O governo deve comemorar daqui a alguns dias por atingir a meta de moradias contratadas na segunda etapa do Minha Casa, Minha Vida. Mas o setor de construção civil está preocupado com os rumos do programa de habitação popular, uma das principais vitrines da gestão PT.
Empresários de várias regiões do País afirmam que, sem sinalização do governo sobre quando e como serão feitas as contratações da terceira etapa, colocaram o pé no freio nos investimentos e já pensam em demitir funcionários.
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Até a metade do mês de agosto foram contratadas 2,555 milhões de unidades habitacionais das 2,75 milhões prometidas para a segunda etapa na gestão da presidente Dilma Rousseff (2011-2014). Para especialistas, o governo conseguiria contratar o restante em menos de um mês se mantivesse o mesmo ritmo do início do mandato.
Os três principais presidenciáveis assumiram o compromisso de manter o Minha Casa. A presidente prometeu contratar mais 3 milhões de unidades em seu eventual segundo mandato. Marina Silva (PSB) encampou a promessa de Eduardo Campos e se comprometeu em contratar 4 milhões até 2018. Aécio Neves (PSDB) prometeu contratar mais unidades com a mesma verba, sem dar detalhes nem cravar uma meta.
Mesmo com a garantia de que o programa terá continuidade, seja qual for o vencedor das eleições, o setor da construção civil teme uma paralisação por meses nas contratações. Empresários ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo estão certos de que haverá demissões. E tentam convencer o governo, por meio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil, a estender a segunda etapa por seis meses, até 30 de junho de 2015. Também querem elevar a meta em 350 mil unidades - o que daria 3,1 milhões de moradias. Além disso, pedem um reajuste no valor máximo dos imóveis - o teto financiado é de R$ 190 mil no Distrito Federal e nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio.
Promessas
Os empresários acham pequena a meta de mais 3 milhões de unidades. Além do reajuste no valor dos imóveis, querem a criação de uma faixa intermediária, com renda mensal entre R$ 1,3 mil e R$ 2,25 mil, que seria contemplada com mais subsídios. "A gente ouve promessa de tudo o que é tipo, mas definição que é bom, nada", afirma o diretor da Kaefe Engenharia, Hugo Scipião. "Esperamos a continuidade do programa, mas com certeza haverá um hiato nas contratações."
A empresa de Scipião, de São Leopoldo (RS), é responsável por quatro empreendimentos em três cidades do Estado, a maioria com entrega prevista para o fim deste ano. Outros cinco conjuntos vão ser construídos em Porto Alegre e Canoas. Mas, se não houver mais contratações até o início de 2015, afirma Scipião, cortará uma parcela dos 240 empregados.
André Montenegro, da construtora Morefácil, diz que a insegurança ficou maior por causa dos frequentes atrasos dos pagamentos neste ano. "Agora, colocaram os pagamentos em dia, mas isso deixou uma insegurança política muito grande", afirma. "Será que o governo tem caixa para cumprir as promessas da terceira etapa?" O empresário é responsável pela construção de três empreendimentos no Ceará - um na capital e outros dois no interior.
Com 30 empreendimentos nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio, Ronaldo Cury diz que não conseguiu nenhuma contratação de novos empreendimentos da chamada "faixa 1" neste ano. Ele foi o único dos empresários ouvidos que disse estar procurando terrenos, mesmo em meio às indefinições da próxima etapa. Cury diz que, se as contratações da terceira fase demorarem mais do que início de 2015, vai ter de reduzir o quadro de 1,3 mil funcionários diretos. "Vou pagar para manter a equipe parada?"
Para André Baia, dono da construtora Estrela da Manhã, do Piauí, se não houver definições sobre como será feita a continuidade do programa ainda neste ano, corre-se o risco de acontecer em 2015 a mesma coisa que em 2011, na transição dos governos Lula e Dilma. Antes de ser lançado o Minha Casa, Minha Vida 2, houve uma paralisação nas contratações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.