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Em 15 dias o país foi palco de três grandes manifestações, duas contra os cortes do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas verbas destinadas às universidades públicas e uma a favor do presidente, colocando em xeque a atuação de deputados e senadores no Congresso Nacional e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os atos reuniram milhares de pessoas erguendo as bandeiras pró e contra Bolsonaro, o que na avaliação da cientista política Priscila Lapa endossou ainda mais a divisão mostrando “existência de duas grandes narrativas a respeito do país, que divide direita e esquerda”.

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Em defesa da educação, os protestos aconteceram nos dias 15 e 30 de maio; já em 26 de maio foi pró-Bolsonaro. Nos dois organizados por estudantes e professores, o primeiro teve um alcance maior e atingiu cerca de 220 cidades, já nessa quinta-feira o balanço é um público menor e atos espalhados por 100 municípios brasileiros.

“Notadamente menores do que as do dia 15 de maio, as manifestações de ontem mostram a disposição de segmentos da sociedade de não arrefecer em sua luta em defesa das universidades públicas, congregando segmentos da sociedade que não estão alinhados com a condução do governo Bolsonaro”, observou a estudiosa.

“Por outro lado, as manifestações de domingo [26] demonstraram a capacidade do presidente Bolsonaro capitalizar para si as insatisfações mais diversas com as instituições e com o sistema político”, completou Priscila Lapa. A mobilização organizada por aliados do presidente ocorreu no último domingo em pouco mais de 150 cidades. No Recife, os organizadores pontuaram a participação de 50 mil pessoas.

Apesar da adesão maciça a favor do presidente, para Priscila nada mudará na popularidade governista. “As manifestações do domingo possivelmente não vão interferir na popularidade do governo ou no aumento da sua avaliação positiva. Elas têm o peso do reforço ao discurso oficial,  mas, ao mesmo tempo, instigam essa luta ideológica entre os lados”, finalizou.

*Fotos Rafael Bandeira e Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

“Bolsominion”, “petralha”, “nazista”, “marmita de Lula”, “apoiador de ditadura”... A lista de adjetivos disparados entre os eleitores por causa das candidaturas à Presidência da República que defendem foi extensa nas eleições deste ano. Ironias, críticas e acusações vêm pautando as discussões políticas que de tão acaloradas começaram a ultrapassar as palavras nas redes sociais e conversas, transformando-se em agressões físicas e até morte em alguns casos.

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O cenário é de uma verdadeira guerra verbal e ideológica que tem preocupado especialistas sobre o rumo que isso tomará após o pleito, uma vez que a histórica polarização presidencial PT e PSDB deu lugar, este ano, a uma discussão mais intensa dos campos ideológicos de direita x esquerda, passeando pelas questões moral e religiosa dos brasileiros.  

“Essa polarização já era esperada, sabíamos que ocorreria em algum momento devido ao período grande de domínio do pessoal mais de correntes à esquerda, como os social democratas, a exemplo de Fernando Henrique Cardoso e Lula. Existia uma direita brasileira que sempre esteve diluída, não estava organizada em termos partidários, mas agora parece que tomou jeito. Isso polariza tudo”, considerou o professor do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Benício Viero Schmidt.

Para Schmidt, “o grande problema é que nessa confusão existe uma grande dificuldade de esclarecer as distinções entre os campos” representados, no caso, pelas candidaturas de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

“É difícil saber quais são as diferenças entre um candidato e outro agora no final porque eles não debatem muito isso e a discussão foi para a moral e os costumes, um velho recurso das eleições no mundo ocidental. Isso é muito perigoso porque põe o sistema eleitoral em xeque”, argumentou o estudioso, que salientou que a cada pleito se instaura um novo debate sobre a importância da democracia no Brasil, a garantia dos direitos das minorias e este ano isso foi mais intenso.

Além da discussão sobre o sistema vigente, outro aspecto ressaltado pelo professor da UnB foi a falta de educação política dos brasileiros, o que intensificou ainda mais o clima, em comparação aos pleitos passados.

“Aqui no Brasil o que marca a sociedade é um grande anti-intelectualismo, qualquer coisa mais ampla que venha a se discutir, as pessoas querem mensagens de 30 segundos. Aí deu nisso, ninguém entende nada. Vão continuar brigando pelo que não sabem e não entendem. Parece torcida de futebol, pensam que entendem o mundo em uma frase. Pouca gente é capaz de entender a complexidade do que está acontecendo e o resultado das eleições é sempre errático”, observou Benício Viero Schmidt.

Com isso, na ótica de Schmidt, o clima acalorado entre os eleitores vai demorar para arrefecer, principalmente porque o próximo presidente não terá um quadro governamental favorável para impor soluções imediatas aos principais problemas do país.

“Vai depender muito de quem vencer [a manutenção das discussões entre os eleitores]. Se vai apresentar resultados positivos especialmente quanto aos direitos da cidadania e a economia. Se isso funcionar bem, há sinal de que essa polarização tende a arrefecer, diminuir. As pessoas tendem a se preocupar mais com as suas vidas pessoais e familiares. A vida está difícil e nenhuma das candidaturas dispostas consegue dar esperança de que a curto prazo algo positivo virá. Essa polarização vai continuar e não acredito que o governo instalado traga resultados positivos para o país a curto prazo, a situação não vai melhorar tão rápido assim”, considerou o estudioso.

 

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