A empresa Pernambuco dá Sorte é alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeita de envolvimento em fraudes e lavagem de dinheiro. A investigação é parte da Operação Trevo, que nesta quarta-feira (12) desarticula três grupos criminosos com atuação em 13 estados do Brasil, sendo a base em Pernambuco. Só o conglomerado dá Sorte é acusado de movimentar mais de um bilhão de reais nos últimos quatro anos.
Segundo a lei, o comprador de títulos de capitalização popular, como o Pernambuco dá Sorte é, tem direito a receber aproximadamente 50% do valor investido. A exceção ocorre se o valor está comprometido com alguma instituição filantrópica. Como a própria cartela da empresa informa, o comprador está cedendo todo o valor do resgate do título para o Instituto Ativa Brasil, de Belo Horizonte-MG.
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O que a Polícia Federal descobriu, entretanto, é que o Instituto Ativa Brasil serve apenas de fachada e pertence à família Pascoal, a mesma que é dona do Grupo dá Sorte. Dos 50% que deviam chegar ao instituto para as causas beneficentes, apenas 1,67% chegava, e mesmo esse valor era usado apenas para investimentos em outras causas sociais. Nos últimos quatro anos foram desviados R$ 500 milhões do instituto. O Grupo dá Sorte tinha atuação em nove estados. Todos os serviços de empresas de venda de capitalização popular ligadas aos grupos investigados estão suspensos a partir de hoje.
Além da empresa dá Sorte, a polícia conseguiu chegar a mais dois grupos, que agiam de forma independente, mas possuíam conexões em alguns segmentos. A operação alcançou os estados de Pernambuco, Alagoas, Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Um dos grupos era da empresa Shopmachine, com sede em São Paulo e ramificações em outros estados – inclusive Pernambuco. Ela era dona das máquinas de azar Showball, que são montadas com componentes contrabandeados, principalmente as placas de software dos equipamentos.
Entre os presos do Recife envolvido com a Shopmachine está um policial militar. Ele era dono de algumas casas de jogos da Região Metropolitana do Recife (RMR) que foram identificadas pela Polícia Federal nesta manhã. O policial tinha intensa participação na organização criminosa, além de possuir vínculo com outros grupos que atuam neste tipo de crime.
O último grupo se estruturava na banca de jogos do bicho A Paraibana. Ela era responsável pelo descarrego, como explica o delegado de combate ao crime organizado, Bernardo Torres: “É uma espécie de operação de seguro clandestino na qual o bicheiro compra apostas altas de outras bancas e assume o risco da premiação”. Para a movimentação do dinheiro foi detectada a utilização de contas bancárias em nomes de laranjas, sugerindo para a polícia a lavagem de dinheiro.
O diretor da Capemisa Aplub, órgão do Rio Grande do Sul que fiscaliza empresas de capitalização popular, também está entre os detidos, acusado de participar do esquema. “Temos várias provas ao longo da investigação, elementos claros da participação do diretor da Aplub. Inclusive, ele já estava negociando fazer um esquema parecido com empresas dos Estados Unidos”, relata o superintendente da Polícia Federal, Marcelo Diniz. Também há buscas no Rio de Janeiro, na empresa SulAmérica Capitalização, empresa do mercado de capitalização.
Ao todo foram 36 mandados de prisão, entre temporárias e preventivas, sendo 24 em Pernambuco; e 57 mandados de apreensão, com 32 sendo cumpridos no estado. Entre os itens apreendidos estão quantias de dinheiro, cofres, carros e motos de luxo. As prisões ocorrem durante todo o dia, mas segundo a Polícia Federal, os líderes já foram levados para a Superintendência da Polícia Federal, na Avenida Cais do Apolo, no centro do Recife. Os envolvidos vão responder por contrabando, crime contra o sistema financeiro nacional, jogo de azar, lavagem de dinheiro, desvio de recursos de entidades filantrópicas e crimes contra a economia popular. A Polícia Federal não divulga o nome dos presos. A operação teve o apoio da Secretaria de Defesa Social (SDS), da Superintendência de Seguros Privados e da Receita Federal.
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