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Cerca de cem integrantes do Levante Popular da Juventude, em sua maioria universitários, participaram nesta segunda-feira, 26, de um ato protesto diante da sede da empresa de segurança Dacala, na Avenida Vereador José Diniz, na zona sul de São Paulo. Com carro de som, faixas, bumbos, cartazes e material de pichação, eles acusaram publicamente o proprietário da empresa, o delegado aposentado David dos Santos Araújo, de ter torturado, estuprado e assassinado militantes políticos que se opunham à ditadura militar, na década de 1970.

"Há um assassino e estuprador à solto na vizinha", diz o manifesto que foi distribuído pelos manifestantes aos funcionários da empresa e às pessoas que passavam pela rua, uma das mais movimentadas da região. Eles também lembraram depoimentos de ex-presos políticos, segundo os quais o delegado se escondia sob a alcunha de Capitão Lisboa, durante as sessões de tortura.

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O delegado não se encontrava na empresa no momento da manifestação, segundo os funcionários. Um grupo de três viaturas da PM acompanhou a manifestação e anotou a chapa do carro de som e os nomes dos advogados que acompanhavam os estudantes.

Porto Alegre

Militantes da organização Levante Popular da Juventude protestaram diante da casa do coronel Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço Nacional de Informações, nesta segunda-feira, em Porto Alegre, exibindo faixas e cartazes com dizeres como "aqui em frente mora um torturador". O ato chamou a atenção de vizinhos, pedestres e motoristas que passavam pela área do bairro Rio Branco durante cerca de 40 minutos.

Segundo carta enviada à imprensa pelos manifestantes, o protesto foi parte de uma ação conjunta que teve atos semelhantes no Pará, Ceará, Minas Gerais e Bahia ao longo do dia. O grupo destacou que a mobilização apoia a Comissão da Verdade "pelo direito de esclarecer os crimes praticados durante a ditadura civil-militar" e "mostrar que a sociedade está organizada e defende a responsabilização dos militares envolvidos pelos crimes cometidos no período". Ponzi é um dos 13 brasileiros acusados pela Justiça italiana em dezembro de 2010 pelo desaparecimento do militante político ítalo-argentino Lorenzo Ismael Viñas em Uruguaiana, em 1980. O coronel não foi localizado pela reportagem.

Enquanto a presidente Dilma Rousseff não instala a Comissão da Verdade, integrantes do governo trabalham para garantir que o assunto não saia da agenda. O receio é de que setores da sociedade percam o interesse no assunto e se desmobilizem.

Esta semana, a presidente da Associação das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, participou de reuniões no Ministério da Justiça e na Secretaria de Direitos Humanos. Na Comissão de Anistia, Estela defendeu o envolvimento da população. "Não esperem que a presidente Dilma tome essa medida (de punir torturadores). Ela precisa do apoio do seu povo. Tem que ser uma espécie de onda."

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Estela ficou surpresa com a reação dos militares brasileiros contra o funcionamento da Comissão. "Dilma é o comandante-chefe e é ilícito reverenciar a ditadura," disse a argentina, cobrando o funcionamento da comissão no País.

Os membros da futura Comissão da Verdade, que foi aprovada pelo Senado em outubro do ano passado, já teriam sido escolhidos pela presidente, que só deve nomeá-los em meados do próximo mês.

Além da proximidade com o Dia do Golpe Militar, o governo quer dar um tempo no desgaste recente provocado por reações dos militares e a iniciativa do Ministério Público Federal (MPF) de pedir a punição de militares por crimes continuados.

A demora na nomeação dos integrantes do colegiado que vai investigar violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988 também tem gerado reclamações. "Estamos vivendo uma ansiedade muito grande para conhecer os membros da comissão. A expectativa é grande para esclarecer as realidades locais," disse Gilney Viana, assessor da Secretaria de Direitos Humanos.

Ações

A pasta deve retomar as buscas por restos mortais de guerrilheiros do Araguaia no próximo mês. Também estuda um projeto conjunto com a Secretaria de Políticas para Mulheres, agora comandada pela ex-presa política Eleonora Meniccuci, sobre mulheres torturadas.

No Ministério da Educação, grupos de pesquisa, vinculados às universidades, preparam uma série de estudos sobre a memória do regime militar.

A falta de punição, no entanto, ainda não é um consenso. "Esse processo (de instalação da Comissão da Verdade) será acompanhado de uma responsabilização. Terá uma dimensão de identificação individual, que as outras comissões não tiveram", defendeu o secretário Nacional de Justiça, Paulo Abraão. "Será que seremos o único país a ter verdade sem justiça?", questionou o secretário. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, manifestou hoje apoio irrestrito à Comissão da Verdade, criada para investigar atos de violação aos direitos humanos durante a ditadura militar. "Vamos tratar da Comissão da Verdade com todos os aspectos que estão ali englobados e investigar tudo o que aconteceu. Todos terão que cooperar para que se conheça a verdade, e nós vamos dar força à comissão, com toda a integralidade que ela tem", afirmou o ministro, durante visita ao Rio de Janeiro para participar da cerimônia de entrega da Medalha Mérito Desportivo Militar, homenageando atletas civis e militares que se destacaram em competições esportivas.

O ministro não quis comentar sobre a decisão do Ministério Público Federal, aplaudida pela ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), em denunciar o coronel da reserva do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura pelo crime de sequestro qualificado de cinco pessoas em 1974, na Guerrilha do Araguaia: "O Ministério Público é um órgão autônomo. Não vou me pronunciar sobre se ele está certo ou errado, isso aí é a Justiça que vai se pronunciar".

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Perguntado sobre o mal-estar causado no governo com as recentes críticas feitas por militares da reserva, que chegaram a questionar em um manifesto a autoridade do ministro da Defesa, Amorim tentou relativizar o incidente. "Acho que ninguém pode aumentar as proporções, mas claro que é uma coisa importante, os comandantes têm conversado a respeito, e as coisas têm se encaminhado de uma maneira adequada", afirmou o ministro.

Ele contestou, no entanto, declarações como as dadas pelo ex-analista do Centro de Informações do Exército (CIEx) e líder do manifesto, o general da reserva Marco Antonio Felício, quando afirmou que a comissão "será a comissão do revanchismo e da inverdade" em entrevista ao Estado. "Vamos eliminar mitos como esse de que a Comissão da Verdade é revanchismo. Não é revanchismo, é a busca da verdade", disse Amorim. Ele afirmou ainda que a comissão incorpora também a Lei da Anistia, e fez referência indireta à preocupação dos militares quanto à imparcialidade dos membros que deverão compor a comissão. "A verdade é a verdade, e não existe verdade de um lado ou de outro. Existe verdade", enfatizou o ministro.

"Nós, cineastas, mobilizamos a favor de tantas causas. Até mesmo dos cineastas iranianos. E quando o assunto diz respeito à democracia brasileira, não vamos dizer nada?" Esta foi a observação do diretor João Batista de Andrade que desencadeou uma manifestação dos cineastas brasileiros em repúdio a recentes declarações de militares, com destaque para a inquietação de oficiais da reserva com relação à Comissão da Verdade (criada para apurar violações de direitos humanos durante a ditadura), inclusive sobre a escolha de seus membros, que serão nomeados pela presidente Dilma Rousseff.

O texto elaborado pelo diretor foi encaminhado ontem aos ministros Celso Amorim (Defesa), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Ana de Hollanda (Cultura): "Nós, cineastas brasileiros, expressamos a nossa preocupação com as frequentes manifestações de militares confrontando as instituições democráticas e o próprio estado de direito. Todos os cidadãos brasileiros têm o direito de conhecer o que foram os 21 anos de ditadura militar instaurada com o golpe de 1964. É preciso que a Comissão da Verdade, instituída para esclarecer fatos obscuros daquele período, em que foram cometidas graves violências institucionais, perseguições, torturas e assassinatos, tenha plenas condições e apoio da sociedade brasileira para realizar essa tarefa histórica. Repudiamos os ataques desses setores minoritários das Forças Armadas brasileiras, que de forma alguma irão obstruir as investigações que devem ser iniciadas o quanto antes. Estaremos atentos para que tal comissão seja composta por pessoas comprometidas com a democracia e com a verdade".

O estopim para a elaboração do manifesto foi a entrevista do general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-secretário-geral do Exército, à jornalista Miriam Leitão, publicada no jornal O Globo na sexta-feira. A entrevista também foi ao ar na Globo News, no especial Uma História Inacabada, na qual Rocha Paiva questiona a abertura dos arquivos da ditadura e a criação da Comissão da Verdade.

"Isso é um trabalho para historiadores e pesquisadores", declarou ele, que também expressou dúvida sobre o fato de que Dilma Rousseff foi torturada na prisão. "O estopim foi, sim, a entrevista do general. Mas não queríamos ficar só como resposta a ele, e sim dizer que estamos cansados de ver isso se repetir: a reação absurda desses setores minoritários que fazem isso para impedir o real andamento das investigações. Não quisemos colocar pedido de punição, Isso é problema do governo. Queremos que o governo, punindo ou não, faça a comissão andar, que não recue", declarou João Batista.

"Se a gente, a sociedade civil, que é maioria, não defender nosso direito de conhecer a história do Brasil, quem vai?", completou a diretora Lúcia Murat, que foi torturada durante a ditadura. Em dois dias de existência, a lista já conta com 110 assinaturas, incluindo nomes de Lúcia, Gervitz, João Bastista, além de Ruy Guerra, Hermano Penna, Carlos Alberto Riccelli, André Ristum, Eliane Caffé, Paulo Morelli, Jorge Durán, Mariza Leão, Roberto Farias entre outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Comissão da Verdade criada no Brasil pode não ser suficiente para que o País lide com seu passado, disse ontem a alta comissária de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Navi Pillay. Ela mostrou ter dúvidas em relação à iniciativa e reafirmou a queixa de que a Lei da Anistia, de 1979, deveria ser revista pelo País, para que responsáveis por crimes de tortura e assassinatos cometidos durante a ditadura militar pudessem ser julgados.

A entrevista de Navi foi dada duas semanas após a divulgação de um comunicado da ONU em que ela parabenizava o Brasil pela criação da Comissão da Verdade, sancionada em 18 de novembro pela presidente Dilma Rousseff, mas pedia a revogação da Lei da Anistia.

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Hoje, Navi mostrou dúvidas em relação à capacidade da Comissão da Verdade de dar respostas sobre o passado. Questionada se seu escritório iria auxiliar o Brasil nos trabalhos, a chefe de Direitos Humanos da ONU hesitou. "Primeiro vou estudar o arcabouço exato dessa comissão", disse. "Vamos esperar que, com o tempo, avanços possam ocorrer nos debates". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar de não ver motivos de preocupação em relação à Comissão da Verdade, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, disse hoje (28) que civis e militares que participaram de tortura, desaparecimento e morte na ditadura militar devem ficar "atentos e contribuir para que a verdade venha a tona". Ela também declarou que o Estado não impedirá que vítimas de violação de direitos humanos busquem seus direitos na Justiça.

"A Lei da Anistia está em vigor, mas ainda assim há segmentos que perderam pessoas, que foram torturadas, que foram marcadas pela ditadura e que acreditam que devem procurar a Justiça. E eles têm esse direito de reivindicar esse caminho", disse Maria do Rosário, ao chegar à Assembleia Legislativa do Rio para participar de solenidade na qual foi homenageada com a Medalha Tiradentes - principal comenda do Estado do Rio.

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Questionada sobre as manifestações de entidades de militares da reserva contrários ao funcionamento da comissão, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo ontem, a ministra explicou que o objetivo das investigações "não é jurisdicional" - não haverá julgamento ou punição de agentes do Estado que tenham participado de violações de direito humanos.

"O objetivo da Comissão da Verdade é constituir o fortalecimento da democracia no Brasil, indicando as circunstâncias e os fatos de graves violações de direitos humanos no período entre 1946 e 1988. Esse período abarca a ditadura militar (1964-1985)", disse a ministra. "Civis e militares que atuaram na tortura, no desaparecimento forçado e na morte de quem quer que seja nesse período devem estar atentos e contribuir para que a verdade venha a tona. Não vejo motivo para preocupação", afirmou Maria do Rosário.

A lei que cria a Comissão da Verdade foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff no último dia 18. Durante o período em que tramitou no Congresso, o projeto foi bombardeado por críticas de militares da reserva e seus aliados, que consideravam a iniciativa revanchista, e também por parte de parentes de desaparecidos políticos e pessoas que foram perseguidas durante a ditadura, que reclamavam das concessões feitas aos militares pelo governo.

Durante a solenidade, integrantes da mesa composta para homenagear a ministra também fizeram discursos em favor da Comissão da Verdade. A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio (OAB-RJ), Margarida Pressburger, e o desembargador Sérgio Verani chegaram a lamentar o fato do Supremo Tribunal Federal (STF) ter negado, em abril do ano passado, um pedido de revisão da Lei da Anistia feito pela OAB nacional.

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 153), rejeitada por sete votos a dois, propunha a anulação dos dispositivos da lei que concederam o perdão a militares e policiais acusados de tortura durante a ditadura.

A presidente Dilma Rousseff evitou hoje usar a sua história de ex-guerrilheira política, no discurso durante a cerimônia de sanção das leis de criação da Comissão da Verdade e de Acesso à Informação. Dilma foi muito aplaudida em diversos momentos do discurso. Para ela, a data de hoje é histórica, em comemoração da transparência e da liberdade. "Hoje o Brasil inteiro se encontra, enfim, consigo mesmo, sem revanchismo, mas sem a cumplicidade do silêncio".

Os comandantes das três Forças estavam presentes à solenidade. Mas, em vários momentos, não aplaudiram o discurso da presidente. Durante o processo de elaboração da lei de criação da comissão da verdade houve muitas resistências dos militares, e a questão gerou muita polêmica nas Forças Armadas. O ministro da Defesa, Celso Amorim, ao final da cerimônia, amenizou o clima dizendo que "todos estavam representando a verdade, sem revanchismo". Uma ausência que chamou a atenção foi a do presidente do Senado, José Sarney, que foi contra o projeto de acesso à informação.

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Tentando mostrar que estava ali como chefe de Estado e não como ex-guerrilheira, dando à solenidade um ar institucional, Dilma, em momento algum, se incluiu entre os perseguidos. "Quando muitas pessoas foram presas, torturadas e foram mortas, a verdade sobre o nosso passado é fundamental, para aqueles fatos que mancharam a nossa história para que isso nunca mais volte a acontecer", disse a presidente, lembrando que foram muitos os que lutaram, que resistiram e que buscaram construir a democracia. E emendou: "a lei do Acesso à Informação e a lei que institui a Comissão da Verdade se somam ao esforço e à dedicação de gerações de brasileiros e brasileiras que lutaram e lutarão para fazer do Brasil um país melhor, mais justo, menos desigual, por gerações de brasileiros que morreram e que hoje nós homenageamos, não com processo de vingança, mas através do processo de construção da verdade e da memória".

Para a presidente Dilma, a lei de acesso à informação e a instituição da comissão da verdade têm uma "importante conexão". "Uma não existe sem a outra, uma é pré-requisito para a outra, e isso lançará luzes sobre períodos da nossa história que a sociedade precisava e deve conhecer. São momentos difíceis que foram contados até hoje , ou melhor dizendo, foram contados durante os acontecimentos sobre um regime de censura, arbítrio e repressão", afirmou.

De acordo com o ministro da Defesa, Celso Amorim, a criação da Comissão da Verdade representa "um momento de reencontro da sociedade consigo mesma". Segundo ele, os cidadãos brasileiros "têm de estar aptos a saber a verdade sobre sua história". Para o ministro, a chegada deste momento, de criação da Comissão, "demonstra grande maturidade e que a sociedade está capaz de olhar para sua história".

As declarações foram dadas logo após o encerramento da cerimônia no Palácio do Planalto na qual a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei de acesso a informações públicas e a lei que cria a Comissão da Verdade. Questionado sobre se apresentaria sugestões de nomes para a Comissão, o ministro da Defesa disse que não encaminhará propostas.

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"A presidente conhece bem (o assunto), ela sabe quem deve indicar. Se ela me pedir uma sugestão e me ocorrer um nome, eu darei, mas isso não aconteceu", explicou. A Comissão da Verdade foi criada para investigar, em dois anos, violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. A Comissão será formada por sete membros, nomeados pela Presidência da República.

A presidente Dilma Rousseff sancionou hoje a lei que permite aos cidadãos ter acesso a informações públicas e a lei que cria a Comissão da Verdade. Em cerimônia no Palácio do Planalto, Dilma destacou que essas duas leis "representam um grande avanço nacional e um passo decisivo na consolidação da democracia brasileira". "A informação torna-se aberta em todas as suas instâncias. O Poder Público torna-se mais transparente", completou a presidente. Ela aproveitou a solenidade para agradecer e elogiar a "contribuição" dos ex-ministros Nelson Jobim (Defesa) e Franklin Martins (Comunicação Social) na elaboração das duas leis. Ela também agradeceu aos ministros atuais e parlamentares que trabalharam pela aprovação das leis.

Para a presidente, as duas leis são uma forma de evitar que atos ou documento que atentem aos direitos humanos fiquem sob sigilo. "O sigilo não oferecerá nunca mais guarida ao desrespeito aos direitos humanos no Brasil", disse Dilma, sob muitos aplausos.

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A Lei de Acesso à Informação, de autoria do Executivo e que foi encaminhada em maio de 2009 ao Congresso Nacional, entra em vigor em seis meses. Ela garante o acesso a documentos públicos de órgãos federais, estaduais, distritais e municipais dos três Poderes. "Todos os brasileiros sem exceção poderão consultar documentos produzidos pela Administração Pública", explicou a presidente, acrescentando que, em seis meses, todos os órgãos públicos terão que publicar informações na internet sobre sua atuação, gestão e disponibilidade orçamentária.

O sigilo de documentos só será justificável em casos de proteção da segurança do Estado e de informações de caráter pessoal. Caso o acesso à informação pública seja negado, caberá recurso. O tempo para manter sob sigilo documentos ultrassecretos será de 25 anos; secretos, 15 anos; e reservados, cinco. Somente o sigilo de documentos ultrassecretos poderá ser prorrogado, uma única vez e por igual período. O tempo máximo de sigilo será de 50 anos.

Comissão da Verdade

A Comissão da Verdade foi criada para investigar, em dois anos, violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. A comissão será composta por sete membros, nomeados pela Presidência da República. "A Comissão da Verdade tem grande significado para o Brasil, e o Congresso Nacional demonstrou isso, pois o projeto recebeu apoio de todos os partidos", disse a presidente. "O silêncio e o esquecimento são sempre uma grande ameaça (...) Não podemos deixar que no Brasil a verdade se corrompa com o silêncio", concluiu.

O Senado aprovou na noite de hoje (26) a criação da Comissão da Verdade, incumbida de investigar e documentar as violações de direitos humanos ocorridas no País entre 1946 e 1988. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), relator da matéria, manteve o texto aprovado na Câmara em setembro. Com isso, a proposta segue agora direto para a sanção da presidente Dilma Rousseff.

O relatório do senador tucano foi aprovado em votação simbólica e unânime, numa sessão que uniu oposição e governo, e foi acompanhada, da Mesa Diretora dos trabalhos, pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Após três horas de debates, Aloysio Nunes, que foi perseguido e condenado pelo regime militar, concluiu seu pronunciamento citando o bispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz: "virar a página do passado é conveniente não para esquecê-lo, mas para não deixá-lo nos aprisionar para sempre".

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O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) disse que o tucano, ao relatar a matéria, atuou como uma "bússola", indicando o caminho para que o País se reconcilie com sua história. O senador Jorge Viana (PT-AC) disse que o colegiado será capaz de "transformar a ferida do passado numa cicatriz". O líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), destacou que o momento não é de "revanchismos, mas de resgate da verdade".

Caberá à presidente Dilma, que também foi perseguida e torturada pelo regime de exceção, indicar os sete integrantes da comissão, que funcionará por dois anos. Mas ela deverá seguir os critérios de isenção, imparcialidade e ética para selecioná-los, como prevê o texto do projeto.

Traidor da Pátria - cabo Anselmo chama para si o rótulo -, diz que pode e quer colaborar com a Comissão da Verdade, apontar nomes dos porões, de quem foi agente infiltrado, como ele, de quem comandava a linha de frente da repressão e até dos que emprestavam apoio à caçada aos guerrilheiros. "O pessoal continua por aí", ele ensaia, enigmático, indicando para veteranos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), a polícia política que ele conheceu por dentro e com a qual colaborou.

"Por enquanto", não cita nomes que diz guardar na memória. "Eles estão aí na Polícia Civil até hoje. E tinha os analistas também, os empresários, vou falar de um, ele era da aviação, trabalhava com o dr. Tuma", diz, referindo-se a Romeu Tuma, ex-número um do Dops nos anos 70, morto em outubro de 2010.

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José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo - mítico personagem dos anos de chumbo, famoso ele ficou como delator e agente duplo da repressão -, discorreu segunda-feira à noite sobre o passado remoto, desde quando tudo começou, naquele março de 1964. Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, respondeu indagações de jornalistas e de um desembargador conduzidos por Mario Sergio Conti, novo âncora do programa.

Aos 70 anos, os cabelos brancos repartidos ao meio, uma barba espessa cobrindo o rosto, o corpo magro metido em roupa sem grife, meias amarelas e tênis nos pés, cabo Anselmo confessa que traiu seu País e a Marinha. "Eu me arrependo de ter saído da Marinha e de ter passado à insubordinação."

Reconhece a vileza de seu gesto porque serviu aos dois lados da contenda e com ambos foi desleal, ora como homem da repressão, ora como companheiro Jônatas nos quadros da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).

Aceita a alcunha de cachorro (informante da polícia). Não o incomoda, diz, que seu nome tenha entrado para a história como traidor: "O que eu posso fazer quanto a isso?". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao mesmo tempo em que mobiliza forças para instalar a Comissão da Verdade, destinada a investigar violações de direitos humanos ocorridas na ditadura, o governo federal não consegue por em pé o Memorial da Anistia, em Belo Horizonte. Lançado em 2009, com apoio de Dilma Rousseff, então na chefia da Casa Civil, o projeto continua no papel.

O memorial foi planejado para ser construído por meio de parceria entre o Ministério da Justiça e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com orçamento de R$ 21 milhões. Hoje o advogado Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia, vinculada ao ministério, deve se reunir em Belo Horizonte com representantes da universidade para tratar do assunto.

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As duas partes vão assinar um novo acordo, redefinindo a data para concluir da obra: outubro de 2013. O mandato de Dilma termina dali a dois meses, em dezembro. Em outras palavras, o risco de sair sem concluir a obra é considerável.

A parceria entre o Ministério da Justiça e a UFMG foi definida em abril de 2009, com a participação da Casa Civil. Estabelecia que uma parte do memorial seria aberta ao público em dezembro do mesmo ano. Funcionaria no histórico edifício do Colégio da Aplicação da UFMG, que sofreria uma ampla reforma.

Idealizado para abrigar arquivos com a história do regime militar, do ponto de vista dos perseguidos políticos, o Memorial da Anistia atraiu a atenção da Dilma por dois motivos. O primeiro é o fato de ela ter estudado na UFMG, onde também iniciou a militância no Comando de Libertação Nacional (Colina), organização que defendia a luta armada para a derrubada da ditadura.

O segundo é que a iniciativa integra um projeto mais amplo, chamado Memórias Reveladas, que ela ajudou a idealizar, com a missão de instalar centros de referência sobre a história da ditadura em várias partes do País. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu disse que não se opõe à participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Comissão da Verdade, mas acredita que o tucano não estaria disposto a abrir mão de sua agenda para atuar no grupo. "Não vejo nenhuma oposição, ele tem todas as condições, mas não é o caso de se colocar um ex-presidente da República numa comissão que vai ter um trabalho que ele não pode fazer porque ele tem outras funções. Não vejo nenhuma razão para vetar nenhum nome, inclusive o dele", disse durante palestra para sindicalistas na Força Sindical, em São Paulo.

Dirceu também se colocou à disposição da presidente Dilma Rousseff para colaborar com os trabalhos da comissão. "Vou estar às ordens, vou sempre colaborar", afirmou.

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Para o ex-ministro, o volume de documentos a serem analisados (cerca de 26 milhões de documentos) pela comissão vai exigir o apoio de centenas de pessoas, principalmente pesquisadores, sindicatos e ONGs. O texto aprovado prevê que a comissão terá sete integrantes, indicados pela presidente, e apenas 14 assessores. Ele defendeu que a comissão também receba recursos fora do orçamento da União. "O orçamento não precisa ser só público, pode ter orçamento de fundações, doações. Pode-se mobilizar milhares de pessoas para trabalhar, como vai acontecer", previu.

Na opinião de Dirceu, a comissão, que investigará as violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988, deve se ater apenas ao período do regime militar. "Ninguém vai discutir antes de 64, qual o interesse? O interesse de todos nós é a verdade durante a ditadura militar", reforçou.

Apesar do dia intenso na quarta-feira, em Nova York - quando abriu a 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas e recebeu cinco chefes de Estado - a presidente Dilma Rousseff trabalhou para ver a comissão da Verdade aprovada pelo Congresso. Em contato direto com a ministra da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, a presidente ajudou a pressionar os deputados para que terminassem a votação ainda na noite de quarta-feira. Hoje, em entrevista aos jornalistas brasileiros que acompanhavam a visita, a presidente registrou a aprovação com apenas uma frase: "Acredito que é importante para o Brasil e para a posição do Brasil diante do mundo".

No Congresso, o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) será o relator do projeto de lei que cria a Comissão, um grupo de trabalho que ficará encarregado de examinar e esclarecer as violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. O nome de Aloysio Nunes, que foi perseguido político durante a ditadura militar, para relatar a Comissão da Verdade já recebeu o aval do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

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O projeto de lei começa a tramitar na semana que vem na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A ideia é que Aloysio Nunes não faça mudanças na proposta, mantendo o texto aprovado pelos deputados. "Acho que a proposta precisa passar só na CCJ. A ideia é que o senador Aloysio seja o relator na comissão e também no plenário", disse o líder do PT, senador Humberto Costa (PE). Aloysio Nunes confirmou que deverá ser o "provável relator", mas disse que não iria se pronunciar enquanto não for oficializado no cargo.

Segundo o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), não haverá rito especial de tramitação para o projeto da Comissão da Verdade. "Não tem sangria desatada para votar o projeto. Sempre que posso tenho o cuidado de dar espaço para o debate das matérias que não têm prazo", afirmou Jucá.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse hoje que o governo federal está dialogando com todas as forças do Congresso para conseguir consenso em torno do projeto de lei que cria a Comissão da Verdade. Cardozo falou com a imprensa após reunião com o presidente da República em exercício, Michel Temer, sobre questões relacionadas a um plano de vigilância de fronteiras. "Nós temos um texto, estamos dialogando com todas as forças do Congresso, com o DEM, com o PSDB, e a nossa ideia é termos uma formatação bastante consensual", disse Cardozo sobre o projeto da Comissão da Verdade.

A Comissão da Verdade pretende "examinar e esclarecer" as violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. A comissão deverá ser composta "de forma pluralista" por sete membros indicados pela presidente da República, o que é criticado pelo Democratas, que questiona esse critério de escolha dos integrantes, alegando temer que a comissão sirva de palanque para determinados grupos.

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Questionado se o governo aceitaria fazer mudanças no texto do projeto, Cardozo respondeu: "Estamos abertos ao diálogo. Não posso dizer qual o resultado final porque não terminamos o diálogo". Na semana passada, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acompanhada de ex-ministros da pasta, foi ao Congresso Nacional para sensibilizar os parlamentares quanto à urgência e relevância da matéria. O projeto de lei que cria a Comissão da Verdade deve ser votado nesta semana pela Câmara.

O governo vai reforçar nesta semana o trabalho para garantir o mais rapidamente possível a aprovação do projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade. Amanhã, o ex-deputado José Genoino, assessor do ministro Celso Amorim (Defesa), vai se reunir em Brasília com a cúpula do DEM, último foco de resistência à proposta no Congresso.

No mesmo dia, desembarcam na capital federal todos os ex-titulares da pasta de Direitos Humanos. A convite do governo, eles devem encontrar o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e outros líderes parlamentares para manifestar apoio ao projeto. Entre os convidados que vão participar do esforço estão José Gregori e Paulo Sérgio Pinheiro, ex-integrantes do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. Nilmário Miranda e Paulo Vannuchi, que atuaram na gestão petista de Luiz Inácio Lula da Silva, também estarão presentes à reunião.

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O governo ainda não desistiu da ideia de aprovar o projeto de lei neste mês, por meio de um acordo de lideranças e em regime de urgência urgentíssima. Na sexta-feira pela manhã, a presidente Dilma Rousseff chegou a se reunir com os ministros Amorim, José Eduardo Cardozo (Justiça) e Maria do Rosário (Direitos Humanos), para discutir estratégias com esse objetivo. Segundo Genoino, as lideranças dos 16 partidos da base governista estão de acordo. O PSDB, o PPS e o PV também manifestaram apoio. Faltaria apenas convencer o DEM. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse hoje que acredita que o projeto de lei que cria a Comissão da Verdade será votado no Congresso em setembro. Ele ressaltou que chegou a hora de "virar a página" sobre o tema. A proposta foi enviada em 2010 e tramita desde então na Câmara. A expectativa do Ministério da Defesa é a de que seja aprovado sem alteração o texto enviado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu acho que será em setembro, é importante e nós temos de virar essa página", afirmou, após participar do 6º Seminário Livro Branco de Defesa Nacional, promovido na capital paulista.

Mais cedo, no mesmo evento, o assessor especial do Ministério da Defesa, o ex-deputado federal José Genoino havia afirmado que a expectativa é mesmo de que o projeto seja apreciado e votado em setembro. Disse também que o Ministério da Defesa já havia discutido o assunto com o PSDB, DEM, PPS e PV, além dos partidos da base aliada.

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O ministro destacou que o projeto é "adequado" e "satisfatório" tanto do ponto de vista das Forças Armadas como de boa parte daqueles que militam em favor dos Direitos Humanos. "No governo federal, existe acordo e é importante que o projeto enviado seja aprovado", afirmou. "Tenho falado com lideranças da Câmara dos Deputados e do Senado e tenho encontrado uma boa receptividade", acrescentou. Em sua proposta original, o projeto possibilita o esclarecimento de casos de violação de Direitos Humanos durante a ditadura militar.

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