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Depoimentos de delatores da Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ação que investiga possível abuso de poder político e econômico da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer de 2014 revelaram detalhes do funcionamento do "departamento de propinas" da empreiteira.

Responsável por movimentar US$ 3,3 bilhões, o Setor de Operações Estruturadas era o centro nervoso de um esquema de pagamento de subornos no Brasil e em outros 13 países. A cifra foi exposta por Hilberto Mascarenhas, que chefiou a área de 2006 até o seu fechamento, após a Operação Lava Jato.

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Nos depoimentos, os delatores indicam que pagamentos ilegais não foram inventados na gestão de Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo, mas o nome e a estruturação do setor, sim. De acordo com Mascarenhas, antes os pagamentos eram embrionários e menos seguros. "Eles usavam fax! Meu Deus do céu! Cuspir papel é suicídio!", disse o delator ao TSE.

Os repasses ilegais estavam vinculados a uma "agenda ampla" da Odebrecht, que envolvia interesses no governo relacionados a etanol, tributação e obras, como a construção de infraestrutura para a Copa do Mundo e a Olimpíada.

Além de propina e de caixa 2 para campanhas eleitorais, o setor bancava, de forma extraoficial, o resgate de executivos em caso de sequestro, em países como Iraque e Colômbia, pagamentos a milícias e bônus a executivos da empreiteira.

O caixa 2 que abastecia a área era gerado por obras da empresa no exterior - segundo Mascarenhas, 99,9% do dinheiro vinha assim. "‘Ah, vamos fazer uma obra em tal lugar’. Tinha um excedente (nesse tipo de obra). O excedente era usado para abastecer a nossa área", relatou Fernando Migliaccio, subordinado a Mascarenhas na área.

Operação

O setor recebia uma programação semanal dos pagamentos a serem ser feitos, já vinculados a codinomes dados por executivos do alto escalão a autoridades ou políticos. A hierarquia rígida, característica da empresa, servia para compartimentar as informações e evitar que funcionários da área decifrassem os apelidos.

"Chegou aqui autorizado, paga, certo? (...) Nosso papel era de pagar. Para quem e por que não era da nossa alçada", disse Mascarenhas ao TSE. As determinações de pagamento eram lançadas sempre na sexta-feira e, na segunda-feira subsequente, a operação era feita. Quem recebia a planilha era a secretária Maria Lúcia Tavares, primeira delatora a falar sobre o setor.

Sistemas

Mesmo com acesso aos sistemas de informática Drousys e MyWebDay, ela só sabia que "Feira" era Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, porque a empresária foi até o escritório da empresa uma vez. Foi Santana quem levou a Polícia Federal ao conhecimento da área de propina.

O pedido para realizar o pagamento era encaminhado por executivos da Odebrecht, sempre com autorização de Marcelo Odebrecht ou de líderes empresariais (presidentes das empresas do grupo). Os líderes que autorizavam o pagamento tinham o valor "debitado" da sua área - ou seja, o que era pago pelo departamento da propina por autorização do executivo era abatido do lucro da área e interferia no bônus que a empresa pagava a ele.

Para tentar maquiar o elevado fluxo de valores, os executivos do setor ficaram sócios de um banco em Antígua, paraíso fiscal do Caribe, e se valiam de transações por várias camadas de offshore.

Limite

O repasse ao destinatário da propina era a etapa final cumprida pelo setor. O dinheiro abastecia contas de operadores financeiros disponíveis para efetuar pagamentos em espécie em qualquer lugar no País, até em cabarés, até o limite diário de R$ 500 mil por codinome.

"Muitas vezes eu brigava, porque tinha solicitações para praças que é impossível conseguir, e você ficar transitando com reais por esse país é loucura, você vai ser pego", disse Mascarenhas.

Outro funcionário do setor, Fernando Migliaccio, preso na Suíça em 2015, afirmou no TSE ter como recorde a movimentação de R$ 35 milhões, a vários destinatários, em um só dia. No exterior, os repasses eram feitos em contas bancárias - normalmente de offshores. Fora do País, só não eram feitos pagamentos nos Estados Unidos, considerado "complicadíssimo" por causa da fiscalização. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo que leva seu sobrenome, disse em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no início de março, que o financiamento ilegal de campanhas é tão comum no País que inclui todos os candidatos eleitos. "Duvido que tenha um político no Brasil que tenha se eleito sem caixa 2. E, se ele diz que se elegeu sem, é mentira, porque recebeu do partido. Então, impossível", afirmou.

As declarações constam do depoimento prestado na ação que apura abuso de poder político e econômico pela chapa Dilma Rousseff-Michel Temer nas eleições de 2014. Naquele ano, além da então presidente, 1.626 pessoas conseguiram votos para ocupar os cargos em disputa.

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No caso da Odebrecht, o empreiteiro pontuou que, dos recursos disponíveis para campanhas, 75% eram pagos fora do sistema oficial. "Caixa 2, para a gente, e eu acho que para todas as empresas, era visto como natural. Os valores definidos pelos candidatos eram tão aquém do que eles iam gastar que não tinha como a maior parte das doações não ser caixa 2. Era impossível", declarou ao TSE.

O empreiteiro afirmou que, ao acertar propinas com parlamentares ou ocupantes de cargos executivos, o valor podia ser pago nas eleições tanto como doação oficial, o "caixa 1", quanto por fora. Mas ponderou também que parte dos valores do chamado caixa 2 não foi destinada a campanhas com uma "contrapartida específica".

Doação oficial

Marcelo Odebrecht disse que a doação oficial, como acaba por vincular a empresa ao candidato eleito, foi "criminalizada no Brasil". E que, ao longo de "20, 30 anos", o dinheiro não contabilizado para campanhas foi crescendo, o que ele, há quase dois anos preso pela Lava Jato, diz que "precisa mudar". "A gente tinha medo de doar com medo da penalização que havia", sustentou.

O empreiteiro ressaltou que os empresários têm a preocupação de não mostrar tudo o que gastam nas campanhas para evitar que alguns concorrentes, vendo eventuais disparidades nas contribuições, cobrem mais.

Arrependimento

Num dos trechos do depoimento, Odebrecht afirmou que se arrepende de ter tratado de propina no governo federal. Falando de forma geral, considerou que não só ele, mas toda a sociedade, errou ao assistir, supostamente de forma passiva, o esquema de aparelhamento político no setor público, potencial fonte de desvios e do financiamento ilegal de campanhas.

"O governo sabia, a população sabia, eu sabia que o meu empresário, para atuar na Petrobrás, de alguma maneira, tinha de atender aos interesses políticos daquela diretoria. Eu fazia vista grossa, a sociedade fazia vista grossa, todo mundo fazia vista grossa", disse. "Olhando para a frente, precisa mudar muita coisa, entendeu? Essa questão da Lava Jato foi positiva, porque acho que vai corrigir daqui para a frente."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar disse que a empreiteira pagou R$ 21 milhões em dinheiro em espécie a três partidos para comprar tempo de TV para a chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) em 2014. Segundo ele, o dinheiro, proveniente de caixa 2, foi entregue em hotéis e flats.

Conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo no início do mês, Alexandrino Alencar disse ao TSE que a empreiteira pagou R$ 7 milhões para cada um desses três partidos: PROS, PC do B e PRB. Ontem, a reportagem obteve a íntegra do depoimento do ex-executivo, mantido sob sigilo.

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Alexandrino depôs ao TSE em 6 de março. "Eram inicialmente cinco partidos que houve essa demanda para a gente contribuir via caixa 2, e eu fiquei encarregado de três partidos. Então, três partidos foram feitos por mim, a saber: o PROS, o PC do B e o PRB", afirmou o ex-executivo ao ministro Herman Benjamin, relator no TSE da ação que apura se a chapa Dilma-Temer cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014.

Conforme Alexandrino, a demanda surgiu do então tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, que, segundo ele, já chegou com os valores a serem acertados e a indicação de que o pagamento seria via caixa 2.

Questionado por Benjamin se havia ficado claro os termos do pedido, Alexandrino foi categórico. "Sim, para a compra dos partidos. Era claramente uma compra do tempo de TV."

Alexandrino também falou como eram feitos os repasses. "Eu contatava a pessoa da Operações Estruturadas (conhecido como "departamento da propina") e dizia: 'Temos essa demanda'. Às vezes a pessoa ficava num hotel ou tinha lugar fixo em São Paulo, um flat, onde as pessoas dos partidos iam lá buscar."

Defesas

Em resposta ao TSE, o PRB disse não ter recebido caixa 2, propina ou "recurso financeiro de qualquer origem ilícita" para apoiar a chapa Dilma-Temer. O PC do B informou que o apoio à candidatura de Dilma em 2014 se deveu à "identidade de projetos político-ideológicos". Nenhum representante do PROS foi localizado.

A defesa de Dilma emitiu nota ontem na qual diz que a vida pública da petista é "limpa e honrada". Edinho afirmou que é "nítida a tentativa de construção de uma tese que tem como objetivo a criminalização da campanha". "Jamais pedi doações que não fossem legais." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Marcelo Odebrecht, herdeiro e ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) documentos que apontam o detalhamento da suposta movimentação da conta-corrente do Setor de Operações Estruturadas - o departamento da propina - realizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A informação consta de trechos das declarações divulgadas ontem pelo site "O Antagonista". Entre os documentos está uma curta planilha em que aparece o codinome "Amigo", que seria uma referência a Lula.

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A lista revela que, em 22 de outubro de 2013, o saldo de "Amigo" era de R$ 15 milhões. Já em 31 de março de 2014, o valor passou para R$ 10 milhões - não foi explicado o que foi feito com R$ 5 milhões.

Ao falar sobre o gerenciamento da conta com recursos repassados para as campanhas de Lula e da presidente cassada Dilma Rousseff, Marcelo afirmou que foi o ex-presidente quem indicou o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci para ser o administrador da conta corrente irrigada por recursos de caixa 2. "Eu falei com ela (Dilma)... Olha, presidente, em 2010, 2009, em 2010, eu falei: presidente, tudo eu estou tratando com o Palocci, era o meu combinado com o Lula, tá ok? Ela falou: Tá ok", disse o delator.

A assessoria de imprensa do Instituto Lula, por meio de nota, afirmou que não foi encontrado nenhum recurso indevido para o ex-presidente. "Lula jamais solicitou qualquer recurso indevido para a Odebrecht ou qualquer outra empresa para qualquer fim e isso será provado na Justiça."

"Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros se referem a ele como 'Amigo'." O instituto disse que "não cabe comentar depoimento sob sigilo de Justiça vazado seletivamente e de forma ilegal." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente da construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht, afirmou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que "inventou" a campanha de reeleição da presidente cassada Dilma Rousseff, em 2014. As declarações constam do depoimento prestado pelo empreiteiro no dia 1.º deste mês, na ação que pede a cassação da chapa de Dilma e de seu vice à época, o presidente Michel Temer, por suposto abuso de poder político e econômico.

O conteúdo do depoimento foi relevado ontem pelo site O Antagonista e confirmado pelo jornal O Estado de S. Paulo. O juiz auxiliar da Corregedoria-Geral da Justiça Eleitoral, Bruno César Lorencini, mandou instaurar procedimento interno para investigar o vazamento de depoimentos. O magistrado atendeu a pedido da presidente cassada, que chamou as acusações de "levianas".

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"A campanha presidencial de 2014, ela foi inventada primeiro por mim, tá?", disse Marcelo ao ser questionado sobre sua relação com a reeleição de Dilma. "Os valores (de doações) foram definidos por mim", afirmou o empresário, preso em Curitiba desde junho de 2015, em razão de investigações da Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção na Petrobras.

No depoimento, Marcelo disse que "não tem a menor dúvida" de que Dilma tinha conhecimento do pagamento de despesas de campanha com recursos de caixa 2, conforme o Estado antecipou na edição do dia 2.

De acordo com o delator, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi o responsável por solicitar os repasses da construtora. Em maio de 2014, o empresário se encontrou com o "Pós-Italiano", como Mantega era identificado nas planilhas do Setor de Operações Estruturadas, o departamento da propina da empresa. Na ocasião, foi informado de que os repasses prioritários deveriam ser para a campanha presidencial.

"Marcelo, a orientação dela (Dilma) agora é que todos os recursos de vocês vão para a campanha dela. Você não vai mais doar para o PT, você só vai doar para a campanha dela, basicamente as necessidades da campanha dela: João Santana, Edinho Silva ou esses partidos da coligação", relatou o delator.

O empreiteiro afirmou que a presidente cassada nunca lhe pediu nada diretamente, mas tinha conhecimento dos pagamentos via caixa 2. "Dilma sabia da dimensão da nossa doação e sabia que nós éramos quem doá(vamos)... Quem fazia grande parte dos pagamentos via caixa 2 para João Santana", disse. Santana foi o marqueteiro das campanhas de 2010 e 2014. Edinho foi o tesoureiro no último pleito.

O empreiteiro afirmou que parte dos débitos feitos a Santana se referia ainda às dívidas de campanha de 2010. A Lava Jato identificou pagamentos a Santana e sua mulher, Mônica Moura, por meio de contas não declaradas no exterior. Ambos tentam acordo de colaboração como Ministério Público Federal (MPF).

Refis

Marcelo afirmou também que a movimentação na conta Italiano atendia a pedidos do ex-ministro Antonio Palocci até 2011. A partir de então, passou a discutir os valores com Mantega. Ao todo, a Odebrecht repassou R$ 150 milhões, segundo o delator, para a campanha de 2014. Parte desse valor - R$ 50 milhões - era uma contrapartida pela aprovação da Medida Provisória 470 (Refis), em 2009, que facilitou a renegociação das dívidas de empresas do grupo. O valor deveria ter sido pago em 2010.

Defesas

A assessoria de imprensa da presidente cassada afirmou, em nota, que ela "não tem e nunca teve qualquer relação próxima com o empresário Marcelo Odebrecht, mesmo nos tempos em que ela ocupou a Casa Civil" no governo Luiz Inácio Lula da Silva. O texto afirmou ainda que Dilma "sempre manteve uma relação distante do empresário, de quem tinha desconfiança desde o episódio da licitação da Usina de Santo Antônio".

Na nota, Dilma afirmou que Marcelo precisa incluir provas e documentos das acusações. "Não basta acusar de maneira leviana". Ela criticou que, "mais uma vez, delações sejam vazadas seletivamente, de maneira torpe, suspeita e inusual". Procurada, a assessoria de imprensa do PT informou que não comentaria vazamento.

A Odebrecht, em nota, informou que "não se manifesta sobre o teor de eventuais depoimentos de pessoas físicas". A empresa disse que "reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça". A defesa de Mantega e Palocci não foi localizada.

Relatório

Na quarta-feira, 22, Benjamin, responsável pelo caso, entregou relatório parcial do processo aos integrantes do TSE. A ação foi proposta pelo PSDB logo após o segundo turno das eleições. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Relator da ação que pode levar à cassação da chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) nas eleições de 2014, o ministro Herman Benjamin encaminhou aos seus colegas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um relatório parcial do processo que totaliza 1.032 páginas. O objetivo do ministro é que os integrantes da Corte possam ser informados antecipadamente das provas, depoimentos e acusações que constam nos autos do processo, o que lhes permitirá analisar o caso em profundidade.

"O relatório tem de descrever o mínimo para que os meus colegas tenham os elementos de convencimento inicial. É um mapa da mina", disse o ministro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta quinta-feira (23).

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De acordo com Herman Benjamin, o tom do relatório é "absolutamente objetivo", "com muitas transcrições daquilo que é mais relevante".

Os ministros da Corte Eleitoral receberam o relatório parcial de Benjamin apenas em papel impresso. Segundo a assessoria do TSE, o relatório não traz a opinião do ministro sobre as provas e depoimentos, "o que deve ocorrer durante a apresentação do seu voto".

Por se tratar de um relatório parcial, as alegações finais do Ministério Público Eleitoral e das partes envolvidas não constam no documento, já que ainda não foram encaminhadas ao TSE. O relatório está sob sigilo.

Um relatório complementar com acréscimos será encaminhado posteriormente aos ministros do TSE, informou a assessoria da Corte Eleitoral.

Na última terça-feira (21), o ministro encerrou a fase de instrução do processo - etapa em que são coletadas as provas que vão embasar o julgamento.

Ao encerrar a fase de instrução, Herman Benjamin sinaliza que a ação já se encaminha para a etapa final - ele tem manifestado nos bastidores o desejo de levar o caso ao plenário antes da saída do ministro Henrique Neves, que deixará a Corte Eleitoral em 16 de abril.

O ministro também fixou o prazo de dois dias para as alegações finais do Ministério Público, de Dilma, Temer e do PSDB - o partido é o responsável por mover a ação que apura se a chapa que venceu as eleições presidenciais de 2014 cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger.

Uma pesquisa na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, obtida pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra os casos concretos em que o ministro e relator Herman Benjamin vai balizar o seu parecer no processo que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, reeleita em 2014. Entre esses casos, estão os processos em que o TSE cassou os mandatos de governadores, com seus respectivos vices, por prática de ilícitos eleitorais: Francisco de Assis de Moraes Souza (PMDB), o Mão Santa, do Piauí, eleito em 1998; Cássio Cunha Lima (PSDB), da Paraíba; Marcelo Miranda (PMDB), do Tocantins, e Jackson Lago (PDT), do Maranhão, estes eleitos em 2006.

Em todos os casos se aplicou automaticamente a perda de diplomas aos governadores e, pelo princípio da indivisibilidade, aos vice-governadores. Os relatores respectivos desses processos foram à época os ministros do TSE Nelson Jobim (no caso de Mão Santa), Eros Grau (Cunha Lima e Lago) e Felix Fisher (Marcelo Miranda). Nenhum dos acórdãos suscita dúvida sobre a inclusão dos vices na cassação dos titulares.

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Consta do levantamento um caso que não resultou em cassação, mas que está sendo considerado relevante. É o que envolveu o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, eleito em 2006, relatado pelo ministro Felix Fisher. Silveira foi absolvido da acusação de abuso do poder econômico. Mas a discussão, na fase preliminar do caso, a de instrução, apontou para a necessidade de o vice compor o polo passivo em ações nas quais se pretenda cassar o seu mandato e o do titular. Essa posição mudou a jurisprudência do TSE sobre o tema, desde então pacífica.

O tribunal concluiu, ali, que "em razão da unicidade monolítica da chapa majoritária, a responsabilidade dos atos do titular repercute na situação jurídica do vice, ainda que este nada tenha feito de ilegal, comportando-se exemplarmente".

A jurisprudência de casos envolvendo prefeitos também reforça os argumentos pela indivisibilidade da chapa eleita. Um dos casos, relatado pelo ministro Napoleão Nunes Maia Filho, é o do prefeito de Itaboraí (RJ), Helil Cardozo, eleito em 2012 pelo PMDB e acusado de uso indevido de meios de comunicação social. A cassação foi revogada no TSE, por 4 a 3. Durante a discussão do caso, o ministro Herman Benjamin defendeu a indivisibilidade da chapa para fins de cassação.

Outro dos casos da jurisprudência que integra a pesquisa sobre princípio da indivisibilidade é o Recurso Especial 695-41, de Goiás, relatado pelo ministro Gilmar Mendes, hoje presidente do TSE. Gilmar escreveu: "Cassação de diploma de vice-prefeito. O mero benefício é suficiente para cassar o registro ou o diploma do candidato beneficiário do abuso de poder". Também está incluído, na pesquisa, caso semelhante relatado pelo ministro Henrique Neves (Recurso Especial 1089-74/MG).

O levantamento ainda enumera, como apoio à tese da indivisibilidade, processos relatados em períodos diversos pelos ministros Luciana Lóssio, Nancy Andrighi, Dias Toffoli, Laurita Vaz, Cármen Lúcia, Arnaldo Versiani, Marco Aurélio, Ayres Britto, Cesar Asfor Rocha e Ellen Gracie.

Inelegibilidade

O levantamento mostra, ainda, que a jurisprudência do TSE é igualmente pacífica quanto à decretação de inelegibilidade. Nesse caso, há necessidade de provar que o acusado tinha conhecimento direto dos delitos cometidos. "A inelegibilidade constitui sanção de natureza personalíssima e aplica-se apenas a quem cometeu, participou ou anuiu com o ilícito, e não ao mero beneficiário", diz a pesquisa. Entre os precedentes estão decisões dos relatores Gilmar Mendes e Henrique Neves. Para fins de inelegibilidade individual, diz trecho de um dos acórdãos citados, "deve ser feita distinção entre o autor da conduta abusiva e o mero beneficiário dela. Caso o candidato seja apenas beneficiário da conduta, sem participação direta ou indireta nos fatos, cabe eventualmente somente a cassação do registro ou do diploma, já que ele não contribuiu com o ato".

Se a jurisprudência indica que não há mais dúvida de que o parecer do ministro-relator vai pedir a cassação dos dois eleitos - Dilma Rousseff e Michel Temer -, ainda há sobre o quesito inelegibilidade. Os autos precisam provar se os dois, ou um dos dois, tinham conhecimento pessoal de fatos que caracterizam abuso de poder econômico. Se não é fácil chegar a uma conclusão com os depoimentos e perícias que estão disponíveis no site do TSE, resta aguardar a divulgação integral dos depoimentos ainda sob sigilo dos delatores da Odebrecht.

A defesa da ex-presidente Dilma Rousseff pediu na segunda-feira (13) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ex-assessor especial da Presidência José Yunes sejam ouvidos no âmbito da ação que apura se a chapa encabeçada pela petista, de quem Michel Temer (PMDB) foi vice, cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger.

O pedido da defesa de Dilma foi feito depois de o ex-executivo da Odebrecht José de Carvalho Filho ter afirmado em depoimento à corte eleitoral na última sexta-feira (10) que Padilha recebeu pelo menos quatro senhas para o pagamento de caixa 2 ao PMDB. As senhas tinham os seguintes nomes: "Foguete", "Árvore", "Morango" e "Pinguim".

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Padilha teria acertado locais de entrega do dinheiro da empreiteira mediante senhas trocadas com o ex-executivo. De acordo com Carvalho Filho, um dos locais indicados por Padilha foi o escritório de José Yunes, amigo e ex-assessor de Michel Temer. Esse pagamento teria sido realizado no dia 4 de setembro de 2014.

O valor total destinado ao PMDB chegou a R$ 5 milhões, dos quais R$ 500 mil teriam sido destinados ao então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Carvalho Filho afirmou que para entregar as senhas esteve com Padilha pelo menos quatro vezes. O ex-executivo da Odebrecht trabalhava na equipe do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. No anexo de delação premiada que veio à público em dezembro, Melo relata que foi Carvalho Filho quem o apresentou a Padilha.

Requerimento

A defesa de Dilma também pediu que o ministro Herman Benjamin, relator da ação no TSE, solicite à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) o compartilhamento do conteúdo das delações dos executivos e funcionários da Odebrecht que prestaram depoimento à corte eleitoral, preservando o sigilo decretado.

Os advogados que defendem a ex-presidente ainda solicitaram que sejam ouvidos lideranças dos partidos que integraram a chapa da petista em 2014, entre eles Rui Falcão (PT), Carlos Lupi (PDT), Gilberto Kassab (PSD) e Valdir Raupp (PMDB) e que o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Edinho Silva (PT), coordenador financeiro da chapa Dilma-Temer, preste novo depoimento.

Os depoimentos dessas testemunhas, alega a defesa da petista, poderão esclarecer as acusações do empresário Marcelo Odebrecht de que a empreiteira teria colaborado financeiramente com as legendas por meio de caixa 2.

Dilma pediu também que o ministro Herman Benjamin reconsidere decisão sobre trecho do depoimento do ex-presidente da Construtora Norberto Odebrecht Benedicto Júnior referente à chapa do então candidato tucano à Presidência, senador Aécio Neves (MG). Herman determinou que essas partes sejam "tarjadas" nas transcrições que constarão nos autos da ação sobre a chapa Dilma-Temer.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, afirmou que a estabilidade política do País tende a ser considerada no julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, que pode levar à cassação da chapa e à saída do presidente Michel Temer (PMDB) do comando do País.

Mendes ponderou que o cenário político não deve presidir o julgamento, mas que o contexto não deixa de influenciar os ministros da corte. "Sempre se considera a estabilidade política. Nós não temos juízes de Marte, são juízes do Brasil. Em todas as circunstâncias, nós levamos em conta. Mas não que isso vá presidir o julgamento, é um julgamento complexo", disse, em entrevista coletiva após lançar uma campanha para cadastrar todos os eleitores do País no sistema biométrico do TSE.

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Ele afirmou ainda que o relator do caso na Corte, o ministro Herman Benjamin, está fazendo um trabalho "estritamente técnico" e com uma instrução processual ampla, citando a inclusão das delações da Odebrecht no processo e as acareações feitas recentemente entre delatores. Mendes lembrou que, agora, as partes podem pedir contraprovas como "marca do contraditório" e isso pode estender ainda o processo. O presidente do TSE reforçou o compromisso de colocar a ação em julgamento assim que Benjamin concluir o relatório.

Sobre o prazo para julgamento, Gilmar Mendes não quis dar uma projeção e destacou que isso depende do relator, que em algum momento "vai ter que terminar" o trabalho. O presidente do TSE lembrou que abril é um mês "acidentado" para a Justiça por causa dos feriados e que, se o ministro não concluir o relatório em maio ou junho, o caso só poderá ser pautado em agosto, quando a Corte retoma os trabalhos após o recesso de julho. "Em suma, nesse período, temos que resolver essas questões. Espero que o ministro nos avise. Ele já combinou com o Tribunal que colocaria seu relatório à disposição com 10 dias de antecedência para que todos pudessem ter conhecimento", disse.

Elegível

Perguntado sobre se um integrante de uma chapa pode se manter elegível em uma eleição indireta no caso de cassação, Gilmar Mendes lembrou que a cassação e a inelegibilidade dos integrantes são julgadas de forma separada, e que julgamentos anteriores liberam integrantes de chapas cassadas para concorrer. "Portanto, aquele que não teve participação na prática ilícitos, se o Tribunal assim entende, e é mesmo a jurisprudência das instâncias estaduais, ele é elegível."

Caixa 2

O ministro Gilmar Mendes voltou a falar, durante a entrevista coletiva, que doações eleitorais não registradas no TSE podem configurar crimes de corrupção, dependendo da origem do dinheiro e intenção da contribuição, ou serem classificadas apenas como "elisão fiscal ou elisão eleitoral", quando destinadas ao aporte de campanhas.

"Não podemos misturar casos de corrupção com casos de caixa 2. Haverá casos de caixa 2 em que se acarreta corrupção, como dinheiro de origem espúria. Haverá casos de caixa 2 em que simplesmente se tratou de esconder, de alguma forma da Justiça e do público em geral, o recurso, mas tinha finalidade de aporte eleitoral", comentou.

Ele também lembrou que uma doação legal, registrada na Justiça Eleitoral, pode ser configurada como corrupção. "Se se cogitava repassar recursos a candidatos nesse contexto de favorecimento, de vantagem ilícita, de ato de ofício podemos enquadrar isso como corrupção, a despeito de se tratar de caixa 1", observou o ministro. A tese ganhou notoriedade na semana passada quando a 2ª Turma do STF considerou doação oficial de campanha como pagamento de propina no processo envolvendo o senador Valdir Raupp (PMDB-RO).

Financiamento privado

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), desembargador Mário Devienne Ferraz, afirmou que acredita na volta do financiamento empresarial de campanhas políticas. Em entrevista coletiva para promover o cadastramento biométrico de eleitores paulistas, Ferraz disse que, se o financiamento corporativo voltar a ser legalizado, isso deve ocorrer com a determinação de regras mais rígidas para a doação de empresas.

"Como tivemos problemas com tudo isso que se apurou e se está apurando pela Operação Lava Jato, eu creio que possa eventualmente voltar o financiamento de pessoa jurídica com regras absolutamente rígidas de modo a evitar o que ocorreu com doações irregulares ou aparentemente legítimas mas de origem ilícita", disse o desembargador.

Ele disse ainda que acredita que a comissão de reforma política na Câmara possa encaminhar uma proposta de mudança no financiamento eleitoral ainda este ano, para valer já para as eleições de 2018.

A data para julgar a ação que investiga a chapa formada por Dilma Rousseff e Michel Temer ainda é incerta e depende, no momento, do relator do caso, Herman Benjamin. O ministro é considerado ágil na condução do processo e não deu folga a advogados e testemunhas nos últimos dias - e surpreendeu com a convocação do depoimento de Marcelo Odebrecht para a Quarta-feira de Cinzas.

Mas a cada novo depoimento Herman Benjamin convoca ao menos uma nova testemunha, o que tem estendido a duração do processo. Por ora, depende do ministro encerrar a fase de oitiva de testemunhas.

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O PMDB vai trabalhar para postergar o julgamento da ação pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A avaliação de advogados de Temer é de que, após ouvir os delatores da Odebrecht, é preciso convocar outras testemunhas. Antes da Odebrecht, os advogados do peemedebista não solicitaram a oitiva de nenhuma testemunha. Agora, a intenção é evitar que o TSE se debruce sobre a ação em meio à divulgação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do conteúdo das delações.

A partir do encerramento da fase de oitiva de testemunhas, as partes e o Ministério Público devem se manifestar. Depois disso, Herman Benjamin libera seu relatório e pede para o caso entrar na pauta do plenário. O ministro quer julgar o caso antes do fim de seu mandato como corregedor-geral da Justiça Eleitoral, em outubro. O presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, já se comprometeu a incluir o processo na pauta de julgamentos assim que o relator autorizar.

Mesmo após o encerramento dessa fase do processo, a previsão de ministros é de que o julgamento seja longo. "Se demoramos quase um ano só para abrir a ação, em 2015, imagine para julgar", diz um integrante da corte. De acordo com membros do TSE ouvidos pela reportagem, existem muitas discussões, como pedidos de vista e análise de questões preliminares - como a possibilidade de separação do julgamento da chapa - antes de entrar no mérito da discussão. Além disso, qualquer ministro pode pedir vista do processo durante o julgamento.

"Esse processo é diferente de tudo que já julgamos, então como encontrar uma jurisprudência para balizar uma decisão ou outra? É como uma Copa do Mundo realizada pela primeira vez no Brasil", disse um integrante do TSE. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os depoimentos de delatores da Odebrecht colhidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ação contra a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer ampliaram a gravidade do caso, na avaliação de ministros da corte consultados pela jornal O Estado de S. Paulo. Nos bastidores, no entanto, a maioria do tribunal afirma que ainda é preciso considerar a estabilidade política do País no julgamento do processo que pede a cassação da chapa por abuso de poder econômico e político nas eleições de 2014, quando a petista se reelegeu e o atual presidente era vice.

A reportagem conversou com cinco ministros do TSE - a corte é formada por sete titulares. O posicionamento desses julgadores, que se manifestaram sob a condição de que não fossem identificados, indica que a tendência hoje seria manter o mandato de Temer. A avaliação é expressa, porém, antes da apresentação do relatório de Herman Benjamin, sem data ainda para conclusão e cujo conteúdo está em elaboração. Os ministros já dão como certo o pedido de cassação.

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Em conversas reservadas, os julgadores consultados consideram que o País já sofreu com o impeachment de Dilma, cassada em agosto do ano passado, e uma eventual deposição de Temer do Palácio do Planalto aprofundaria a crise política e causaria um cenário de incertezas. Há ministros que admitem também que a recuperação da economia pode criar um clima favorável no TSE para livrar o presidente de uma eventual condenação.

"Pode até ter pecado, mas a gente vai produzir um prejuízo maior?", questionou um membro do TSE, ao ressaltar a "consciência política coletiva" dos colegas. Outro ministro ouvido reservadamente afirmou que é necessário "cuidar do País".

Nos próximos dias, contudo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) vai enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a "lista de Janot", com pedidos de abertura de inquéritos com base nas delações da Odebrecht, e outras revelações podem vir à tona (mais informações na página A6). Nos bastidores, os ministros especulam, com preocupação por causa da incerteza do momento, quais seriam os cenários caso Temer fosse cassado.

Cenários

Um dos quadros apontados por um dos julgadores do caso seria a perda de mandato do peemedebista, mantendo-se a sua elegibilidade. Para se tornar inelegível, o vice teria de ter agido com dolo, ou seja, com a intenção de praticar um ato irregular na campanha. Dessa forma, Temer poderia concorrer em eleição indireta no Congresso e reassumir o Planalto. Na visão de um ministro, essa hipótese é esdrúxula: "Vamos cassar um presidente que depois pode concorrer em eleições indiretas e ganhar?"

Para ministros e advogados envolvidos no caso, os depoimentos da Odebrecht dificultaram muito a proposta de separação das condutas de Dilma e Temer. A tese é um dos argumentos da defesa do presidente da República. Nos depoimentos ao TSE na semana passada, no entanto, os delatores da empreiteira relataram compra de apoio de partidos para integrar a coligação encabeçada pelo PT, o que aumentou o tempo de TV da chapa nas eleições. Esse seria o fator que contamina a campanha como um todo e causa receio na defesa de Temer. Em 2015, o TSE mudou sua jurisprudência e passou a reconhecer a compra de apoio político como uma forma de abuso de poder econômico.

Tamanho

Um outro debate jurídico tem se ensaiado nos bastidores e deve ser levantado pela defesa de Dilma na fase de alegações finais: o tamanho do processo. Os advogados da petista já consideram que a ação de investigação saiu do escopo inicial proposto pelo PSDB.

Os tucanos usaram como fundamento o suposto uso de propaganda pela chapa em período vedado, a ocultação de dados negativos da economia por parte de institutos oficiais, como o Ipea e o IBGE, além de recebimento de doações de empreiteiras contratadas pela Petrobrás. Com o avanço da Operação Lava Jato deflagrada ainda em 2014, o TSE passou a ouvir delatores até chegar aos depoimentos da Odebrecht.

No caso da Odebrecht, os advogados apontam ainda que a decisão de ouvir os delatores partiu do relator - sem pedido do Ministério Público ou de qualquer uma das partes envolvidas no processo.

Ao menos dois ministros do TSE ouvidos consideram que a amplitude da ação será um debate importante. "O processo se tornou um monstro. Já deveríamos ter julgado isso", afirmou um integrante da corte. Com base nesse argumento, o PT vai pedir a absolvição da chapa, tanto para Dilma quanto para Temer. A defesa do peemedebista deve reforçar a solicitação de absolvição de ambos, com a separação das condutas, para livrar Temer, como um pedido alternativo no julgamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A presidente cassada Dilma Rousseff disse neste sábado (11), durante um festival de cinema em Genebra, que sua chapa na campanha eleitoral de 2014 não recebeu recursos ilegais. Ela afirmou que o financiamento foi integralmente declarado à Justiça Eleitoral. Naquele ano, ela disputou a corrida presidencial com o vice e atual presidente Michel Temer.

O PSDB moveu, logo após o resultado da disputa eleitoral, uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a chapa Dilma-Temer sob a acusação de abuso de poder econômico e político. Ex-presidente da maior construtora do País, Marcelo Odebrecht, em depoimento ao TSE, reafirmou o conteúdo de sua delação premiada na Operação Lava Jato, na qual afirmou que a presidente cassada tinha conhecimento de pagamento por meio de caixa 2 para sua campanha à reeleição.

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Questionada sobre as suspeitas de repasses ilegais da construtora para sua chapa, Dilma negou, mais uma vez. "Eu quero dizer: eu jamais pedi, cobrei, conversei sobre propinas", afirmou a presidente cassada, durante viagem à Suíça.

Em dezembro, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que pelo menos uma delação de um executivo da Odebrecht indicou que a chapa Dilma-Temer havia recebido dinheiro de caixa dois da Odebrecht. A construtora descreveu uma doação ilegal de cerca de R$ 30 milhões paga para a coligação "Com a Força do Povo". No dia 2 deste mês, o ex-executivo da Odebrecht Benedito Barbosa da Silva indicou que a empresa entregou de seu caixa 2 cerca de R$ 40 milhões para a campanha e explicou que o dinheiro era proveniente do Setor de Operações Estruturadas, o Departamento da Propina.

Deterioração

Diante de uma plateia de apoiadores, Dilma reforçar a tese de "golpe" para falar sobre seu processo de impeachment, encerrado em 31 de agosto do ano passado. Ela atribuiu os maus resultados da economia à sua queda. "Você acha que alguém investe em um país em que parte da oposição pede o impeachment da presidente? Eles construíram algo irresponsável, a insegurança no Brasil. E quando eu saísse, conseguiriam mudar a situação política e econômica. Hoje, a situação política se deteriora e a economia se deteriora", afirmou. Dilma disse que partidos que faziam oposição a ela são os responsáveis pela crise econômica.

O executivo Luiz Eduardo Soares, um dos delatores da Odebrecht, confirmou nesta quarta-feira (8) em depoimento à Justiça Eleitoral os codinomes usados para identificar repasses ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral e ao deputado cassado Eduardo Cunha. Ele confirmou que Cabral era identificado como "Proximus" e Cunha recebia o apelido de "Caranguejo".

O executivo era um dos responsáveis pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como "departamento da propina".

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A alcunha do deputado cassado e ex-presidente da Câmara já tinha aparecido no anexo de delação do executivo Cláudio Melo Filho, que veio a público em dezembro do ano passado.

O apelido de Cabral aparece em materiais da Polícia Federal. Em relatório de busca e apreensão, a PF aponta em planilhas que a alcunha "Proximus" é vinculada a dois pagamentos no Rio, de R$ 500 mil cada. Anotações fazem menção à Linha 4-Oeste do Metrô.

Em outro relatório, a PF registra e-mails no qual o codinome está atrelado a repasse de valores, a partir de material apreendido com o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ.

Em mensagem trocada entre Hilberto Silva, Benedicto Júnior, Lúcia Tavares, João Borba Filho e Luiz Eduardo Soares, de 17 de fevereiro de 2007, o assunto é a liquidação "Proximus".

Na conversa, a secretária Lúcia Tavares pede para que Benedicto e Borba façam a liquidação com "Proximus", no valor de R$ 1 milhão, indica que a transação deve ocorrer sob a senha "Tomate" e dá endereço no Rio onde os valores devem ser entregues. No local, a secretária do "setor de propinas" afirma que o interlocutor a ser procurado responde por "Orelha".

Em outro e-mail, de 11 de janeiro de 2008, trocado entre Marcelo Odebrecht, BJ e Ubiraci Santos, os executivos falam sobre o assunto "Programa Social RJ". Na conversa, BJ pede autorização a Odebrecht para liberar porcentagens de pagamentos relacionados ao programa. Do valor do contrato, que seria de R$ 495 milhões, BJ indica que Proximus ficaria com 5%.

Depoimento

Soares foi chamado para depor na ação que investiga abuso de poder político e econômico na campanha presidencial de 2014. No depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator do caso no TSE, ele diz que não participou de operações em 2014 porque saiu do "setor de propinas" no mesmo ano.

A defesa de Cunha disse que não teve acesso ao teor do depoimento e, por isso, não comentaria. A de Sérgio Cabral não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin intimou o ex-funcionário da Odebrecht José de Carvalho Filho, a ex-secretária Maria Lúcia Tavares e o ex-executivo Fernando Miggliaccio a prestarem depoimento nesta sexta-feira (10) na ação que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por abuso do poder econômico e político.

Além disso, o ministro, que é relator da ação, decidiu incluir o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, em acareação que será realizada também na sexta.

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Carvalho foi citado no depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho como o responsável por viabilizar o repasse de R$ 4 milhões ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A remessa teria sido acertada durante jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, do qual também participou o então vice-presidente Michel Temer.

Citado 34 vezes na delação de Melo Filho à Lava Jato, Carvalho também seria o responsável pelo envio de valores ao ex-assessor da Presidência José Yunes, por meio do operador financeiro Lúcio Funaro. Yunes disse ter servido de "mula involuntária" de Padilha ao receber um pacote de Funaro que deveria ser entregue ao ministro.

Segundo pessoas que tiveram acesso ao depoimento de Melo Filho ao TSE, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht disse que Carvalho recebeu um telefonema em tom ríspido do então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - atualmente preso na Lava Jato -, cobrando R$ 1 milhão dos R$ 4 milhões destinados a Padilha.

Melo Filho afirmou ainda, no depoimento ao TSE, ter avisado Padilha sobre o telefonema e, segundo o ex-diretor da empreiteira, o ministro disse que resolveria a questão pessoalmente com Cunha.

Procurado pela reportagem, Padilha não se manifestou.

Delatora

Maria Lúcia atuou no Setor de Operações Estruturadas, o chamado "departamento de propina" da Odebrecht, onde foi responsável pelos pagamentos e pela contabilidade.

Alvo da Operação Acarajé, 23.ª fase da Lava Jato, em fevereiro de 2016, Maria Lúcia fez acordo com o Ministério Público Federal. Em troca da liberdade e de um possível perdão judicial, relatou aos investigadores como funcionava o "departamento de propina". Ela é considerada a testemunha-chave que levou o alto escalão da Odebrecht a buscar delação.

Miggliaccio é considerado um dos responsáveis pelo "departamento da propina" da empreiteira baiana. Era ele que administrava a conta no exterior por meio da qual eram feitos pagamentos de propina.

Também na sexta o TSE fará uma acareação entre três delatores: Melo Filho, o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e Hilberto Mascarenhas, ex-funcionário da Odebrecht e ligado ao "departamento de propina".

Um dos objetivos é esclarecer versões conflitantes sobre o jantar no Jaburu. Marcelo Odebrecht disse ao TSE que Temer deixou o jantar antes que fosse acertado o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB, por meio de Padilha. Já Melo Filho reafirmou à Justiça Eleitoral o teor de sua delação, na qual afirmou que Temer "solicitou direta e pessoalmente" a Marcelo Odebrecht apoio financeiro às campanhas do PMDB.

Mascarenhas e Benedicto Júnior devem esclarecer outro ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht. O ex-presidente da empreiteira disse ter reservado R$ 150 milhões para o PT em 2014, dos quais 4/5 foram repassados via caixa 2.

Já os outros dois depoentes relataram ter participado de reunião com o herdeiro do grupo em março de 2014 na qual o então presidente da empreiteira teria dito que o valor global das doações naquele ano seria de R$ 200 milhões, a todos os partidos - R$ 120 milhões seriam doados oficialmente, R$ 40 milhões por meio da cervejaria Itaipava e outros R$ 40 milhões via caixa 2. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Duas testemunhas são ouvidas na manhã desta quarta-feira (8) no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) na Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) contra a chapa Dilma-Temer. O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Herman Benjamin, determinou a expedição de ofício ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP), relator da ação, determinando que Luiz Eduardo da Rocha Soares e Beckembauer Rivelino de Alencar Braga sejam ouvidos a partir das 8h.

As informações foram divulgadas pelo TSE. De acordo com o despacho do ministro, o ofício dirigido ao TRE-SP deve também solicitar providências voltadas à disponibilização de infraestrutura, equipamentos e pessoal para a realização dos atos, inclusive para a conexão, por videoconferência, com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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A ação pede a cassação da chapa dos candidatos à Presidência e Vice-Presidência da República em 2014, Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB), por eventual abuso de poder político e econômico na campanha eleitoral.

O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, em mais um despacho, determinou que os advogados das testemunhas já ouvidas na ação contra a chapa Dilma Aije 194358 "juntem aos autos todos os dados de corroboração, de natureza documental, que lastreiem o depoimento prestado perante esta Justiça Eleitoral, no que diz respeito, especificadamente, ao objeto da presente Aije".

Segundo esclareceu o ministro, não há impedimento à oitiva "de testemunhas que figurem como colaboradores em processo criminal envolvendo a atuação da empresa Odebrecht S.A., sem que os depoimentos prestados caracterizem descumprimento aos deveres de sigilo estatuídos no acordo".

"Considerando que as colaborações efetivadas na seara criminal, em regra, são acompanhadas de dados de corroboração para as alegações apresentadas, imprescindível que tal conjunto probatório seja trazido a estes autos, assegurando-se, por evidente, o sigilo processual", destacou o ministro em seu despacho.

Presente no jantar no Palácio do Jaburu em que foram negociados repasses para a campanha eleitoral de 2014, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho afirmou em depoimento prestado ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Herman Benjamin, que o então vice-presidente Michel Temer presenciou as tratativas realizadas na noite de 24 de abril daquele ano. No encontro foi acertado o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB.

O depoimento de Melo Filho, realizado nesta segunda-feira, 6, na sede do TSE, ocorreu no âmbito da ação que investiga abuso de poder político e econômico na campanha presidencial de 2014 e pode gerar a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer.

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As declarações de Melo Filho se chocam com o depoimento realizado na última quinta-feira, 2, por Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa que leva o seu nome, segundo relatos de quem acompanhou as duas audiências. Ao depor para Benjamin, Marcelo teria dito que no momento em que foram mencionados os valores da doações na reunião do Jaburu, Temer não estava presente. Melo afirma, contudo, que o então vice-presidente da República estava na sala, mas que as tratativas sobre a divisão dos R$ 10 milhões se desenrolaram entre Marcelo e o agora ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Apesar da presença de Temer, Melo Filho afirma que o peemedebista não falou em valores e que antes apenas pediu uma ajuda para a campanha do PMDB.

Segundo Melo Filho, a ideia inicial era repassar todo o recurso para a campanha de Paulo Skaf (PMDB), candidato ao governo de São Paulo em 2014. A iniciativa encontrou resistência e, a partir daí, ficou acertado que R$ 6 milhões iriam para Skaf e o restante, R$ 4 milhões, para o PMDB.

O ex-diretor não soube responder, contudo, se todo o montante destinado à legenda era de caixa 2. Depois de fechado o entendimento no jantar do Jaburu, Melo Filho disse que não foi falado como seria feita a operacionalização dos repasses e que era Marcelo quem decidia sobre isso.

Em nota, a defesa do presidente Michel Temer afirmou que, em razão de os depoimentos no TSE serem sigilos, "somente após o término das oitivas será possível avaliá-las adequadamente, uma vez verificadas inúmeras contradições nas versões das testemunhas-colaboradoras".

A Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou na quinta-feira passada, 2, no entanto, por meio de nota, que o depoimento em que Marcelo afirma que Temer não esteve presente nas tratativas de valores entre a empresa e o PMDB, confirmou "aquilo que o presidente Michel Temer vem dizendo há meses". "Houve o jantar (entre Temer e o empresário), mas não falaram de valores durante o encontro e a empresa deu auxílio financeiro a campanhas do PMDB", diz o texto.

O ministro Herman Benjamin, relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pediu nesta segunda-feira, 6, a colaboração do juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em Curitiba, para que compartilhe com a Corte Eleitoral provas e outros documentos da operação que tenham relação com "ocorrência de eventual abuso de poder político e econômico na campanha eleitoral da chapa Dilma-Temer em 2014".

"Expeça-se ofício à 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, na pessoa do Exmo. Juiz Federal Sérgio Fernando Moro, solicitando sua colaboração no sentido de compartilhar com este Juízo provas documentais ou outras que, entre as ações criminais em curso perante aquela jurisdição, digam respeito ao objeto da presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral, que é a ocorrência de eventual abuso de poder político e econômico na campanha eleitoral da chapa Dilma-Temer em 2014", assinalou Benjamin.

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A decisão é de segunda e foi tornada pública nesta terça-feira, 7. A medida ocorre após serem ouvidos cinco delatores da Odebrecht, incluindo o ex-presidente Marcelo Odebrecht, que detalharam os pagamentos ilícitos da empreiteira por meio do "departamento de propinas" e que teria abastecido várias campanhas eleitorais em 2014.

Ao TSE, Marcelo Odebrecht disse que 4/5 dos recursos destinados pela empresa para a campanha da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014 tiveram como origem o caixa 2. Segundo relatos, Marcelo afirmou que a petista tinha dimensão da contribuição e dos pagamentos, também feitos por meio de caixa 2, ao então marqueteiro do PT, João Santana. A maior parte dos recursos destinados ao marqueteiro era feita em espécie.

O valor acertado para a campanha presidencial da chapa reeleita foi de R$ 150 milhões, segundo o delator. Deste total, de acordo com o empresário, R$ 50 milhões eram uma contrapartida à votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009, e que beneficiou a Braskem, empresa controlada pela Odebrecht e que atua na área de química e petroquímica.

Cooperação

Não é a primeira vez que o ministro do TSE pede a colaboração de Moro, responsável pela operação que revelou o esquema de corrupção na Petrobras e também em outras áreas do governo. Em fevereiro de 2016, atendendo a uma solicitação da Corte Eleitoral, o juiz da Lava Jato informou que, em uma das sentenças da operação, ficou "comprovado o direcionamento de propinas acertas no esquema criminoso da Petrobras para doações eleitorais registradas".

Na ocasião ele ainda encaminhou várias notas fiscais, registros de transferências bancárias e recibos eleitorais de doações feitas ao PT oficialmente, no total de R$ 4,3 milhões que, segundo a sentença da Lava Jato, serviram para ocultar "propinas acertadas no esquema criminoso da Petrobras", sentenciou o magistrado - um total de 27 doações feitas entre outubro de 2008 e março de 2012.

Agora, a Corte Eleitoral quer saber se a investigação em primeira instância também identificou indícios de abuso de poder político.

O ex-tesoureiro da campanha à reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e atual prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva (PT), refutou a menção feita pelo ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar de que ele teria pedido R$ 30 milhões por meio de caixa 2. "Jamais pedi doações que não fossem legais. As dezenas de doadores da campanha Dilma 2014 sabem disso", frisou Edinho, que classificou a menção como "uma afirmação sem nexo e sem lastro na realidade".

Em depoimento nessa segunda-feira (6), no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no processo que investiga supostas irregularidades da chapa liderada por Dilma em 2014, Alencar, que ainda é delator na Lava Jato, disse que o pedido de doação irregular partiu do próprio Edinho.

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Para o ex-tesoureiro, "tal afirmação se constitui em um verdadeiro absurdo" e, "mais uma vez fica nítida a tentativa de construção de uma tese que tem como objetivo a criminalização da campanha Dilma 2014. Todas as coligações que disputaram aquele pleito construiriam coligações ideológicas".

Edinho comparou ainda a acusação de Alencar à do executivo Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, que o acusou, também em depoimento ao TSE, de ter recebido propina de R$ 1 milhão durante a campanha. Em um novo depoimento, Azevedo mudou a versão e disse que a contribuição foi regular e voluntária. "Tal acusação (feita na segunda-feira por Alencar) é mentirosa e não ficará 'em pé', como se desmoralizou a tese mentirosa, construída, em circunstâncias idênticas, por um executivo da Andrade Gutierrez", concluiu.

O ministro Herman Benjamin, relator no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do processo que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, considerou os depoimentos de Marcelo Odebrecht e de dois outros ex-executivos da empreiteira - tomados na quarta e na quinta-feira passadas, dias 2 e 3, - como os mais importantes de todos os 50 que já colheu desde que assumiu o caso em agosto do ano passado, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo.

A oitiva do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 na operação Lava Jato, deixou Benjamin particularmente impressionado, como perceberam advogados presentes.

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Primeiro, pelo grau de acesso e de domínio que o empresário contou ter ao topo da cadeia de poder, sugerindo a impressão de apropriação do poder público pelo poder privado.

Segundo, pelo valor de caixa 2 - R$ 180 milhões -, desproporcionalmente gigantesco em relação às doações oficiais. O ministro batizou de caixa 3, ou "barriga de aluguel", a doação da Odebrecht para uma outra empresa (o Grupo Petrópolis, da cervejaria Itaipava) fazer o repasse, modalidade que considerou uma novidade no esquema de corrupção.

Benjamin, que também é ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e não dá entrevistas sobre o caso, disse a advogados presentes nos depoimentos dos delatores Benedicto Barbosa Júnior e Fernando Reis, estes na quinta-feira, que considerou inadmissível o vazamento de partes do interrogatório de Marcelo Odebrecht. Informou sobre a sua suspeita de que até as suas intervenções tenham sido gravadas, e disse aos advogados que poderiam, no máximo, falar em tese, para defender a posição de seus clientes, mas não repassar passagens inteiras, e muito menos gravar.

No processo que relata - a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) 1943-58, movida pelo PSDB e outros partidos derrotados na eleição de 2014 -, o ministro optou pela transparência de todos os depoimentos e também das perícias, tudo com íntegra disponível, on line, no site do TSE. A exceção são esses últimos depoimentos, e mais os que tomará hoje, também de ex-diretores da Odebrecht (mais informações nesta página), todos sigilosos por decisão da Procuradoria-Geral da República respaldada pelo Supremo Tribunal Federal.

Preocupado em cumprir o cronograma que estabeleceu para apresentar seu relatório, ele informou ao procurador-geral Rodrigo Janot e ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, que faria as oitivas mesmo com o sigilo. Os vazamentos podem levar a alguma restrição na quantidade de advogados que poderão assistir aos próximos depoimentos.

Um deles é o do delator Hilberto Mascarenhas - o responsável direto pela contabilidade clandestina da Odebrecht, o chamado Departamento de Operações Estruturadas. Este ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht deixou o ministro particularmente estupefato, como ficou claro para advogados presentes nas quatro horas em que durou o interrogatório. Não era para ser uma contabilidade tão perfeita e tão completa - mas Mascarenhas, até sem maior detalhamento à cúpula da empresa, registrava tudo, minuciosamente.

Benjamin ficou espantado com o efeito bumerangue do detalhismo de Mascarenhas e sua equipe. É provável que o crive de perguntas específicas a respeito.

Dono

Já pelo final do longo interrogatório o ministro perguntou, chamando-o educadamente de "seu Marcelo", se o empresário se considerava dono do governo. Foi quando ele saiu-se com a resposta já vazada de que estava mais para "bobo da corte", quiçá "otário". Benjamin perguntou, também, se ele se via como uma espécie de embaixador do setor produtivo junto ao poder. É que o procuravam, afirmou o empresário. E então ele encaminhava os pleitos, deixando claro que tudo tinha um preço.

O tom das perguntas fez advogados mais atentos acharem que o ministro viu um empresário muito amargurado, que ainda não se conformou com o final da ópera como o está vendo no momento.

O ministro também fez perguntas, digamos, existenciais, para o ex-diretor Benedicto Júnior, um dos depoentes da quinta-feira passada, no Rio de Janeiro. Numa delas quis saber como é que um jovem cheio de gás entra numa empresa daquele tamanho e é iniciado na cultura de corrupção. O ex-diretor declarou-se prisioneiro do sistema. Até poderia deixar a empresa, disse, mas não tinha como evitar aquela cultura. Já vinha, segundo ele, desde o dr. Norberto (avô de Marcelo).

Empresas

Benedicto Júnior também disse ao ministro do TSE que o que está ocorrendo agora é que empresas não implicadas na operação Lava Jato estão procurando os políticos para dizer que estão dispostas a cobrir o recuo da Odebrecht, e de outras distribuidoras de propinas.

O relator, que já disse acreditar no poder detergente de operações como a Lava Jato, e do próprio processo que pode levar, ou não, à cassação da chapa vencedora nas eleições de 2014, colocou mais alguns pontos de interrogação em seu otimismo com um futuro melhor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Mais três delatores da Odebrecht serão ouvidos nesta segunda-feira (6) pelo ministro Herman Benjamin na ação que investiga a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, reeleita em 2014. O TSE vai tomar depoimentos de Cláudio Melo Filho, Alexandrino Alencar e Hilberto Mascarenhas da Silva Filho. Todos serão ouvidos em Brasília, na sede da Corte Eleitoral.

Na semana passada, o ministro ouviu ex-presidente e herdeiro da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e também os ex-executivos Benedicto Júnior e Fernando Reis.

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Em anexo de delação premiada tornado público em dezembro, Melo Filho detalha um jantar no Palácio do Jaburu com Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Marcelo Odebrecht. Segundo o executivo, o encontro serviu para tratar de doação de R$ 10 milhões ao PMDB na campanha de 2014. Ele falou de um pedido feito diretamente pelo então vice-presidente da República.

Já Marcelo Odebrecht, em depoimento na semana passada, confirmou a reunião, mas disse que Temer não tratou de valores e que o acordo sobre a doação já estava estipulado antes do jantar. A expectativa é que Melo esclareça detalhes sobre o encontro.

O nome de Alexandrino Alencar foi sugerido ao TSE pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Segundo ele, o executivo tratou em sua colaboração de assuntos relacionados à campanha de 2014. Alencar foi diretor de relações institucionais da Odebrecht e vice-presidente da Braskem. O executivo manteve, nessas funções, contato com diversos políticos.

Hilberto Mascarenhas chefiava o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como departamento de propinas da empresa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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