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A variante Ômicron do coronavírus continua a se espalhar como um incêndio em todo o mundo, causando um número recorde de novas infecções diárias que forçam confinamentos e decretos para novas restrições às vésperas de a pandemia completar dois anos.

Na quarta-feira, os Estados Unidos, o país com mais mortes por Covid-19 no mundo - pelo menos 832.000 - registrou cerca de 600.000 novos casos.

Esses números levaram ao adiamento da cerimônia de premiação do prestigioso Grammy Music Awards, marcado para 31 de janeiro, enquanto o Festival de Cinema de Sundance, agendado para 20 a 30 de janeiro em Utah, será realizado online.

Na América Latina, o Peru, país com maior taxa de mortalidade por covid-19 do mundo (612 mortes por 100.000 habitantes em um país de 33 milhões de habitantes), registrou 8.687 novos casos confirmados em 24 horas na quarta-feira, o maior número em oito meses. O governo reduziu a lotação em espaços fechados e estendeu o toque de recolher noturno para tentar conter essa nova onda.

Na Bolívia, mais de 10.000 novas infecções foram registradas na quarta-feira, um recorde desde o início da pandemia, e as autoridades estão especialmente preocupadas com a situação na cidade de Santa Cruz, o epicentro das infecções, onde se teme que a situação cresça fora de controle.

Carlos Hurtado, diretor de Epidemiologia do Serviço de Saúde do Governo Regional, explicou que "pelo terceiro dia da história (da pandemia) ultrapassamos 50% de positividade, ou seja, dos 100 exames realizados, 51 deram positivo".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu que acima de 50% de positivos a situação não está mais sob controle.

- Grávida perde bebê na porta do hospital -

Em todo o mundo, o coronavírus causou pelo menos 5,4 milhões de mortes e quase 300 milhões de casos. A ômicron é muito mais contagiosa do que as variantes anteriores, mas não está causando um aumento na mortalidade, de acordo com dados oficiais.

Na China, entretanto, onde os primeiros casos de covid-19 foram registrados no final de 2019, a estratégia das autoridades permanece "zero covid" e as novas restrições são rígidas.

Hong Kong, onde foram registradas cem casos de ômicron, fechará suas fronteiras a partir de sábado por duas semanas para viajantes de oito países, incluindo os Estados Unidos.

A vizinha Macau fará o mesmo a partir de domingo, para todos os viajantes internacionais.

A China praticamente erradicou as infecções graças às suas medidas drásticas, que incluem severos bloqueios e quarentenas, testes diagnósticos massivos e fechamento de fronteiras.

Segundo dados oficiais, o país registrou apenas 103.121 casos desde o início da pandemia. Mas os pequenos surtos detectados preocupam as autoridades às vésperas das Olimpíadas de Inverno de Pequim, que serão realizadas de 4 a 20 de fevereiro.

Na cidade de Xi'an, no norte, onde os 13 milhões de habitantes estão confinados há duas semanas, uma grávida de oito meses perdeu o bebê após um hospital lhe negar atendimento por duas horas porque ela não tinha um teste negativo para covid recente, de acordo com uma postagem nas redes sociais. Uma fotografia da mulher, sentada em um banquinho e cercada por uma poça de sangue, circula por todo o mundo.

A AFP não conseguiu verificar esta postagem, que foi apagada, mas a prefeitura de Xi'an anunciou a suspensão do diretor do hospital e outros funcionários e a abertura de uma investigação para eventos "que causaram grande preocupação e impacto negativo na sociedade”, de acordo com o texto divulgado pelas autoridades municipais.

Na França, onde foi registrado o número recorde de 332.252 novas infecções nesta quarta-feira, os deputados aprovaram um projeto de lei sobre o passaporte de vacinação, que será necessário para entrar em cinemas, bares e determinados transportes, por exemplo.

Na Itália, a vacinação se tornou obrigatória para maiores de 50 anos, ou seja, metade da população.

- Djokovic será deportado da Austrália? -

A situação de saúde também está impactando o Aberto de Tênis da Austrália. A realização da competição não está em questão, mas pode não ter o número um do mundo Novak Djokovic.

O jogador sérvio, que se opõe à vacinação obrigatória, obteve autorização médica para participar do torneio. Mas essa decisão provocou uma enxurrada de críticas na Austrália, país que sempre manteve medidas muito rígidas de combate à pandemia.

Djokovic foi bloqueado pelas autoridades de imigração ao chegar em Melbourne devido, oficialmente, a um erro administrativo em seu visto de entrada.

O jogador conseguiu adiar sua deportação do país na manhã desta quinta-feira, mas não está claro por enquanto se ele finalmente poderá entrar oficialmente na Austrália e jogar o torneio. O presidente sérvio acusou a Austrália de "maus tratos".

burs-bl/es/jc

Uma pesquisa liderada pelo Instituto Butantan identificou os padrões da disseminação da variante delta do novo coronavírus pelo Brasil e a origem da entrada da linhagem no país. Segundo o instituto, é a primeira vez que esse mapeamento é feito. A pesquisa foi publicada na plataforma de preprints medRxiv .

As análises mostraram que algumas das dez introduções independentes ocorridas no Brasil até o final de setembro foram relacionadas com amostras da variante delta em circulação na Austrália e nos Estados Unidos, outras se relacionaram com amostras do Reino Unido. Foi identificada a disseminação da variante por oito estados brasileiros no primeiro semestre de 2021.

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Em relação à transmissão comunitária, que já estava estabelecida desde junho, foram detectadas ao menos quatro cadeias de transmissão independentes: no Rio de Janeiro, em Goiás, no Maranhão e no Paraná.

Para o estudo, foram utilizados dados coletados pela Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2 do estado de São Paulo, conduzida pelo Butantan, que já sequenciou mais de 30 mil amostras do vírus.

Conjunto de dados global

Os pesquisadores reuniram um conjunto de dados global e representativo disponível na plataforma Gisaid (sigla para global initiative on sharing all influenza data), iniciativa que fornece acesso aberto a dados genômicos do vírus influenza e do coronavírus. Atualmente, a plataforma reúne 170 mil genomas da variante delta.

Com condução do Instituto Butantan, a pesquisa teve participações do Hemocentro de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, da Universidade Estadual Paulista, da Universidade Federal de Minas Gerais, da Fundação Oswaldo Cruz e da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.

De acordo com o Butantan, a variante delta é responsável atualmente por 90% dos casos de covid-19 no Brasil, registrados nos 26 estados e no Distrito Federal. De acordo com a Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, a delta predomina no estado de São Paulo desde a 33ª semana epidemiológica (15 a 21/8). Na 42ª semana epidemiológica (17 a 23/10), ela correspondia a 99,7% das amostras sequenciadas pela rede, seguida pela variante P.1.7 (0,3%).

Os primeiros casos relatados de infecções no país estão associados a um navio cargueiro que partiu da Malásia em 27 de março e que havia passado pela África do Sul antes de chegar ao Brasil, em 14 de maio, transportando mais de 20 tripulantes, seis deles positivos para a delta.

A primeira amostra da variante delta coletada na cidade de São Paulo, ainda de acordo com o instituto, é do final de junho. A introdução na Grande São Paulo provavelmente chegou por Taubaté, partindo inicialmente do estado do Rio de Janeiro.

“Uma das teses apontadas para que a delta não tenha causado tantos danos aos brasileiros é a vacinação realizada com a CoronaVac. No Chile, por exemplo, a variante não causou tantos danos quanto em outros países que não aplicavam a vacina desenvolvida pelo Butantan. Outro fator que contribui com a diminuição dos casos foi a variante gama, que infectou um alto número de pessoas no país e pode ter gerado uma imunidade na população contra a variante delta”, divulgou, em nota, o Butantan.

Jair Bolsonaro não aceitou participar do compromisso de combater a desinformação e a propagação de fake news em meio à pandemia. O documento foi assinado pelas autoridades de 132 países, a exemplo dos Estados Unidos, Reino Unido, Bolívia, Argentina e Venezuela. 

Mas o Brasil preferiu seguir o exemplo de países comunistas como China, Cuba e Coreia do Norte. O Itamaraty não esclareceu sobre a decisão de não aderir à iniciativa. No mês passado, o Supremo Tribunal Federal fechou o cerco ao "gabinete do ódio" e apreendeu documentos, computadores e celulares em endereços de 17 pessoas ligadas ao presidente Jair Bolsonaro. 

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Como revelou o Estadão em setembro do ano passado, o "gabinete do ódio" está instalado dentro da estrutura do gabinete do presidente da República. A atuação do grupo é investigada pelo inquérito do STF que apura ameaças, ofensas e a disseminação de fake news contra integrantes da Corte e seus familiares.

O registro de vítimas fatais decorrentes do novo coronavírus tem dobrado no Brasil a cada dois dias e já superou a evolução pandêmica dos locais com mais infectados no mundo. Enquanto nos Estados Unidos a proliferação é duplicada a cada seis dias, na parte mais afetada da Europa, a multiplicação ocorre a cada oito dias.

"A nossa situação hoje é pior do que a de Itália, Espanha e Estados Unidos. Por isso, o número de mortes está dobrando em um espaço de tempo menor", declarou o epidemiologista Diego Xavier ao Estadão. Ele é um dos responsáveis pelo levantamento feito pela Fiocruz que revela efeitos e a velocidade da Codiv-19 no Brasil.

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A nota técnica do sistema Monitora Covid-19 também destaca a chegada do vírus em municípios do interior do Brasil. Enquanto todas as grandes cidades - com mais de 500 habitantes - já registraram casos da doença, cerca de 59% dos locais com o quantitativo de habitantes entre 50 mil e 100 mil foram contaminados. 25,8% das cidades com a população de 20 mil a 50 mil já identificaram casos e, aproximadamente 11% dos municípios com população entre 10 mil e 20 mil, foram atingidos. A disseminação também se estende em 4% das pequenas cidades, com a população até 10 mil pessoas.

No entendimento do especialista, suspender o isolamento domiciliar nas cidades que não apresentaram casos confirmados da pandemia ainda não é ideal. "Estão tomando uma decisão muito arriscada", avaliou Xavier, pois, mesmo sem a oficialização de casos, a doença já pode estar circulando na região. Ele também reforçou a relação entre as metrópoles e o interior para garantir que é praticamente inevitável que o vírus não acometa os locais mais distantes.

Mesmo com duas confirmações e um óbito, prefeito de Santa Branca, no Interior de São Paulo, garante que a Covid-19 não circula na cidade, que tem apenas 14 mil habitantes. "Esses casos não são nossos, embora sejam moradores daqui", declarou Celso Simão Leite (PSDB).

Ele explica que os dois pacientes confirmados são um casal que foi infectado em um hospital da capital, onde a mulher de 71 anos se tratava de um câncer. Após a morte da esposa, o homem retornou ao município e cumpre uma "quarentena rigorosa", de acordo com o prefeito.

A cepa H7N9 da gripe das aves pode se disseminar entre furões e poderia fazer o mesmo entre humanos em certas condições, revelam estudos com animais de laboratório sobre o vírus, publicados esta quinta-feira. Até agora não se conhecem casos de disseminação entre pessoas do novo vírus, que infectou 131 pessoas e matou 36 desde que apareceu na China, em março passado.

Se o vírus conseguir se espalhar facilmente entre humanos, especialistas temem que possa provocar uma pandemia generalizada. Estudos com animais são o primeiro passo para compreender quão facilmente o patógeno pode se espalhar entre as pessoas. "O vírus da influenza H7N9 é infeccioso e transmissível entre mamíferos", destacou o estudo publicado na revista científica americana Science, conduzida por cientistas da Universidade Shantou, da Universidade de Hong Kong, em conjunto com colegas dos Estados Unidos e do Canadá.

"Em condições adequadas, a transmissão homem a homem do vírus H7N9 pode ser possível", acrescentou o estudo.

Os cientistas infectaram furões em laboratório com uma amostra de H7N9 retirada de uma das pessoas que morreram em consequência dele, e descobriram que o vírus se espalhou entre furões por contato direto, destacou o estudo. O vírus também revelou ser transmissível pelo ar, embora apenas um dos três furões testados tenha ficado doente desta forma.

O estudo também fez testes com porcos, que são considerados mais próximos aos humanos do que os furões e revelou que os porcos poderiam se tornar infectados, mas que eles não transmitiam o vírus entre si. "Embora o estudo tenha demonstrado que um porco infectou outro porco facilmente, então ficaria mais preocupado", disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.

Fauci, que não participou do estudo, disse que as descobertas deveriam ser interpretadas com cuidado. "Em circunstâncias muito experimentais, um mamífero pode infectar outro por contato direto", declarou à AFP. "Dizer que corremos agora um risco maior de uma pandemia provavelmente é um exagero", acrescentou. "Obviamente é algo sobre o que precisamos nos manter vigilantes para garantir que entendamos o vírus melhor", emendou.

Os furões que foram infectados não demonstraram sintomas da doença imediatamente, mesmo o vírus estando presente em suas secreções nasais, o que os autores do estudo viram ser típico na pandemia e na gripe sazonal.

Depois de autópsia realizada nos animais infectados, o vírus demonstrou se replicar tanto no trato respiratório superior quanto no inferior, e o RNA viral foi detectado na traqueia, os pulmões, nos nódulos linfáticos e nos cérebros dos furões.

"Parece-me significativa uma quantidade tal de vírus chegando ao cérebro", disse Suresh Mittal, especialista em gripe aviária e professor de patologia comparativa da Universidade Purdue.

Mittal, que não participou do estudo, disse não ser comum para alguns vírus altamente patogênicos alcançarem o cérebro, mas isto não é comumente visto em pandemias de gripe humana e é necessário fazer mais pesquisas. "Os médicos serão mais cautelosos ao acompanhar pacientes e ver se eles desenvolvem sinais de encefalite ou não", afirmou à AFP.

Alguns sintomas precisam incluir confusão, tontura, fortes dores de cabeça e no pescoço, disse. De modo geral, Mittal afirmou que o estudo parece ter sido bem feito e forneceu indícios importantes sobre a transmissibilidade do vírus. "O vírus parece perigoso porque não infecta humanos e mesmo em porcos o vírus sai das secreções nasais", afirmou.

Ele disse que as granjas e fazendas de criações de porcos são comumente separadas na América do Norte, reduzindo a probabilidade de que um vírus aviário possa saltar para um hospedeiro suíno e, eventualmente, infectar humanos. "Mas na China, elas podem não ser separadas, portanto as chances de que porcos venham a se contaminar com um vírus aviário são muito maiores", disse.

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