Não restam dúvidas: o Brasil realizou a "Copa das Copas", pelo menos para os cofres da Fifa. Dados publicados nesta sexta-feira pela entidade revelam que o Mundial no Brasil catapultou as contas da Fifa a valores considerados internamente como "estratosféricos". Enquanto isso, pelo menos seis dos doze estádios brasileiros usados para a Copa estão com sérios problemas e a economia do Brasil chegou a entrar em recessão.
O jornal O Estado de S. Paulo havia revelado com exclusividade na quinta-feira que a renda da Copa do Mundo do Brasil atingiu uma recorde, com US$ 4,8 bilhões (R$ 16 bilhões). Apenas no ano passado, a renda atingiu a marca de US$ 2 bilhões. O valor chega a ser US$ 800 milhões superior à renda na África do Sul e nem a crise mundial foi um obstáculo para isso.
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A Fifa tentou esconder o valor de seus lucros. No comunicado de imprensa, a entidade simplesmente não citou nem a receita e nem os lucros. Apenas indicou que o benefício foi "superior ao que se esperava" e que o Mundial gerou "forte resultado financeiro".
Mas, no documento oficial, o valor da receita total chega a US$ 5,7 bilhões, incluindo a bilheteria dos estádios e outros eventos. No período entre 2011 e 2014, os lucros foram de US$ 338 milhões. "Temos uma situação financeira sólida", disse Markus Katner, diretor financeiro da Fifa.
Para a Copa de 2014 e a Copa das Confederações de 2013, a Fifa acumulou não apenas os contratos de televisão e de marketing, mas também somou US$ 500 milhões da bilheteria, desta vez nas mãos da entidade. A Fifa também ganhou mais US$ 60 milhões com as vendas de pacotes pela empresa Byron.
Ao contrário do que ocorreu nos últimos Mundiais de 2010 e 2006, o dinheiro dos ingressos foi administrado e recolhido no Brasil diretamente pela Fifa. Por meses, a entidade rejeitou pedidos do governo brasileiro para que estudantes e idosos tivessem benefícios.
No total, a fortuna nas reservas da Fifa hoje chega a US$ 1,5 bilhão, acima do PIB de pelo menos 20 países no mundo. Em 2006, as reservas eram de apenas US$ 600 milhões.
DISTRIBUIÇÃO - No geral, os lucros da Fifa chegaram a sofrer uma queda em 2014. Mas não por falta de dinheiro e sim diante da decisão de seus cartolas de aumentar seus salários e distribuir recursos entre as federações. Blatter concorre a mais um mandato no comando da Fifa e o "presente" aos eleitores foi amplamente apreciado.
Dirigentes europeus chegaram a atacar a medida adotada por Blatter. "Essa não é a forma de se proceder", indicou um dos cartolas. No final de 2014, numa carta inesperada por muitos, a Fifa comunicou que estava enviando como bônus mais US$ 300 mil a cada uma das 209 federações nacionais, sem motivos.
SALÁRIOS - Mas não é só a generosidade que marca a entidade depois das contas no Brasil. Os dados revelam que, em salários, a Fifa distribuiu US$ 110 milhões a seus funcionários e cartolas. O valor é duas vezes maior que o que foi dado em 2008 em salários, bônus e outros pagamentos.
A Fifa não especifica quanto foi destinado ao presidente Joseph Blatter ou ao secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke.
Os números contrastam com o dinheiro que a Fifa deu ao Brasil, sede da Copa e onde não se cobrou impostos da Fifa. A entidade criou um fundo para ajudar o futebol nacional e enviará ao longo dos próximos anos um total de US$ 100 milhões (em torno de R$ 331 milhões).
O primeiro projeto está sendo realizado em Belém e, nos próximos anos, iniciativas para construir centros de treinamentos e instalações vão ser implementadas pelo País.
A contribuição foi destacada por Blatter e Valcke como uma prova de que parte da renda da Copa do Mundo voltaria ao Brasil. Em novembro de 2014, Valcke indicou que o fundo criado para o Brasil seria "uma excelente plataforma para distribuir os benefícios de uma Copa inesquecível". "Como na África do Sul e no Brasil, é nosso objetivo usar as próximas Copas do Mundo para promover um desenvolvimento sustentável do futebol nos países sedes", disse.
O que não revelou é que os maiores beneficiados dessa explosão na renda seriam eles mesmos, com maiores salários e mais funcionários. Depois da Copa do Mundo, a economia brasileira entrou em recessão. Para 2015, a previsão é de uma estagnação. O real disparou e até o desemprego aumentou em algumas regiões.
Quanto aos estádios, pelo menos seis deles sofrem para pagar suas contas, estão fechados ou servem para receber escritórios do governo, como em Brasília.
Enquanto a Fifa nada em dinheiro, o Tribunal de Contas da União indicou que, no total, as renúncias na arrecadação de impostos no Brasil foram de R$ 1,1 bilhão (R$ 3,6 bilhões) diante do acordo de que a entidade máxima do futebol não pagaria impostos pela Copa do Mundo.
GASTOS - Se os números deixaram os cartolas mais ricos, a ordem foi a de não revelar os dados em um comunicado de imprensa. A Fifa apenas disse que destinou desde 2011 cerca de US$ 1 bilhão a projetos esportivos.
Cada uma das 209 federações recebeu US$ 1 milhão, enquanto as confederações regionais ficaram com US$ 7 milhões. No total, US$ 261 milhões foram usados nessas transferências.
Seleções receberam ainda US$ 476 milhões da renda da Copa, contra US$ 158 milhões para clubes que emprestaram seus jogadores ao Mundial. No total, a entidade gastou US$ 2,2 bilhões para organizar o evento.