João da Costa Bezerra Filho, 54 anos, nasceu em Angelim, Agreste pernambucano. É um engenheiro agrônomo, administrador de empresas e ex-deputado estadual e ex-prefeito do Recife entre 2008 a 2012. O petista que também já assumiu secretarias municipais na capital pernambucana, conversou com exclusividade com o Portal LeiaJá, analisou a atual gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB), as propostas da reforma política e comentou as pretensões para as eleições em 2016. Confira a entrevista na íntegra:
Portal LeiaJá (PL): Como o senhor avalia a gestão de Geraldo Julio?
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João da Costa (JC): O atual governo não vem cumprindo aquilo que prometeu fazer. Disse que ia fazer um modelo muito eficiente, moderno, muito melhor do que o nosso e o que a gente ver é que nem obras que nós deixamos para ser concluídas estão sendo terminadas: a Via Mangue, o Geraldão, muitos habitacionais, o Parque do Caiara. Se a gente for listar as obras que eu deixei, que era só para terminar (...). O orçamento participativo que deixou apenas de existir. Então, é um governo que está muito aquém dos compromissos que falou para a sociedade. Ele tem um ano e meio ainda para tentar buscar recuperar não só o que a gente deixou.
(PL): Quais os projetos o senhor deixou incompleto e Geraldo Julio não deu andamento?
(JC): Conjuntos de projetos habitacionais que nós deixamos e que muitos não foram concluídos e a política habitacional hoje teve um movimento em frente a Prefeitura do Recife de movimentos que voltaram a fazer ocupação no Recife porque parou a política habitacional. Nós fizemos durante o nosso governo um conjunto de iniciativa da política habitacional que praticamente acabou com as ocupações.
(PL): O que o prefeito do Recife precisa fazer?
(JC): Um governo que tem que responder a sociedade o que se prometeu e o que está deixando de fazer. Vai caber ao povo do Recife julgar.
(PL): Como o senhor analisa a aprovação do PL 08/2015 e as reivindicações do Ocupe Estelita?
(JC): Tem o projeto e tem o método de se discutir o projeto. O método da votação é que foi um processo muito grave que fere a transparência, a democracia, o respeito às diferenças.
Diferenças sobre visões de cidades sempre vai existir. Tem gente que acha que prédio alto é um horror. Nós fizemos uma revisão do Plano Diretor para reduzir o potencial de construção pela metade em Boa Viagem. Fizemos várias mudanças importantes que estão no Plano Diretor. Então, um prefeito no meu caso, não pode deixar de analisar um projeto que esteja dentro da legalidade da cidade e se a gente é contra, tem que mudar a lei.
(PL): Como o senhor avalia a área do Cais José Estelita e adjacência?
(JC): Aquela área do Estelita nunca foi considerada uma área de patrimônio histórico. Ninguém nunca propôs isso. Nem o Instituto Histórico de Pernambuco, nem o Iphan, nem nunca olhou aquela área e disse que tinha que ter preservação histórica. Então, isso não estava no Plano Diretor do Recife e eu tinha que analisar o projeto, isso é uma coisa.
(PL): Como analisa o debate feito em relação ao uso do Estelita?
(JC): Agora o debate sobre o futuro do Recife, sobre as opções ele tem que ser incentivado. Tem setores que estão se movimentando que eu acho que não deve ficar só no Ocupe Estelita. Tem que discutir a revisão do Plano Diretor do Recife e buscar uma melhor arborização como nós fizemos. Nós fizemos a lei de 12 bairros restringindo a construção na área de Casa Forte, Poço da Panela, porque era uma área que já tinha uma estrutura definida. Então, nós encaramos isso com naturalidade, tem que ter respeito à democracia, respeito às diferenças, e que o processo que você defenda seja o mais transparente possível.
(PL): E sobre a votação do PL na Câmara do Recife?
(JC): A aprovação do projeto na Câmara é que foi um processo atropelado. E pela primeira vez eu vi um projeto ser sancionado por email, por assinatura eletrônica. Eu acho que isso foi um erro. O prefeito podia chegar aqui dois dias depois e assinar, qual o problema? Passou para a sociedade um certo atropelamento, correria, um certo desrespeito as regras do debate transparente. O prefeito é maioria na Câmara né? Então, podia aprovar. Você não pode achar que uma visão de cidade de uma parcela da população pode ser imposta a outra. Você tem que discutir as visões diferentes. O movimento Estelita tem uma visão, outros setores da sociedade têm outras. Cabe neste debate você aprovar o que for melhor respeitando as diferenças.
(PL): Na sua opinião há envolvimento político no Movimento Ocupe Estelita?
(JC): Também não pode dizer: quem é do Estelita é maconheiro, quem não é ladrão, é acoitado de empreiteiro. Isso não serve para você discutir na sociedade. Fica uma discussão que está muito contaminada politicamente. Tem uma turma do PSOL querendo um espaço político. Isso é ruim para o debate para a cidade. O debate deve existir, mas não só para aquela área para a gente evitar que novos projetos sejam aprovados porque a lei garante. A gente tem que ter maturidade para fazer este debate de forma democrática, transparente, para que produza um resultado para cidade porque se não fica um conflito de frutos e o resultado não é o melhor e em vez disso, você poderia revisar o Plano Diretor, a Lei de Uso e Ocupação do Solo. Vamos propor a Câmara para outros projetos não se apresente com essas características.
(PL): Uma pauta que pode interferir as decisões políticas é a reforma política. Como o senhor avalia esse assunto?
(JC): O PT defende o voto que fortaleça os partidos. A proposta do ‘distritão’ que está sendo aprovado na Comissão de Reforma Política ela praticamente elimina o sentido de existir partidos. Isso é muito grave. A questão do financiamento político nós achamos que deve ser exclusivamente financiamento público. O financiamento empresarial está comprando mandatos e corrompendo o processo político e tem outros pontos que nós concordamos como o fim de coligação proporcional, mas há preocupações no processo da reforma. Além de na reforma política você garantir uma maior participação da sociedade nos projetos políticos como a iniciativa popular.
(PL): O senhor pretende voltar ao cenário político em 2016?
(JC): Isso é consequência de um processo que nós vamos viver daqui para frente. Nós temos essa reforma política. Nós não sabemos como as coisas vão ficar. Mas é importante que o PT que governou o Recife por 12 anos, tem um legado, tem um conjunto de ideias. (...) O PT tem uma trajetória de 12 anos aqui no Recife que teve um projeto para a cidade, que sensibilizou muita gente e que certamente tem condições de apresentar um projeto para o Recife, de fazer um balanço da gestão do PSB e oferecer alternativas. O PT tem que discutir isso dentro de um processo político maior e nós estamos empenhados de garantir a governabilidade, de o Brasil superar essas dificuldade econômica e chegar em 2016 retomando o crescimento econômico, gerando emprego, fortalecendo a democracia no Brasil. Aqui no Recife o PT tem condições de apresentar um projeto para a fazer um debate na cidade que o PT fez.
(PL): Quem seria o candidato a assumir essa postulação?
(JC): O PT tem e sempre teve nomes fortes aqui no Recife. O que é importante é o PT voltar a ter um projeto e falar para a cidade do Recife como um projeto do PT e não de um candidato do PT. O PT vai fazer isso na hora certa. O importante que a gente chegue em 2016 consolidando uma frente de esquerda, garanta a governabilidade e as conquistas sociais e certamente isso vai se materializar nas campanhas do próximo ano o que está em jogo não é o PT ganhar uma prefeitura só, é o que nós conquistamos que está sendo ameaçado por uma onde conservadora. A gente viu coisas que pensávamos que não iriam ver mais: o pedido de volta à ditadura a maioridade (penal).