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Chegou a seis o número de frigoríficos interditados pelo Ministério da Agricultura, dez dias após a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal. O Ministério da Justiça também anunciou nesta segunda-feira (27) a ampliação do recall de produtos de frigoríficos investigados na operação. Pouco depois, o frigorífico Souza Ramos, interditado e alvo de recall, anunciou que fechou as portas e demitiu os 140 funcionários de sua fábrica em Colombo (PR) na semana passada. Até a noite desta terça, o secretário de Defesa Agropecuária, Luís Eduardo Rangel, disse que ainda não havia sido informado.

Logo após a operação policial, há duas semanas, o ministério fechou três estabelecimentos: Peccin em Curitiba (PR), Peccin em Jaraguá do Sul (SC) e a unidade da BRF em Mineiros (GO). A lista cresceu para seis, com o acréscimo de Souza Ramos, Laticínios SSPMA em Sapopema (PR) e Farinha de Carnes Castro em Telêmaco Borba (PR). Além desses, Transmeat, de Balsa Nova (PR) é alvo de interdição parcial, só de uma linha de produção de carnes temperadas.

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Todos eles estão na lista dos 21 frigoríficos investigados na operação e que, por isso, receberam um "pente-fino" da fiscalização do Ministério da Agricultura. "Não encontramos nessas plantas nenhum produto que pudesse fazer mal à saúde no momento", disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. "Vamos dar à população essa tranquilidade", completou.

No Souza Ramos, por exemplo, o problema encontrado foi o uso de amido acima do permitido nas salsichas. O Laticínios SSPMA foi fechado porque os responsáveis tentaram impedir a fiscalização. E na Farinha de Carnes Castro, que fabrica ração animal, foi encontrada matéria-prima vencida.

Até agora, as amostras passaram por análises físico-químicas, que indicariam, por exemplo, o uso excessivo de ácido sórbico, água injetada nas carnes e outros. Mas faltam os resultados microbiológicos, que poderão indicar com mais precisão se há riscos à saúde.

A fiscalização encontrou indícios de procedimentos falhos e riscos à saúde em três estabelecimentos: Peccin (SC), Souza Ramos e Transmeat. Também nesse caso, a Agricultura aguarda resultados do laboratório.

Fora das prateleiras

Em outra frente, a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça ampliou o recall de produtos dos frigoríficos sob investigação, com a inclusão dos produtos da Peccin de Jaraguá do Sul (SC). Na sexta-feira, havia sido anunciado o recall dos produtos da Peccin no Paraná, da Souza Ramos e da Transmeat. A operação da PF teve um efeito direto na balança comercial. Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior e Serviços, as exportações de carne recuaram 19% na quarta semana de março, na comparação com o acumulado do mês até a terceira semana.

Nos 19 primeiros dias de março, a média diária de embarques do produto foi de US$ 62,2 milhões. Já na semana passada a média por dia de vendas externas foi de US$ 50,5 milhões. Ou seja, as perdas foram inferiores ao que parecia num primeiro momento. No dia mais agudo da crise, os embarques haviam despencado para US$ 74 mil.

Defesas

O frigorífico Souza Ramos informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que a unidade foi auditada há quatro meses e o ministério autorizou venda dos produtos. "Temos laudo de todo o produto que é retirado da empresa, com quantidade normal de amido e por lei. O Souza Ramos trabalha com a legislação, fomos auditados há quatro meses pelo mesmo Mapa que nos deu autorização."

Já a Transmeat relatou não ter sido informada qual linha e nem qual lote de produtos teriam de ser substituídos. Além disso, a companhia recorreu à Justiça por meio de um mandado de segurança para poder reverter o recall determinado pelo Ministério da Justiça.

A Peccin mantém apenas um comunicado no site no qual nega as irregularidades. O jornal "O Estado e S. Paulo" tentou contato por telefone com a Laticínios SSPMA, em Sapopema (PR) e com a Farinha de Carnes Castro, em Telêmaco Borba (PR), mas ninguém foi localizado nas unidades no início da noite. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara dos Deputados terá de analisar um requerimento pedindo a convocação do ministro da Justiça, Osmar Serraglio. O primeiro requerimento do ano da comissão foi apresentado pelo deputado Jorge Solla (PT-BA), que pede a vinda do ministro para explicar aos parlamentares sua relação com o fiscal Daniel Gonçalves Filho, Superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná e investigado na Operação Carne Fraca.

Em conversa grampeada pela Polícia Federal, o peemedebista, então deputado federal pelo Paraná, perguntou a Daniel sobre o possível fechamento de um frigorífico no interior do Paraná, base eleitoral do ministro. O fiscal agropecuário foi chamado por Serraglio de "chefe".

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"Se o ministro não deve nada, não tem o que temer. É um deputado licenciado que conhece a dinâmica da Casa e sabe que precisa prestar esclarecimentos. As escutas deixam muitas dúvidas e abrem brechas para ilações sobre seu envolvimento no esquema. Não é compatível para quem ocupa o cargo de ministro da Justiça, com a Polícia Federal sob o seu comando, manter essas desconfianças no ar", justificou o deputado em nota.

A primeira sessão deliberativa da comissão após sua instalação está marcada para quarta-feira, 29. Caberá ao deputado Wilson Filho (PTB-PB), presidente do colegiado, decidir se colocará o requerimento em votação.

A União Europeia ameaça impor novas barreiras contra a carne nacional se as autoridades brasileiras não adotarem "medidas decisivas" e anuncia que devolverá ao Brasil carregamentos das empresas envolvidas na fraude e que estejam em pleno oceano.

Num comunicado emitido nesta sexta-feira (24), Bruxelas anunciou que vai examinar as amostras colhidas nos diferentes pontos de entrada da Europa para tomar uma decisão sobre uma ampliação do embargo contra os produtos nacionais. A UE ainda indicou que vai enviar ao Brasil uma missão para realizar uma auditoria na produção nacional de carne.

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A resposta dada pelas autoridades brasileiras não tem sido considerada como satisfatórias e, nos bastidores, diplomatas em Bruxelas não escondem a irritação diante da insistência do governo em minimizar o caso.

No início da semana, a Comissão Europeia havia anunciado que havia solicitado ao Brasil para que retirasse da lista de exportadores as empresas envolvidas na Operação Carne Fraca. Das 21 suspeitas, quatro vendiam no mercado europeu. De acordo com o comunicado, porém, esse embargo não se limitaria a essas companhias, mas a "qualquer estabelecimento no Brasil que pudesse representar um risco" para os padrões europeus.

Agora, a decisão foi ampliada por parte do segundo maior comprador de carnes nacionais. "Todos os carregamentos de estabelecimentos implicados na fraude em rota para a Europa serão rejeitados e retornados ao Brasil", disse o porta-voz da Comissão Europeia, Enrico Brivio.

Conforme o jornal O Estado de S. Paulo antecipou em sua edição de quarta-feira, a Europa não descarta novas ações e barreiras. Uma delas será o envio de uma missão para realizar uma auditoria na produção brasileira. "Isso será feito assim que possível", indicou Brivio, que acredita que os resultados estariam concluídos até meados de maio.

Também nesta sexta-feira, os chefes de escritórios de Veterinária da Europa se reuniram e optaram por aumentar os controles em todas as fronteiras. Não se descarta ainda um embargo ainda maior.

Uma reunião entre a Comissão Europeia e estados-membros foi convocada para o dia 29 de março para examinar como esses novos controles foram implementados e "harmonizar" os padrões de verificação. "Isso incluirá Estados, regiões e produtos, além de critérios microbiológicos e outros parâmetros relevantes que devem ser alvos", disse.

"À luz do resultado desses controles reforçados e da evolução da crise, e da resposta das autoridades brasileiras aos pedidos de medidas corretoras, a Comissão e os estados-membros vão concluir se futuras medidas são necessárias", afirmou Brivio.

Os veterinários, porém, alertaram que "contam com uma ação forte e decisiva por parte das autoridades brasileiras para atender suas obrigações". O recado foi interpretado como uma ameaça de que, se o comportamento do governo for mantido, novas barreiras serão estabelecidas.

"A importância dos controles sobre importações nos pontos de entrada da Europa é agora fundamental", disse Brivio. Segundo ele, assim que foi revelada "as deficiências do licenciamento no Brasil, os estados-membros introduziram controles físicos reforçados para garantir a segurança das importações do Brasil, focando em exigências higiênicas", disse.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vai reunir na próxima segunda-feira (27) todos os superintendentes estaduais na pasta. "Quero ter uma conversa clara, direta", informou. Na reunião, os representantes terão a oportunidade de relatar eventuais dificuldades e "desconfortos" na condução das atividades do ministério na ponta estadual. "É fale agora ou cale-se para sempre", explicou. "Se não trouxer os problemas agora, a operação vai pegar lá na frente."

Maggi explicou que algumas superintendências são alvo de disputa de grupos políticos. E, por vezes, o superintendente é de um grupo e suas equipes são alinhadas a outro, o que prejudica o funcionamento da fiscalização. "Se o superintendente disser que não está confortável porque tem indicação de A ou B, não tem problema, faremos as substituições", explicou.

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Em sua edição de quarta-feira (22), o jornal O Estado de S. Paulo mostrou que 19 das 27 superintendências são ocupadas por indicados políticos, um problema que está na raiz das irregularidades encontradas pela Polícia Federal na operação Carne Fraca. Maggi já exonerou os superintendentes de Goiás e do Paraná, onde foram encontrados os problemas. Para lá, serão enviados interventores de Brasília, que ele ainda está selecionando. Nas demais superintendências, ao menos por ora, ele não pretende fazer mudanças.

O ministro disse que quer enviar, como interventores, pessoas de fora dos Estados para que tenham visão isenta, uma vez que essas superintendências estão tomadas por disputas políticas. Em audiência no Senado, Maggi disse que há uma "guerra fratricida" em algumas. "Pressão política, claro que existe", disse ele, respondendo a questionamentos da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) sobre o tema. Ele acrescentou que Gleisi, já tendo exercido a chefia da Casa Civil "sabe como são os procedimentos, como isso acaba acontecendo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os frigoríficos Master Carne e Souza Ramos, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba (RMC), fecharam as portas e demitiram 280 funcionários - 150 e 130 respectivamente. Eles alegam que com a deflagração da Operação Carne Fraca, na qual ambos os frigoríficos estão envolvidos, as vendas despencaram e centenas de pedidos foram adiados. Na tarde de terça-feira (21), a unidade da BRF, de Toledo, anunciou férias coletivas para seus 1,7 mil funcionários.

O Frigorífico Souza Ramos já esteve envolvido em irregularidades anteriormente por ter supostamente comercializado 14 toneladas de salsichas fora dos padrões e também substituído perus por frangos no fornecimento de merenda escolar no Paraná, em uma operação de 2014. Logo após vencer o contrato, a BRF - que havia perdido - denunciou a empresa por ela não ter o porte necessário para o fornecimento da quantidade exigida.

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Abate

A JBS decidiu suspender temporariamente a compra de bovinos para abate nas 11 plantas frigoríficas da empresa em Mato Grosso. A suspensão foi confirmada pela Associação de Criadores de Gado de Mato Grosso (Acrimat) e começou na terça-feira, em Araputanga e Pontes e Lacerda. A empresa justifica que a medida foi necessária para "evitar estoques".

A empresa tem 15 unidades no Estado, sendo 11 destinadas ao abate bovino. As indústrias de abate processam 21 mil animais por dia. Em nota, a JBS comunicou que "no momento está operando seu abate conforme o previsto nesta semana, no entanto, está avaliando o mercado e vai adotar as medidas necessárias para adequação do volume de produção à demanda de mercado".

Em entrevista à imprensa local, o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari, disse que foi informado "por meio de telefonema que o abate está suspenso durante esta semana porque os compradores do mercado externo estão pedindo prazo para analisar as possibilidades de embargo".

Retração

Para o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso, Luiz Freitas, os efeitos da Operação Carne Fraca são negativos para toda a cadeia produtiva. Segundo ele, o mercado está retraído.

Na terça-feira (21), o presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia, já informara que os frigoríficos nacionais haviam reduzido a compra de boi. "Os negócios estão parados", disse, acrescentando que "os frigoríficos não estão comprando e os pecuaristas que estão com estrutura de confinamento para fechar os bois estão apavorados", disse. O representante dos fazendeiros fez contato com frigoríficos e pecuaristas dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e percorreu fazendas, confirmando a redução nos abates. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A tensão que o embargo da carne causou em todo o País tem testado seus limites na pequena cidade de Mineiros, município de 60 mil habitantes a 450 quilômetros de Goiânia. O clima é de desespero entre os produtores de peru e frango do município, que abastecem o complexo frigorífico da BRF Perdigão, unidade que está com as portas fechadas desde sexta-feira (17), quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca.

No entra e sai que há uma semana tumultua o escritório da Associação dos Avicultores Integrados da Perdigão em Mineiros (Avip), os produtores de aves buscam alguma resposta sobre o que será feito com os milhares de animais que já estão em fase de abate pelo frigorífico. "O que temos para dizer é simplesmente alarmante", afirma Fábio Lemos, vice-presidente da associação. "Estamos perdidos. Não temos nenhuma relação com as acusações, mas estamos aqui sozinhos, sem ter a menor ideia do que vai acontecer."

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A unidade da Perdigão de Mineiros é um dos três frigoríficos que tiveram suas linhas de produção paralisadas por determinação do Ministério da Agricultura, até que se apurem as eventuais falhas sanitárias investigadas pela Polícia Federal. Em operação regular até a semana passada, o frigorífico teve sua licença sanitária aprovada em fevereiro e vinha abatendo diariamente cerca de 25 mil perus, aves que são enviadas ao exterior, principalmente a países da União Europeia.

Com o fechamento da unidade, as 219 granjas do município travaram as atividades. Nos últimos seis dias, cerca de 150 mil perus que deveriam ter deixado os criadouros para serem abatidos na unidade da BRF tiveram de continuar no campo. Esse problema se agrava diariamente, não apenas por conta do volume de aves acumuladas, mas principalmente pelo peso que os animais passam a ganhar.

O limite do peso para abate de cada ave, segundo os produtores, é de até 25 kg. Em média, os animais, conhecidos como "peru pesado", estão com cerca de 20 kg no momento do abate. Ao permanecerem nas granjas, eles ultrapassam 25 kg e não podem mais entrar na linha de produção por conta da configuração técnica da fábrica. Ou seja, não poderão ser processados pela unidade da Perdigão, além de não atenderem às exigências de boa parte dos compradores internacionais.

Nas fazendas de Mineiros, dentro de galpões ventilados 24 horas por dia e com temperatura mantida constantemente em 27 graus, há 4,3 milhões de perus em alguma fase de sua vida de seis meses até o abate. A produção no frigorífico é permanente e ocorre de segunda a sábado, o ano todo. Por dia, 25 mil aves deveriam seguir para a unidade de processamento, mas estão em cativeiro, e continuam a engordar. Por isso, cada dia de paralisação nesse processo gera um efeito em cascata em toda a cadeia.

As acusações que envolvem a unidade da BRF em Mineiros são de pagamento de propina a fiscais agropecuários para evitar o fechamento da unidade e facilitar a emissão de autorizações sanitárias. Dois funcionários tiveram prisão preventiva decretada e um vice-presidente foi alvo de condução coercitiva e busca e apreensão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), disse na manhã desta quarta-feira, 22, que o sistema de estocagem de carnes tem uma margem de 7 a 8 dias. "Depois disso, as gôndolas e os navios precisam escoar o produto, senão o processo entra em colapso", afirmou, ao chegar para uma audiência com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

O secretário estadual de Agricultura catarinense, Moacir Sopelsa, disse que existem cargas de frango e de suíno que não conseguem ser desembarcadas na China, em Hong Kong e na Rússia. O secretário afirmou ainda que, por causa da operação, é certo que haverá prejuízo para a produção.

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A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) divulgou nota nesta terça-feira, 21, afirmando que as conclusões da Operação Carne Fraca referentes aos danos à saúde pública não têm embasamento científico, uma vez que os peritos federais foram acionados pela Polícia Federal (PF) apenas uma vez durante as investigações e que o laudo resultante desse trabalho não comprovou tais danos. Deflagrada na sexta-feira da semana passada, a operação investiga 21 frigoríficos no País.

Segundo a associação, embora a PF tenha à sua disposição 27 peritos criminais formados em medicina veterinária e outras dezenas de especialistas nas áreas de química, farmácia/bioquímica, medicina, agronomia e biologia, a participação dos especialistas em análise de fraudes alimentares não foi devidamente empregada durante a condução das investigações.

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"As afirmações relativas ao dano agudo à saúde pública não se encontram lastreadas pelo trabalho científico dos peritos criminais da Polícia Federal, sendo que apenas um Laudo Pericial da Corporação, hábil a avaliar tal risco, foi demandado durante os trabalhos de investigação, sem que se chegasse, no entanto, a essa conclusão", diz a entidade, em nota.

A associação afirmou ainda que, embora a Operação Carne Fraca seja mais uma das ações de combate à corrupção da PF, ela tornou-se "uma clara demonstração de como o conhecimento técnico e o saber científico não podem ser deixados de lado em favorecimento dos aspectos subjetivos da investigação criminal" e que a atuação adequada dos peritos poderia ter "poupado o País de tão graves prejuízos comerciais e econômicos".

Questionada sobre as afirmações da APCF, a assessoria de imprensa da Polícia Federal afirmou que não comenta posicionamentos de entidades de classe vinculadas à instituição.

Falhas

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, afirmou que houve "falha de comunicação" na divulgação dos resultados da Operação Carne Fraca, que investiga frigoríficos do País, por suspeita de venda irregular de carne e também esquema de corrupção entre empresas e fiscais do Ministério da Agricultura para a habilitação de frigoríficos que não cumpriam as normas vigentes.

A ação, que cumpriu mais de 30 mandados de prisão e mais de uma centena de busca e apreensão, foi divulgada como a maior da história da PF.

"A operação foi necessária, havia corrupção, servidores públicos envolvidos e alguns frigoríficos. Havia crime e a investigação aconteceu. Ao final, a nota da PF diz que foi a maior operação da história. Por causa do quê? Você dizer que é a maior, envolve uma série de variáveis com importância, repercussão econômica, social", ressaltou Sobral. "Ao dizer que é a maior, dá uma dimensão muito grande, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico, de todo o mercado produtivo brasileiro", completou.

O delegado considerou que, apesar de a investigação ter durado dois anos, não significa que a saúde dos consumidores tenha sido colocada em risco. "Não tenho detalhes da investigação. Do que eu vi, quando havia risco de um produto chegar ao consumidor, algumas medidas eram acionadas para evitar isso. Você continua com a investigação, mas não permite que a saúde seja prejudicada. É algo comum numa investigação dessa envergadura."

Desde segunda-feira, a associação dos delegados da PF realiza o Congresso Nacional dos Delegados de Polícia Federal, em Florianópolis. Cerca de 400 policiais federais participam do evento, até esta quinta-feira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O juiz Marcos Josegrei da Silva, da Operação Carne Fraca, mandou, nessa terça-feira (21) soltar oito investigados que estavam presos temporariamente. O magistrado prorrogou a custódia de três alvos de mandados de custódia por mais cinco dias.

A Operação Carne Fraca mira corrupção na Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Paraná (SFA/PR) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. No rol de empresas investigadas pela Polícia Federal estão a JBS, dona da Seara e da Big Frango, a BRF, controladora da Sadia e da Perdigão, e os frigoríficos Larissa, Peccin e Souza Ramos.

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Na lista de irregularidades identificadas pela PF estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e agentes de inspeção em razão da comercialização de certificados sanitários e aproveitamento de carne estragada para produção de gêneros alimentícios. Os pagamentos indevidos teriam o objetivo de atender aos interesses de empresas fiscalizadas para evitar a efetiva e adequada fiscalização das atividades, segundo a investigação.

A Polícia Federal havia pedido a prorrogação das prisões temporárias de Alice Mitico Nojiri Gonçalves, Antonio Garcez da Luz, Brandizio Dario Junior, Celso Dittert de Camargo, Leomar José Sarti, Luiz Alberto Patzer, Marcelo Tursi Toledo, Mariana Betipaglia de Santana, Osvaldo José Antoniassi, Rafael Nojiri Gonçalves e Sidiomar de Campos. A Federal apontou para o "volume de elementos colhidos quando do cumprimento dos mandados, a necessidade de suas reinquirições e a possibilidade de que, em liberdade, atentem contra a ordem pública".

O Ministério Público Federal manifestou-se pela prorrogação da prisão temporária somente de Rafael Nojiri Gonçalves, que ainda na foi ouvido pela PF.

Marcos Josegrei da Silva anotou não ser "justificável, nesse momento", manter as prisões de todos os investigados por mais cinco dias. "O argumento da quantidade de material a ser analisado não é o bastante para, a essa altura, justificar a manutenção dessa espécie de prisão provisória", afirmou.

"Diante desse estado de coisas, da quantidade de material a ser analisado e da imperiosidade da privação cautelar de sua liberdade, defiro em parte o pedido da Autoridade Policial e, com base na Lei nº 7.960/89, prorrogo as prisões temporárias de Rafael Nojiri Gonçalves, Antonio Garcez Junior e Brandizio Dario Junior por mais 5 dias, a contar do término do prazo atualmente em vigor", escreveu.

Os auditores fiscais agropecuários vão realizar, nesta quarta-feira, às 15h, um ato público em frente ao Ministério da Agricultura, em Brasília. O ato foi convocado pelo Sindicato Nacional da categoria (Anffa Sindical) e tem o objetivo de prestar esclarecimentos à sociedade sobre a importância do trabalho de fiscalização.

"É o trabalho do auditor fiscal federal agropecuário que certifica a qualidade do pescado, da carne, do frango, do produto orgânico que chega à mesa das famílias", afirmou o presidente da entidade, Maurício Porto, em nota. Sobre as críticas que a categoria vem sofrendo, Porto disse que a fiscalização atende aos padrões estabelecidos pela legislação. "A categoria tem todo o compromisso com a saúde do brasileiro e com o desenvolvimento da economia nacional."

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Segundo Porto, os cargos de chefia e superintendência devem ser preenchidos por profissionais de carreira, submetidos a provas de títulos e que conheçam a região onde atuam, não por indicação política.

Integrantes da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) aprovaram nesta terça-feira, 21, requerimentos para que integrantes da cúpula do governo e da Polícia Federal prestem esclarecimentos ao Senado sobre a Operação Carne Fraca. Durante a sessão foram aprovados os convites aos ministros Blairo Maggi (Agricultura), Marcos Pereira (MDIC), Osmar Serraglio (Justiça) e ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello.

Ainda não há uma data para a realização das audiências, mas diante da urgência imposta pelos congressistas, os ministros Blairo Maggi e Marcos Pereira devem participar de sessão nesta quarta-feira, 22, prevista para ser realizada conjuntamente entre as Comissões de Assuntos Econômicos e a de Agricultura.

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"Acho fundamental porque se trata de uma questão de Estado, não apenas de governo, a questão dos frigoríficos da carne... acho relevante que o ministro Blairo Maggi possa dar uma explicação dando a oportunidade a todos os senadores para discutir com ele sobre a real situação e implicações concretas", afirmou o presidente da CAE, Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Presente à sessão, o senador Waldir Moka (PMDB-MS) ligado ao setor de agronegócio endossou o coro de que as discussões em torno do impacto das investigações devem ser consideradas como "prioritárias". "Embora eu tenha certeza de que os outros debates também são importantes, esse é prioritário. E por que ele é prioritário? Porque o governo brasileiro está tomando - e precisa tomar rapidamente - atitudes no sentido de evitar que esses países deixem de importar a carne brasileira", afirmou.

Autora dos requerimentos aprovados na comissão, a líder do PT, senador Gleisi Hoffmann (PR), falou sobre a importância do ministro da Justiça, Osmar Serraglio, dar explicações sobre a citação de seu nome pela Polícia Federal nos grampos realizados no âmbito dessa operação.

"A partir dessa investigação, descobriu-se o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura com parlamentares do Paraná, principalmente do PMDB, inclusive envolvendo o Ministro da Justiça, Osmar Serraglio, que chega a chamar o chefe da fiscalização no Paraná, o Sr. Daniel, que é o grande responsável por toda essa articulação de fiscais com os grandes frigoríficos que detonou a operação, de "grande chefe", afirmou a petista. "Então, nós temos um problema gravíssimo aí; um problema que compromete a saúde pública, o interesse nacional, os trabalhadores, o bem estar dos consumidores brasileiros e envolve o ministro da Justiça, que tem de dar explicações a esta Casa sobre como se relacionava com os fiscais do Ministério da Agricultura", emendou a senadora.

O governo da Jamaica está adotando algumas das medidas mais duras contra a produção e a exportação de carnes do Brasil, após o caso da fraude investigada pela Polícia Federal. O governo do país caribenho apelou para que a população simplesmente não coma carne brasileira e ordenou que supermercados retirem de suas prateleiras os produtos no setor bovino.

Todos os produtos considerados como sendo da lista da fraude do Brasil ainda serão retirados dos supermercados. Até que o caso seja examinado, toda a importação de carne brasileira será suspensa da Jamaica.

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Em determinados setores, o Brasil fornece 99% do mercado jamaicano de carne bovina. O anúncio foi feito pelo ministro de Comércio, Karl Samuda, que organizou uma reunião de emergência e, numa nota pública, explicou as medidas que seu governo tomaria para garantir a "segurança do consumidor". Testes químicos ainda vão ser realizados nos produtos no mercado local para avaliar o impacto.

Nesta terça-feira, 21, Hong Kong e o governo da Suíça também adotaram barreiras contra a carne nacional. Mas apenas relativas às empresas envolvidas na suposta fraude.

As autoridades suíças anunciam que também bloquearam a entrada da carne brasileira produzida por empresas envolvidas na fraude revelada pela Polícia Federal, chamada Operação Carne Fraca. Berna não revelou o volume de importação. Mas indicou que seguiu o mesmo padrão adotado pela Comissão Europeia.

"Como somos parte da Europa, bloqueamos o mesmo número de empresas que a UE", disse Stefan Kunfermann, porta-voz do Escritório de Veterinária da Suíça. Berna não faz parte da Comissão Europeia, mas já há anos tem como tradição seguir os mesmos padrões adotados por Bruxelas. Das quatro unidades, duas são de aves, uma de carne bovina e outra de equídeos.

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Na segunda-feira, 20, as autoridades europeias explicaram que exigiram que todas as empresas envolvidas no escândalo tenham seus produtos impedidos de entrar no mercado europeu, orientando os membros do bloco para que adotem "uma vigilância extra" ao tratar de qualquer produto brasileiro no setor de carnes.

Bruxelas confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que, se o Brasil não retirasse essas companhias da lista de exportação, a União Europeia (UE) iria bloquear a entrada dos produtos. O continente europeu consome cerca de 10% de toda a venda de carnes nacionais.

Nesta terça-feira, 21, a Comissão Europeia voltou a confirmar que, das 21 empresas envolvidas na fraude, quatro delas exportavam para o continente europeu e, assim, foram retiradas da lista de exportadores. Nas próximas semanas, o comissário de Assuntos de Saúde da UE, Vytenis Andriukaitis, viajará ao Brasil e o tema estará no centro dos debates.

Por enquanto, além de UE e Suíça, os governos da China, Egito, Hong Kong e Chile indicaram um bloqueio à carne, enquanto a Coreia do Sul teria revertido sua ideia inicial.

OMC

Mas a contaminação do caso nas relações bilaterais do Brasil já é uma realidade. A partir de terça-feira, o caso chegará ainda à Organização Mundial do Comércio (OMC) e os negociadores brasileiros já foram solicitados a explicar a dimensão do escândalo e como o comércio internacional seria afetado. O caso não será tratado pelos juízes da entidade. Mas em comitês técnicos.

Desde a eclosão do novo caso, os principais parceiros comerciais se mobilizam para levantar o assunto durante a reunião em Genebra. Diversos governos também indicaram que querem pedir reuniões bilaterais com o Brasil nesta semana para obter esclarecimentos sobre a fraude na carne.

O Itamaraty, junto com técnicos do Ministério da Agricultura, se prepara para dar uma resposta, trazendo os detalhes da investigação da PF e tentando reverter os embargos.

A operação da Polícia Federal (PF) que revelou a violação de regras sanitárias por frigoríficos brasileiros deve causar duplo impacto nas exportações de carnes, segundo avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade que abriga empresas exportadoras a importadoras. A instituição acredita que as restrições que outros mercados devem ter ao País poderá reduzir os volumes vendidos entre 10% e 15%.

Além disso, o episódio pode reduzir a reputação da carne brasileira de categoria no mercado internacional, algo que forçaria seus produtores a cobrar menos do que os concorrentes. O resultado, conforme as previsões da AEB, seria um corte de 20% em relação aos preços que eram praticados pelo setor em mercados internacionais antes da operação Carne Fraca, deflagrada pela PF na sexta-feira.

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No saldo final, com a queda tanto de volume como de preços, o Brasil pode perder neste ano entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões em exportações do produto. No ano passado, os embarques de carne chegaram a US$ 12,7 bilhões. "É um impacto grande", afirma o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

O executivo diz que o choque chega num momento em que os frigoríficos brasileiros vinham conseguindo aumentar preços, com valorização de 40% da carne suína, de 10% da carne bovina e de 20% do frango nos últimos 12 meses.

Mesmo que os embargos contra o Brasil possam, pela redução de oferta, pressionar para cima os preços internacionais, os produtores brasileiros terão que vender a preços mais baixos para voltar ao mercado, diz o titular da AEB.

"O preço no mercado internacional pode subir, mas o Brasil terá de vender mais barato. A alegação dos compradores para pagar menos será de que a carne brasileira é de segunda", comenta Castro.

Ele também diz que a operação da PF deve frustrar planos de produtores brasileiros de frango de ocupar espaços da concorrência americana após a descoberta recente de mais um foco de gripe aviária no Estado do Tennessee. "Na sexta-feira, mudou tudo. Quem suspendeu a compra do Brasil terá que importar dos Estados Unidos ou ficar sem frango", diz Castro.

Acompanhamento

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) diz se preocupar com a Operação Carne Fraca, mas acredita que o problema é pontual. O farelo de soja é usado na alimentação de animais no Brasil. "Vemos com preocupação, mas temos um entendimento bastante semelhante ao expressado pelo governo brasileiro de que se trata de um problema localizado e pequeno", disse o secretário geral da Abiove, Fábio Trigueirinho.

A associação acha cedo para projetar se haverá queda no consumo de farelo caso a operação reduza a venda de carnes. "A gente ainda não conseguiu avaliar isso, mas não acreditamos que deva ter tanto impacto. O governo está sinalizando no sentido de que não há preocupação e que o consumidor não deve se desesperar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A decisão do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de exonerar os superintendentes de Agricultura, Pecuária e Abastecimento dos Estados do Paraná e de Goiás foi acertada com o presidente Michel Temer no domingo, 19. Com isso, Temer tentava dar uma "resposta rápida" às irregularidades encontradas pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca, em mais uma demonstração não só para o público externo, mas também para o interno, da disposição do governo federal de ir a fundo nas investigações contra as fraudes na fiscalização dos frigoríficos.

Apesar das inúmeras frentes do governo para apresentar reações às denúncias, o Planalto não conseguiu esconder o incômodo com o que os interlocutores do presidente chamam de "espetacularização da PF", ao anunciar a operação na Sexta-feira (17).

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As demissões atingem indicações de aliados políticos, e o Palácio do Planalto sabe que este é um problema para o governo, que está em plena negociação com os partidos aliados para a aprovação da reforma da Previdência.

Gil Bueno de Magalhães e Júlio César Carneiro, que perderam os cargos de superintendente federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento nos Estados do Paraná e de Goiás, respectivamente, foram indicados por PP e PTB. O problema é que o estrago na base deve ser ainda maior porque o número de demissões poderá ser ampliado, à medida que as investigações avançarem.

Cargos técnicos

Esse episódio serviu para que um outro tipo de cobrança chegasse ao Planalto, contrariando a prática adotada de nomeações políticas: a de que o governo não pode continuar distribuindo a partidos políticos cargos técnicos dessa importância. O Planalto, no entanto, ainda não traçou nenhuma outra estratégia para responder a essas críticas.

O presidente Michel Temer ficou satisfeito com a repercussão do gesto político que fez no domingo, de ir à churrascaria e convidar os embaixadores e representantes estrangeiros para acompanhá-lo. Mas está muito preocupado com os primeiros embargos anunciados, principalmente com a atitude da China.

O presidente receia o golpe a um setor considerado imprescindível para ajudar na retomada do crescimento econômico e cujos resultados na exportação são de fundamental importância. O problema é que a notícia chegou num momento político ruim, quando há uma tensão com a pré-divulgação da lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que atingirá políticos, incluindo integrantes do primeiro escalão do governo.

A ordem agora, de acordo com auxiliares do presidente, é que os Ministérios das Relações Exteriores e da Agricultura atuem "com toda força". O Planalto quer que as áreas técnicas dessas duas pastas não descansem enquanto não responderem a cada uma das dúvidas dos países para os quais o Brasil exporta, para evitar que os embargos sejam consumados porque revertê-los depois poderá levar anos.

Exagero

Interlocutores diretos do presidente reiteraram nesta segunda-feira, 20, que houve um "certo exagero" da Polícia Federal, ao anunciar a Operação Carne Fraca, por exemplo, "como a maior operação" já realizada. Insistiram que as fraudes foram apenas "pontuais", atingindo efetivamente apenas 21 das 4.837 unidades frigoríficas do País, sendo que, na verdade, apenas quatro tinham problemas de fraude.

Apesar da insatisfação com a espetacularização, o Planalto tenta dizer que o mal-estar é principalmente do Ministério da Agricultura com a Polícia Federal. A pasta alega não ter sido informada e diz que o modo em que a operação foi divulgada deixou o País em uma situação vulnerável. Para o governo, neste momento, é preciso que sejam explicados detalhes do ponto de vista técnico - do que foi de fato encontrado nas investigações - para tentar minimizar os danos à imagem da carne no exterior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, visita nesta terça-feira (21) a planta da Seara em Lapa (PR), um dos alvos da Operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17) pela Policia Federal. A empresa é uma das que exportam para a China.

China, Coreia e Chile anunciaram nesta segunda-feira (20) restrições à compra de carne brasileira. As medidas preocupam o governo federal, que iniciou uma ofensiva para evitar o fechamento de mercados internacionais ao produto nacional - o que, na avaliação de Blairo Maggi, seria "um desastre".

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Os investigadores da Polícia Federal responsáveis pela operação Carne Fraca avaliam os ataques desferidos pelo governo e por entidades de classe ligadas ao agronegócio como uma forma de tentar desviar o foco do esquema de corrupção descoberto pela investigação.

No entendimento de integrantes da investigação ouvidos pela reportagem, o "barulho" feito após as revelações sobre problemas sanitários nos frigoríficos e as afirmações de que a atuação da Polícia Federal deve impactar na economia servem apenas para evitar o debate sobre as "relações espúrias" entre grupos políticos e agentes públicos do Ministério da Agricultura.

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"Temos excelente material de análise e muita coisa ainda sob sigilo. A operação é grande e ainda vai crescer bem mais", comenta um investigador.

Crítica

No domingo, após reunião com o presidente Michel Temer e representantes dos frigoríficos, o ministro da Agricultura Blairo Maggi criticou "a narrativa" criada pela Polícia Federal na Carne Fraca. Após afirmar que houve "fantasias" e que é uma "idiotice" achar que os produtores colocariam, por exemplo, papelão em embutidos, como foi apontado pelas investigações, Maggi disse que as investigações vão tomar "um outro rumo" na medida em que a pasta ajudar a PF com informações técnicas do setor de carnes.

Outro foco

Para um investigador ouvido pela reportagem, após a reação do governo e das empresas, as pessoas "esqueceram completamente" da corrupção envolvida no caso e as notícias ganharam um novo enfoque. "Agora, elas estão focadas só no suposto problema causado no setor de exportação de carne", disse o investigador.

Sobre o objetivo da Carne Fraca, o investigador lembra que a operação é conduzida por agentes federais da delegacia de Repressão ao Crime Organizado, a mesma envolvida na operação Lava Jato, e, por isso, tem como foco possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo agentes públicos e privados.

Sobre as questões sanitárias que deram à operação contornos de escândalo de saúde pública e desrespeito com o consumidor no Brasil e no mundo, o investigador lembra que essas questões são apenas a consequência das irregularidades, mas que não são o foco principal dos envolvidos no caso.

Para evitar que o debate siga a narrativa de interesse do governo e das empresas envolvidas no esquema investigado pela Operação Carne Fraca, os investigadores pregam que os trabalhos se concentrem nos atos de corrupção, "para não deixar as críticas perturbarem" o andamento da apuração. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Se concretizado, o fechamento de mercados para a carne brasileira por causa das irregularidades encontradas na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, pode perdurar por anos, disse nesta segunda-feira, 20, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. "No caso da vaca louca, a China embargou por três anos", comentou. Ele disse ainda que, se fosse alguma das 21 empresas citadas na operação, não embarcaria produtos para o exterior.

"Tudo o que estamos fazendo é para evitar esses embargos", explicou o ministro. A estratégia usada para convencer os clientes no exterior é dar todas as informações solicitadas, com toda a transparência. É isso que será feito, por exemplo, na discussão que a Organização Mundial do Comércio (OMC) pretende iniciar nesta terça-feira, 21.

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O ministro frisou, porém, que as exportações não são a única preocupação do governo. A cadeia produtora de carne emprega 6 milhões de pessoas, segundo informou. Boa parte delas é de pequenos produtores.

É possível, admitiu ele, que outros países também peçam esclarecimentos ou restrinjam as importações. "Daqui pra frente pode tudo, mas temos os nossos argumentos", disse. Ele repetiu que o sistema de controle sanitário no Brasil é robusto, mas foram encontradas algumas pessoas agindo de forma incorreta.

O Egito suspendeu temporariamente as importações de carne de frango e outras carnes do Brasil, em decorrência das irregularidades reveladas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, disse nesta segunda-feira, 20, o porta-voz do Ministério da Agricultura egípcio, Hamed Abduldayem. De acordo com o porta-voz, autoridades do Egito enviaram perguntas à embaixada do Brasil no Cairo e aguardam respostas para decidir quais medidas tomar.

Além disso, na Finlândia, a autoridade local de segurança alimentar disse que iniciou sua própria investigação sobre o assunto. Mais cedo, a China informou autoridades brasileiras que iria suspender as importações do País até receber esclarecimentos adicionais sobre a situação. As importações chinesas de carne brasileira somaram quase US$ 2 bilhões no ano passado.

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Enrico Brivio, porta-voz de saúde pública e segurança alimentar na Comissão Europeia, disse que a União Europeia está se preparando para suspender as importações de "quaisquer estabelecimentos implicados na fraude". Segundo ele, a Comissão Europeia pediu que países do bloco continuem atentos e intensifiquem a fiscalização de carnes vindas do Brasil.

O governo do Chile, por meio do Ministério da Agricultura, anunciou a interrupção temporária de suas importações de carne do Brasil. De acordo com o ministério, a intenção é obter do País informações sobre se há frigoríficos autorizados a exportar para o Chile entre os alvos de suspeita na Operação Carne Fraca.

Já a Coreia do Sul fez um pedido de informações ao governo brasileiro e informou que intensificará o controle sobre os produtos que chegarem ao país. Além disso, o Ministério de Alimentos da Coreia do Sul disse que não permitirá a venda ou circulação de carne de frango que já foi importada pela BRF. Fonte: Dow Jones Newswires

China e Coreia do Sul já informaram oficialmente ao Ministério da Agricultura a suspensão de importação de carnes brasileiras, em consequência das revelações da Operação Carne Fraca da Polícia Federal, deflagrada na sexta-feira (17). No caso da China, os embarques programados para lá foram suspensos por uma semana.

Já a Coreia do Sul bloqueou apenas os embarques da BRF, especificamente. As informações foram confirmadas nesta segunda-feira (20) pelo Ministério da Agricultura.

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