cantada por Ringo na gravação original dos Beatles.
O público também deu seu show. Muitas pessoas combinaram levar máscaras e balões para levantá-los quando o músico tocasse Ob-La-Di, Ob-La-Da, e o que se viu foi um mar de rostos de Paul McCartney balançando durante a música. Atencioso, o músico fez questão de cumprimentar as pessoas que ficaram bem atrás, no anel superior do estádio: "Podemos ver vocês, nós amamos vocês", afirmou.
Paul esteve muito à vontade durante o show e, com sua energia habitual, improvisou dancinhas, fez brincadeiras como equilibrar o baixo em uma mão antes de entregá-lo ao roadie para trocar de instrumento e brincou com o próprio português, agradecendo aos pernambucanos e aos "recifeanos" pela recepção calorosa. O ex-beatle cantou A day in the Life, canção do disco Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band, e a emendou com Give Peace a Chance, refrão repetido com entusiasmo pelo público.
Voltando ao piano, Paul McCartney iniciou o mais empolgante momento do show, cantando Let it Be, que emocionou a multidão. Live and Let Die, a próxima, teve um show pirotécnico de explosões, fogo e fogos de artifício que empolgaram e muito a plateia. Após uma pausa "reclamando" do barulho causado pelos fogos, ele tocou um dos seus maiores sucessos: Hey Jude. Novamente o público deu seu show, levantando placas com a sílaba "na", em referência ao refrão da música, formando um sem fim de "na na nas". As manifestações do público não passaram despercebidas, e o ídolo fez referência e agradeceu a todas. "Vocês são muito gentis comigo", disse Paul.
Após colocar o estádio inteiro para cantar "na na na na", Paul se despediu, agradeceu com a banda e saiu do palco. Alguns minutos depois, voltou para o bis portando uma bandeira dupla: de um lado a britânica, do outro a de Pernambuco. Tocou Lady Madonna e Day Tripper e avisou que algumas pessoas que estavam na plateia queriam subir ao palco. A primeira a subir foi a pequena Hannah, que protagonizou o "momento fofo" do show, quando Paul se ajoeljou para abraçá-la. Autografando para os fãs em cima do palco, o músico brincou dizendo que a situação parecia um show de TV, mais especificamente um "reality show".
Quem roubou a cena foi a pernambucana que se apresentou como Natalia: ela pediu para o músico autografar sua nuca, ao que Paul respondeu: "Sua mãe tá sabendo disso?". Outra a interagir ao vivo com o mito foi a paulista Edilene Pera, que veio de Avaré só para curtir o show de Paul no Recife. Ela levou um cartaz que chamou a atenção da produção, que a chamou para o palco. "Ele é tudo!", afirmou Edilene após o show, lembrando que esteve nas últimas apresentações do ex-beatle no Brasil, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Paul seguiu o bis com Get Back e novamente se despediu, para logo depois voltar cantando sozinho a canção Yesterday, seu hit definitivo, que foi entoada com força pelo público. Após o momento mais intimista, trouxe a banda de volta para tocar a pesada Helter Skelter. Em seguida emendou com o medley presente no último disco dos Beatles, Abbey Road, com as canções Golden Slumbers, Carry that Weight e The End, esta última anunciando o final da apresentação com os belos versos: "In the end, the love you take is equal to the love you make" (No fim, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá).
Após três horas de show, em que Paul não bebeu, como de costume, um gole de água, o público ainda queria mais. Mas era a hora de voltar à realidade e aproveitar o fato de ter vivido um sonho musical provocado por um dos músicos mais importantes do mundo, que não decepcionou. O som, a banda e as luzes estiveram impecáveis. Muita gente parecia extasiado quando acabou a apresentação, como o jovem Heitor Dutra, de 16 anos. Rouco de tanto cantar durante o show, ele afirma ser impossível não conhecer e não gostar de Paul McCartney, afirmando que "O ponto alto do show foi do início até o fim". Heitor veio acompanhado de sua mãe, Sandra Dutra, que foi só elogios: "foi maravilhoso, pontual, uma super produção".
Aos setenta anos, Paul Mccartney deu uma aula de como se fazer um espetáculo musical. Tocou por três horas seguidas, interagiu com o público e manteve a energia do início ao fim. Sua banda também não fica para trás e comlementa o show. Após toda a espera e expectativa criada em torno da sua vinda, o artista fez valer a pena cada minuto de sua apresentação em terras recifenses. Neste domingo (22), o cantor realiza a segunda e última apresentação na cidade, parte da turnê "On the Run".