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O projeto de lei de autoria da vereadora Liana Cirne (PT), de número 8/2022 que institui o Orixá Xangô como guardião do Recife estava para entrar na pauta da sessão plenária desta segunda-feira (14), mas foi retirado pela autora. No entanto, desde o domingo (13), alguns vereadores da oposição protestaram contra a proposição nas suas redes sociais exaltando a laicidade do estado e, em seguida, exaltando Deus e Jesus. 

A autora do projeto afirmou, na justificativa da matéria, que Recife tem como uma das marcar a diversidade do povo e multiplicidade de manifestações culturais que, em sua maioria, são “trazidas pelos diferentes povos ancestrais da diáspora negra, assim entendidas as pessoas autodeclaradas pretas e pardas, num total de 68% da população recifense”. 

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Cirne destacou o culto ao Orixá Xangô, trazido para o Recife por Ifatinuké africana proveniente da Nigéria, e também falou sobre a isonomia de tratamento inter-religioso na capital. “mesma maneira que a cidade tem uma padroeira católica que celebramos respeitosamente, assim também os adeptos e cultuadores do candomblé, espiritualidade africana em Recife, lutam para que a representação do Orixá Xangô seja reconhecida e se transforme oficialmente como Guardião da Cidade do Recife. Xangô Orixá da justiça, da alegria e da fartura, Rei de Oyó, guarda essa cidade e seu povo possibilitando que a justiça prevaleça, a alegria cultural recifense se preserve e a fartura venha pelas mãos do trabalho livre de cada um de seus habitantes”, atenuou.

Bancada evangélica contra o projeto 

O vereador Fred Ferreira (PSC) publicou um vídeo afirmando ter sido surpreendido com o projeto. “Nesta última sexta-feira fui surpreendido aqui na Câmara dos Vereadores com um projeto de lei de uma vereadora do PT, que quer instituir o Orixá Xangô como guardião da nossa cidade. Vamos ver o que a Constituição diz, ela assegura que o estado é laico e prevê liberdade de crenças religiosas para qualquer cidadão, mas isso não assegura alguém querer decretar que o Orixá seja guardião da nossa cidade. Você concorda?”, questionou. 



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Em seguida, o parlamentar lembrou que o ex-presidente Lula recebeu, anos atrás, o mesmo Orixá de um pai de santo. “Você já se perguntou por que ela escolheu esse Orixá? Não sei se você lembra, mas alguns anos atrás o ex-presidente Lula ganhou de um pai de santo a imagem do mesmo Orixá, e agora querem colocar o mesmo guardião da nossa cidade. É muita coincidência. Lutarei contra esse projeto, vamos trabalhar e orar para que ele não seja aprovado. A minha convicção é que Recife é de Jesus”, afirmou. 

Por sua vez, o vereador Renato Antunes (PSC) também repudiou a matéria nas suas redes sociais. “Como vereador e representante do segmento cristão evangélico, entendo que toda fé deve ser respeitada, e combatemos todo tipo de intolerância religiosa. Estranhamente esse projeto foi pautado pelo partido dos trabalhadores, o PT, mesmo partido que diz que o estado deve ser laico. Cadê a laicidade do estado? Qual é a finalidade jurídica, econômica, cultural e social para que Xangô seja guardião da cidade do Recife? Como relator da matéria, votarei não, mas quero debater aspectos jurídicos culturais e sociais, entendendo que fé não se discute, mas também que fé não se impõe. Que Deus nos abençoe”. 

Também do partido social cristão, o vereador Felipe Alecrim se colocou como representante da população cristã católica e criticou o projeto. “Todos sabemos através de pesquisas que 80% da população recifense se declara cristã. Isso é importante para mim e para o nosso mandato saber a sua opinião sobre essa proposição”. 

Já o vereador Júnior Tércio (Podemos), apareceu nas suas redes comemorando a retirada do projeto de pauta. “A vitória é do povo de Deus. O projeto foi retirado de pauta e a autora é do PT, o partido das trevas. E ainda tem cristão que vota no partido depois dessa?”, disparou.

Como anunciado pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Sergio Camargo, a marca da instituição vai ser alterada por fazer alusão ao machado de Xangô. Nesta quinta-feira (26), o gestor informou sobre o novo edital com a imagem de uma lâmpada – símbolo de boa ideia - saindo de uma cabeça branca.

Com inscrições abertas desde a terça (17), Camargo novamente adotou uma postura controversa para reforçar o concurso que vai remover o símbolo candomblecista da fundação destinada à preservação da cultura afro-brasileira.

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Apesar da imagem de divulgação possuir as tradicionais cores do Brasil, o gestor optou em compartilhar a versão do material com a cabeça branca em seu perfil no Twitter.

Ele escreveu que público-alvo da instituição "não se restringe a povos de terreiro. Há também pequenos produtores de cultura, comunidades quilombolas, além do cidadão negro de bem".

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 O projeto vencedor será premiado com R$ 20.000 e o informe do edital destaca que o concurso segue a laicidade do Estado e busca por mais democracia.

Autodeclarado "antivitimista e inimigo do politicamente correto", o presidente da Fundação Palmares acrescentou em uma publicação seguinte que "a expressão afro-brasileiros não faz sentido", pois somos "apenas brasileiros"; e continuou: "Afrodescendente consegue ser pior ainda!".

O Museu do Estado de Pernambuco, localizado na Zona do Norte do Recife, recebe nesta terça-feira (23), o lançamento da exposição ‘Agô’, da fotógrafa Roberta Guimarães. A mostra fica disponível para visitação até o dia 2 de junho e exalta os terreiros de candomblé de Pernambuco.

Com 40 imagens, o trabalho é fruto de três anos de pesquisa realizada por Roberta em 14 terreiros de xangô do Estado. O trabalho também resultou no livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”, lançado em 2013. Nos registos, são mostrados particularidades dos rituais, respeitando a tradição e a religiosidade. “O xangô faz parte da nossa identidade, da nossa cultura, e nos ensina sobre amor, afeto e tolerância”, diz Roberta.

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A exposição contará com áudiodescrição para as fotos expostas, com libras e legendas, além de visitas guiadas direcionadas a pessoas com deficiência visual e auditiva. A entrada na abertura da exposição é gratuita. Nos outros dias, a entrada é o valor de acesso do museu: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).

Serviço

Exposição 'Agô'

Terça a sexta | 9h às 17h; Sábados e domingos | 14h às 17h

 Museu do Estado de Pernambuco (Av. Rui Barbosa, 960 - Graças, Recife) 

R$ 6 e R$ 3 (meia)

Na última segunda (29) foi aberta - na Galeria da Biblioteca Central da Universidade Federal de Pernambuco  - a exposição Pierre Verger e os Cultos Afro-Brasileiros no Recife, em Homenagem ao Centenário do médico, professor e antropólogo René Ribeiro. A mostra fica em cartaz até o dia 14 de dezembro deste ano, com visitação de segunda a sexta-feira, das 08h às 21h.

As fotografias expostas são resultado das frequentes visitas de Verger a vários terreiros recifenses no ano de 1946. Levado pelo amigo René Ribeiro, em verdadeiras incursões etnográficas, o fotógrafo e etnólogo francês realizou um ensaio tido como pioneiro por retratar o transe no campo ritual afro-brasileiro. As fotos já haviam sido publicadas na primeira edição do livro de René, intitulado Cultos Afro-brasileiros do Recife, em 1952.

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Pierre Verger pesquisou e documentou largamente os cultos de matriz africana em Pernambuco e (com maior ênfase) na Bahia nas décadas de 40 até 80. Ele chegou a fixar moradia na cidade de Salvador onde tornou-se devoto do candomblé. Entre vivências em terreiros bahianos e viagens à África, o fotógrafo acumulou vários títulos religiosos e acabou tornando-se babalawo (um adivinho do jogo do Ifá, espécie de oráculo do candomblé) e foi rebatizado sob o nome de Fatumbi (nascido de novo graças a Ifá). Na casa onde morou, na capital bahiana, funciona hoje a Fundação Pierre Verger que trabalha para preservar, organizar, pesquisar e divulgar sua obra. 

 

 

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A fotógrafa pernambucana Roberta Guimarães visitou 12 terreiros de xangô entre as cidades do Recife, Olinda, Paulista Goiana, registrando rituais e cerimônias, muitas vezes reservados. O fruto desse trabalho, que traz uma abordagem inédita sobre cultura e religião no Recife, pode ser conferido nas 160 páginas do livro O sagrado, a pessoa e o orixá, que será lançado nesta quinta (16), às 19h, na Livraria Cultura do Paço Alfândega. 

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Buscando interferir o mínimo possível nas cerimônias registradas, a fotógrafa pernambucana precisou se adequar tecnicamente para preservar a qualidade das imagens. Em rituais específicos, por exemplo, não era permitido o uso do flash. Além disso, Roberta ressalta que, em algumas sessões fotográficas, trabalhou mais de 12 horas seguidas, acompanhando rituais extremamente detalhistas, como o Ebó das Águas, em que o adepto passa por uma preparação, vai se banhar num rio e depois retorna ao terreiro para finalização da cerimônia. 

Com mais de 20 anos de experiência, Roberta Guimarães é formada em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e cursou Fotografia no Instituto Superiore di Fotografia de Roma (Itália). Atuou como repórter fotográfica na Folha de Pernambuco e no Jornal do Commercio, além disso é diretora e sócia fundadora da Agência Imago. Entre outros trabalhos de Roberta, está o livro “Brincantes da Mata”, em parceria com as fotógrafas Rose Gondim e Tuca Siqueira. 

Serviço

Lançamento do livro O sagrado, a pessoa, o orixá

Quinta (16), às 19h

Livraria Cultura do Paço Alfândega (Rua Madre de Deus, s/n)

Gratuito

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