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"Não empregaria mulheres com o mesmo salário", "você não merece ser estuprada", "talvez nós homens nos sintamos intimidados pelo crescente papel da mulher em nossa sociedade". Essas foram algumas das declarações, tidas como machistas, proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo Ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, que ocuparam as principais páginas dos jornais brasileiros nos últimos anos.

Os posicionamentos dividem opiniões e geralmente figuram nos debates da oposição, que cobra do governo maior responsabilidade e decoro. Mas o que pensam as mulheres? O LeiaJá foi à nona edição das Marcha das Vadias do Recife para ouvir a percepção delas em relação aos posicionamentos do Planalto.

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Manifestantes seguiram pela Conde da Boa Vista até a rua da Aurora. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

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Pondo em prática o mote “lugar de mulher é onde ela quiser”, a nona edição da Marcha das Vadias tomou as ruas do Centro do Recife, na tarde deste sábado (24). De orientação feminista, a mobilização teve sua concentração marcada para às 13h, na praça Oswaldo Cruz, no bairro da Soledade, de onde partiu rumo à rua da Aurora, onde as manifestantes se juntaram à manifestação pró-Amazônia. O ato foi marcado pela já tradicional batucada feminista, atos performáticos e por palavras de ordem a favor de bandeiras como a descriminalização do aborto e o combate ao feminicídio. 

Primeira aluna transexual da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal de Pernambuco (UAST-UFPE), a estudante Rayana Souza veio para o Recife, exclusivamente para comparecer à marcha. “Estou aqui para dizer às mulheres trans que este espaço também é nosso e precisamos ocupá-lo. Recentemente, um homem trans que passou no vestibular da Uast já entrou em contato comigo para saber como funcionava a questão do nome social. É muito importante abrir esses espaços”, afirma.

Rayana veio de Serra Talhada apenas para comparecer à marcha. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)

Membra da Coletiva das Vadias, a ativista Ju Dolores ressalta a escolha do tema da marcha de 2019: “Dias Mulheres Virão”. “Esse ano, apesar de os números serem estarrecedores, a gente precisou falar da potência das mulheres juntas. Dentro desse retrocesso que estamos vivendo, temos que manter a fé e nos fortalecer, porque a gente sabe que não tem nenhuma mulher forte que um dia não precise da ajuda de outra”, comenta. Dolores reforça ainda o caráter interseccional da marcha. “A Coletiva das Vadias é antirracista, antisexista, antiprobicionista e a gente tem orgulho de ter transformado a Marcha das Vadias do Recife em uma marcha diversa. A gente vê mulheres mães, negras, trans e de todas as idades”, comemora.

Perfomance

Durante a marcha, o Coletivo Rua das Vadias realizou a performance “Rojas”, previamente divulgada nas redes sociais com uma convocatória aberta a mulheres cisgênero e transgênero. Portando tinta guache vermelha e baldes, o grupo repetiu a executada nas ruas do Centro do Recife, no dia 14 de agosto.

O deputado federal Eurico da Silva (Patriota), que recentemente garantiu que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) é um homem “competente”, polemizou mais uma vez por meio das redes sociais ao publicar um vídeo no qual aparece o capitão da reserva anunciando que no dia 20 de junho de 2019 será realizada a Marcha para Jesus. 

O pastor comentou o vídeo afirmando que as coisas estão mudando no Brasil e aproveitou para detonar o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “No passado os ministros de Lula promoviam a Marcha da Maconha, do orgulho gay e das vadias. Agora, o próximo presidente anuncia a marcha para Jesus”, ressaltou. 

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Eurico chegou a dizer que Bolsonaro tem responsabilidade com a sociedade, com a família e com o povo. “O Bolsonaro que eu conheço não existe negociata, não existe falcatrua, não existe arrumadinho, é ou não é”, garantiu.

Por volta das 16h, o grupo de maracatu feminista Baque Mulher fez apresentação de música com tambores. Em seguida, a marcha percorreu três quilômetros pela orla, até o Leme, com palavras de ordem pelos direitos das mulheres, trans e travestis.

Neste ano de Olimpíada e eleições municipais, o movimento abordou também as violações cometidas em nome dos Jogos Olímpicos, como remoções, gastos excessivos dos governos municipal e estadual. Criticaram também a candidatura de Pedro Paulo (PMDB) a prefeito do Rio – acusado de espancar a ex-mulher – e o deputado federal Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal por injúria e apologia ao estupro.

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Para uma das organizadoras da Marcha no Rio Heloisa Melino, é papel do movimento também denunciar abusos como os que têm sido cometidos contra a população pobre da cidade.

"Neste ano de megaeventos não poderíamos deixar de falar contra esses gastos excessivos, que não vão deixar nada para a população do estado, e [contra] essa política higienista, de remoções de favelas e ocupações, violência contra os camelôs, pessoas trans e travestis", disse ela. "Além disso, não podemos aceitar a candidatura de um homem que agrediu física e psicologicamente a esposa", acrescentou.

O protesto também defendeu a legalização do aborto e a regulamentação da prostituição. A ativista Jaqueline Toledo, 23 anos, trouxe o filho, Miguel, de oito meses, de carrinho, e declarou: "Quero que meu filho veja as outras mulheres como [seres] humanos, assim como ele é, para que cresça respeitando a mulher e seja contra a cultura do machismo".

"Fora Temer" também esteve na boca e nos cartazes da marcha. Para a presidenta do grupo TransRevolução do Rio, Indianara Alves Siqueira, que participa da Marcha das Vadias desde 2011, também é papel do movimento denunciar o afastamento de Dilma Rousseff.

"Por mais que seja um governo que não nos represente em sua totalidade, estamos falando de uma mulher que foi eleita democraticamente pelo povo e que não cometeu nenhum crime. Essa tentativa de impeachment é golpe", disse ela.

Indianara também condenou o estupro coletivo cometido contra uma adolescente no Rio de Janeiro, no mês passado. "Estamos ocupando o espaço público com as mulheres para dizer que isso é inadmissível. E queremos que isso se multiplique para as próximas gerações, para que a sociedade se torne inclusiva e segura", desdtacou.

A manifestação continuou à noite, no centro da capital fluminese, no Palácio Capanema, onde ocorre o Desfile Daspu, encerrando o Puta Dei 2016, na Ocupa Minc. De lá, as participantes pretendem sair em cortejo para a CasaNem, onde será encerrada a Marcha das Vadias –  movimento iniciado em Toronto, no Canadá, em 2011, com efeito multiplicador em várias cidades mundo afora.

As assessorias do deputado Bolsonaro e do candidato a prefeito Pedro Paulo não foram encontradas para comentar as críticas.

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