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Militares desencadearam nesta quinta-feira (22) duas operações simultâneas de combate ao crime no Rio. Uma foi em Angra dos Reis, município da Costa Verde fluminense a cerca de 200 quilômetros da capital, na localidade do Frade, sob disputa de facções criminosas há semanas. A outra foi na Vila Vintém, comunidade pobre na zona oeste carioca, dominada pelo tráfico.

As duas ações aconteceram após a cúpula da intervenção na segurança do Estado ter anunciado o início da retirada de agentes da Vila Kennedy. A favela na zona oeste até então era apontada como "laboratório" da ação das Forças Armadas contra a criminalidade. Foi a primeira operação organizada pelos militares fora da Grande Rio após o início da intervenção.

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Segundo o Comando Conjunto das operações, os objetivos das ações eram cumprir mandados de prisão e promover "cerco, estabilização dinâmica da área e desobstrução de vias". Essas tarefas eram idênticas às cumpridas na Vila Kennedy, onde traficantes sucessivamente reconstruíam barreiras destruídas pelos militares horas antes. No fim do dia, o Comando Conjunto anunciou que só divulgará nesta sexta-feira (23), o balanço das ações.

A comunidade do Frade, em Angra dos Reis, é uma das favelas envolvidas na disputa entre as facções Comando Vermelho (CV) e Terceiro Comando Puro (TCP), que aterroriza a cidade desde o fim de janeiro. Os confrontos pelo controle do tráfico começaram em 26 de janeiro, com tiroteios nas ruas e ameaças a moradores. Nas primeiras duas semanas, 11 morreram.

Os confrontos se estenderam por mais de cinco horas, mesmo com intervenção da polícia. Houve ainda protesto de moradores contra a falta de segurança. A disputa entre as duas facções se espalhou para outros bairros de Angra e chegou ao Parque Belém, de onde o CV conseguiu expulsar o TCP.

Na capital

Moradores da Vila Kennedy foram surpreendidos pela informação de que a tropa deverá sair ado local em até três semanas. O comando da intervenção disse várias vezes que a favela serviria de laboratório não só para patrulha e retirada de obstáculos, mas também de ocupação social. Todos acreditaram que a ação seria longa. "Quando as tropas chegaram foi um alívio porque ninguém conseguia sair de casa", contou o comerciante S., de 38 anos.

Nascido e criado na favela, ele pensa se mudar caso as tropas deixem o local. "Não quero que meus filhos passem pelo que estou passando. Nosso temor é que as coisas voltem ao que era antes. Quando as tropas chegaram, os bandidos sumiram e, quando apareciam, eram sem tanta força, sem armas. Estamos todos com muito medo", disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) passou a ter um novo comandante. Nesta terça-feira (20), o coronel da Polícia Militar, Rogério Figueredo de Lacerda assumiu a coordenação no lugar do coronel Samir Vaz Lima, que ocupava o posto há pouco mais de cinco meses. 

A mudança ocorre poucos dias após o porta-voz do comando conjunto das operações da intervenção no RJ, coronel Carlos Cinelli, confirmar que o projeto das UPPs está sendo reavaliado, contudo, não será desmontado. A assessoria de imprensa do Gabinete da Intervenção Federal disse que a mudança foi uma decisão tomada pela própria PM.

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Com 28 anos de atuação na Polícia Militar, o coronel Figueredo possui especializações em Comunicação Social e Educação Física, além de ter concluído o curso superior de Polícia Integrada e possuir MBA em Gestão de Segurança Pública. 

O militar já integrou o projeto da Pacificação, atuando como coordenador de Inteligência, em 2012, e Operacional, em 2013. Desde 2014, estava à frente do 18ºBPM (Jacarepaguá), na Zona Oeste da cidade. O batalhão compreende os bairros da Praça Seca e Cidade de Deus, que têm sofrido com intensos tiroteios nos últimos meses.    

De acordo com a assessoria da PMERJ, a gestão do coronel Samir Vaz Lima conseguiu reduzir em cerca de 50% os números de mortes de policiais nas áreas pacificadas e teria apresentado resultados positivos nas recuperações de cargas roubadas, principalmente nas comunidades do Complexo do Lins, na Zona Norte, e Vila Kennedy, na Zona Oeste. Ele vai assumir o 4º Comando de Policiamento de Área (CPA), em Niterói. 

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse que o governo federal tem "muito a comemorar" na área de segurança, no Rio de Janeiro, apesar do assassinato da vereadora Marielle Franco, na última quarta-feira (14).

Como exemplo, citou a recente apreensão de armas e de um volume recorde de cocaína, no Porto do Rio. Disse ainda que estatísticas "internas" mostram que a violência no Estado diminuiu desde que foi decretada intervenção no Estado. Ele não informou, no entanto, a quais estatísticas se referiu.

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"Só um imbecil poderia achar que em um mês (de intervenção federal) poderíamos viver num Rio de Janeiro onde não acontecessem assassinatos", afirmou, após encontro com o interventor, general Braga Neto.

Segundo o ministro, "a guerra contra o banditismo é uma prioridade para o governo federal". Por isso, os recursos serão liberados "no devido tempo". Marun disse não participar das discussões sobre valores e que não está a par das investigações do assassinato de Marielle.

Ainda assim, arriscou um prazo de conclusão das investigações. "Sessenta a 70 dias é o prazo que têm demandado as investigações de crises mais difíceis. Tenho convicção de que nesse prazo, ou em até menos, possamos comemorar o esclarecimento desses brutais assassinatos", disse na saída do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), comunicou formalmente ao plenário que permitirá a tramitação na Casa de Propostas de Emenda à Constituição (PECs) durante o período de intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro. As PECs, no entanto, só não poderão ser votadas no plenário da Câmara até 31 de dezembro de 2018.

Maia respondeu a uma questão de ordem do deputado Rubens Pereira Jr. (PCdoB-MA), que pediu esclarecimentos sobre a tramitação das PEC's na Casa. A Constituição prevê que, durante a vigência de uma intervenção federal, a Carta Magna não poderá sofrer emendas pelo Congresso.

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O deputado informou que as PECs poderão ser deliberadas nas comissões, votadas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e emendadas na comissão especial. "Na Câmara, durante a vigência da intervenção, não podem ser submetidas à votação em plenário", disse Maia. Assim, a medida impede o avanço para o plenário de PECs como a que inviabiliza o aborto legal no País (cuja votação não foi concluída na comissão especial), a da Reforma da Previdência (que estava pronta para o plenário e foi abandonada pelo governo) e a do fim do foro privilegiado (que aguarda o início dos trabalhos na comissão especial).

O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) anunciou que fará um recurso à CCJ contra a decisão de Maia por considerar que o decreto presidencial não é de intervenção total no Estado, mas uma ação específica na área de segurança pública. Nessa situação, Teixeira diz que não há impeditivo para aprovação de PECs pelo Congresso.

Apesar da intervenção federal, o Rio de Janeiro viveu mais um fim de semana de violência. Após um sábado com registros de assassinatos e assaltos, o domingo amanheceu com intenso tiroteio na comunidade da Rocinha, na zona sul do Rio.

Segundo a Polícia Militar, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha faziam patrulhamento quando foram recebidos a tiros por criminosos no Largo do Boiadeiro, dentro da comunidade. O confronto assustou moradores da região. Ainda não há informações sobre feridos, prisões ou apreensões.

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Na Baixada Fluminense, policiais do 20° Batalhão de Polícia Militar, de Mesquita, encontraram mãe e filho mortos dentro de um carro, na Avenida Tancredo Neves, em Nova Iguaçu, na noite deste sábado. Criminosos estariam atrás de Tiago Machado, mas a mãe Alba Valéria Machado acabou sendo também assassinada. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios.

A adolescente Thaynná dos Santos Marinho, de 15 anos, morreu atingida por um tiro na cabeça, na comunidade Vila Aliança, zona oeste da cidade. De acordo com a Polícia Civil, ela estava na casa do namorado, neste sábado, quando foi ferida por um disparo realizado dentro da residência. A vítima foi levada ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, mas não resistiu aos ferimentos. Agentes da Delegacia de Homicídios da Capital ouvem testemunhas e conduzem investigações para elucidar o caso.

Na madrugada de sábado, a mulher de um policial militar morreu depois de ser baleada em uma tentativa de assalto na Estrada Marechal Alencastro, na altura de Deodoro, na zona oeste do Rio. Criminosos armados tentavam assaltar automóveis que passavam pelo local na noite de sexta-feira, quando abordaram o carro em que viajavam o policial militar Bruno Oliveira e a mulher Janaína Oliveira. O policial, que estava de folga, reagiu à tentativa de assalto, e os bandidos atiraram contra o veículo. No tiroteio, Janaína foi ferida e levada ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, sendo transferida, em seguida, para o Hospital Municipal Salgado Filho, na zona norte da cidade. A vítima não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital.

Em outro assalto um jovem casal foi baleado após entregar seus pertences aos bandidos, na noite de sexta-feira. Eles foram atingidos por tiros disparados pelos assaltantes depois de serem roubados na Avenida Joaquim da Costa Lima, na altura do bairro Vilar Novo, em Belford Roxo, na região metropolitana. O casal foi levado por policiais para o Hospital Geral de Nova Iguaçu. A ocorrência foi registrada na 54ª Delegacia de Polícia.

Um arrastão na rodovia BR-101 levou pânico a motoristas que trafegavam na altura do quilômetro 303, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, na manhã de sábado. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, testemunhas relataram que veículos voltaram na contramão na rodovia, numa tentativa de fugir dos assaltantes. Agentes foram deslocados para o local, mas os bandidos conseguiram fugir. Um carro roubado que teria sido usado pelos criminosos foi encontrado abandonado às margens da rodovia. Na fuga, os assaltantes teriam roubado outro automóvel.

O Ministério Público Federal em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, instaurou inquérito civil público para acompanhar os desdobramentos da intervenção federal decretada no estado do Rio de Janeiro. A Procuradoria ainda solicitou informações ao Centro Integrado de Comando e Controle da intervenção.

O MPF informa ainda que ‘foi marcada uma audiência pública para 20 de março, às 10h, no auditório da Procuradoria da República em São João de Meriti, com o objetivo de colher demandas da população e garantir a prestação de informações pelas autoridades interventoras sobre os desdobramentos que a intervenção federal terá na Baixada’.

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As informações foram divulgadas pela Procuradoria da República do Rio de Janeiro.

Na portaria que instaura o inquérito civil público, o procurador da República Julio José Araujo Junior ressalta que "a adoção da medida excepcional de intervenção federal não afasta o dever constitucional de informação e tampouco de observância de direitos fundamentais, cuja restrição deve ser fundamentada e estará sujeita a controle judicial e a eventual análise de responsabilidade do ente ou do agente responsável, nos termos da legislação civil".

O Procurador também afirma que o fato de um servidor militar ter sido designado para atuar como interventor não altera o fato de que a medida excepcional tem natureza civil, já que as atribuições exercidas são próprias de um governador.

A portaria ainda lembra que, desde julho de 2017, foi autorizado o emprego das Forças Armadas para a Garantir da Lei e da Ordem, em apoio ao Plano Nacional de Segurança Público no estado do Rio de Janeiro, com operações militares conduzidas de forma episódica, em área previamente estipulada e por tempo limitado. Desde então, já ocorreram operações na Baixada Fluminense e há previsão de que, com a intervenção federal, outras aconteçam.

O ato de instauração do inquérito faz menção ao manual sobre a GLO aprovado pelo Ministério da Defesa, segundo o qual as atividades que impliquem mudanças na rotina da população deverão ser divulgadas pelos meios disponíveis, incluindo o esclarecimento sobre as razões que determinaram suas adoções, quando isso não prejudicar o sigilo de determinadas ações.

"Há questionamentos sobre o plano de segurança a ser adotado para a região, bem como acerca do tipo de operação adotada (GLO ou outra decorrente da intervenção), tendo em vista que a dificuldade de entendimento sobre as medidas adotadas dificulta o seu acompanhamento pela sociedade civil", esclarece a portaria de instauração.

Entre as medidas iniciais no curso do inquérito, o MPF encaminhou ofício ao Centro Integrado de Comando e Controle da intervenção para que apresente em dez dias os relatórios das operações de GLO ocorridas na Baixada Fluminense desde julho de 2017, a relação de ações que serão adotadas na região e o respectivo plano, caso exista, e as medidas que serão implementadas para promover a transparência e o diálogo com a população de forma permanente.

Defesa

COM A PALAVRA,

A reportagem entrou em contato o Ministério da Defesa, mas ainda não obteve resposta.

Militares das Forças Armadas conduzem, na manhã desta quarta-feira (7) uma operação na comunidade da Vila Kennedy, zona oeste do Rio de Janeiro. A ação, deflagrada pelo Comando Conjunto e pela Secretaria de Segurança Pública, é coordenada pelo Gabinete de Intervenção Federal.

A operação tem como objetivo cerco e "estabilização dinâmica" da área, além de desobstrução de vias, segundo nota divulgada pelo Comando Conjunto. Segundo o comunicado, é possível que sejam cumpridos "eventualmente" mandados de prisão pela Polícia Civil.

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Participam desta ação 900 militares das Forças Armadas com apoio de veículos blindados, aeronaves e equipamentos pesados de engenharia. Ruas e acessos à comunidade podem ser interditados, assim como setores do espaço aéreo estão sujeitos a controle, com restrições dinâmicas para aeronaves civis. Não há interferência, porém, nas operações dos aeroportos.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro, com apoio das Forças Armadas e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), deflagrou na madrugada desta sexta-feira (2) operações no bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo, na região metropolitana da capital.

De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança (Seseg), o Exército está responsável pelo cerco, desobstrução de vias e ações de estabilização. Cerca de mil militares participam da ação. A Polícia Civil e a PRF participam, respectivamente, com 100 e 70 agentes.

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Algumas ruas e acessos nas áreas de atuação podem ser interditadas e setores do espaço aéreo poderão ser controlados, se necessário. Segundo informações da Seseg, não há interferência nas operações dos aeroportos do Rio.

Em entrevista à imprensa após cerimônia que formalizou a sua ida para a reserva, o general Antônio Hamilton de Mourão fez críticas à intervenção no Rio de Janeiro e à classe política. "O general Braga Netto (interventor no Rio) não tem poder político, é um cachorro acuado e não vai conseguir resolver dessa forma", disse Mourão, que ficou conhecido por, entre outras polêmicas, defender intervenção militar no País. "É uma intervenção meia-sola", emendou ele, acrescentando que todos, inclusive o governador do Estado, deveriam ser afastados. "Se é intervenção, é intervenção. Já que há o desgaste, vamos nos desgastar por inteiro."

Questionado se achava que a intervenção não daria certo, ele respondeu: "Poderemos até reorganizar a Segurança Pública, que é a tarefa principal. O Rio de Janeiro é o Estado do crime organizado. Tem o colarinho branco e o ladrão de celular, e os dois níveis estão representados."

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O general Mourão disse ainda que não será candidato a cargo eleitoral, apenas à presidência do Clube Militar. No entanto, prometeu ajuda ao deputado Jair Bolsonaro, que é pré-candidato ao Planalto, em ações de planejamento. "Se tiver que subir no palanque, eu subo", prometeu.

Mourão justificou que não pretende se candidatar, alegando que o "quadro político-partidário é fragmentado". "Não sou melhor do que ninguém, mas falta substância aos partidos. O único capital que tenho é o moral. E a estrutura hoje mostra a fragilidade do regime que vivemos."

Ele prosseguiu dizendo que a moral e a virtude foram "enxovalhadas". "As pessoas entram na política não para servir, mas para se servir. Esse é o recado. Se não mudar, esse País não tem futuro."

Para o general Mourão, a mudança tem de vir pelo voto da população que precisa saber escolher os seus representantes. Ele disse também que o "Judiciário precisa fazer o papel dele e expurgar da vida pública pessoas que não têm condições de dela participar", acrescentando que esse entendimento inclui também o presidente Michel Temer. "Inclui o presidente da República, sim", disse, ao ser questionado.

Brilhante Ustra

No seu discurso de despedida, Mourão também elogiou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, responsável pelo DOI-Codi entre 1970 e 1974 e reconhecido pela Justiça brasileira como torturador. "É herói", classificou.

Regras claras

Presente à cerimônia de despedida de Mourão, o comandante do Exército, Villas Bôas, defendeu regras de engajamento claras da tropa durante as ações de intervenção no Rio de Janeiro. "São fundamentais", dizendo que cabe aos órgãos da Justiça e do Ministério Público darem respaldo a essas ações. "O Exército é uma instituição democrática, que tem um histórico de preocupação de Direitos Humanos, sem que haja qualquer tipo abuso em relação à população", destacou.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso declarou nesta terça-feira, 27, que foi pressionado diversas vezes durante seus oito anos de mandato a autorizar uma intervenção federal na segurança pública dos Estados, mas que resistiu à possibilidade justamente porque a medida impede a aprovação de emendas constitucionais.

Em sua participação no Fórum Estadão: A reconstrução do Brasil, organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, na capital paulista, o tucano não quis opinar sobre a necessidade de uma intervenção do tipo no Estado do Rio, mas disse que o enfrentamento do tema passa pelo combate à corrupção nas forças policiais e também por medidas que possam integrar as polícias militar e civil.

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FHC defendeu ainda uma nova forma de enfrentar a questão das drogas no País. "Como venho dizendo há muito tempo, temos que combater o tráfico de drogas de maneira diferente, não apenas de forma repressiva", disse, acrescentando que o combate ao tráfico de armas - que é o que possibilita às facções criminosas o controle de grandes áreas nas cidades brasileiras -, precisa ser feito de maneira igualmente prioritária.

Questionado sobre a decisão do governo Michel Temer de colocar um militar no comando do Ministério da Defesa, Cardoso afirmou que, no passado, a nomeação de um civil para a pasta era um ato simbólico, que mostrava qual poder prevalecia. "Agora, não acho que exista mais essa questão. Tem que ver qual é mais eficiente", ponderou.

O ex-presidente avaliou no entanto, que é um expediente tradicional dos governos na América Latina recorrerem aos militares quando sentem que sua autoridade está vacilante. "Governos, sobretudo quando não são fortes, apelam para os militares, que têm estrutura com hierarquia". disse.

O Observatório Jurídico da Ordem dos advogados do Brasil - Seccional Rio de Janeiro (OAB/RJ) vai pedir explicações ao interventor federal no Estado, general Walter Braga Netto, sobre os critérios utilizados para o fichamento de moradores de comunidades durante as operações militares de segurança ocorridas na sexta-feira, 23.

Segundo o professor de Direito Constitucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rodrigo Brandão, que integra o observatório, algumas ações de identificação executadas em três comunidades são inconstitucionais. Um ofício da OAB será expedido ainda nesta segunda-feira, 26, para Braga Netto.

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"O fichamento foi objeto de discussão na nossa reunião de hoje (segunda)", afirmou Brandão, referindo-se ao primeiro encontro de trabalho do observatório, criado na quinta-feira, 22, para acompanhar a intervenção federal no Rio. "A prática do fichamento sem uma regulamentação pública e objetiva nos pareceu inconstitucional. Determinamos a necessidade de se oficiar o interventor para que ele forneça os critérios do fichamento aplicado nas comunidades."

Brandão reconhece que a identificação precisa ser feita de alguma forma, uma vez que há diversos mandados de prisão pendentes que precisam ser cumpridos mas, segundo ele, esta não pode ocorrer de forma inconstitucional.

O soldado A. viveu dias de apreensão às vésperas da operação conjunta das Forças Armadas e da polícia na Cidade de Deus, zona oeste do Rio, pouco antes do carnaval. Seu temor era ser convocado para atuar na própria comunidade onde nasceu, foi criado e ainda vive com a família. A., a mãe e a avó só se sentiram aliviados quando saiu a escala de serviço: o rapaz, militar há um ano, fora designado para atividades no quartel.

"Seria muito desconfortável. Tem gente que cresceu comigo e hoje está no tráfico. Não sei como ia reagir na hora H", contou A., revelando um drama pelo qual vêm passando praças envolvidos na intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro.

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Jovens como A., oriundos de comunidades pobres, que ingressaram nas Forças Armadas em busca de emprego estável e ascensão social, temem ser vistos por traficantes no papel de inimigo. Isso poderia desencadear represália para si e para parentes. Para se resguardar, quando em missões nas favelas, eles usam máscaras que cobrem o rosto inteiro - apenas os olhos ficam de fora.

"Até hoje fui poupado, eles dão preferência a pessoas de fora. Mas se tiver de ir, não vai ter jeito. Vou fazer tudo para não ser reconhecido", disse A.. "Eu não me envolvo com ninguém, mas tenho amigo do lado de lá. Todo mundo tem. Procuro nem passar perto. Acredito na intervenção e na construção de um Rio e um País melhor se as operações forem sérias. Só não adianta fazer operação e sair. Tem de ficar", continuou.

Segundo A., é comum que informações sobre as investidas militares cheguem antes aos ouvidos dos traficantes, por causa da convivência natural nas favelas. "Eu nunca informei, mas um vai comentando com o outro, e todo mundo acaba sabendo", explicou o jovem.

O soldado não imaginava que o cerco à Cidade de Deus antecederia a intervenção, decretada pelo presidente Michel Temer (MDB) após o carnaval, com duração prevista até 31 de dezembro. A preocupação com a situação dos jovens que servem nas comunidades já existia desde que foi decretada a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), há sete meses. Foi quando começaram ações conjuntas entre militares e policiais no combate à violência no Rio.

Auxílio-moradia

Em janeiro, ao defender a volta do auxílio-moradia para militares, extinto em 2000, o comandante da Marinha, almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, declarou que o benefício era fundamental porque as famílias do contingente empregado em áreas com tráfico "ficam vulneráveis e são ameaçadas". O almirante também considerou que "o risco de contaminação da tropa (pela proximidade com os traficantes) é grande". A fala foi endossada pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas.

Militares que participaram em 2017 de ações na Favela da Rocinha, zona sul, também temeram ser identificados. Ali, havia agravante: a comunidade era dominada por bandidos de uma quadrilha que se dividiu em duas facções diferentes - Amigo dos Amigos e Comando Vermelho - e entraram em confronto. A parcela do efetivo de moradores de lá ou de outras favelas sob o jugo de bandidos desses grupos se sentiu duplamente ameaçada. Alguns chegaram a usar máscaras com desenho de caveira, o que causou medo na população e reação nos superiores, que mandaram que fossem retiradas. "Incomoda demais (a máscara). Gera terror", contou um morador da Kelson's que testemunhou operações militares em sua comunidade no início da semana. Porém, diz, é compreensível que os soldados queiram se resguardar.

Uma representante comunitária da Cidade de Deus confirma que os jovens alistados no serviço militar vivem o dilema entre o dever e o risco que correm. "Os rapazes da comunidade que servem nas Forças ficam nessa tensão. Os moradores sabem quem se alistou, as mães comentam, as famílias comemoram. Com operações frequentes, muda de figura. Eles saem à paisana e trocam a roupa no quartel", contou uma representante comunitária da Cidade de Deus.

Guerra

Liderança do Complexo do Chapadão, na zona norte, Gláucia dos Santos denunciou à Anistia Internacional o barril de pólvora que pode se tornar um confronto que divide jovens que foram criados juntos e têm armas de alto calibre nas mãos. "Estão tentando criar uma guerra nas favelas", disse Gláucia, cujo filho de 17 anos foi morto pela polícia em 2013. "A maioria que vai para o Exército é favelada e há essa rivalidade com os que foram para o tráfico. Eles vão enfrentar o próprio povo: vão se matar."

Fundador da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa foi um dos primeiros a chamar a atenção para a questão. "Os soldados são moradores das comunidades, e isso causa dois problemas: a possibilidade de informações sobre as operações vazarem e os jovens sofrerem retaliações, virar alvo, especialmente se houver muitas baixas. O interventor deve cuidar."

O Comando Militar do Leste (CML) informou que já toma precauções para a segurança dos militares que moram em favelas e vai intensificá-las. Mas admitiu que nem sempre é possível alocar apenas jovens que não sejam das proximidades da área em que vão atuar. O uso de balaclavas (toucas ninjas que cobrem o rosto) é permitido. Mas o pano deve ser escuro e sem desenhos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, lançou neste sábado, 24, no Rio de Janeiro, para prefeitos, secretários e políticos do Estado, o Observatório Legislativo da Intervenção Federal da Segurança Pública do Estado do Rio.

A ideia é acompanhar de perto a intervenção decretada no dia 16 de fevereiro, dando transparência aos dados que serão produzidos pelo Exército, como prisões e operações, e acompanhando o orçamento destinado.

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"O planejamento (da intervenção) ainda está sendo elaborado. Queremos que saia o mais rápido possível, porque não podemos ficar nesse limbo, de ter a intervenção, mas não ter o planejamento", disse Maia ao encerrar o evento que lotou o auditório de um hotel na zona sul do Rio.

Perguntado se a ação realizada pelo Exército na sexta-feira, 23, de fotografar e fichar os moradores de três favelas do Rio, não seria um abuso contra os direitos humanos, Maia se esquivou dizendo que "é muito perigoso criticar a operação no seu início", mas afirmou que assim que o Observatório for instalado, na próxima quinta-feira (1º de março), as ações da intervenção serão analisadas e se tiver havido abuso, "a denúncia será encaminhada para órgãos competentes".

Ele afirmou que o Estado "não está sofrendo um momento de restrição de direitos" e que a população "acha positiva a intervenção". "Não é ele (Estado) que impede o direito de ir e vir delas (pessoas), é o tráfico", concluiu.

Mais cedo, a deputada Jandira Feghali (PCdoB) afirmou que políticos fluminenses vão formar também uma Comissão Externa para fiscalizar a intervenção, e criticou o comportamento do Exército até o momento.

"Não tem planejamento, o decreto (da intervenção) é um cheque em branco para as Forças Armadas, vamos acompanhar e denunciar qualquer abuso", disse a jornalistas.

Rodrigo Maia não soube informar quantas pessoas formarão o Observatório, mas garantiu que será composto apenas por servidores federais, que ficarão sediados no Rio de Janeiro. Além da fiscalização da intervenção, o observatório vai acompanhar também a situação da educação e da saúde do Rio, para diagnosticar como esses setores podem melhorar, evitando que o "jovem vá para o tráfico", nas palavras de Maia.

São 536 as propostas de emenda à Constituição (PECs) que estão impedidas de tramitar no Senado até o fim deste ano, quando encerra a intervenção federal na segurança pública no estado do Rio de Janeiro. O levantamento é da Secretaria de Informação Legislativa da Casa. Dessas, 80 já estavam prontas para serem incluídas na ordem do dia para votação no Plenário.

Outras duas PECs estão aguardando alguma decisão da Mesa do Senado; 17 esperam inclusão de requerimento na ordem do dia; 74 estão prontas para serem votadas na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ); 73 estão com os respectivos relatores e nove aguardam a realização de audiências públicas solicitadas pelos senadores.

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Há ainda outras 269 PECs aguardando a escolha de seus relatores, duas em espera para atender pedido de vista, uma sobrestada e oito sem informações de tramitação. Uma proposta de emenda à Constituição já estava na pauta de votações do Plenário do Senado.  Esta PEC trata justamente da segurança pública, tema definido como prioritário pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira, no início do ano legislativo e área que sofreu intervenção decretada pelo presidente da República, Michel Temer, no Rio de Janeiro.

É a PEC 118/2011, de autoria do então senador Pedro Taques, atual governador do Mato Grosso, que proíbe o contingenciamento de recursos destinados ao Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Isso significa que tudo que o Orçamento da União destinar aos projetos aprovados para a área nos estados e municípios deverá ser integralmente repassado.

O FNSP foi criado em 2001 e é formado por dotações orçamentárias, doações e subvenções de entidades públicas ou privadas. Destina-se a reequipamento, treinamento e qualificação das polícias; sistemas de inteligência, modernização da polícia técnica, programas de polícia comunitária e prevenção ao crime, entre outras iniciativas estaduais e municipais. Os valores do fundo são gastos em projetos que não podem ter duração superior a dois anos.

Educação básica

Já a PEC 32/2013 estava pronta para ser incluída na pauta de votações da CCJ. De autoria do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), a proposta estabelece como responsabilidade da União o financiamento da educação básica pública.

A educação básica é formada pela educação infantil (para crianças até cinco anos), ensino fundamental e ensino médio. Hoje, os dois primeiros níveis são prioridade dos municípios e o terceiro, dos estados e do Distrito Federal. À União cabe manter instituições federais públicas de ensino tecnológico e superior, além da função de garantir igualdade de oportunidades educacionais e qualidade do ensino, mediante assistência técnica e financeira aos demais entes.

Candidaturas avulsas

A PEC 16/2015 também já estava prestes a entrar na pauta da CCJ. De autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), a matéria abre a possibilidade de apresentação de candidaturas a cargo eletivo sem a obrigatoriedade de filiação partidária — as chamadas candidaturas avulsas ou independentes. Conforme o texto, pessoas não ligadas a partidos poderão concorrer desde que obtenham um apoiamento mínimo de eleitores.

Por sua vez, a PEC 115/2011, do senador Paulo Bauer (PSDB-SC), proíbe a cobrança de impostos sobre medicamentos de uso humano. A proposta já estava pronta para começar a ser discutida em Plenário, assim como a PEC 55/2012, do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que extingue o voto obrigatório no Brasil.

Há também propostas aguardando ações do relator, como a PEC 106/2015, que diminui o número de deputados federais de 513 para 386, e de senadores, de três para dois por unidade da federação. O relator na CCJ é o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Constituição

A Constituição Federal de 1988 proíbe, em seu art. 60, que o texto constitucional seja emendado durante a vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Logo depois de iniciada a intervenção no estado do Rio de Janeiro, os presidentes do Senado e da Câmara determinaram a paralisação de todas as PECs nas duas Casas.

Levantamento recente da Câmara mostrou que lá o número de PECs suspensas é um pouco superior ao daquelas com tramitação suspensa no Senado. No total, mais de 1.100 propostas de emenda à Constituição ficarão paradas no Congresso Nacional à espera dos desdobramentos finais da intervenção do governo federal na segurança pública de um dos principais estados do país.

*Da Agência Senado

A Força Aérea está realizando o levantamento eletrônico de áreas estratégicas do Rio, no âmbito da operação de Garantia da Lei e da Ordem, por meio dos aviões sem piloto do Esquadrão Hórus, transferidos da base de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Os Veículos Aéreos não Tripulados (Vants) terão agora as ações intensificadas e expandidas, eventualmente envolvidos na vigilância das linhas de divisa com os Estados vizinhos.

De acordo com um oficial da Aeronáutica, além de monitorar os principais eixos rodoviários, as aeronaves têm capacidade para observar grandes porções do terreno e identificar situações de anormalidade também nas estradas secundárias. O principal Vant brasileiro (ou drone, na denominação internacional) é o Hermes RQ-450. Cada um custa em média US$ 2 milhões, pode permanecer 20 horas no ar e a altitudes de até 5,5 mil metros. A versão da FAB não incorpora armas.

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Dois helicópteros pesados H-36 Caracal foram colocados à disposição das atividades de garantia da segurança. São os maiores da frota. Cada um transporta 29 soldados armados, mais dois tripulantes à distâncias de até 800 quilômetros e pesam cerca de 11 toneladas. O Caracal é preparado para receber metralhadoras pesadas em suportes laterais.

A infantaria da Aeronáutica será mobilizada nas ações que atinjam aeroportos e estruturas da aviação, incorporada aos quadros do Exército e dos fuzileiros da Marinha. Segundo o brigadeiro Nivaldo Rossato, comandante da Aeronáutica, "a FAB está pronta para participar das ações de intervenção". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao explicar que o processo que culminou com a intervenção foi precedido por diversas conversas, o presidente da República, Michel Temer, revelou que recebeu até a sugestão de que o governo federal destituísse o governador Luiz Fernando Pezão. "Seria muito radical e refutei", disse, sem querer nomear o autor da ideia. "Foi uma conversa generalizada. Aconselharam, mas quem toma as decisões é o presidente", disse. Segundo Temer, durante o processo de decisão "não houve nenhuma ordem dos militares", apenas "consultas e trocas de ideias".

Mesmo classificando a intervenção na Segurança Pública do Rio como "jogada de mestre", o presidente disse nesta sexta-feira (23) que não colocou as Forças Armadas "numa fria" e ressaltou que o sucesso ou não da operação será uma responsabilidade do seu governo. "Se não der certo, não deu certo o governo, porque o comandante supremo das Forças Armadas é o presidente da República", disse, ressaltando que os militares "nada mais fizeram do que obedecer ao seu comandante".

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Temer assegurou que as tropas terão respaldo para agir até em episódios que exijam confronto e, conforme a lei, o julgamento de casos acontecerá na Justiça Militar. "Esperamos que não aconteça. Se houver necessidade e for necessário é para partir para o confronto", destacou Temer, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

O presidente fez questão de ressaltar que a ideia da intervenção não é agredir os direitos humanos e salientou que no ministério da área está sendo criado um grupo para acompanhar as ações. "Se não me engano, no Ministério Público também vão acompanhar."

Sobre o monitoramento em comunidades carentes, Temer disse não se tratar de ocupação e sim de "inspeções". "Tenho certeza de que apoiadas pelos moradores", afirmou. "O que não se podia suportar mais é crianças morrendo com balas perdidas, jovens, soldados, as escolas fechadas", completou.

Radical

Para o presidente, a violência no Rio chegou a um ponto que, se não houvesse a intervenção, não seria mais possível habitar a cidade. Para refutar mais uma vez a hipótese de que as Forças Armadas estariam no comando, Temer disse que decretou uma intervenção "cooperativa e não militar". "É uma intervenção civil, mas se escolheu um nome de um militar (para ser o interventor)", disse, em referência ao general de Exército Walter Souza Braga Netto, interventor na segurança do Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A intervenção federal no Rio de Janeiro fez com que as menções ao presidente Michel Temer nas redes sociais dominassem a discussão sobre segurança pública na última semana, mostra levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Com o protagonismo de Temer, o presidente superou o volume de menções no Twitter em comparação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Enquanto Temer foi citado 439.634 vezes de 15 a 21 de fevereiro, Lula recebeu 330.949 menções e Bolsonaro, 289.737.

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Na associação específica sobre segurança pública, Temer teve 123.685 menções a seu nome no período, enquanto Bolsonaro, que geralmente ocupa o protagonismo do tema, recebeu 57.191 citações, menos da metade em relação ao presidente.

A medida no Rio, destaca o relatório, fez aumentar também as discussões sobre uma possível candidatura do presidente. O tema eleições associado ao emedebista recebeu 145.706 interações no período, bem à frente de Lula (74.686) e Bolsonaro (74.116).

"O protagonismo de Temer fez com que o presidente superasse o volume de menções ao ex-presidente Lula e a Bolsonaro nas redes sociais ao longo da semana, apresentando-se em destaque entre os atores da corrida eleitoral de outubro", diz o relatório. "O decreto recoloca Michel Temer no cenário eleitoral com pauta antes dominada por Jair Bolsonaro."

Já no Facebook, ao contrário do que se verificou no Twitter, Temer apresenta desempenho discreto. "Vale observar que a pauta de intervenção federal na segurança do Rio tem sido extensivamente divulgada por diferentes personagens e setores do governo federal, até mesmo em propagandas, mas Temer pouco usa a página pessoal para repercuti-la, e são poucos os perfis que interagem diretamente com o perfil político de Temer, e não institucional", diz o estudo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, reconheceu que "há uma preocupação" no governo com a possibilidade de "migração do crime", após a intervenção federal decretada no Rio de Janeiro. Jungmann citou, no entanto, que isso "acontece sempre que as forças de segurança agem com mais rigor" em uma determinada região.

Segundo o ministro, a reunião que está ocorrendo do ministro da Justiça, Torquato Jardim com os secretários de segurança do Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo é fundamental para discutir como barrar o deslocamento das quadrilhas para os demais estados. Mas lembrou que "o crime já e nacional" e, por isso, "é importante a participação dos estados" para coibir o avanço sobre os demais estados.

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Raul Jungmann afirmou ainda que o novo Ministério da Segurança Pública, a ser criado pelo presidente Michel Temer, irá facilitar este trabalho de integração de combate ao crime no País, no entrosamento e discussão de ações conjuntas entre os estados.

Na entrevista, Jungmann sinalizou ainda que, na semana que vem, o Comandante Militar do Leste, general Walter Braga Netto, deverá anunciar um plano de operação da intervenção. Não deu, no entanto, nenhum detalhe sobre o planejamento, embora ressalvasse que as Forças Armadas "estão e estarão integralmente empenhadas nessa missão". O ministro explicou que Braga Netto está no Rio, já reunido com seu Estado Maior para detalhamento do trabalho a ser desenvolvido.

Para o ministro, "é um cenário plausível a migração do crime", acrescentando que ela já ocorre hoje, por exemplo, dentro do próprio Rio de Janeiro, ou em Pernambuco, ou Goiás. " E é claro que preocupa", emendou. "Onde você tem uma eficácia maior das forças de segurança, o crime migra e nós temos sim esta preocupação e temos de ter e de cuidar para que ela não se corporifique", prosseguiu o ministro. Ele acrescentou que "o presidente tem urgência" em anunciar a criação do Ministério, mas não sei quando será anunciado. "O ministério vai vir e deverá aglutinar todos os órgãos federais na área de segurança e os fundos que dizem respeito a isso", comentou.

Jungmann afirmou que não há definição sobre recursos que serão repassados para o Rio de Janeiro, por conta da intervenção. Ele citou que, para 2018, para as ações de Garantia da Lei e da Ordem, pela primeira vez, foi incluído no orçamento verba de R$ 100 milhões para ser empregada ao longo do ano. Estes recursos, no entanto, ainda não começaram a ser usados.

Ao ser indagado se seria possível recuperar a estrutura policial do Rio de Janeiro, que estaria sucateada por falta de recursos, o ministro da Defesa rebateu a tese dizendo que "eles têm dinheiro no orçamento".

De acordo com Jungmann, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, encaminhou a sua proposta de resgate fiscal do estado e o que ele se queixa é da demora com que esses recursos têm chegado ao Estado e a Fazenda responde que é por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal e outras normas. "Eu acho que é preciso mais velocidade (na liberação dos recursos). Antes da gente discutir o reforço a mais, porque se for necessário, o presidente Temer tem um compromisso com isso, é preciso fazer com que aconteçam os acordos, que eles sejam cumpridos", defendeu Jungmann. "Mas acho que a força policial, no Rio de Janeiro, ou em qualquer lugar, se estiver sucateada, não atende à necessidade de segurança da população", declarou ele, sem querer admitir se a estrutura do Rio está ou não sucateada.

O ministro da Defesa voltou a criticar o modelo do sistema de segurança pública que existe no País, criado pela Constituição de 88. "Está falido", repetiu o ministro, ao citar a importância da criação do Ministério da Segurança neste novo contexto e ao reiterar que o crime, além de estar internacionalizado, é nacional, e está espalhado por todos os Estados.

Questionado sobre o projeto de liberalização do porte de armas que poderá ser votado no Congresso, Jungmann disse que não conhece o seu teor e se será votado ou não. "Eu sou um defensor do controle de armas. É uma posição histórica de que armas têm de ser muito reguladas até porque acho que, mais armas, não significa mais segurança ou mais paz", declarou.

As declarações de Jungmann foram dadas na saída da reunião do Conselho Militar de Defesa, que contou com a participação do presidente Michel Temer e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Temer, na saída do encontro, limitou-se a dizer que na reunião foi feita uma "exposição sistêmica de tudo aquilo que as Forças Armadas fazem", mas não falou de Ministério da Segurança ou da intervenção no Rio.

A atuação das Forças Armadas na segurança pública não ajuda na redução da violência nas grandes cidades brasileiras. A conclusão está no mais recente relatório da Anistia Internacional, "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo 2017/2018", divulgado nesta quarta-feira, 21, na primeira semana da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro.

O relatório mostra que embora os militares venham cumprindo cada vez mais funções policiais e de manutenção de ordem pública, o número de homicídios no Brasil em 2016 foi recorde: 61.619 pessoas, a maior parte delas por armas de fogo.

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"Nosso levantamento mostra que a presença militar não resultou em melhora dos indicadores de violência", afirmou a diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck. "O governo federal já tinha anunciado um plano de segurança pública no início do ano passado, que não foi colocado em prática. A atual intervenção (no Rio) me parece uma medida inadequada e extrema que coloca em risco os direitos humanos da população, sobretudo da população mais pobre, das favelas e das periferias."

De acordo com o relatório, entre janeiro e novembro do ano passado, 1.035 pessoas foram mortas no Rio de Janeiro durante operações policiais. As ações da polícia em favelas costumam ser muito violentas, altamente militarizadas, de confronto e, por isso, causam milhares de mortes todos os anos, inclusive de policiais no exercício da função. Especialistas temem que, com a presença maciça das Forças Armadas, o quadro se agrave ainda mais.

"A política de segurança pública ainda insiste na chamada 'guerra às drogas' e na militarização", disse Jurema. "Sem uma mudança de estratégia, o resultado continua o mesmo: mortes e violações dos direitos humanos em sua maior parte contra a população negra e periférica." A Anistia Internacional rechaçou o uso da expressão "guerra" para se referir aos conflitos envolvendo facções criminosas no Rio de Janeiro.

"Vivemos um quadro de crescente violência, em que o crime organizado exibe poder de força letal, de crise profunda na segurança pública. Mas não estamos em guerra, não podemos aceitar essa narrativa", explicou a assessora de direitos humanos da Anistia Internacional, Renata Nader. "Porque, numa guerra, o objetivo não é proteger as pessoas, mas sim, eliminar o outro. E quem é o outro? Em geral, o jovem negro e favelado."

Mais violência

Gláucia dos Santos, moradora da comunidade do Chapadão, um complexo de favelas na zona norte do Rio, cujo filho de 17 anos foi morto pela polícia com um tiro de fuzil, teme pelo recrudescimento da violência. A comunidade foi uma das primeiras a serem ocupadas por militares.

"Nós não estamos em guerra, mas estão tentando criar uma guerra nas favelas: muitos soldados são também moradores das comunidades", afirmou. "E vai ter essa intervenção aqui na zona sul? Em Copacabana? Nos apartamentos? Ou só nas favelas?", questionou.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse que o governo não desistiu da necessidade de solicitar à Justiça mandados coletivos durante operações a serem realizadas no Rio de Janeiro. "Não é o problema se o governo recuou, não recuou. Não é nada disso. A necessidade é que vai dizer (se precisa do mandado para uma área), e o juiz é soberano para conceder ou não conceder", declarou Jungmann, após a cerimônia de lançamento do Sistema Integrado de Alerta de Desmatamento, nesta quarta-feira, 21. Para o ministro, "estamos vivendo aqui uma falsa polêmica".

Jungmann afirmou ainda que "a jurisprudência não está consolidada" para esse tipo de pedido. "A última palavra não é nossa, é sempre do juiz, que dá ou não (o mandado coletivo)", afirmou, acrescentando que "o uso do mandado coletivo é excepcional".

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Segundo o ministro da Defesa, não há divergência entre o seu discurso e o do ministro da Justiça, Torquato Jardim, sobre os mandados. "O juiz é quem decide, e quero lembrar que esses mandados foram feitos às dezenas, talvez às centenas, no próprio Rio de Janeiro", disse. Jungmann ressalvou que, "sempre que for necessário para salvar vidas, para ir onde está ocorrendo o crime, numa situação onde você não sabe, naquela região, precisamente onde está ocorrendo este crime, como não ir ao juiz e solicitar (o mandado) naquela área?". De acordo com o ministro, nesses casos "você dá as coordenadas e pede ao juiz e ele dá ou não (o mandado coletivo)".

Jungmann disse ainda que é preciso distinguir a intervenção federal, "que é civil e diz respeito ao Estado do Rio de Janeiro", das ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), executadas pelas Forças Armadas e de âmbito federal. Para as ações de GLO em todo o País, segundo Jungmann, há R$ 100 milhões previstos no Orçamento de 2018. São recursos que, de acordo com o ministro, independem, por exemplo, do novo empréstimo de R$ 1 bilhão que o Rio está negociando com a União.

Ainda de acordo com o ministro, o Exército ainda está utilizando recursos do Orçamento de 2017 para as GLOs. "Os R$ 100 milhões estão no Orçamento (deste ano) e serão usados na medida das nossas necessidades. Se precisarmos de mais, vamos pedir suplementação, porque o presidente disse que não faltarão recursos para o Rio de Janeiro."

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