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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender nesta quarta-feira, 21, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, a posição do Brasil na guerra da Ucrânia e disse que o conflito não pode ser vencido nem por Kiev nem pela Rússia.

A entrevista também abordou as relações do Brasil e da Itália, com o encontro do presidente brasileiro com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o relacionamento com a China, a Amazônia e a cúpula do Brics. Abaixo, leia os principais trechos da entrevista:

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Guerra na Ucrânia e encontro com o papa

"Em 2020, quando encontrei (o papa), conversamos sobre a desigualdade no mundo, a busca de uma economia mais solidária. Logo depois veio a pandemia e a campanha eleitoral no Brasil. Agora encontro o Papa com esse conflito na Europa. Mandei um enviado especial, Celso Amorim, para Moscou e Kiev. Os dois países acreditam que podem vencer o conflito militarmente: eu discordo disso. Acho que tem pouca gente falando de paz. A minha angústia é que com tanta gente passando fome no mundo, com tantas crianças sem ter o que comer, ao invés de cuidar de resolver as desigualdades, estamos cuidando de guerra. É urgente que a Rússia e a Ucrânia encontrem o caminho da paz."

Relações com a China

"O Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mundo e temos uma excelente relação com a China, que nas últimas décadas tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza e contribuiu muito para a economia mundial. Meu diálogo com a China tem sido sempre muito positivo e na direção de uma maior paz, harmonia, crescimento do comércio e da cooperação no mundo. A China é tão importante que até a Itália já aderiu à Iniciativa da nova Rota da Seda, à qual o Brasil não aderiu ainda."

Cúpula do Brics e mundo multipolar

"A cúpula do Brics é importante para todos. Essa coalizão de economias emergentes mostrou a importância de acrescentar vozes diversas à discussão das questões globais. Acreditamos que um mundo multipolar seja melhor do que uma supremacia unipolar ou uma disputa bipolar. A criação de diferentes redes, diferentes arranjos de países, pode ajudar a equilibrar e contrabalançar as tendências e as tensões conflitantes. Por exemplo, o Conselho de Segurança da ONU é uma estrutura a reformar. Ele representa o equilíbrio de poder do mundo em 1945. Quase 80 anos depois, muita coisa mudou e precisamos de um Conselho mais amplo, mais representativo, com vozes da América Latina e da África, para que realmente contribua para a paz e a segurança no mundo."

Amazônia

"Retomamos o combate ao desmatamento, com a meta de zerá-lo até 2030 e estamos também enfrentando o garimpo ilegal e outras atividades criminosas que destroem o meio ambiente na região. Expulsamos mais de 20 mil garimpeiros ilegais das terras indígenas Yanomami. Ao mesmo tempo, queremos falar de uma nova visão de desenvolvimento sustentável para a região, que abriga 25 milhões de brasileiros. Investimos em pesquisa científica, indústrias limpas, turismo, para fazer a floresta valer mais para quem mora lá, pelo seu papel ambiental, e por seus produtos. As pessoas que vivem na região precisam de renda, trabalho, proteção social, saúde e educação, justamente para serem os maiores protetores da Amazônia."

Encontro com Giorgia Meloni

"Espero conhece-la melhor hoje e que os encontros que faremos reforcem a relação entre nossos países, que sempre foi tão forte. Somos o segundo país com mais italianos e descendentes do mundo, atrás apenas da própria Itália. Temos 30 milhões de descendentes italianos no país. Eu tenho uma relação excelente com o movimento sindical daqui, com os intelectuais, as empresas. E certamente teremos uma relação muito produtiva com as autoridades italianas, porque a relação econômica entre os dois países está aquém do seu potencial e precisamos trabalhar muito para ter uma relação bilateral à altura do tamanho das nossas economias."

O Corriere della Sera, jornal de maior circulação da Itália, deu nota 2, em uma escala que vai de zero a 10, para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, na gestão da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Em uma classificação publicada nesta terça-feira (14), o diário milanês define Bolsonaro como um "negacionista" inspirado por seu "ídolo Donald Trump" e afirma que ele está "quase isolado no mundo".

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"Jair Bolsonaro enfrenta uma oposição interna com poucos precedentes na história do Brasil. Ignoram seus apelos para voltar ao trabalho tanto os governadores e prefeitos das áreas mais atingidas pelo vírus, os quais mantêm regras bastante rígidas, quanto o próprio ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que segue as indicações da OMS e está sempre a ponto de perder o cargo", diz o texto escrito pelo correspondente do diário no Brasil, Rocco Cotroneo.

"Por enquanto, Mandetta continua, até porque as pesquisas lhe atribuem o dobro da aprovação do presidente. Bolsonaro, enquanto isso, sai do palácio e aperta mãos, incita seus apoiadores a retomarem as atividades e a cada dois ou três dias lança um apelo contraditório na TV", afirma o Corriere della Sera.

O jornal italiano também define o presidente como um "fanático defensor da cloroquina como cura infalível da Covid-19". "Enquanto todos os especialistas advertem que os meses de maio e junho serão terríveis no Brasil, Bolsonaro sustenta que 'a questão do vírus está começando a ir embora'", conclui o Corriere.

Ao todo, o jornal avaliou 11 líderes, sendo que Bolsonaro recebeu a pior nota. A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, definida como "empática", lidera o ranking, com nota 9, à frente da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, a "maga das emergências", e da "corajosa" premiê da Dinamarca, Mette Frederiksen, ambas com 8.

O presidente da China, Xi Jinping, recebeu uma avaliação dupla: 10 para os chineses e 5 para o restante do mundo, devido ao "aparato imperial" que desestimula a admissão de problemas no país e à sua hesitação em alertar o restante do planeta sobre o risco de uma pandemia.

Os outros líderes avaliados são o chanceler da Áustria, Sebastian Kurz (6), os primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson (7), e da Irlanda, Leo Varadkar (7), e os presidentes da França, Emmanuel Macron (7), e dos Estados Unidos, Donald Trump (5).

Já o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, ficou sem nota devido à sua postura de tentar "temporizar", confiando na disciplina da população local e sem impor multas para quem não respeitar a recomendação de limitar as saídas de casa. "Meias medidas e juízo suspenso para o temporizador Abe", diz o Corriere. 

Da Ansa

O papa emérito Bento XVI, que fará 91 anos em abril, escreveu uma carta publicada no jornal Corriere della Sera afirmando que se prepara para sua última viagem.

"No lento enfraquecimento de minha força física, interiormente estou em peregrinação para a Casa (do Senhor)", escreveu Joseph Ratzinger ao jornal, que informou a ele sobre a preocupação de inúmeros leitores sobre seu estado de saúde.

O papa emérito se declarou comovido de que "tantos leitores desejem saber como vai este último período de (sua) vida".

"É uma grande graça para mim estar cercado neste último trecho de caminho, às vezes um pouco fatigante, de um amor e uma bondade tais que não teria podido imaginar", escreve o alemão.

Desde sua revolucionária renúncia ao cargo, em fevereiro de 2013, Bento XVI vive sua aposentadoria em um pequeno mosteiro no Vaticano em companhia de quatro religiosas e de seu secretário-pessoal Georg Gänswein.

Este último anunciou há dois anos que o papa emérito estava "apagando como uma vela, lenta e serenamente".

Celebra a missa todos os dias, reza muito, recebe visitas escalonadamente e responde a um volumoso correio. Além disso, vê os telejornais e recebe vários jornais católicos e publicações religiosas.

"Já não tem controle de suas mãos, não pode tocar piano, vê muito mal, mas tem a lucidez perfeita, se recorda de tudo", descreveu, no ano passado, um alto prelado do Vaticano.

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