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Em uma manhã de junho de 1976, Vera Marciel saiu para trabalhar e deixou o filho de apenas 2 anos com a avó, como fazia todos os dias. Ela não imaginava que essa seria a última vez que veria seu filho pelos próximos 40 anos. A criança foi sequestrada pelo próprio pai durante uma visita rotineira na qual ele costumava levar o dinheiro mensal da pensão. Agora, graças à ajuda da internet, sobretudo das redes sociais, Vera conseguiu localizar e rever o filho, Otoniel Borges, 41 anos, durante um emocionante reencontro organizado pela família na última quinta-feira (18), no aeroporto Internacional de Belém.
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Vera é paraense, mas sempre morou em Manaus com mais outros três filhos. Ela conta que o pai de Otoniel recusava-se a registrar o nascimento da criança e que ao descobrir que ele havia se casado com outra mulher, permitia contato com o filho somente se fosse visitá-lo na casa dela. No dia do sequestro, o pai aproveitou-se de um descuido da avó e fugiu com o garoto de 1 ano e 11 meses. “Ele chegou lá com um senhor que disse ser o suposto pai de criação dele. Pediu pra levar o Otoniel pra passear com eles, mas a minha mãe não deixou. Quando ela se descuidou, eles sumiram”, conta.
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Vera é hipertensa e devido a fatores de saúde, a família tinha receio que ela saísse em aventura pelo país em busca do filho desaparecido. A falta de tecnologias como internet e telefone celular, na época, também dificultaram ainda mais a localização do garoto. Toda a informação que Vera possuía para ajudar a polícia era um suposto endereço da família do pai de Otoniel em Abadiânia, interior do estado de Goiás. Mas para que as investigações fossem transferidas para lá era necessário pagar por um edital. “Eu não podia pagar, as nossas condições eram poucas. A única coisa que o advogado conseguiu fazer foi deixar as fotos dele na polícia rodoviária”, lamenta.
O advento da internet e a popularização das redes sociais reacenderam a chama da esperança de reencontrar Otoniel. Vera e os outros três filhos passaram os últimos anos monitorando informações na internet e procurando por pessoas que morassem em Abadiânia no facebook e que estivessem dispostas a ajudar. Este ano, com a sensibilização de um rapaz que trabalha na prefeitura de lá, Vera conseguiu localizar uma neta que nem sabia que existia.
“Meu outro filho chegou um dia em casa dizendo pra eu falar com uma moça no telefone. Quando eu disse ‘alô’, ela já foi logo dizendo ‘benção, vó’. Eu comecei a chorar e ao mesmo tempo rir”, diz. Segundo Vera, a sua “recém-descoberta” neta a ajudou a entrar em contato com Otoniel, que atualmente está morando em Barra do Corda, no interior do Maranhão.
De acordo com Otoniel, sua filha Jaqueline, 17 anos, ligou para ele de Abadiânia - onde ela mora sozinha com a mãe - informando que havia finalmente encontrado a avó. “Eu não acreditei no início, ainda disse pra ela que isso devia ser mentira, alguma brincadeira. Mas aí eu liguei pro número que ela me deu, e confirmou mesmo”, declara. Ele já sabia que havia sido sequestrado quando criança, mas a única informação que tinha da mãe era que se chamava Vera, nem do sobrenome ele tinha conhecimento. “Meu pai contava que a minha mãe quando engravidou queria me abortar. Ele até trocou meu sobrenome quando finalmente tirou minha certidão de nascimento. E aí um tio meu contou uma história diferente, que eu tinha sido roubado da minha mãe. Então durante muito tempo eu tinha essas duas histórias e não sabia em qual acreditar”, explica.
Rapidamente foi organizado um reencontro em Belém, onde vive a maior parte da família de Vera. No último dia 18, ela veio de Manaus e Otoniel do Maranhão direto para um emocionante abraço de saudade no aeroporto de Val-de-Cães, em Belém. ”Eu pensava: Será que ele vai me aceitar como mãe? Será que ele vai me rejeitar? Mas ele estava precisando de mim, de uma mãe na vida dele. Ele contou que foi muito maltratado pela madrasta quando mais jovem”, declara Vera.
Segundo Otoniel, a sua relação com a madrasta durante a infância foi bastante ruim e marcada por maus-tratos e violência doméstica. “Eu saí de casa com 15 anos por causa dela e nunca mais voltei. Trabalhei em muitos lugares, aprendi a dirigir caminhão e assim conheci muitos Estados”, conta ele. Atualmente, ele largou a profissão de caminhoneiro devido a episódios de violência e assaltos nas estradas.
A emoção do reencontro foi tanta que Otoniel não acreditava que estava diante da mãe. Depois de quatro décadas de procura, a sensação é também de alívio para a família. Segundo os irmãos, Otoniel é tão parte da família que já está totalmente enturmado com todos, mesmo depois de 40 anos.
Em um jantar organizado pelos primos e pela mãe, o reencontro pôde durar ainda mais. O primeiro dia depois de 40 anos que iniciará uma nova caminhada para essa família. No vídeo abaixo, veja o momento do reencontro entre mãe e filho.
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