A história da Paixão de Cristo é uma das que mais definem a construção da nossa civilização. A vinda do Cristo – um enviado de Deus ou o próprio Deus encarnado para expiar os pecados da humanidade – é um dos pilares no qual se baseia a crença da enorme maioria dos brasileiros. A encenação dos momentos mais marcantes da trajetória de Jesus é uma tradição fortemente presente em todo o Brasil, e em Pernambuco ela tem muita força.
É em Pernambuco que fica a maior encenação ao ar livre da Paixão de Cristo, que acontece na cidade cenográfica de Nova Jerusalém, atraindo dezenas de milhares de pessoas todos os anos. Em cada canto do Estado, pessoas de todas as idades e profissões se transformam em profetas, soldados romanos, apóstolos e representam os passos de Jesus na Terra, seus milagres, a traição de Judas Iscariotes, a crucificação e morte, e a ressurreição do Cristo.
O Leiajá foi conhecer algumas das mais tradicionais Paixões de Cristo de Pernambuco, visitando municípios da Zona da Mata, Agreste e Sertão. Passeie com o LeiaJá em uma viagem pela fé e talento de pessoas comuns, que muitas vezes passam boa parte do seu ano se preparando para viver as emoções da Paixão e continuar a contar para as pessoas a história de Jesus Cristo.
RECIFE
Fruto da dedicação e persistência do ator José Pimentel, a Paixão de Cristo do Recife começou a ser encenada em 1997, no estádio do Arruda. A Paixão passou cinco anos acontecendo no estádio e, a partir de 2002, começou a ser encenada no Marco Zero do Recife, onde acontece até hoje. A mega produção envolve nada menos que 300 figurantes, 100 atores e 50 técnicos, que se reúnem para apresentar ao público a história da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
A relação de José Pimentel com a história teatralizada de Jesus Cristo é bastante antiga, e começa com a sua participação na tradicional Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, ainda na década de 1960. Em 1969 ele assume a direção do espetáculo e, em 1978, interpreta pela primeira vez o Cristo, que segue encarnando até hoje na versão recifense da peça.
Para 2012, todo o figurino e o cenário estão sendo renovados, e a iluminação e os efeitos especiais também foram atualizados. “Quem já assistiu ao espetáculo vai notar as diferenças”, avisa o diretor, que também fala de algumas mudanças no elenco principal para as apresentações deste ano: Maria, mãe de Jesus, será interpretada por Angélica Zenith; Madalena por Gabriela Quental; o Judas será Mário Miranda e quem encarna Anás é Rogério Costa, entre outras alterações. Todas essas pessoas já participavam da encenação há um bom tempo em outros papéis.
São, ao todo, duas horas de espetáculo. A ação acontece em um grande palco com 20 metros de comprimento e 14 metros de largura, que abriga ao todo nove diferentes cenários, onde se desenrolam as cenas marcantes da Paixão como a última ceia, a crucificação de Jesus, o enforcamento de Judas e a ascensão do Cristo ressuscitado. Cerca de 70 mil pessoas assistem à Paixão de Cristo do Recife todo ano. São famílias inteiras, pessoas de todas as idades, artistas, que se emocionam com a simbologia da história e a força cênica da peça.
“Pernambuco tem uma tradição na realização da Paixão de Cristo. Os circos, antigamente, sempre encenavam sua Paixão na época da páscoa. Barreto Júnior também fazia uma. Hoje, quase todas as cidades do interior têm uma Paixão, e muitos bairros do Recife também”, ensina José Pimentel, que além de dirigir e atuar, também é o responsável pelo texto do espetáculo. A Paixão de Cristo do Recife acontece do dia 4 ao dia 8, às 20h, no Marco Zero.
Serviço
Paixão de Cristo do Recife
Quarta (4), quinta (5), sexta (6), sábado (7) e domingo (8), às 20h
Marco Zero
Gratuito
Bairros
O Recife abriga, em muitos dos seus bairros, diferentes encenações da Paixão de Cristo, a maioria promovida pelas paróquias espalhadas pela cidade e sua Região Metropolitana. Na capital pernambucana, destaca-se a peça encenada no bairro de Casa Amarela, realizada pela Paróquia do Bom Jesus do Arraial. Cerca de 50 atores e 120 figurantes participam da montagem, que tem cerca de duas horas de duração.
A Paixão de Cristo de Casa Amarela conta com recursos de telão e efeitos especiais e atrai milhares de espectadores todo ano. Em 2012, as apresentações acontecem nos dias 5 e 6, às 21h, no pátio da feira de Casa Amarela.
NOVA JERUSALÉM
Cores, efeitos especiais e muita emoção. O espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, no Agreste pernambucano, surpreende quem vai pela primeira vez e não deixa a desejar aos que vão assistir novamente. A emoção pode ser vista tanto no público como nos atores. “Você vem pra cá e medita, reza. Faz um balanço da própria vida”, afirma o ator pernambucano José Barbosa, que faz o papel de Jesus de Nazaré, depois de dez anos sem um ator da região interpretar esse personagem na montagem de Fazenda Nova.
O maior teatro ao ar livre do mundo dá ao público a chance de se sentir a parte mais significativa da história de Cristo. O público fica muito próximo dos atores, o que proporciona uma experiência única de interação entre quem assiste e quem interpreta. “Você escuta muita coisa e tem que se concentrar. A orientação que nos foi dada é de não falar o texto, já que tudo é gravado antes e quem está mais próximo pode ouvir o que a gente diz”, comenta o ator Caco Ciocler, que interpreta o Judas Iscariotes.
O figurino da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é um espetáculo a parte. Vai do comum ao extravagante, como no bacanal de Herodes – interpretado por Mohamed Harfouch. Na cena, Herodíades – interpretada por Ellen Roche - usa uma roupa toda dourada, assim como seus súditos, que usam roupas extravagantes, contrastando com as roupas de Jesus e dos que o seguem, que são simples e sem muitos detalhes. “A gente não consegue ter a dimensão disso aqui até pisar, sabe? É mágico”, comenta a atriz Larissa Maciel, que vive o papel de Maria, mãe de Jesus.
Com a mistura de sons, efeitos, figurinos e um cenário minuciosamente projetado para relembrar os tempos de Jesus, é fácil se emocionar ao acompanhar a história da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. O espetáculo de Nova Jerusalém é encenado há 44 anos em uma enorme cidade cenográfica com 100 mil metros quadrados que abriga, ao todo, nove palcos que reproduzem cenários realistas onde acontece toda a ação. A cidade cenográfica é a realização do ambicioso plano de Plínio Pacheco, e ocupa uma área equivalente a um terço da Jerusalém original.
A encenação é realizada pela Sociedade Teatral de Fazenda Nova. São 550 pessoas em cena, entre atores e figurantes. Para 2012, a Paixão de Cristo tem nova iluminação e efeitos especiais, além de ter sido feita uma renovação do figurino e de adereços usados no espetáculo. Uma das preocupações da produção é com os portadores de necessidades especiais: estarão disponíveis os recursos de audiodescrição para cegos e a descrição de todo o espetáculo em LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) para surdos. São nove dias de apresentações, do dia 30 de março ao dia 7 de abril.
Serviço
Paixão de Cristo de Nova Jerusalém
Domingo (1), segunda (2), terça (3), quarta (4), quinta (5), sexta (6) e sábado (7), às 18h
Fazenda Nova, Brejo da Madre de Deus
R$ 60 a R$ 90 (depende do dia) e R$ 30 a R$45 (meia entrada)
Informações: www.novajerusalem.com.br.
IPOJUCA
A tradicional montagem da Paixão de Cristo do município de Ipojuca começou em 1978, como resultado do grupo Comunidade de Jovens Cristãos – CJC, que encenava pequenas peças. Um presente – um disco de vinil da Paixão de Cristo – despertou no grupo a vontade de encenar a história de Jesus Cristo. Surgiu, então, o Grupo Teatral Ipojucano (GTI), que até hoje encena a Paixão no município da Zona da Mata Sul de Pernambuco.
Por três anos, a Paixão aconteceu no Clube Municipal, mas passou a atrair tanto público que precisou ser transferido para locais abertos. A peça passou seis anos sendo apresentada no Estádio Antônio Dourado Neto, e há quatro anos acontece no Pátio de Eventos de Ipojuca, atraindo cerca de quatro mil pessoas a cada dia de apresentação. Entre atores, figurantes, produção e técnicos, a encenação agrega o esforço de quase duzentas pessoas, entre elas sessenta idosos do grupo Idoso Feliz, que fazem figuração.
Desde os primeiros anos, o grupo enfrentou muitas dificuldades, mas persistiu e hoje é uma das mais tradicionais das Paixões de Cristo de Pernambuco. Mesmo assim, “Ano passado a peça não foi realizada por falta de apoio do poder público”, afirma Edércio Lima, diretor do espetáculo e fundador da Paixão de Cristo de Ipojuca. Edércio, que encarnou por muito tempo o Cristo, hoje ainda atua na montagem como o romano Herodes.
Durante seis anos, em meados da década de 1990, o Grupo Teatral Ipojucano não conseguiu encenar a Paixão em seu próprio município, mas montou o espetáculo em outras cidades, como Vitória de Santo Antão e Sirinhaém. Nada fez esmorecer a vontade de seguir apresentando a história de Jesus Cristo para as pessoas: “As grandes idéias surgem nos momentos de dificuldade”, reflete Virgínio Ferreira, que interpreta Caifás.
São muitos os momento que mostram o envolvimento da população com a encenação: “Passam um tempão me chamando de traidor”, relata Deividy William, que encarna Judas Iscariotes, o apóstolo que traiu Jesus Cristo e o entregou aos romanos. Os atores ressaltam que as manifestações do público são, talvez, o maior estímulo para continuar encenando a Paixão. Carla Medeiros, que hoje atua como Maria e participa desde criança, já tendo interpretado várias personagens, relembra um momento emocionante: “Em 2008, um pedaço da cruz se soltou e caiu com o cristo. Achamos que o público ia reagir mal, mas eles se levantaram e começaram a aplaudir. Eu chorei muito nesse dia”.
A participação de Carla também incentivou seu filho, Carlos Medeiros Neto, que participa desde quando ainda era um bebê de colo e atualmente encarna Jesus Cristo na encenação de Ipojuca. Muitos participam desde criança, como Ueliton Santos, de 31 anos, que encarna o Pilatos e faz parte do elenco desde que tem 10 anos. Hoje outras crianças também se integram, anunciando muitos anos de continuidade da tradição desta encenação. Celso Lucas, 10 anos, participa desde os 5: “Minha mãe deu a ideia e eu gostei porque tem muitos amigos”, afirma o menino.
Todos colaboram como podem, atuando em diferentes funções, a exemplo de Danniel Bezerra da Fonseca, que já interpretou vários personagens e agora responde pela sonoplastia do espetáculo. Ele conta que busca as músicas da trilha sonora do espetáculo em filmes antigos sobre a vida de Jesus. Antônio Lima, que atua como Centurião e um dos apóstolos, ainda cospe fogo na cena do bacanal de Herodes.
Em 2012, a Paixão de Cristo de Ipojuca completa 35 anos de tradição e será apresentada na Sexta-Feira da Paixão e no Sábado de Aleluia no Pátio de Eventos de Ipojuca. A ação acontece em três diferentes palcos e terá novidades, como a inclusão da cena da tentação de Cristo e a reprodução do quadro “A Santa Ceia”, de Leonardo da Vinci, quando da encenação da última ceia de Jesus com os apóstolos.
A produção do espetáculo é do Centro Cultural Farol de Davi. O produtor Marcos Moraes explica que, apesar de dificuldades como a falta de espaço para guardar os cenários e os figurinos, não há problemas em conseguir pessoas dedicadas: “A Paixão de Cristo já é tradicional em Ipojuca, não é difícil juntar tanta gente. A paixão é praticamente a única potencialidade cultural viva do município”, afirma.
Serviço
Paixão de Cristo de Ipojuca
Sexta (6) e Sábado (7), às 20h
Pátio de Eventos de Ipojuca
Gratuito
BOM JARDIM
A pequena cidade do Agreste pernambucano abriga uma das mais bonitas encenações da Paixão de Cristo do Estado. Em Bom Jardim, a tradicional peça começou sendo interpretada pelas irmãs do Colégio Sant’Ana ainda na primeira metade do século passado. Por ser uma escola, até então, apenas para meninas, não havia homens no elenco. No início da década de 1990, eles puderam começar a participar e a comunidade foi se envolvendo cada vez mais com a encenação.
Em 1992, por iniciativa de José Márlio Salviano, João Babosa e Lúcio Mário Cabral, o espetáculo foi levado à rua, passando a ser encenado ao ar livre. Desde então vem se destacando como uma forte iniciativa cultural que está mais que fixada na identidade cultural de Bom Jardim. A produção da Paixão de Cristo de Bom Jardim envolve hoje cerca de trezentas pessoas, incluindo jovens e adolescentes com problemas de socialização e com drogas, o que desdobra a produção e apresentação da peça em uma ação social de cuidado com os adolescentes da cidade.
A peça é levada muito à sério por seus realizadores e já há casos de pessoas que deram um passo adiante, como é o caso do ator Reginaldo Celestino, que interpreta o Judas Iscariotes. Hoje ele é ator profissional, mora no Rio de Janeiro e já participou até de novelas da TV. “A gente tem aula de interpretação, expressão corporal e expressão vocal”, explica José Márlio, professor e ator que dirige a Paixão de Cristo de Bom Jardim. Essas aulas são ministradas por Lady Batista, que mora no Rio de Janeiro e participa da encenação desde 1994 - já fez figuração e também o papel de Herodíades. Hoje ela é a assistente de direção.
Em Bom Jardim, a Paixão de Cristo interage com praças, ruas e prédios históricos da cidade, e realiza um verdadeiro cortejo entre diferentes pontos sem interromper a apresentação. A encenação se inicia na Praça São Sebatião, segue para a Praça do Fórum, vai para a frente de um casarão antigo, depois para o cineteatro, o Fórum (onde acontece a cena de Pilatos). Em seguida para a Praça do Carmo (onde acontece a via crúcis) e se encera na Capela do Carmo.
Clea Salviano, que trabalha na produção do espetáculo, comemora que “as ruas ficam repletas e a cidade para” quando a história de Jesus Cristo é encenada. A casa de Clea é o “quartel general” do grupo, onde o elenco se reúne e também onde ficam guardados o figurino e partes do cenário. A filha dela, Maria do Carmo, participa desde os dois meses de idade da peça e hoje vive a mãe de Jesus. “Todos se ajudam”, afirma a jovem. Muitos participam da montagem e desmontagem dos cenários, da feitura dos figurinos ou atuam em outras funções.
É o caso de Edson Nascimento, que participa a sete anos da Paixão de Bom Jardim. Além de interpretar Pilatos, ele é o responsável pelo plano de iluminação do espetáculo. Também de Wilton Augusto Martins, que pelo segundo ano encarna o Cristo. “Espero ficar mais tempo participando. As apresentações são lindas e eu gosto de participar de todos os processos, da montagem dos cenários à apresentação”, afirma o jovem que, a pedido do diretor Márlio, tem deixado a barba e o cabelo crescerem para compor o personagem.
Todo o elenco ressalta a grande emoção envolvida na apresentação: “No primeiro ano em que fiz Barrabás, eu chorei”, afirma Manuel Salvino Pereira Filho, que também encarna o apóstolo Pedro. Andreia Carla Gomes da Silva, que interpreta Verônica, diz ser “emocionante ver um monte de gente vindo prestigiar”. Eliel Souza, o Caifás, conta que “já houve anos em que o público entrou na cena para ajudar Jesus. Na hora da flagelação muitas pessoas choram”.
Em 2012, a Paixão de Cristo de Bom Jardim foi a mais bem colocada na sua categoria no edital Pernambuco de Todas as Paixões, da Fundarpe. As apresentações acontecem nos dias 5, 6 e 7, sempre às 20h. A complexidade da realização da peça não esmorece a vontade de seus realizadores: “O desafio é difícil, mas não impossível. Nós começamos fazendo roupas com papel celofane, papelão, era uma penúria grande e nunca deixamos de fazer”, resume José Márlio. Hoje Bom Jardim atrai moradores das cidades vizinhas e é uma ótima opção para quem quer vivenciar a Paixão de Cristo em uma encenação rica e bela.
Serviço
Paixão de Cristo de Bom Jardim
Quinta (5), sexta (6) e sábado (7), às 20h
Nas proximidades do Fórum de Bom Jardim
Gratuito
GRAVATÁ
Uma das maiores de Pernambuco, a Paixão de Cristo de Gravatá atrai um público médio estimado em oito mil pessoas por apresentação. Intitulada A nossa Paixão, a peça é encenada desde 1983. Nos primeiros anos, a história da paixão, crucificação e ressurreição de Cristo era encenada no Alto do Cruzeiro, e em seguida passou por diferentes pontos da cidade até se estabelecer no Pátio de Eventos, há sete anos. O espaço funciona como um grande palco e permite ao público visualizar facilmente todas as cenas, que se desenrolam em cinco diferentes cenários.
Gravatá é destino preferencial para quem viaja durante a Semana Santa e tem uma programação de shows que atrai ainda mais pessoas ao Pátio, especialmente na Sexta-Feira da Paixão. A realização da peça é um trabalho para o ano todo, como relata Carlos Fester, diretor: “Começamos a produzir a encenação, fazer adereços e roupas e a correr atrás de patrocínio para o ano seguinte assim que termina a Semana Santa”. Os ensaios com o elenco acontecem a partir de fevereiro e a produção agrega cerca de 200 pessoas.
A nossa Paixão tem ares de grandiosa e também se utiliza de efeitos especiais. “Usamos explosões, efeitos de sangue”, explica Janjão Brito, que já participa do espetáculo há 25 anos e é o responsável pelos efeitos e pela iluminação, além de encarnar o Cego de Jericó em cena. Brito ainda é co-diretor do espetáculo. Muitos participam há mais de duas décadas, como Carlos Silva, o responsável por interpretar Judas Iscariotes. Ele está na encenação desde 1984, quando tinha apenas dez anos de idade. Hoje seu filho Carlos Eduardo, de 13 anos, também atua. “A primeira participação dele foi com seis meses de idade”, conta o pai orgulhoso.
Outro participante antigo no grupo é Inaldo Batista Marinho, que entra em cena como Profeta e Ancião. Quem interpreta o principal personagem da Paixão é Antônio Santos. Além de representar Cristo, Antônio também é assistente de direção. Participam da encenação 22 atores e atrizes ao todo, a exemplo de Maria Rejane, que interpreta a Mulher Egípcia.
O diretor Carlos Fester ressalta o esmero na produção e afirma que “ tudo é bem estudado e há um cuidado na caracterização dos personagens”. Segundo ele, esse cuidado se estende a cenários, efeitos e figurinos. A peça dura uma hora e quarenta minutos e a ação se inicia ainda com a história de Adão e Eva, quando da Criação. A peça tem momentos mais fortes, como o enforcamento de Judas e a Ascensão do Cristo, clímax da Paixão.
Não se perde de vista, no entanto, o objetivo primeiro da mobilização de tantas pessoas para encenar a história de Jesus Cristo. “O principal objetivo é evangelizar”, afirma Fester. E muitas pessoas, incluindo vários jovens e adolescentes, procuram participar da encenação, tomando parte na construção e manutenção de uma tradição que remonta ao início de nossa era, e contando uma história que atravessa o tempo como uma das mais definidoras da fé do povo.
A produção de A nossa Paixão é do ICETAG – Instituto Cultural e Ecológico Terra Agreste. A peça foi aprovada no edital Pernambuco de Todas as Paixões da Fundarpe. As apresentações acontecem nos dias 5, 6 e 7 às 21h e são abertas a todos. O grupo prepara novidades para a apresentação de 2012, com a inclusão de cenas.
Serviço
A nossa Paixão – Paixão de Cristo de Gravatá
Quinta (5), sexta (6) e sábado (7), às 21h
No Pátio de EventosChucre Mussa Zarzar
Gratuito
PESQUEIRA
O município do Sertão pernambucano abriga não uma, mas duas encenações da Paixão de Cristo simultaneamente. Não há, entretanto, choque de datas ou horários, pois no dia em que uma é encenada, a outra não acontece. A situação dá aos moradores de Pesqueira e aos visitantes da época da Semana Santa a opção de uma rica programação e a oportunidade de conferir duas leituras da saga vivida por Jesus Cristo, que inclui sua paixão, crucificação e ressurreição.
A mais antiga das Paixões de Cristo encenadas em Pesqueira nasceu em 1983. Toda a ação acontecia durante a procissão de Sexta-Feira da Paixão, realizada pela Diocese de Pesqueira, que saía do Convento Franciscano. Em 1995, a história de Cristo virou uma peça de teatro e passou a ser encenada no pátio do Convento, onde acontece até hoje.
A peça é realizada pelo grupo Amigos de São Francisco, com a participação da Juventude Franciscana. A Igreja e o Convento de São Francisco apoiam a encenação, e as roupas que compõem o figurino, por exemplo, foram costuradas no próprio convento. “O principal foco é a evangelização”, afirma Evaldo Andrade, diretor da peça. Ele encarnou o Cristo por 18 anos e agora atua como Profeta, além de dirigir vinte atores e cerca de cinquenta figurantes que participam da Paixão. A coordenação geral é de Ivânia Torres, secretária da paróquia.
A Paixão de Cristo acontece em uma parceria com a Ziriguidum Art e Circus, produtora da qual Evaldo faz parte. Outro participante da peça que faz parte do grupo é Edenilson Barbosa da Silva, que interpreta um Soldado Romano. “Eu comecei vendo a procissão e já me apaixonei pela encenação, mas na época não se permitia crianças”, conta o jovem, que passou a integrar o elenco assim que as crianças foram admitidas e já está há 17 anos no elenco.
Hoje quem faz o Cristo é Valter Lima, que vai à cena acompanhado de Agda Maria da Silva, Maria da Paz Melo, Maria Barbosa Vasconcelos, Solange Vieira da Silva, Antônio Vicente Lima da Silva, Valdira Alexandre Souza e Jamerson Vieira da Silva, que interpreta Satanás, entre outros moradores de Pesqueira. Todos comentam do envolvimento do público com a encenação, afirmando ser emocionante participar.
A Paixão de Cristo conta com o apoio Prefeitura de Pesqueira, que cede arquibancada, banheiros químicos e a estrutura de som para acomodar o público de cerca de duas mil pessoas por apresentação. Este é o terceiro ano que a peça recebe também incentivo da Fundarpe. As apresentações acontecem no Domingo de Ramos (1), na Quarta-Feira Santa (4) e na Sexta-Feira da Paixão (6), às 20h.
Serviço
Paixão de Cristo de Pesqueira
Domingo (1), Quarta (4) e Sexta (6), às 20h
Convento dos Franciscanos (Av Dr Joaquim Brito, 194 Prado - Pesqueira)
Gratuito
Arte e Vida
Outra peça criada para lembrar os milagres e o martírio de Jesus Cristo na cidade de Pesqueira é a produzida pelo Grupo de Teatro Arte e Vida. O criador e diretor da peça, Dimas Silva, conta que a primeira encenação aconteceu em 1990 na Rua João Camilo Valença, no bairro do Prado, onde mora até hoje. Os primeiros atores foram os vizinhos. “Não tínhamos figurinos, então improvisávamos com lençóis, panos listrados e coloridos. As lanças eram feitas com cabos de vassoura”, recorda Dimas.
Ano após ano, a encenação foi atraindo mais gente para participar do elenco ou assistir. Em 2002, a rua já não comportava mais a quantidade de público que se reunia, e o grupo foi convidado para encenar a paixão em frente à Escola Professor Arruda Marinho, onde passou nove anos. Em 2012, pela primeira vez, a Paixão será encenada no Teatro Municipal de Pesqueira. O teatro é ao ar livre e em formato de arena. Os cenários serão montados em mais três partes da estrutura, além do palco, fazendo com que a cena vá circulando o público em 360 graus e oferecendo uma experiência diferente do que o próprio elenco está acostumado.
Entre os remanescentes da primeira apresentação está Jean Mário, conhecido como China. Quem é o responsável por interpretar o Cristo é o jovem Willington “Lito”, de apenas 15 anos. Quase todos os atores desempenham mais de uma função ou interpretam até três diferentes personagens durante a peça. Hoje são cerca de 70 pessoas envolvidas na realização da Paixão de Cristo entre atores, figurantes e técnicos. É o caso de Claudivan Macena, de 22 anos, ao contar que “já acompanhava só assistindo" e pediu para participar. Hoje o jovem atua há oito anos e interpreta Satanás e Caifás na peça.
Vendo a encenação crescer a cada ano, o diretor Dimas relembra um pouco da trajetória da Paixão: “Sempre gostei de filmes bíblicos e me deu a vontade de realizar uma brincadeira. Não sabia nem o que era teatro na época e isso se tornou um sonho”, resume. Ele adianta que há surpresas e novidades na encenação de 2012, que acontece na Terça-Feira Santa (3) e na Quinta-Feira Santa (5), às 20h, no Teatro Municipal de Pesqueira.
Serviço
Paixão de Cristo do Grupo Arte e Vida
Terça (3) e quinta (5), às 20h
Teatro Municipal de Pesqueira
Gratuito