Tópicos | golpe de 1964

O Ministério Público Federal (MPF) acionou a Justiça Federal para obrigar o Ministério da Defesa a apagar a nota publicada no site oficial da pasta em comemoração aos 58 anos do golpe que inaugurou a ditadura militar no Brasil.

Em manifestação divulgada quarta-feira (30), o ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que mais cedo pediu exoneração do cargo com pretensão de disputar as eleições em outubro como vice do presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que o golpe militar foi um 'marco histórico da evolução política brasileira'. A manifestação também diz que as Forças Armadas agiram para 'restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil'.

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O MPF pediu a remoção imediata da nota e reiterou uma representação, enviada em fevereiro, para proibir a União de fazer novas publicações para celebrar o golpe militar de 1964.

"É patente a reiteração do ato ilícito objeto da presente ação civil pública, demonstrando verdadeiro menoscabo por parte do Governo Federal e seus agentes em relação à Constituição da República, às leis, bem como ao Estado Democrático de Direito", diz um trecho da representação.

O período da ditadura foi marcado pelo fim das eleições diretas, fechamento do Congresso, censura, tortura e assassinatos praticados pelo Estado brasileiro. O Ministério Público Federal afirma que os agentes públicos que fizerem apologia ao golpe devem ser responsabilizados.

"A homenagem, a celebração e a apologia ao Golpe Militar de 1964, por instituição ou agente públicos, enquanto regime antidemocrático, violador de liberdades e contrário à dignidade humana, vulnera, de forma drástica, os fundamentos da República Federativa do Brasil, ensejando a responsabilização solidária dos que concorreram para a realização do ato ilícito, sejam eles servidores públicos, agentes políticos ou particulares", critica o MPF.

O pedido foi enviado no âmbito de uma ação movida pelo Ministério Público depois que a Presidência distribuiu um vídeo comemorativo ao golpe militar. "O Exército nos salvou. Não há como negar. E tudo isso aconteceu num dia comum de hoje, um 31 de março. Não dá para mudar a história", dizia a peça encaminhada pela conta de WhatsApp da Secretaria de Comunicação da Presidência.

Leia a íntegra da nota divulgada pelo Ministério da Defesa:

Brasília (DF), 30/03/2022 - O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época.

Analisar e compreender um fato ocorrido há mais de meio século, com isenção e honestidade de propósito, requer o aprofundamento sobre o que a sociedade vivenciava naquele momento. A história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização.

Neste ano, em que celebramos o Bicentenário da Independência, com o lema "Soberania é liberdade!", somos convidados a recordar feitos e eventos importantes do processo de formação e de emancipação política do Brasil, que levou à afirmação da nossa soberania e à conformação das nossas fronteiras, assim como à posterior adoção do modelo republicano, que consolidou a nacionalidade brasileira.

O século XX foi marcado pelo avanço de ideologias totalitárias que passaram a constituir ameaças à democracia e à liberdade. A população brasileira rechaçou os ideais antidemocráticos da intentona comunista, em 1935, e as forças nazifascistas foram vencidas na Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a relevante participação e o sacrifício de vidas de marinheiros, de soldados e de aviadores brasileiros nos campos de batalha do Atlântico e na Europa.

Ao final da guerra, a bipolarização global, que fez emergir a Guerra Fria, afetou todas as regiões do globo, o que trouxe ao Brasil um cenário de incertezas com grave instabilidade política, econômica e social, comprometendo a paz nacional.

Em março de 1964, as famílias, as igrejas, os empresários, os políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a sociedade em geral aliaram-se, reagiram e mobilizaram-se nas ruas, para restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil, por grupos que propagavam promessas falaciosas, que, depois, fracassou em várias partes do mundo. Tudo isso pode ser comprovado pelos registros dos principais veículos de comunicação do período.

Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional.

As instituições também se fortaleceram e as Forças Armadas acompanharam essa evolução, mantendo-se à altura da estatura geopolítica do País e observando, estritamente, o regramento constitucional, na defesa da Nação e no serviço ao seu verdadeiro soberano - o Povo brasileiro.

Cinquenta e oito anos passados, cabe-nos reconhecer o papel desempenhado por civis e por militares, que nos deixaram um legado de paz, de liberdade e de democracia, valores estes inegociáveis, cuja preservação demanda de todos os brasileiros o eterno compromisso com a lei, com a estabilidade institucional e com a vontade popular.

Walter Souza Braga Netto

Ministro de Estado da Defesa

 

Deputados que integram a bancada do PSOL na Câmara protocolaram na manhã desta quinta-feira, 31, no Ministério Público Federal, uma representação pedindo a investigação do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Defesa Braga Netto por suposta 'incitação ao crime' e 'apologia de crime ou criminoso' em razão da nova exaltação do golpe de 31 de março de 1964, que marcou o início da ditadura militar - período sombrio marcado por torturas, assassinatos e censura.

O documento também atribui a Bolsonaro e a Braga Netto crimes de responsabilidade e atos de improbidade administrativa, solicitando que o Ministério Público Federal 'tome todas as providências cabíveis' para a imediata retirada de todas as ordens do dia que o governo editou para fazer 'apologia' ao golpe. Além disso, os deputados pedem a responsabilização do presidente e do ministro da Defesa por dano moral coletivo, com indenização a ser revertida a organizações de direitos humanos em defesa da Memória, Verdade e Justiça.

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"Ao pretender sua volta (da ditadura), os Representados (Bolsonaro e Braga Netto) incitam a prática dos mesmos crimes antes cometidos como a tortura, o abuso de poder, as lesões corporais, os homicídios e numerosos outros tipos penais todos atentando contra a sociedade, a democracia, as organizações, a liberdade e a vida das pessoas", sustentam os parlamentares.

Os deputados ressaltam que a ordem do dia assinada por Braga Netto contraria 'a Constituição, os fatos históricos e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, em especial aqueles relacionados ao exercício dos direitos políticos e respeito à democracia'. A representação diz que o presidente e o ministro da Defesa são responsáveis por 'comportamentos reiterados e permanentes de afronta' à carta magna.

"O que se observa, portanto, é que o Estado brasileiro, conduzido por Jair Bolsonaro, além de ignorar as determinações da Constituição Federal e da Corte Interamericana de Direito Humanos, atua em sentido diametralmente oposto: faz apologia à ditadura militar em plena página oficial do governo", sustentam os parlamentares.

Após ser citada na ordem do dia assinada pelo ministro da Justiça, a Ordem dos Advogados do Brasil também se manifestou sobre o aniversário do golpe militar, reafirmando seu 'compromisso com o Estado de Direito e com a defesa do sistema eleitoral vigente, que tem assegurado a continuidade da democracia no país'.

Em nota, o presidente da entidade, Beto Simonetti, sustentou que a ordem contestou o Ato Institucional Número 5 (AI-5) - o mais duro da ditadura - e as prisões politicas. Segundo o advogado, a OAB 'protagonizou a luta pela democracia'.

Na ordem do dia que exalta a ditadura, Braga Netto alega que o golpe teria sido apoiado por famílias, igrejas, empresários, políticos, a imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), as Forças Armadas e a "sociedade em geral".

O governador João Doria foi às redes sociais na manhã desta quinta-feira (31), mas não comentou o assunto do dia envolvendo seu nome - sua desistência da corrida presidencial. Em vez disso, falou sobre a carta que o Ministério da Defesa, chefiado por Walter Braga Netto, publicou ontem à noite para celebrar o aniversário do golpe militar.

No documento, Braga Netto qualifica o regime como um "marco histórico da evolução política brasileira" e diz que o golpe agiu para "restabelecer a ordem e impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil", ainda que não haja nenhuma evidência histórica para tal afirmação.

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"Inacreditável a afirmação do Ministro da Defesa que o Golpe de 64 fortaleceu a democracia. Esse foi o período mais sombrio e antidemocrático da nossa história! Pessoas foram presas, torturadas e mortas. A imprensa censurada e a liberdade cerceada. Inaceitável!", escreveu o tucano.

Doria e Braga Netto dividem a lista de assuntos mais comentados do Twitter nesta quinta-feira. Após as declarações do ministro, usuários retomaram trechos do discurso de Ulysses Guimarães quando da promulgação da Constituição. A expressão "ódio e nojo pela ditadura" foi uma das mais repetidas na plataforma durante a madrugada.

Já Doria aparece nos trending topics por ter desistido da corrida presidencial. O tucano deve anunciar hoje à tarde, às 16h, que irá permanecer no governo de São Paulo. Até o momento, ele não se pronunciou sobre o assunto. A desistência acentua a crise interna que o PSDB enfrenta desde a realização das prévias, no passado.

A Comissão de Direitos Humanos do Senado aprovou nesta quarta-feira proposta para revisar a Lei de Anistia, que perdoou em 1979 os crimes políticos do período mais violento da ditadura militar. Pelo projeto do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), militares e civis poderão ser punidos por atos de tortura e outras violações de direitos humanos. A proposta precisa ainda passar pelas comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional e de Constituição, Justiça e Cidadania antes de ser votada no plenário.

O Palácio do Planalto já sinalizou que não pretende movimentar seus aliados para revisar a Anistia e permitir a punição de agentes da ditadura. No último dia 31, aniversário de 50 anos do golpe militar, a presidente Dilma Rousseff afirmou, em solenidade no palácio, que "reconhece" e "valoriza os pactos políticos que nos levaram à redemocratização". Para a presidente, a Lei de Anistia foi uma construção de setores diversos da sociedade brasileira e não apenas da ditadura que caminhava para o fim.

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A pressão para punir os torturadores da ditadura é de grupos de direitos humanos, da Anistia Internacional e de famílias de vítimas da repressão militar. Essas entidades ressaltam que acordos e tratados internacionais assinados pelo Brasil consideram o crime de tortura imprescritível. Os grupos reclamam que a atual legislação trata "criminosos" como "defensores" da ordem.

Ao defender a mudança na lei, o senador Randolfe Rodrigues afirmou que a Anistia foi imposta pela ditadura. O projeto da autoria dele determina que não se incluem entre os crimes conexos (definidos pela lei) torturas, sequestros e homicídios cometidos por agentes públicos, civis e militares. "Não pode haver ódio, mas não pode haver perdão", disse o senador. Ele avaliou que a revisão ajudará no resgate da memória e da verdade.

O debate sobre a derrubada da Lei de Anistia chegou ao Congresso em abril de 2010, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para punir policiais e agentes das Forças Armadas que praticaram tortura.

O então ministro Cezar Peluzo avaliou que a Anistia não barrava o esforço para a recuperação da memória. Por sete votos a dois, os ministros do STF avaliaram que não cabia ao Judiciário rever um "acordo político" da transição da ditadura para a democracia, a Lei 6683, que perdoou crimes praticados entre 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979. Entre os que votaram contra o pedido estavam os ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello, que ainda atuam no tribunal. Juristas e entidades de direitos humanos estão certos de que a aprovação de um projeto de revisão da Anistia no Congresso levaria o debate sobre a punição dos torturadores novamente para o STF.

Autora do primeiro requerimento para realizar uma sessão de 50 anos do golpe militar de 1964, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) criticou o comando da Câmara pela forma como os trabalhos foram conduzidos. Ela afirmou que, ao se propor igualdade de tempo entre ela e Jair Bolsonaro (PP-RJ), a Casa estava legitimando uma defesa da ditadura. Por isso, diz, apoiou a manifestação que acabou com o encerramento da sessão antes de o parlamentar favorável à ditadura discursar.

"O golpe continua com os desrespeitos aos direitos humanos. Não acabou a ditadura. A lei de anistia é um absurdo jurídico, anistia algozes e vítimas. E a Câmara errou aqui. Não há neutralidade numa questão dessa", disse a deputada.

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Bolsonaro afirmou que sua fala foi impedida porque os adversários não queriam ouvir "verdades" sobre o período militar. O deputado diz que faria ataques ao PT, à presidente Dilma Rousseff e ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso no processo do mensalão. "Ia torturá-los com muitas verdades", ironizou o deputado.

A sessão solene em alusão aos 50 anos do golpe militar foi suspensa por alguns minutos após um tumulto entre participantes do evento na manhã desta terça-feira (1º). O incidente começou quando o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) abriu uma faixa na galeria do plenário com os dizeres: "Parabéns militares - 31 de março de 1964. Graças a vocês o Brasil não é Cuba".

Com a manifestação do deputado, a plateia participante respondeu à iniciativa com os gritos de "assassino". A partir daí, um tumulto se formou no plenário e a diretora da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas, Ivone Luzardo, passou mal e caiu após um empurra-empurra no plenário.

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Ao recobrar a consciência, a simpatizante dos militares teve de ser contida por seguranças e gritava aos outros participantes: "Eu não quero comunismo no meu País". A sessão foi interrompida durante o discurso da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), autora do requerimento que propôs a sessão solene. O evento foi retomado em seguida.

A presidente Dilma Rousseff não apoia a revisão da Lei de Anistia como desejam grupos de esquerda, a Anistia Internacional, que lança nesta terça-feira (1º) uma campanha em prol da alteração do texto, e alguns senadores. Dilma aproveitou um discurso em cerimônia nesta segunda-feira no Palácio do Planalto para apresentar sua posição, endossando uma decisão do Supremo Tribunal Federal de 2010, que considerou constitucional a Lei da Anistia que impediu a punição dos crimes cometidos durante a ditadura (1964-1989). Os militares são contra a revisão da legislação.

"Nós reconquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais, muitos deles traduzidos na Constituição de 1988", afirmou a presidente, defendendo a sua tese. Em seguida, Dilma fez questão de justificar sua posição, ressaltando que "assim como eu respeito e reverencio os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado, nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras". Ela reiterou também que "reconhece e valoriza os pactos políticos que nos levaram à redemocratização".

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Em discurso no dia em que o golpe de 31 de março completa 50 anos, Dilma lembrou que ela mesma foi presa e torturada, citou a dor que todos sofreram, acrescentando que estas dores deixaram "cicatrizes visíveis e invisíveis". Para a presidente, essas cicatrizes "podem ser suportadas e superadas porque hoje temos uma democracia sólida e podemos contar nossa história".

Dilma explicou ainda que todo o processo de redemocratização do Brasil "foi construído passo a passo durante cada um dos governos eleitos depois da ditadura". E fez questão de justificar que sua posição nada tem a ver com esquecimento, mas a defesa da verdade. "A palavra verdade é exatamente o oposto do esquecimento" e "é algo tão forte que não dá guarida para o ressentimento, ódio e nem tampouco para o perdão. E é só e sobretudo o contrário do esquecimento. É memória e é história", afirmou Dilma, que defendeu a liberdade de imprensa e a independência do Legislativo e do Judiciário.

Protestos - Ao se referir às manifestações que tomaram conta do País desde junho do ano passado, a presidente Dilma comentou que não houve "abafamento" dos protestos e salientou que "aprendemos valor de ir às ruas e nós mostramos um diferencial quando as pessoas foram à ruas demandar mais democracia", ressaltando o "valor de ir às ruas, de ter direitos e de exigir mais direitos".

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também aproveitou as manifestações do dia, para lembrar que a Constituição exige que o Estado peça desculpas e faça reparação a todas as pessoas que tiveram seus direitos, sua integridade e sua dignidade violados nos 21 anos de regime autoritário. "Durante muito tempo os ministros da Justiça diziam que não tinham nada a declarar e hoje o ministro da Justiça dizer, em nome do povo, do Estado brasileiro, que pede desculpas por aquilo que foi feito na época da ditadura, pelas mortes, pelas torturas, pelas famílias que choraram, é algo que mostra um novo tempo, uma nova realidade democrática que temos orgulho de termos conquistado", ressaltou Cardozo.

No Senado, também houve manifestações. Senadores defenderam a revisão da Lei da Anistia, em uma solenidade esvaziada que não contou, sequer, com a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O senador João Capiberibe (PSB-AP), autor do requerimento de realização da solenidade, afirmou que os crimes cometidos durante o regime militar ficaram impunes. "A impunidade fez com que até hoje se realize torturas em delegacias", afirmou o socialista. Ele cobrou a aprovação pelo Legislativo do projeto de lei do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) ou da deputada Luiza Erundina (PSB-SP) que revisa a legislação da Anistia, de 1979.

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