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Lidar com as regras de um desconhecido sistema bancário é apenas um dentre os diversos desafios enfrentados por quem busca recomeçar suas vidas em um novo país. Mas a falta de certas informações pode levar a escolhas ruins que dificultam a busca pelo equilíbrio financeiro. Buscando evitar as armadilhas, um grupo de refugiados e imigrantes residentes no Rio de Janeiro a se mobilizarem em busca de conhecimento.

"Pude compreender melhor sobre os créditos. Não se deve aceitar o que os bancos estão oferecendo sem pensar com calma. Tem que ter consciência", disse a venezuelana Yennifer Zarate, após participar na última terca-feira (3) do painel Refugiados e a Empregabilidade no Brasil, que tratou do assunto. A iniciativa é da gerência de responsabilidade sociocultural da estatal Furnas. Venezuelanos, congoleses, sírios e outros estrangeiros puderam acompanhar gratuitamente a exposição de diversos especialistas.

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O russo Andrei Kisselev, que morava no Uruguai e se mudou para o Brasil há cinco meses por enxergar no país um melhor cenário econômico, saiu satisfeito. "Acho que posso fazer aqui alguns negócios com mais êxitos. E o que foi falado é extremamente importante, porque são coisas muito específicas. Me interessa muito os detalhes que possam ter relação com importação e exportação, porque é algo que estou começando a negociar. E essas informações ajudam a evitar problemas e a nos preparar antes de começar uma atividade".

Claudia Regina Tenório, assistente social de Furnas, conta que os próprios refugiados, durante a edição anterior do painel, reivindicaram uma discussão específica sobre sistema financeiro. Ela destaca como o conhecimento pode ser determinante e cita casos em que estrangeiros perderam oportunidades de trabalho porque não estavam previamente informados sobre a possibilidade de se registrarem como microempreendedor individual (MEI).

O registro de MEI dá ao profissional autônomo o status de pequeno empresário. Ele passa a figurar no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o que pode ajudar a abrir portas no mercado de trabalho. "Não basta que as oportunidades existam. É preciso oferecer conhecimento para que eles possam estar preparados para aproveitar essas oportunidades", diz Cláudia.

Engenheira industrial, Yennifer trabalhou por anos em uma mineradora na Venezuela e decidiu deixar o país há um ano e cinco meses. Ela precisou andar por oito dias antes de alcançar Boa Vista, capital de Roraima. De lá, sem recursos e passando fome, conseguiu uma carona que lhe levasse até Manaus, onde teve apoio para chegar ao Rio de Janeiro.

"Meu filho e meu marido faleceram, o que me fez decidir sair do meu país. Meu filho morreu recém-nascido por falta de oxigênio. Nenhum hospital na região estava equipado. E depois meu marido sofreu um acidente. Fiquei desesperada e pensei: 'se eu fico, vou morrer também'. A crise econômica afetava tudo. Mesmo uma gripe poderia matar porque não havia condições mínimas de atendimento".

No Brasil, ela está reconstruindo sua vida. Tornou-se artesã e obteve, no ano passado, seu registro como MEI. Ela cita como fundamental o acolhimento da Cáritas, entidade humanitária vinculada à Igreja Católica. "Cheguei no Rio, não sabia o que fazer, não falava nada de português. Mas fui informada na Cáritas sobre o curso de cuidador que é oferecido por Furnas e me inscrevi. Com o curso, consegui um trabalho com pacientes com câncer e no tempo livre aprendi a costurar, o que me deu uma nova atividade. Hoje eu vendo produtos em várias feiras, em Copacabana, em Botafogo, na Freguesia", celebra.

Encontrar uma nova atividade econômica após deixar seu país, como no caso de Yennifer, é comum. Dados de uma pesquisa divulgada em junho pela Universidade Federal do Paraná, em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), revela que apesar de possuírem geralmente alta qualificação, a maioria dos estrangeiros refugiados no Brasil trabalha de forma autônoma e não consegue atuar na área de formação.

Dos 462 refugiados entrevistados, 315 desenvolviam atividades distintas daquelas vinculadas à sua profissão anterior, o que representa 68% do total. Além disso, 19% estavam desempregados neste período. O índice é superior à média nacional de 11,8% apurada no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país reconhece mais de 11 mil refugiados , segundo dados da Acnur de dezembro de 2018.

Enquanto busca se preparar para crescer com suas novas atividades profissionais, Yennifer continua enfrentando dificuldades impostas pela situação econômica de seu país. "É muito difícil. Abri minha microempresa em novembro e só no mês passado consegui dar a minha mãe essa notícia. Onde ela mora, as condições de comunicação são precárias. Mas finalmente contei que minha empresa se chama Alice Artesanatos em homenagem a ela."

Alertas

No painel organizado por Furnas, Yennifer pôde aprender as diferenças entre uma conta corrente e uma conta salário e entender algumas taxas cobrados por bancos. Ela também foi alertada sobre o alto índice de endividamento e inadimplência no país.

"Falar para o refugiado é um desafio pois é um público muito heterogêneo. Você tem pessoas de nacionalidades diferentes e que vieram de realidades socioeconômicas muito diferentes. Há pessoas que mesmo vindo de realidades parecidas, vivem situações distintas no Brasil: umas mais outras menos estabilizadas. Fiz um exercício de me imaginar como estrangeiro. O que eu preciso saber para que não caia em armadilhas? Os brasileiros já têm dificuldade, imagina o estrangeiro que acabou de chegar?", disse um dos palestrantes, Victor Ayres, analista de projetos do Instituto Sicoob, entidade vinculada ao Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil.

Victor destaca os problemas advindos da falta de cautela no uso do cheque especial e do cartão de crédito, que possuem juros altos. Ele orientou os refugiados a pesquisar outras modalidades de crédito, com condições mais favoráveis, caso necessitem de recursos para impulsionar seus negócios.

Outra dica do palestrando foi sobre o pacote de serviço bancário. "Muitos refugiados estão vendo dinheiro sair de suas contas correntes e não sabem o porquê. Quando eles foram abrir a conta, o funcionário do banco ofereceu o pacote básico para eles que custa cerca de R$ 10 por mês. Mas provavelmente não contaram que existe a opção gratuita, que é o pacote essencial", explica. O pacote essencial permite ao correntista mensalmente efetuar quatro saques, realizar duas transferências entre contas da mesma instituição e retirar dois extratos no caixa eletrônico. Se esses limites forem suficientes para a pessoa, ela pode pedir o cancelamento do pacote básico.

 

A perspectiva para o sistema bancário brasileiro será revisada para negativo, informou, nesta terça-feira, 30, a analista sênior de bancos da agência de classificação de risco Moody's, Ceres Lisboa. Durante a conferência anual realizada pela Moody's nesta manhã em São Paulo, Ceres afirmou que a decisão se baseia no fato de que 36% dos bancos acompanhados pela agência, com 95% dos ativos, têm perspectiva de rating negativo. O relatório com essas observações será divulgado pela agência na sexta-feira, 3 de outubro.

"Nossa visão é de que o ambiente macroeconômico e operacional para os bancos continua desafiador", disse Ceres. Ele destacou ainda que há um novo ciclo de inadimplência em andamento, colocando foco nos créditos concedidos para o consumidor e para as empresas. Segundo ela, o fato de os bancos terem priorizado os créditos de menor risco deve amenizar esse novo ciclo de inadimplência. "Mas ele virá", afirmou, de "modo gradual e vai acontecer no longo prazo", observou.

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Sobre os bancos públicos, Ceres disse que existe uma tendência de crescimento na inadimplência que ainda não é explícita nos balanços. Mas que a Moody's está observando esse comportamento, principalmente porque esses bancos, para aumentar as concessões, foram para produtos e áreas nas quais não têm experiência.

Ceres afirmou ainda que a indicação de que a lucratividade e eficiência estão se deteriorando também sustenta a mudança para negativa da perspectiva para o sistema bancário brasileiro. "É importante entender que o padrão de rentabilidade dos bancos mudou e não devemos voltar aos níveis de 10 anos atrás", concluiu.

O presidente da Comissão Reguladora do Sistema Bancário da China, Shang Fulin, afirmou que existe liquidez abundante no sistema bancário do país e que a recente crise de liquidez no mercado de crédito interbancário diminuiu. Trata-se da mais recente tentativa das autoridades de tranquilizar o nervosismo dos mercados.

No início desta semana, o banco central chinês sinalizou que estava tentando pôr um fim a um aperto de caixa, cujo objetivo fora esvaziar uma perigosa bolha de crédito, depois que as quedas no mercado chinês e no exterior terem indicado que suas políticas poderiam produzir efeitos negativos e provocar uma forte desaceleração na segunda maior economia do mundo.

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"Nosso sistema bancário não sofre de falta de liquidez, apesar do recente aperto de caixa, que ocorreu em razão de uma série de fatores", afirmou Shang durante um fórum financeiro.

A crise de crédito diminuiu nos últimos dias e "não vai afetar as operações diárias dos bancos", afirmou ele, acrescentando que alguns bancos precisam melhorar sua liquidez e gerência de risco.

A falta de crédito interbancário se espalhou para o mercado de ações, deixando os investidores nervosos e provocando queda de 5% no valor das ações na segunda-feira, 24, embora os preços já tenham se recuperado.

Shang disse que o regulador vai continuar a pedir aos bancos que mantenham o controle sobre as plataformas de crédito para os governos locais, que cresceram muito entre 2009 e 2010, quando, como parte do pacote de estímulo econômico, os bancos receberam sinal verde para emprestar recursos para projetos de investimento de governos locais.

Muitos economistas e analistas temem que boa parte desse dinheiro tenha sido investida em projetos dispendiosos e inúteis, o que pode levar ao aumento de créditos podres no sistema bancário.

O regulador bancário também pediu aos bancos comerciais que fortaleçam a fiscalização de produtos de gestão de riquezas - investimentos que oferecem apenas parte da garantia de um depósito, mas fornece retornos mais altos - e melhore a transparência das vendas desses produtos.

Até o final de março, os ativos aplicados nesses produtos somavam 8,3 trilhões de yuans, disse Shang. Dados do regulador bancário mostram que os valores investidos nesses produtos chegaram a 7,1 trilhões de yuans no final de 2012, quando a agência coletou dados sobre eles pela primeira vez. Fonte: Dow Jones Newswires.

A situação é a mesma de países como Irlanda e Espanha, onde a necessidade de resgatar o sistema bancário local fez a dívida do governo atingir níveis exorbitantes e obrigou o país a pedir um pacote internacional de resgate. Desta vez, entretanto, a fonte de preocupações da zona do euro vem de um pequeno país insular no Mar Mediterrâneo: o Chipre. Na madrugada do último sábado, os ministros de Finanças da zona do euro concordaram com a inédita decisão de bloquear até 10% dos depósitos dos clientes bancários da pequena ilha europeia, medida que pegou os correntistas cipriotas e os mercados de surpresa e contribui para as quedas acentuadas nos índices acionários da Ásia e Europa nesta segunda-feira (18).

O produto interno bruto (PIB) do Chipre, em torno de 17,8 bilhões de euros, representa apenas cerca de 0,2% da economia da zona do euro, mas isso não faz com que o país seja insignificante para o bloco. No fim do ano passado, a troica - formada por Banco Central Europeu (BCE), Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) - estimou a necessidade de ajuda para o sistema bancário cipriota em 10 bilhões de euros, quase 55% do PIB. No caso da Irlanda, a necessidade de recapitalização dos bancos obrigou à injeção de 64 bilhões de euros. Na Espanha, segundo as autoridades locais, os bancos precisarão de um total de quase 40 bilhões de euros.

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A decisão do Eurogrupo prevê o empréstimo desses 10 bilhões de euros ao Chipre pela troica a fim de solucionar os problemas bancários do país, mas as primeiras reações causaram estranhamento e pessimismo. Na raiz do problema, está a polêmica medida que autoriza o governo a ficar com parte do dinheiro dos clientes que está depositado nos bancos da ilha. Poupadores nacionais ou estrangeiros que tiverem mais de 100 mil euros serão taxados - já que a medida vem na forma de um novo imposto - em 9,99%. Contas com menos de 100 mil euros terão 6,75% do valor bloqueado.

Segundo uma análise do banco francês BNP Paribas, a dívida pública do Chipre atingiu quase 90% do PIB no final do ano passado, após ter terminado 2011 em 72% do PIB e poderia chegar a 150% do PIB se o país tivesse de recapitalizar os bancos locais com recursos públicos. Diante da ameaça à solvência do governo cipriota, o assunto estava em discussão entre autoridades europeias desde o último trimestre de 2012, à espera da eleição presidencial realizada em fevereiro para negociar uma acordo.

Na semana passada, entretanto, as declarações de diferentes autoridades da zona do euro sinalizavam que um acordo ainda parecia distante, com o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, divulgando em sua conta no Twitter que a ajuda da União Europeia ao Chipre seria discutida na reunião do bloco marcada para a sexta-feira e autoridades da Alemanha negando que o assunto estivesse na agenda do encontro.

A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) revisou hoje a avaliação de risco da indústria bancária do Brasil. O sistema bancário brasileiro passou do grupo 5 para o grupo 4, numa escala em que o grupo 1 é o de menor risco e o grupo 10 o de maior risco. Outros países no grupo 4 são México, Espanha, Taiwan, Peru e África do Sul.

A avaliação de risco econômico foi revisada para 5, de 6, enquanto o risco da indústria foi afirmado em 3. Segundo a S&P, a revisão da avaliação é resultado da mudança na metodologia adotada. A agência afirma que a avaliação de risco econômico 5 reflete a opinião de que o Brasil tem "risco alto" em termos de "resiliência econômica", "risco baixo" em termos de "desequilíbrios econômicos", e "risco alto" em termos de "risco de crédito na economia".

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"Melhoramentos econômicos e o consenso político em torno de políticas fiscais e monetárias cautelosas aumentaram a flexibilidade que as autoridades econômicas brasileiras têm para enfrentar choques externos, como demonstrado durante a recente crise mundial econômica e financeira. Entretanto, apesar dos avanços recentes, a rigidez estrutural do Brasil e a necessidade de aumentar investimentos devem resultar em pressões nos gastos, colocando em risco a performance fiscal e enfraquecendo a capacidade de mitigar o impacto de choques externos por meio de políticas anticíclicas", afirma o relatório.

A S&P acrescenta que a avaliação do financiamento no sistema bancário brasileiro é de "risco intermediário". A agência aponta que o setor baseia seus financiamentos nos depósitos de clientes locais (perto de 90% como um porcentual dos empréstimos totais), com uma baixa dependência de financiamentos do exterior (abaixo de 4%). O governo brasileiro é classificado como "apoiador" do sistema bancário, com um histórico de fornecer suporte em períodos de tensão excepcional.

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