A perda da medalha inédita para o Brasil na marcha atlética feminina dos 20 km provocou uma dor imensurável em Érica Sena nesta sexta-feira (6). A brasileira estava perto de conquistar ao menos o bronze no momento em que, a poucos metros da linha de chegada, recebeu a terceira advertência por um movimento proibido e teve de parar por dois minutos, sendo ultrapassada por várias adversárias e dando fim ao sonho do pódio ao terminar na 11ª colocação. Depois da prova, a marchadora elencou as dificuldades para chegar até a Olimpíada de Tóquio e revelou que pensou em desistir.
"Queria muito esse resultado, a marcha atlética brasileira precisava muito disso e eu dei tudo de mim na competição. Estou contente porque hoje fiz a melhor prova da minha vida. Me considero uma vencedora", disse a pernambucana de 36 anos.
##RECOMENDA##"Tive um ano muito difícil, treinei com muitas dores, pensei em parar. Agradeço muito ao meu treinador, que me deu muita força para que eu não desistisse", acrescentou a atleta, a única brasileira entre as 58 competidoras da marcha atlética disputada na cidade de Sapporo, distante mais de 800 km de Tóquio.
O treinador a que Érica se refere é seu marido, o equatoriano Andrés Chocho, recordista sul-americano dos 50 km da marcha. A brasileira mora com ele em Cuenca, no Equador, desde 2011, e se tornou a melhor marchadora da história do Brasil, com resultados expressivos.
Érica ficou tão desolada com a punição que chorou muito após cruzar a linha de chegada e saiu sem falar com os jornalistas. Na marcha atlética, o competidor não pode tirar os dois pés do chão. Quando um sai do solo, o outro começa o movimento e o joelho da perna que dá a passada não pode ser flexionado até que o movimento seja realizado por completo. Vários juízes ficam espalhados ao longo do percurso para aplicar as eventuais advertências. A terceira sanção obriga o atleta a parar por dois minutos, o que aconteceu com a brasileira ao realizar um movimento irregular.
"O que ocorreu no final foi muito inesperado e nunca havia acontecido comigo em grandes competições. A chinesa que estava atrás de mim é a atual campeã mundial e uma atleta muito rápida. A ideia era acelerar antes e ganhar distância dela. Deu certo e quando vi, já estava me aproximando da colombiana e brigando pelo segundo lugar. Depois disso, todos viram o que aconteceu", explicou ela, ainda tentando processar a perda da medalha. "É muito duro por tudo que fiz, mas aconteceu. Fiz o melhor que pude e dei tudo de mim por essa medalha", emendou.
O ouro da marcha atlética ficou com a italiana Antonella Palmisano, com 1h29min12s, a prata foi para a colombiana Sandra Lorena Arenas, que marcou 1h29min37s, e o bronze, para a chinesa Hong Liu, com 1h29min57. Erica realizou o percurso em 1h31min39. Sem a punição, certamente subiria ao pódio. Sua prova foi consistente, tanto que ela chegou a liderar em mais de uma ocasião e sempre esteve no pelotão da frente.
Érica foi a primeira mulher do Brasil a conquistar uma medalha na marcha atlética em Jogos Pan-americanos ao ganhar a prata em Toronto-2015. Em 2019, em Lima, terminou em terceiro lugar. Tóquio-2020 foi sua segunda Olimpíada. No Rio-2016 concluiu a prova na sétima colocação. Além disso, a pernambucana foi quarta colocada nos Mundiais de Londres-2017 e de Doha-2019.