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Uma desatualização cadastral adia o pagamento do auxílio emergencial de um grupo de mulheres ex-presidiárias no Recife. O atraso foi motivo de um protesto na tarde desta quinta-feira (15), em frente à Defensoria Pública da União (DPU), no bairro da Boa Vista, no Centro. Segundo uma das organizadoras, Andreza Chiarelle de Souza, o pagamento foi autorizado judicialmente em 2020 e é referente às parcelas do ano passado, pois elas não fizeram parte dos grupos contemplados pelo benefício, que retornou em 2021.

Juntas, elas se identificam como o movimento Mulheres, Liberdade e Cidadania (MLC), atuante na comunidade dos Coelhos, também na região central da capital pernambucana, e comunidades adjacentes. São chefes de família de baixa renda que, apesar de terem passado pelo sistema prisional, já cumpriram suas penas e estão em liberdade.

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“Apesar da nossa luta, do trabalho e de sermos ex-presidiárias, ajudamos nossa comunidade com um sopão, arrecadamos alimentos para fazer cestas e doar para estas mulheres, para elas não entrarem para a vida do crime. Tem a pandemia, o lockdown, tudo fechado. Muitas aqui têm filhos e estão sem renda, a gente só recebe o dinheiro do Bolsa Família, com R$ 130. Não nos contemplaram com o auxílio este ano porque dizem que nós estamos presas, mas estamos todas soltas. Faz 10 anos que eu estou na rua. A gente errou no passado e pagamos pelo nosso erro. Isso não dá oportunidade de trabalho, o nome 'ex-presidiária' é muito forte”, disse Andreza ao LeiaJá.

No cadastro enviado às instituições, ex-presidiárias constam como ainda encarceradas e sob cumprimento de pena. Na tentativa de um diálogo com a DPU, o MLC protestou em frente à unidade, mas não foram atendidas pelo jurídico. Ainda segundo Andreza, nas outras tentativas, a defensoria sugeriu que o grupo buscasse a Caixa Econômica Federal, que lança os pagamentos do auxílio, mas ao buscar atendimento na CEF, as mulheres são novamente direcionadas à DPU e assim, o caso segue sem solução.

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Com informações de Marília Parente

O sistema penitenciário brasileiro conta com cerca de 42 mil mulheres presas (dados do Departamento Penitenciário Nacional - Depen), sendo assim, o Brasil é considerado o quarto país com maior população carcerária feminina no mundo. Em sua  grande maioria, essas mulheres são de origem pobre; negras ou pardas; com baixo nível de escolaridade; e foram presas por tráfico de drogas (62%, de acordo com o Depen).

Encarceradas em um sistema precário de maneira geral, que sofre com falta de estrutura e superlotação, as detentas costumam enfrentar algumas dificuldades a mais nas prisões. Geralmente responsáveis pela família, elas acabam desfalcando seus lares e até perdendo a tutela de seus filhos. Para as gestantes, não há auxílio adequado durante o período da gravidez, bem como  estrutura apropriada após o parto.

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Também é comum às mulheres presas a falta de apoio dos familiares, maridos e companheiros  - como ilustrado pelo Dr. Drauzio Varella, no livro Prisioneiras -; e até mesmo a manutenção de suas necessidades básicas, como o uso de absorventes durante o período menstrual, pode ser um grande desafio - realidade também retratada em livro; Presos que menstruam, da escritora Nana Queiroz. 

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Ao pagarem suas contas com a Justiça e deixarem o cárcere, a vida dessas mulheres continua sendo de dificuldades. Retomar as famílias e encontrar uma colocação profissional, além dos traumas acumulados durante a detenção podem transformar qualquer vivência em um martírio sem fim. Porém, um projeto social realizado em São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal vem usando a astrologia como ferramenta de apoio e acolhimento à  egressas do sistema. É o Zo.e – Astrologia para todos. 

Criado em maio deste ano pela astróloga Débora Gregorino, o projeto tem como propósito levar a Astrologia para o maior número possível de mulheres: "Não só no Brasil, mas em todos os países que pudermos chegar", pontua a idealizadora, em entrevista exclusiva ao LeiaJá

A ideia surgiu durante uma visita de Débora à sede da Casa Flores, organização voltada à ressocialização de mulheres egressas do sistema prisional em São Paulo: "Me despertou a vontade de contribuir de alguma forma. Levei um tempo para amadurecer a ideia, até que em maio de 2020 criei o Zo.e – Astrologia para todos".

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Atuando em parceria com as instituições Casa Flores (SP), AHUP (DF), Elas existem e EuSouEu (RJ), uma equipe de oito astrólogos oferece "orientação, escuta e acolhimento" à ex-detentas, familiares de presos (as) e funcionárias do sistema prisional através do atendimento astrológico. “Durante o atendimento o astrólogo fala sobre a personalidade da pessoa - o que contribui para o autoconhecimento - e dá espaço para que ela manifeste qual é o seu dilema mais relevante no momento".   

Os atendimentos são realizados à distância, via aplicativo WhatsApp, e até o momento, mais de 60 mulheres já passaram pela equipe. O retorno daquelas que passaram pelos profissionais tem sido muito positivo e alguns relatos podem ser vistos no Instagram do projeto. "Essa é a parte mais especial, sem dúvida, receber o retorno delas. Ficam todas muito gratas, impressionadas e demonstram ânimo para promover mudanças.  Algumas relatam em poucas semanas as evoluções que fizeram em suas vidas, seja no profissional, no pessoal, na saúde... Percebo que por receberem um único atendimento elas valorizam e aproveitam ao máximo", diz Débora. 

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Preconceito

Para a criadora do Zo.e, "a Astrologia é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento e facilitadora da evolução do indivíduo" e por esse motivo, "o acesso a ela deve ser mais inclusivo". No entanto, o preconceito de alguns em relação a esse tipo de trabalho pode ser um dificultador na execução de seu projeto social, pois, segundo ela  "alguns ainda não compreendem o saber astrológico como uma terapia".

"A precariedade ou ausência do acesso à internet para muitas mulheres" também tem se colocado como impedimento para que mais pessoas possam ter acesso ao serviço voluntário. O atendimento de forma virtual sempre foi a prioridade para os voluntários do Zo.e, até mesmo pelo contexto de pandemia no qual ele surgiu, no entanto, Débora não descarta a migração do projeto para o modo presencial, no futuro. 

Parcerias

No intuito de levar a Astrologia para um maior número de mulheres, tornando-a mais acessível para todos, Débora coloca o projeto à disposição de pesquisadores como fonte de estudo para contribuir na compreensão tanto dessa ferramenta quanto da parcela da sociedade atendida pela iniciativa.

Além disso, o projeto está aberto para parcerias com entidades que atendam ao mesmo público que o seu, o Zo.e também está na busca de patrocínio de empresas privadas e órgãos governamentais. O público em geral também pode apoiar o trabalho fazendo doações por meio de uma vaquinha virtual. 

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