Tópicos | Mv Bill

O rapper MV Bill faz um "voo rasante" sobre o Brasil: sonha com uma vida melhor, sem perder de vista a realidade. Seu novo álbum, 'Voando Baixo', é uma crônica indignada de um país abalado pelos rumos políticos, pelas mortes da Covid-19 e pelos efeitos do isolamento social.

Lançado em abril, o disco é uma tentativa de "mostrar às pessoas que cada movimentação política errônea tem impacto direto nas nossas vidas, principalmente numa pandemia", diz à AFP Alex Pereira Barbosa, nome de registro do músico de 47 anos.

##RECOMENDA##

No videoclipe de "Nóiz Mermo", primeiro single de seu 12º álbum, ele interpreta um policial que investiga o roubo de uma maleta cheia de vacinas.

"Quem nasceu pra ser capeta nem com reza vira santo; pós-ditadura eu não vejo cura; hoje somos baratas no governo inseticida; se não serve de instrumento é tratado como inimigo", canta MV Bill.

Mudanças de paradigma, afirma, passam pelo protagonismo popular. "É a gente que vai mudar isso, seja através das pessoas comuns se candidatando para ocupar esses cargos, seja não votando em pessoas que não nos representam", diz o cantor, ator, escritor e ativista, cofundador da ONG Central Única das Favelas.

Para ele, a política sempre esteve, porém, afastada dos mais desfavorecidos.

"De quem passou pela Presidência do Brasil, ninguém foi capaz de resolver o problema das favelas, de moradia precária, violência e corrupção policial, hospital com atendimento ruim, escolas que não funcionam", queixa-se o artista, da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro.

Em mais de 30 anos de carreira, ele já denunciou esses problemas inúmeras vezes. "Tenho músicas de 1999 que já falavam disso, e era outra gestão. Tem música antiga que serve pra gestão atual. Tem música nova que serve pra gestão antiga", afirma.

O rapper alerta, no entanto, que falar publicamente de política no Brasil atual traz sérios desafios.

"Principalmente quando se cita nomes, você pode sofrer um processo, entrar na Lei de Segurança Nacional e ser preso como terrorista", declara. É preciso "ser inteligente" para se expressar "sem se colocar em risco".

"Dependente dos fãs" 

Como a pandemia impossibilitou seus shows, MV Bill teve uma drástica queda de receitas. "Nosso setor é o primeiro a parar e vai ser o último a voltar. A gente trabalha com aglomeração", diz, embora se sinta privilegiado pelos fãs fiéis que permitem continuar seu trabalho.

É com os royalties das plataformas digitais que ele tem mantido uma renda. "Esse dinheiro, além de me ajudar a sobreviver, pagar as contas, é também reinvestido para fazer mais músicas", explica.

O rapper conta que faz tudo de forma independente. "Não tem gravadora, uma equipe bancando, tudo sou eu. É uma produção totalmente independente, dependente dos fãs", declara ele, que em 2006 ganhou projeção mundial como produtor do documentário "Falcão - Meninos do Tráfico".

O novo disco foi gravado em sua casa e no estúdio de um amigo. Convidados como Kmila CDD, Nocivo Shomon, ADL e Bob do Contra gravaram separadamente, devido às restrições impostas pela pandemia.

Segundo o crítico musical Pedro Alexandre Sanches, editor de Cultura da revista Carta Capital, as músicas de MV Bill deram a jovens pobres e negros nas favelas "modelos positivos e esperançosos para se inspirar".

Sanches ressalta que sua relevância transcende a música, pois o rapper também é reconhecido pela atuação como líder comunitário e coautor de livros marcantes como "Cabeça de Porco", sobre a violência urbana gerada pelo narcotráfico.

Pés no chão

Além dos fãs antigos, o artista tem conquistado uma nova audiência na plataforma de vídeos TikTok. Várias músicas suas foram dubladas centenas de vezes no aplicativo. A de maior sucesso é "Estilo Vagabundo 3", de 2016, usada em mais de 318 mil vídeos.

"Com certeza, isso fez com que minha música chegasse a uma galera muito mais jovem", diz. "A pessoa brinca ali 15 segundos e daqui a pouco vai na plataforma digital ouvir a música, vai mostrar para o amigo".

MV Bill comenta que, apesar de atender a um chamado dos fãs, o álbum vai na contramão do que faz sucesso hoje no mundo do rap: músicas que "giram em torno de temas como dinheiro, ostentação, a mulher objetificada, bens materiais, maconha, bebida".

"Nada contra falar desses assuntos, mas o hip hop não é só isso", esclarece.

O título "Voando Baixo" faz oposição a expressões como "quero voar alto", "quero estar no topo", comuns no rap atual. "Acho legítimo o jovem querer voar, porque voar é sonhar. Agora, você pode fazer um voo sem tirar tanto os pés do chão", explica.

Uma função que sempre existiu em aplicativos como Instagram e plataformas como YouTube acabou se transformando em um dos principais passatempos da quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus. As lives, transmissões ao vivo, se tornaram opção de entretenimento para o público além de canal para que os artistas possam manter-se trabalhando, comunicando-se com os fãs e até mesmo faturando. 

LeiaJá também

##RECOMENDA##

--> Artistas buscam meios de sobreviver à crise do coronavírus

Elas começaram de maneira um tanto discreta, com artistas falando e cantando diretamente de suas casas em modestas  transmissões pelo Instagram. No entanto,  o apelo junto aos fãs foi tamanho que rapidamente, não só a classe artística como patrocinadores e produtores da indústria cultural  perceberam o grande potencial desse tipo de apresentação e o que começou como uma maneira de manter o vínculo entre artista e o público logo tomou proporções maiores, transformando-se em uma verdadeira mina de ouro com ares de linguagem do futuro para o mundo do entretenimento.

No Brasil, o primeiro a fazer da live um espetáculo foi o sertanejo Gusttavo Lima. Ele levou sua apresentação online para o YouTube, com uma produção elaborada, que contou com cenário, estrutura de som e até garçom, além do patrocínio de uma grande marca de bebidas. O show virtual do Embaixador quebrou recordes na internet, com cerca de 750 mil acessos simultâneos, e deu início a um ranking de visualizações que mobilizou vários outros artistas como Marília Mendonça (3,3 milhões), Jorge & Mateus (3,1 milhões) e Sandy e Junior (2,5 milhões). 

Reprodução/Facebook

Mas, a grandiosidade dos números dessas lives não fica apenas na quantidade de visualizações. Os artistas têm usado o espaço para arrecadar donativos para projetos de assistência social e o resultado tem sido surpreendente. Luan Santana conseguiu arrecadar mais de 300 toneladas de alimentos em apenas uma apresentação; já a live que juntou os Amigos (Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano e Leonardo) recebeu R$ 1,7 milhão em doações para o combate ao novo coronavírus. Por outro lado, os cantores também têm lucrado alto com este novo mercado. Os espaços publicitários nas lives de grandes nomes, como Marília Mendonça e Wesley Safadão vão de R$ 60 a R$ 500 mil. 

Indústria

O sucesso absoluto das lives descortinou um novo caminho para a indústria do entretenimento. Para os artistas, essa modalidade de show trouxe a possibilidade de continuar gerando renda em um momento em que a realização de eventos presenciais, com aglomeração de pessoas, está terminantemente proibida. Além dos patrocínios, alguns profissionais da cultura têm cobrado ingresso para suas lives, como o músico pernambucano Juvenil Silva, que chegou a criar uma espécie de casa de espetáculos virtual,  com o projeto @aovivoemcasa. A ideia é promover apresentações com a contribuição espontânea do público em forma de ingresso virtual. 

LeiaJá também

--> Artists estão transformando isolamento em música

--> Momentos icônicos que só as lives poderim garantir

Ultrapassando os limites imaginários da internet, as apresentações online também já movimentam a cadeia produtiva da cultura e entretenimento no  ‘mundo real’. Já há espaços físicos voltados para a produção e transmissão de lives, como é o caso da Space Lives Room, de São Paulo, que oferece a estrutura para os shows. Profissionais da área de iluminação, áudio e acessibilidade comunicacional, como os intérpretes de Libras, também têm encontrado trabalho neste novo mercado. O que leva a acreditar que este pode ser um caminho sem volta no que diz respeito à forma de se fazer entretenimento no século 21. 

Vale ressaltar que essas lives mais produzidas demandam a participação de mais pessoas, o que tem sido motivo de críticas pelo risco de contaminação que a reunião de uma pequena equipe com oito ou 10 profissionais pode causar. Alguns artistas, inclusive, optaram por nem fazê-las, pra não se expor nem aos seus,  como Zeca Pagodinho, Anitta e o grupo de rap Racionais MC’s. Os dois primeiros, no entanto, acabaram se rendendo. Já o Racionais recusou um cachê de R$ 100 mil e se manteve firme na opção de não atender aos fãs, porém, seguir cumprindo as determinações sanitárias. 

Além do streaming

Mas, apesar das dimensões que as lives vêm tomando, esse meio de comunicação continua motivando os artistas para além do seu ofício. Independente da quantidade de patrocínios e horas de duração - alguns cantores chegam já chegaram a  ficar por cinco horas se apresentando online -, esses shows continuam representando uma forma de se aproximar do público além de mostrar nuances mais íntimas de cada artista. 

O rapper MV Bill, por exemplo, optou por fazer sua primeira, e até então única, live num espaço bastante importante para ele. “Eu quis fazer uma troca porque as pessoas sempre me levam pra sua casa, em forma de música e de videoclipe, e eu queria inverter os papéis, queria trazer as pessoas pra dentro da minha casa, onde eu faço a minha criação musical. Foi do lugar que eu transmiti minha live, onde eu escrevo a maioria das minhas músicas, onde eu penso as próximas ideias, onde eu tô escrevendo meu livro. Então, trouxe as pessoas para um canto muito especial meu, da minha vida e da minha casa”, disse em entrevista exclusiva ao LeiaJá. Bill também fez questão de frisar que prezou muito pelas questões de segurança e preferiu não envolver muitas pessoas para sua live. Ele contou apenas com a participação da irmã, a também rapper Kmila CDD, que fazendo uso de uma máscara de pano, cantou algumas músicas ao seu lado durante a transmissão. 

[@#video#@]

Já Gabriel o Pensador levou um tempo até se interessar em fazer uma live. Além do contexto de pandemia, o cantor havia perdido o pai recentemente e o momento não lhe parecia favorável. Mas os pedidos dos fãs motivaram o Pensador e o resultado foi muito além do esperado. “Quando eu abracei essa idéia eu percebi que veio uma empolgação enorme, quando faltavam poucos dias para a Live porque, já ali, aconteceu uma interação com os meus seguidores, principalmente no instagram, em que eles começaram a sugerir músicas para o repertório. Eu comecei a rever a minha obra  e conversar com os meus músicos, que iam participar da Live, aquilo me deu um gás, me levantou o astral”. 

A possibilidade de contar com pessoas queridas, distantes geograficamente, como amigos e familiares, também deu um outro significado ao show virtual de Gabriel e o momento acabou virando uma grande celebração. “Quando eu tenho amigos na platéia eu faço o show com mais prazer ainda. E, ali eu tinha não apenas fãs de vários países me acompanhando, até fiz uma homenagem a Portugal e aos países africanos de língua portuguesa, mas também tinha amigos me acompanhando e me incentivando. Ainda mais em um momento de emoções à flor da pele que eu vinha já de um luto da despedida do meu pai, que também foi homenageado na live”. 

[@#podcast#@]

Emoção e solidariedade ao vivo

A quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus  tem provocado incômodo nas pessoas. O tédio que o isolamento pode proporcionar - ainda que alguns contem.com.tantos recursos como.internet, televisão, livros e outros para evitá-lo - tem causado desânimo e muita reclamação. Mas não para compositores dos mais diferentes estilos musicais e partes do mundo. Esses têm transformado a apatia e silêncio do isolamento em música, se valendo da infinidade de temas e possibilidades que o atual momento, ainda que aparentemente tão parado lhes apresenta.

Desde o início desse período um tanto caótico que o vírus instaurou, as redes sociais e plataformas de streaming estão recebendo uma enxurrada de novidades. Essas vão desde a banda Rolling Stones - que lançou Living in a ghost town (canção sobre cidades fantasmas); passando pelo ‘rei do arrocha’, Pablo - cantando sobre o distanciamento em Notícias da TV -; até o rapper paulista Coruja BC1, que em um único dia compôs as sete faixas do EP Antes do Álbum, em uma espécie de “autoterapia”, como o artista explicou em suas redes sociais.  

##RECOMENDA##

O LeiaJá conversou com alguns artistas que estão convertendo o ócio em criação em seu período de isolamento. Eles falaram sobre inspiração, parcerias à distância, novos processos no ‘fazer música’ e a descoberta de habilidades por conta da necessidade de se ‘botar a mão na massa’ sozinhos. 

Imagem: Reprodução/Facebook MV Bill

Em casa

“MV Bill está em casa”, a frase que o rapper carioca entoa no início de algumas de suas canções nunca fez tanto sentido. Isolado em seu apartamento localizado nas proximidades da Cidade de Deus, na capital fluminense, ele já lançou duas composições inéditas desde o início do isolamento social: Quarentena e Isolamento, ambas descrevendo o atual momento. Seu processo criativo, no entanto, não mudou muito: “Eu sempre crio minhas músicas em isolamento, sempre sozinho, de forma muito solitária, então esse meu isolamento não tá sendo muito diferente pelo menos nessa parte. Acho que (a quarentena)  tira toda a minha liberdade de fazer as coisas que eu quero, que eu gosto, mas na hora de compor não é muito diferente”. 

Apesar do hábito de escrever isolado, o rapper acabou precisando ir um pouco além em seu processo criativo, se aventurando em outras áreas. como captação de imagens e produção de vídeo. Foi ele quem gravou e produziu o clipe de Quarentena e, apesar de ter pago um “preço maior, que é o cansaço”, descobriu novas habilidades e possibilidades. “Eu mesmo fiz a câmera, aprendi a mexer; tava com bastante tempo sobrando, então deu pra virar a câmera pra um lado, até achar um ângulo certo, até me posicionar, tudo sozinho. Não sei se a gente não estivesse em quarentena, se eu não estivesse isolado, não sei se eu conseguiria fazer um vídeo como esse. Então são coisas que a quarentena está nos revelando, acaba fazendo a gente descobrir coisas que nem sabia que era capaz de fazer”.

Ainda assim, as parcerias não foram descartadas nas novas canções, e o rapper acabou trabalhando, de maneira remota, com produtores como DJ Caíque e Mortão. Um trabalho conjunto muito festejado pelo artista. “De longe, sem precisar me arriscar, sem me expor, consegui fazer as músicas, trabalhando com os produtores bem distante de mim, o Caíque de São Paulo e o Mortão de Goiânia. Talvez trabalhos que a gente demoraria muito pra fazer se não tivéssemos a internet. Estar em quarentena não é uma coisa prazerosa, mas podendo interagir com outras pessoas, não só com o público, mas também trabalhar com outros artistas, produtores, acho que é uma coisa que ameniza o sofrimento”. 

MV Bill vem de uma temporada de lançamentos mensais, realizados em 2019, e vai continuar no ritmo somando os lançamentos que ainda não saíram às novidades que vão surgindo durante o isolamento. Ele também acaba de estrear nova temporada do programa  Hip Hop Brazil, sobre a cena do rap nacional, exibido aos sábados no canal Music Box Brazil. Mas, apesar do período extremamente produtivo, o rapper faz questão de fazer uma ressalva. “Importante é dizer que dentro da quarentena, nem todo mundo vai ter inspiração pra criar, nem todo mundo vai conseguir criar, tem muitos artistas que não precisam se cobrar porque não estão conseguindo criar, mas também não precisam se incomodar ou sofrer com a criação de outros artistas”

Da introspecção à caneta

Acostumado a compor “em trânsito”, dentro de aviões ou ao longo de viagens na estrada, Gabriel o Pensador tem aproveitado a calmaria do isolamento social para organizar as ideias e inspirações e transformá-las em criação. O primeiro fruto desse período foi a canção A cura tá no coração, “uma música sobre a pandemia”, como ele próprio define. “Ela veio de uma forma semelhante às outras, como vem assim em um rompante, de uma vez, como muitas músicas que eu faço. Mas eu senti que aquela emoção, aquelas reflexões tiveram tempo de se condensar durante um período de introspecção que eu tive nesse isolamento”.

A novidade chegou acompanhada de um videoclipe e contou com a parceria da rapper mineira, Cynthia Luz,. Tudo, é claro, feito à distância, em respeito às recomendações de segurança necessárias ao momento. Além dela, o Pensador também contou com outras participações neste trabalho. “Conseguimos juntar o André Gomes na gravação de alguns instrumentos e o Papatinho na produção, na criação do beat da música, e os dois assinaram essa produção juntos sem se encontrar pessoalmente. A Cynthia Luz mandou a voz dela lá de Brasília, se não me engano ela estava em Brasília. A gente conseguiu fazer a mixagem dessa maneira e eu adorei o resultado. A Cynthia caiu como uma luva nessa gravação e trouxe uma energia muito boa com a voz cheia de personalidade, estilo. Na nossa comunicação sobre o vídeoclipe, por exemplo, ela também sempre mostrou muito entusiasmo pra gente resolver os problemas da distância, das dúvidas.. e as imagens que ela mandou casaram perfeitamente com as que a gente fez no Rio”. 

O tempo e a calmaria encontrados por Gabriel no isolamento têm servido, também, para que o artista possa reencontrar antigos textos, poemas e letras guardadas ao longo de sua trajetória. Esse processo de revisitação ao acervo rendeu um novo quadro em seu canal de YouTube, o Sente a Poesia, no qual o Pensador declama. Além disso, ele também já tem preparado um novo livro infantil, que fará companhia ao já lançado Um garoto chamado Roberto.  “Já estou agora com mais uma história pronta, que fiz recentemente nesses dias e já comuniquei à editora que quero fazer também um livro ilustrado, audiobook e e-book com eles para crianças”. 

Cena pernambucana à toda

Em Pernambuco, a cena musical parece tornar-se ainda mais produtiva ao passo que se adapta ao novo ritmo imposto pelo confinamento. Os anseios e emoções sugeridos por esse período também têm sido gás para os compositores pernambucanos, como nos conta o cantor e compositor Martins: “O artista não pode, não deve ficar aquém de tudo que tá acontecendo, dessas novas pautas, então é muito importante estar atento a tudo isso porque eu entendo a arte também como um registro histórico”.

[@#video#@]

O cantor e compositor Juvenil Silva, também falou sobre esse processo: “O isolamento trouxe à tona sensações obscuras, a maioria nunca sentidas antes com tamanha intensidade e durabilidade. Não havia nada de positivo pra se fazer com essas coisas a não ser por pra fora, compor. Nas primeiras semanas eu estava num ritmo compulsivo, compondo uma ou mais por dia. Externar essas angústias me faz bem, acabei criando canções mais duras, tensas, mas que acabaram me fazendo bem, uma vez que foi possível por pra fora, sentimentos angustiantes de uma forma que julgo bonita”.

Estar isolado, no entanto, pode não ser tão favorável à composição, o que implica desafios.. Para Martins, acostumado à agitação do cotidiano da cidade e dos encontros presenciais, o momento impõe um exercício extra à composição: “Junto com o isolamento, com o tempo, vem a ansiedade que é a máxima nesses dias, vem a  preocupação na parte financeira, sobretudo pra essa classe de artistas e autônomos - como a gente vai conseguir grana para se sustentar, pra viver, pagar um aluguel? - então, pra mim não é tão fácil criar na quarentena. Minha música é muito aquecida pelo social, eu gosto de gente, mas eu entendo e acho muito importante  a gente ficar em casa mesmo. Mas como nada é muito fácil nessa vida, eu acho que esse é um novo momento, um novo jeito de pensar a criação, a vida, de pensar o que  a gente tá fazendo aqui, entendo essa nova fase como uma experiência muito importante que soma muito com a minha arte, com o que eu falo na vida”.

Martins tem estreitado os laços com sua ‘gente’, seu público, através das lives que ele promove e das quais participa como convidado.  Já Juvenil, vai mostrar toda, ou quase toda, criação proveniente das emoções de seu período isolado em três discos inéditos, o primeiro, Isolamento Acústico, com lançamento no início de junho. “O EP, foi gravado nesses dias, eu comigo mesmo, vozes e violões alucinados. As músicas serão todas em parcerias, que foi uma forma de aproximar mais os amigos, dentro da impossibilidade real disso”. Certamente, essa quarentena deixará para o artista muito mais que lembranças. “Acho que já gravei (músicas) o suficiente pra vários (discos). Como se fosse morrer amanhã. O que nunca foi tão possível”. 

[@#podcast#@]

MV Bill está aproveitando o período de distanciamento social para criar. E o isolamento criativo do rapper resultou em um novo trabalho - composto e gravado por ele em sua própria casa -, que visa conscientizar a população acerca da gravidade do coronavírus, sobretudo para os que vivem na periferia. O rap Quarentena reforça as medidas de prevenção ao contágio e, também, critica a postura do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em relação à crise de saúde mundial. 

Quarentena foi composta e gravada por MV Bill, em sua própria casa, no Rio de Janeiro, O clipe da música foi produzido da mesma forma e já está disponível na internet. A letra do rap fala sobre a importância de seguir as orientações dos órgãos mundiais de saúde para preservar a vida e salienta que a Covid-19 não é uma “gripezinha”. Além disso, salienta as dificuldades dos moradores das periferias do país, que podem ser os maiores atingidos por essa pandemia. “Na favela, pra nós a Covid é diferente. As casas não são grandes, geralmente muita gente. Aglomeração é inevitável, alguns lugares ainda não têm água potável”. 

##RECOMENDA##

Bill também não deixa passar algumas críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Ele menciona a demora do país em empregar as medidas de contingência à disseminação do vírus e a maneira como o chefe de estado tem subestimado a doença tendo se colocado contra o isolamento. “Com povo gado é mais fácil levar de lambuja, lavaram as mãos mas continuaram com a boca suja”. Quarentena já está disponível em todas as plataformas de streaming.

[@#video#@]

 

Nesta terça (27), o Centro de Convenções de Pernambuco abrigou o I Congresso Internacional de Prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Realizado no Teatro Guararapes, o evento contou com a participação do rapper MV Bill, um dos convidados pelo evento para falar sobre sua experiência com a Central Única das Favelas (CUFA). Ele falou sobre o processo de construção do seu documentário 'Falcão, meninos do tráfico' e os desafios encontrados na perspectiva da prevenção da chegada dos jovens até a criminalidade.

"O que me tirou do mesmo caminho dos meus amigos, que morreram ou foram presos, foi o medo que eu tinha das drogas, porque apesar de muitos deles (os traficantes) terem sido por um tempo referências para os jovens da favela por terem um tênis bacana e dinheiro no bolso, eles apareciam no chão ensanguentados cheio de furos de bala de fuzil. Nessa época, a retirada dos corpos demorava mais de 10 horas, então ia pra escola e o corpo tava lá, voltava da escola e continuava lá, ia jogar futebol e o corpo continuava lá. Eram muitas horas de exemplo, então eu não queria ter o mesmo destino. Tinha medo", revelou.

##RECOMENDA##

Com uma fala contundente, o artista falou da importância de políticas e ações para evitar que os jovens sejam seduzidos pelo mundo do crime e do uso abusivo de drogas. "Quando filmei o documentário depois de um tempo de convivência, aqueles jovens deixavam aquela 'máscara de monstros' cair, paravam de 'atuar', colocavam o fuzil de um lado, deixavam as drogas guardadas e conversavam sobre sonhos, namoradas, sobre a vida e o futuro. Deixavam de ser aqueles monstros e tornavam-se pessoas comuns, como eu ou vocês aqui nesse Teatro. Eu queria que exércitos de professores cheios de vontade de dar aula, assistentes sociais e médicos entrassem na favela com o mesmo vigor que o caveirão entra na Cidade de Deus", disse.

Evento - O congresso contou com a presença do secretário executivo de Política Sobre Drogas do Recife, André Sena, e se estendeu por toda a manhã com a palestra da conferencista Melva Ramirez coordenadora dos programas de Prevenção, tratamento e reabilitação da ONU no Panamá, e de Rafael Franzini. Outro palestrante foi o professor José Manoel Bertolote, que explicou como funcionam as políticas de Prevenção ao álcool e outras drogas. "Não se fala em prevenção de doenças infecciosas mas falamos sobre prevenção às drogas. É possível se fazer prevenção desde que haja um objetivo específico nessa ação, tem que haver um conjunto de ações, um programa e não ações isoladas. Tem que haver o envolvimento da comunidade da família e do indivíduo", afirmou.

O Congresso Internacional de Prevenção ao Uso e Abuso de Álcool e outras Drogas será realizado no próximo dia 27 de junho, quando é celebrado o Dia Internacional de Combate às Drogas, no Centro de Convenções de Pernambuco. Entre os palestrantes está o rapper MV Bill, que falará sobre prevenção ao uso de drogas entre jovens em situação de vulnerabilidade social. Além de cantor, MV Bill também é responsável da ONG Central Única de Favelas (Cufa), ator e escritor do livro e documentário "Falcão - Meninos do Tráfico". 

Além de MV Bill, também estarão presentes no congresso representantes da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e do Escritório da ONU sobre Drogas e Crimes (UNODC). Na ocasião, a Secretaria Executiva de Políticas sobre Drogas (Sepod) apresentará um conjunto de programas para desenvolver políticas públicas de sobre drogas na capital pernambucana, o Sistema Mais Recife de Políticas sobre Drogas. 

##RECOMENDA##

Confira a programação completa: 

8h - Credenciamento

8h às 9h - Apresentações culturais e visita à exposição na área externa

9h - Abertura Oficial

10h30 – Palestra sobre "Prevenção baseada em evidência científica como investimento social". Palestrante Rafael Franzini - Representante do Escritório da ONU sobre Drogas e Crimes no Brasil

11h30 - Palestra sobre "Habilidades de prevenção familiar". Palestrante Melva Ramirez - coordenadora dos programas de prevenção, tratamento e reabilitação do Escritório Central das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) no Panamá.

14h – Painel de Prevenção Eficaz. Mediador: André Sena – Secretário-executivo de Políticas sobre Drogas do Recife

Convidados:

- José Manoel Bertolote - Coordenador do Centro Regional de Referência em Políticas sobre Drogas (Unesp/Senad). Por 19 anos, o médico foi sênior na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. Tema: Elementos centrais de programas de prevenção baseados em evidências científicas.

- MV Bill - Rapper, ator e escritor do livro e documentário Falcão - Meninos do Tráfico. Fundador e responsável pela ONG Central Única das Favelas (CUFA), na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Tema: Nas ondas da prevenção - Jovens vulneráveis: possibilidades x escolhas.

- Cloves Benevides - Diretor de Articulação e Projetos na Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Foi subsecretário de Políticas sobre Drogas do Governo de Minas Gerais por 11 anos, além de ter atuado como secretário-executivo de Coordenação das Políticas de Prevenção à Violência no Governo de Alagoas. Tema: Caminhos da prevenção: construindo alianças entre ciência e mobilização comunitária.

Serviço

Congresso Internacional de Prevenção ao Uso e Abuso de Álcool e outras Drogas 

Terça-feira (27) | 8h às 14h

Centro de Convenções de Pernambuco (Av. Prof. Andrade Bezerra, s/n - Salgadinho, Olinda)  

Gratuito

LeiaJá também

--> Mãe acorrenta filha usuária de drogas e é presa

--> Nos EUA, epidemia das drogas levou a 900 mil detenções

--> Encenação mostra o drama da dependência química

O rapper Mensageiro da Verdade, mais conhecido como Mv Bill, se apresenta no Recife no próximo dia 19 para lançar seu novo EP, Contemporâneo. O show conta com a participação da banda pernambucana Pai da Mata, que abre a noite de música e rima no Clube Português. 

Em seu novo trabalho, o rapper aborda temáticas atuais baseadas na violência urbana carioca, mas que também é vivenciada em outras cidades do País. Apesar de ter iniciado a carreira escrevendo sambas enredo para o seu pai, Mv Bill se consagrou no mundo do rap após o lançamento de seu primeiro disco solo, Traficando Informação, em 1999.

##RECOMENDA##

Confira este e muito mais eventos na Agenda LeiaJá. 

Serviço

Mv Bill

19 de março | 22h

Clube Português (Av. Conselheiro Rosa e Silva, 172 - Graças)

R$ 90 e R$ 45 (arena), R$ 55 (arena social), R$ 60 (camarote) e R$ 90 (espaço verde)

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando