Tópicos | religião de matriz africana

A Noite dos Tambores Silenciosos do Recife, celebrada na última segunda-feira (20), no Pátio do Terço, reforçou a ancestralidade do povo negro escravizado no Brasil. Ao todo, 30 nações e grupos de maracatu desfilaram no Polo Afro, em uma cerimônia que fortalece os laços das religiões de matriz africana.

Pouco antes da meia-noite, as luzes se apagaram em todo o pátio do terço. Os cânticos iniciaram e os tambores do maracatu pausaram para celebrar os Eguns, espíritos dos antepassados que, segundo os credos, circulam entre todos os presentes durante a cerimônia. As orações e cânticos foram realizadas e comandadas pelo babalorixá Tata Amil de Oxóssi.

##RECOMENDA##

[@#galeria#@]

Experiência que soma

Para que a noite aconteça com organização e tranquilidade, a presença e trabalho de Demir da Hora, diretor de palco, responsável pela entrada e saída das nações nos palcos durante o desfile. A experiência de Demir veio de sua prática na produção da Terça Negra, evento realizado pelo Movimento Negro Unificado de Pernambuco.

A emoção de Demir em trabalhar na Noite dos Tambores Silencioso vem com uma grande responsabilidade. “É um palco de ancestralidade, onde todas as energias do povo que veio da África e sofreu aqui na frente dessa igreja, onde os negros eram açoitados, eram vendidos. Então, existe muita energia no solo, aqui nesse evento”, explica Demir.

De acordo com o diretor, o palco do polo Afro do Carnaval também ajuda a promover outros artistas, que fomentam e fazem crescer a cultura afro no Brasil. Uma das convidadas para cantar no Pátio do Terço neste carnaval é a cantora Sandra de Sá, que se apresenta nesta terça-feira (21).

 

A 1ª Promotoria de Justiça Criminal de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, encaminhou à Justiça três denúncias em desfavor do pastor Aijalon Berto Florêncio, acusado de praticar e incitar discriminação de cunho racial e religioso contra seguidores de religiões de matriz africana; bem como por praticar injúria racial e transfobia contra indivíduos por meio do uso de redes sociais.

Os crimes foram cometidos por ele entre os meses de fevereiro e julho de 2021, quando Florêncio publicou vídeos no Instagram com discursos que ferem a liberdade de prática religiosa e a dignidade da coletividade.

##RECOMENDA##

Segundo a assessoria do Ministério Público de Pernambuco, as três denúncias já foram recebidas pela Vara Criminal da Comarca de Igarassu, onde passaram a tramitar as ações penais descritas abaixo.

"O acusado atingiu a coletividade por meio do discurso de ódio fincado em preconceito à religião de origem africana, extrapolando, portanto, o direito ao proselitismo de sua crença ou à liberdade de expressão. Além disso, praticou o ato em rede social de elevado e indeterminado alcance, circunstância que agrava e qualifica a conduta", apontou o promotor de Justiça José da Costa Soares no texto da denúncia.

Nos vídeos em questão, o pastor evangélico associa conceitos como "feitiçaria" e "entidades satânicas" às pinturas de painéis alusivos à religiosidade afro-brasileira no Túnel da Abolição, no Recife.

[@#video#@]

Entre as denúncias, o MPPE pede que a Justiça determine ao denunciado a obrigação de remover o vídeo objeto da denúncia e que decrete reparação de danos morais coletivos de pelo menos R$ 100 mil, com a destinação dos valores à produção e divulgação de material educativo voltado ao enfrentamento da intolerância contra religiões afro-brasileiras.

Sobre o caso

Em um vídeo publicado no Instagram, Aijalon Heleno Berto Florêncio critica um painel artístico pintado no Túnel da Abolição, no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife, dizendo se tratar de "reverência a entidades satânicas".

"Esse painel, na verdade, representa um ponto de contato com forças místicas intrinsecamente ligadas à feitiçaria, entidades reverenciadas nos terreiros, no Candomblé. Esse painel aí é, nada mais, nada menos, do que uma reverência a entidades malignas, satânicas, espíritos das trevas, à luz da palavra de Deus. Você precisa entender que essa palavra bonita ‘retorno à ancestralidade’ é, nada mais, nada menos, do que uma redescoberta dos poderes místicos das trevas que energizam o Candomblé, a umbanda e as religiões de matrizes afro", disse o religioso.

O vídeo gerou uma série de notas e manifestações de repúdio por parte de coletivos, terreiros, artistas e praticantes e não praticantes de cultos de matriz africana.

A ciência e experiências dos terreiros de matriz africana e afro-indígena atuantes na Região metropolitana do Recife ganham espaço de protagonistas no Podcast Obirin. O projeto consiste em uma série de cinco programas que abordarão as histórias de casas de axé localizadas no Recife, Olinda e Paulista. Com estreia nesta quinta (9), às 18h, nas principais plataformas digitais e nas redes sociais do Coletivo Obirin.

Partindo do princípio de que o conhecimento é uma das mais importantes armas contra a intolerância religiosa e o preconceito, o projeto pretende mostrar as histórias e a importância social de cinco terreiros localizados na Região Metropolitana do Recife. Participam da temporada, Pai Edson, responsável pelo Terreiro de Umbanda e Centro Social Caboclo Flecheiro, em Olinda; Hellaynne Sampaio, representante do terreiro Ilê Obá Aganjú Okoloyá, no Recife;  Adeíldo da Silva (Pai Ivo de Xambá), babalorixá do terreiro de Xambá, em Olinda; Mãe Beth de Oxum, ialorixá do terreiro Ilê Axé Oxum, em Olinda e Pai Hipólito, babalorixá do terreiro Ylê Asé Omogundé, em Paulista.

##RECOMENDA##

O podcast é de autoria de Ivson Henrique Gomes, um dos coordenadores do Coletivo e tem apresentação sob o comando de Emanuely Lima e Kauana Portugal. A produção é assinada por Larissa Rocha e Lucyanna Melo.  O projeto foi viabilizado pelo Edital Comunicadores Populares de Pernambuco, uma iniciativa da Empresa Pernambucana de Comunicação (EPC), da TV Pernambuco, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, da Secretaria de Cultura do Estado e do Governo de Pernambuco.

Programação

Episódio 01 -  Ilê Asè Omo Ogundê  - 09 de setembro

Episódio 02 - Ilê Obá Aganjú Okoloyá  - 10 de setembro

Episódio 03 - Terreiro de Xambá - 11 de setembro

Episódio 04 - Tenda de Umbanda Caboclo Flecheiro - 12 de setembro

Episódio 05 - Ilê Axé Oxum Karê - 13 de setembro

 

Na última segunda (29) foi aberta - na Galeria da Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco  - a exposição Pierre Verger e os Cultos Afro-Brasileiros no Recife, em Homenagem ao Centenário do médico, professor e antropólogo René Ribeiro. A mostra fica em cartaz até o dia 14 de dezembro deste ano, com visitação de segunda a sexta-feira, das 08h às 21h.

As fotografias expostas são resultado das frequentes visitas de Verger a vários terreiros recifenses no ano de 1946. Levado pelo amigo René Ribeiro, em verdadeiras incursões etnográficas, o fotógrafo e etnólogo francês realizou um ensaio tido como pioneiro por retratar o transe no campo ritual afro-brasileiro. As fotos já haviam sido publicadas na primeira edição do livro de René, intitulado Cultos Afro-brasileiros do Recife, em 1952.

##RECOMENDA##

Pierre Verger pesquisou e documentou largamente os cultos de matriz africana em Pernambuco e (com maior ênfase) na Bahia nas décadas de 40 até 80. Ele chegou a fixar moradia na cidade de Salvador onde tornou-se devoto do candomblé. Entre vivências em terreiros bahianos e viagens à África, o fotógrafo acumulou vários títulos religiosos e acabou tornando-se babalawo (um adivinho do jogo do Ifá, espécie de oráculo do candomblé) e foi rebatizado sob o nome de Fatumbi (nascido de novo graças a Ifá). Na casa onde morou, na capital bahiana, funciona hoje a Fundação Pierre Verger que trabalha para preservar, organizar, pesquisar e divulgar sua obra. 

 

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando