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A exposição Múltiplo Leminski, resultado de anos de pesquisa e catalogação de toda a obra de Paulo Leminski, chegou ao Recife e abre as portas para o público nesta sexta-feira (28), na Torre Malakoff, Bairro do Recife, onde está sediada. Com coordenadoria geral de Aurea Ruiz, e curadoria de Estrela e Alice Ruiz, respectivamente filhas e viúva do artista, a exposição busca ampliar o conhecimento do público sobre a vida e obra de Leminski. Além de espaços específicos para cada vertente do poeta curitibano, a mostra conta com uma área voltada para a obra Catatau (1975), ficção que se passa no Recife de Maurício de Nassau e conta com a participação do filósofo René Descartes. Aurea Ruiz recebeu a reportagem do Portal LeiaJá e contou sobre a exposição e algumas surpresas guardadas para o público. Confira:
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Ideia do projeto
Nosso desejo era levar essa exposição para Curitiba, porque já havia acontecido outras duas exposições em São Paulo, uma no Sesc Consolação e outra no Itaú Cultural. A gente passou um tempo tentando convencer a cidade de que isso era importante, conseguir mostrar a capacidade de produção do Leminski. E aí surgiu um convite do Museu Oscar Niemeyer (MON) pra gente fazer a exposição lá. Ficamos muito felizes, mas não imaginávamos que eles queriam fazer a exposição na maior sala do museu, que é o Salão Nobre O Olho, com mil e poucos metros quadrados de área. Quando fomos chamados pra fazer essa exposição foi realmente uma loucura, e a gente falou que ia ter que mergulhar em todas as facetas do Leminski, mostrar e revelar para o publico um pouco mais de cada uma, algumas mais conhecidas e outras menos, mas tentar abranger todos os aspectos da produção literária, musical, publicitária, jornalística e a relação dele com a cultura zen.
Espaço dedicado à obra Catatau
Aqui na Torre Malakoff a gente tem uma sala especial, no caso da obra Catatau, que é uma coisa que não aconteceu em outras exposições. Primeiro porque Catatau é um livro que Recife e Olinda teriam inspirado meu pai a imaginar a história fictícia de como seria se René Descartes tivesse vindo numa comitiva de Maurício de Nassau, aportado aqui e visto aquela fauna e flora, essa coisa tropical da brasilidade, e a relação que ele teria com algo que era praticamente o oposto do que ele acreditava e defendia. A rigidez dele começa a se desfazer a partir do momento que ele entra em contato com o calor, a água e natureza. E a gente está fazendo uma sala especial para o Catatau. Estamos mostrando os originais, o processo de criação, o primeiro conto que originou o Catatau que se chama Descartes com lentes. Vai ter também o vídeo do ExIsto, um filme feito baseado no livro e que é uma leitura bastante autoral do diretor Cao Guimarães. E é bem legal porque conta no elenco com o ator João Miguel e dentre as cidades que receberam locação do filme uma delas é o Recife. Então você vê João Miguel como seria Descartes em 1600 e pouco, como um holandês, andando no Recife de hoje. Essa é uma das coisas que complementam a exposição pra gente trazer esse conteúdo e ampliar a visão e conhecimento que as pessoas podem ter da obra do Leminski.
Espaços da exposição
Alguns espaços a gente fundiu as facetas, como por exemplo, jornalismo e publicidade. Inclusive são duas profissões que surgiram em momentos diferentes da vida dele e que praticamente foi o que manteve a renda dele. Enquanto ele estava escrevendo poemas, compondo, traduzindo, isso não gerava renda. A publicidade e o jornalismo não são menos importantes e ele fez isso durante muitos anos e fez bem.
Acervo familiar
Trabalhamos com todo esse legado há muito tempo porque desenvolvemos vários projetos neste sentido. Por exemplo, eu tenho um que é o acervo digital do Paulo Leminski, onde vamos oferecer todo o trabalho dele digitalizado, e a partir disso conseguimos fazer muita coisa. Na hora de montar a exposição Múltiplo Leminski, eu, minha mãe e a Alice Estrela, que crescemos no meio disso tudo, fomos bem intuitivas. Minha mãe, por exemplo, viu isso nascer e sabe como se desenvolveu, o resultado final, ela sabia o que ele pensava sobre determinados assuntos. Então acho que isso está tão inserido dentro da gente que acho que foi muito tranquilo pensar em cada faceta e ambientação dentro daquilo que a gente queria.
Recife é, culturalmente falando, uma excelência no Nordeste. Ela tem essas multilinguagens, uma coisa que é natural na cultura, e isso tem muito a ver com o Leminski também. São vários fatores na verdade para que viéssemos para cá primeiro, não houve uma busca e uma decisão simples. Dentro do Nordeste a gente imaginou que começar por aqui seria um ótimo começo por causa do Catatau, da cultura, da forma como as pessoas são antenadas. A gente fica imaginando o que será que as pessoas sabem do Leminski e aqui no Recife você tem a sensação de estar em casa, porque você fala nele e todo mundo já leu, já sabe o que ele fez. É impressionante. É uma cidade que a gente se sente com segurança e confortável de ser bem recebida pelo público.