Ser privada dos movimentos aos nove anos e dois anos depois perder a visão tornou a vida de Sabrina Gomes mais difícil desde a infância. Ela foi acometida por uma neuromielite óptica, doença inflamatória autoimune, o que causa inflamação no nervo óptico e da medula espinhal, resultando na paralisia de membros e cegueira. Diante desse cenário, a filha de Zeneide Gomes precisa dos cuidados da mãe que vive em função de acompanhá-la para que ela siga seus estudos em música.
[@#galeria#@]
##RECOMENDA##
Além dos desafios de reaprender a lidar com seus dias em uma nova relação com sua vida, assim como aprender braile e as referências de espaço, Sabrina passou a sentir a cidade como nada amiga para sua locomoção. Os buracos, transportes sem acessibilidade, as quedas no escuro têm feito parte da vida dessa jovem de 22 anos.
Tendo se mudado do Recife para Catende, na Mata Sul, as dificuldades permanecem. “Eu não programo viagens porque não tenho como me locomover. Minha vida é de casa para o Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz, no Recife, e as dificuldades estão em cada parte do meu trajeto”, conta.
Em cerca de 100 metros, nas calçadas da Avenida Agamenon Magalhães, na área central da capital pernambucana, já é possível sentir um pouco da angústia vivida por Sabrina todas as vezes que precisa sair de casa. Veja o relato da relação de Sabrina com os problemas empregados pela cidade aos cadeirantes:
[@#video#@]
Uma cidade pensada, incluindo os deficientes como parte do todo
Um trabalho de incluir alternativas de acessibilidade em cada obra executada na cidade foi a saída encontrada pelo município de Uberlândia, em Minas Gerais. O diretor de acessibilidade e mobilidade reduzida, da Secretaria de Planejamento Urbano, Idari Alves, explicou como o município chegou ao patamar de uma das melhores em acessibilidade para deficientes. “Geralmente as pessoas pensam em soluções e projetos pontuais. Em Uberlândia não existe projeto, existe um programa há mais de 20 anos, então, em todas as pastas da administração pública há pessoas que pensam soluções para essas pessoas”.
Além disso, ele conta que 100% da frota do transporte coletivo, composta por 420 ônibus – incluindo a frota reserva – possuem elevador e porta reversa. Enquanto isso, na capital pernambucana, conforme o Grande Recife, “atualmente, 98% da frota do Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) conta com a plataforma elevatória veicular (PEV). O Consórcio, enquanto órgão gestor, recomenda às empresas operadoras que os ônibus que ainda não possuem o equipamento façam parte da frota reserva, entrando em operação quando necessária a substituição de outro por quebra”.
Idari ainda explica que na cidade não há escola para ensino especial, porém todas elas têm profissionais especializados a atender esses estudantes que estudam juntamente com os demais alunos de forma inclusiva em escola comum. Há ainda na cidade um Programa de Planta Popular, onde as pessoas contam com a ajuda de um superior técnico na elaboração de plantas para casas que recebam deficientes. Outro ponto apresentado é a verificação de todo projeto de obras públicas e privadas para garantir que a edificação possua acessibilidade para essas pessoas.
Para Idari, o segredo é “atuar em várias frentes dentro da administração pública. Não tratar a questão como algo isolado, afinal, a cidade é para todos e os deficientes estão nesse todo. A política de acessibilidade precisa estar no projeto total”.