Tópicos | Maíra Azevedo

A atriz e jornalista baiana Maíra Azevedo, conhecida como "Tia Má", chegou ao Recife neste sábado (18) para comandar o painel da 2ª edição da Expo Preta, exposição autoral voltada ao afroempreendedorismo e empoderamento de pessoas negras. O evento, que acontece no mês em que a Consciência Negra é celebrada, é sediado no shopping RioMar, na Zona Sul da capital pernambucana. A programação é gratuita e se encerra neste domingo (19), às 21h.

Em entrevista ao LeiaJá, Tia Má celebrou a chegada ao Recife e disse estar ansiosa para conhecer o também jornalista e ativista negro Pedro Lins, que dividirá com ela o painel de exposições culturais e artísticas. 

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“Já conheço Recife e adoro o Recife. Sou apaixonada pelo Nordeste brasileiro. Sempre digo que sou muito bairrista, tenho orgulho de ser baiana e nordestina, e acho que a gente tem a melhor região. Conheço Pedro das redes sociais, e a gente sempre troca carinhos virtuais, mas é a primeira vez que a gente vai se encontrar pessoalmente. A ideia do painel é exatamente fortalecer essas pessoas, é um painel de exposição. Às vezes a gente esquece a importância de expor, de mostrar o trabalho da gente. Sempre falo, como comunicadora, que não basta ter o empreendimento, é preciso comunicá-lo. Anuncie a mercadoria, diga o que está vendendo. A comunicação é fundamental para quem empreende", disse a artista.

Para Maíra, empreender "é natural para gente preta". Formada em jornalismo e também atuante no teatro, Maíra Azevedo passou a receber destaque nacional após investir na criação de vídeos para as redes sociais. O que surgiu como uma atividade de lazer, para matar o tempo em que passava no trânsito, acabou se tornando uma ponte para trocar experiências com outras pessoas, dar conselhos e oferecer ajuda. O público da atriz é majoritariamente feminino e, em especial, formado por mulheres pretas. Assim, para ela, empreender tornou-se também sobre vender ideias e saber "se jogar" enquanto profissional e pessoa pública.

“Fui entendendo que eu não falava só do que me atingia; quando eu falo de violência contra a mulher, de combate ao racismo, de combate às diversas formas de opressão, não falo só de mim, falo de milhares de pessoas. No início, eu tinha muita resistência, levava sempre como uma brincadeira. A gente sabe que, antigamente, trabalhar com rede social por muito tempo era visto como algo ruim, pejorativo, "blogueirinha". Eu não queria ser uma blogueirinha, até entender o impacto e a força desse trabalho. É importante comunicar para além dos meios tradicionais. Poder falar com mulheres pretas, com a cara parecida com a minha, que elas não devem se sujeitar a qualquer coisa, pra mim, é um grande trabalho de comunicação", acrescentou a comunicadora.

Expo Preta RioMar

A segunda edição da Expo Preta começou nessa sexta-feira (17) e vai até o domingo (19), no Shopping RioMar Recife. O evento vai reunir mais de 50 afroempreendedores de várias partes da Região Metropolitana e uma rica programação cultural, contando este ano com a presença da rapper Negra Li, Tia Má e a grife Negra Rosa. A curadoria do evento é do Futuro Black. Como novidade na programação deste ano haverá um desfile de moda, comandado pelo estilista senegalês Lassana Mangassouba. 

Confira a programação completa 

Dia 17/11 (Sexta-feira)

13h, 14h e 15h – Oficinas de Afrobetização – Jogos de leitura e contação de histórias, com Gláucio Ramos   

16h – Apresentação de Jason MC 

16h30 – Apresentação de Alaka MC  

17h – Apresentação de Bione  

17h30 – Painel “Protagonismo feminino na arte”, com Tássia Seaba e Nathê Ferreira. Mediação de Rafaella Gomes. 

19h – Abertura oficial da Expo Preta RioMar, com show de Negra Li e apresentação de Pedro Lins 

19h às 21h – DJ Rainha do Recife 

Dia 18/11 (Sábado)

13h – Apresentação da Twerk Recife  

14h – Painel “Histórias que inspiram”, com Edna Dantas e Jarda Araújo. Mediação de Julio Pascoal.  

15h – Apresentação do “Maracatu Encanto do Pina” 

15h30 – Painel “Letramento Racial”, com Manoela Alves e Diogo Ramos. Mediação de Dayse Rodrigues  

16h30 – Apresentação do Afrobaile B2B Baile Charme, com DJ Boneka  e Phino  

17h10 – Desfile de moda africana com o estilista Lassana Mangassouba 

18h – Painel com Tia Má e mediação de Pedro Lins   

19h – Painel: “Educação Financeira”, com Viviane Silva 

20h às  21h – Apresentação do DJ Makeda 

Dia 19/11 (Domingo)

12h – Painel “Saúde Mental e Saúde Integrativa”, com Maria Beatriz e Andreza dos Anjos 

12h30 às 14h – Apresentação da DJ VIBRA 

13h30 – Desfile Moda Mangue  

14h – Apresentação “Toda Música tem história pra contar”, com Kemla Baptista 

15h – Painel “Comunicação antirracista”, com Sharon Baptista e Lenne Ferreira. Mediação de Thiago Augustto.    

16h – Painel ”Religiões de matrizes africanas”, com Neto de Osa e Janielly Azevedo. Mediação de Jamesson Vieira.  

17h – Apresentação das Sereias Teimosas 

17h30 – Pocket do Espetáculo “Território de Passos e Sonhos” do Balé Deveras 

18h – Pocket Show de Gabi do Carmo  

20h – Apresentação de Afromaica

“Mulher preta, jornalista, nordestina, gorda, mãe solo. Alguém que aprendeu sobreviver diante das diversas perversidades e decidiu não se furtar diante da luta. Alguém que percebeu que é importante se posicionar, porque quando você faz isso é uma forma de resistência. E se você resiste, você continua resistindo”, é assim que Maíra Azevedo, mais conhecida como Tia Má, se define.

Um sucesso nas redes sociais, a jornalista soma mais de 200 mil fãs na internet. Seus vídeos rendem vários compartilhamentos e muita repercussão. Com seu jeito simpático e irreverente de falar sobre assuntos cotidianos, a youtuber já totaliza milhões de visualizações. Levantando a discussão sobre empoderamento negro, feminismo e representatividade da mulher negra, Tia Má foi eleita uma das mulheres negras mais influentes da internet, em 2015.

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Com tanta repercussão, hoje ela é colaboradora do programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo, e roda o Brasil com o seu stand-up Tia Má com Língua Solta. Em visita ao Recife para participar de um evento promovido pela Prefeitura do Recife, em comemoração ao Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha, Maíra concedeu entrevista ao LeiaJá para compartilhar um pouco sobre sua carreira, visão sobre questões de representatividade no país e empoderamento.

LeiaJá: Você foi a primeira mulher negra a ter um stand-up no país. Como foi a receptividade do “Tia Má com Língua Solta”?

Maíra Azevedo: Para mim, é uma grande surpresa, porque de fato as pessoas queriam isso. Era pedido alguém que falasse por elas. A gente é muito carente ainda no quesito representatividade negra na arte e nos palcos. E quando, de repente, uma mulher fazendo humor, mas de forma que não deprecia, mas, sim, celebrando a diversidade é algo fantástico. Eu já lotei teatros fazendo piadas com a graça das nossas forças, mas não das nossas fraquezas.

LJ: Em seus discursos você já falou que usa o humor como uma ferramenta de reflexão. Para tanto, houve alguma preparação antes do stand-up ir aos palcos? Como foi o processo de montagem?

MA: Não houve esse processo. Eu não me percebi uma pessoa engraçada, mas meus amigos sempre diziam que riam comigo. Eu achava, até então, aquilo muito diferente. Foi quando um grupo de amigos - Lázaro Ramos e Elísio Lopes Júnior - disseram que meu jeito e forma de falar deveria encontrar espaço nos palcos. Na verdade, foi através do chamado deles dois que me fez ter coragem para sair das redações e encarar os palcos.

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

LJ: Hoje você participa como uma das colaboradoras do programa Encontro com Fátima Bernardes, na Rede Globo. Na sua análise, qual a importância de ter a presença negra em um espaço que é predominado por pessoas brancas? E como você se sente de fazer parte desse espaço?

MA: Eu sempre falo que quando estou ali eu acabo representando até quem não se sente representada por mim. É um lugar de honra, privilégio, mas, também, de muita responsabilidade. O racismo faz com que a todo momento eu esteja sendo testada. Tenho a certeza que existem pessoas que esperam um erro ou equívoco meu no ar.

É isso, quando uma pessoa preta erra ela entra no limbo. A branquitude racista detesta que eu esteja ali, justamente por causa do meu discurso de empoderamento e que sai do óbvio. Sendo esse, que se propõe a fortalecer essas pessoas que são historicamente oprimidas. Para essas pessoas com esse pensamento, é muito ruim ter a minha presença naquele lugar, ocupando aqueles espaços. Mas, eu sempre digo que estar ali não é só uma vitória minha, é uma conquista coletiva de pessoas que vieram antes de mim.

LJ: Nos últimos anos, a presença de personalidades negras no cinema e TV tem sido discutida. Há uma falta de representatividade em funções importantes nesses espaços. O que realmente falta para modificar esse cenário?

MA: Realmente, é uma questão que está inteiramente ligada ao racismo. A gente precisa tratar dessas questões. A mulher negra é a base da pirâmide social. Então, quando eu digo que participar de programas de TV é uma questão de representar até quem não se identifica é porque a mulher negra vai ter que lutar contra o machismo e, também, contra o racismo. Há essas duas problemáticas.

E para muitas pessoas, ocupar esses espaços ainda é algo imaginável. Ainda é essa mesma parcela da população, que acredita que o lugar da mulher negra é na cozinha e no bastidor. Devendo assumir uma figura animalesca e de fetiche. Estar na TV é um lugar de poder e estou lá ocupando esses espaços com muita luta e dedicação.

O livro 'Sejamos Todos Feministas', da escritora negra Chimamanda Ngozi Adichie, propõe, entre outras discussões, o exercício da empatia nas relações sociais. Na sua visão, qual seria o processo para a construção de uma sociedade em que a mulher alcance a igualdade de gênero?

MA: Hoje tudo perpassa pela educação. Muita gente ainda insiste em dizer que tudo é ‘mimimi’, que estamos falando muito sobre o assunto. Mas devemos continuar falando justamente porque é como se fosse aplicar o processo da psicologia chamado de Behaviorismo - que discute que quando mais se fala, mais se absorve. Atribuido ao processo ligado ao estímulo a resposta.

Então, quando você tem que bater sempre na tecla para que as pessoas exercitem a eliminação desses comentários e ações arcaicas e reacionários. Avançamos muitos, mas temos ciência que há muita coisa a ser feita e superada. Vamos continuar falando sim, para que possamos chegar em um mundo em que minimamente seja mais igualitário e possível.

Questionada sobre os desafios de ser mulher e negra no Brasil, Maíra Azevedo conta em vídeo a sensção e desejos de mudança para a realidade atual; confira:

LJ: Neste ano, na sua palestra realizada no TEDx você falou sobre o processo de silenciamento atribuído historicamente às mulheres negras. A discussão dessa problemática é antiga. Por que ainda continuamos? Quais são os caminhos para modificá-la?

MA: Exercer o processo de escuta. Quando uma mulher negra estiver falando da sua vivência, da sua história é necessário ouvir. Quando a gente separa e trata das especificidades a gente não está dividindo, a gente está multiplicando a luta. Tem experiência minha como mulher negra que mulher branca não vai entender. Ela não vai entender o que é ser ridicularizada pelo seu cabelo. Historicamente quem foi ridicularizada por ser negra do cabelo cabelo duro, que tem cabelo de 'bombril'.

Então, a gente precisa exercer a escuta, ouvir e respeitar a fala da outra. Precisamos colocar a empatia em prática. Entender que a fala de uma mulher é de algo real, é algo que não vivencio, mas é verdadeiro e merece ser combatido. Acho que a partir desse momento que esse silenciamento vai ser quebrado, com a capacidade de você escutar a voz da outra.

LJ: Em 2015, você foi eleita uma das 25 mulheres negras mais influentes da internet. Hoje, você mantém canal no youtube e é presença ativa nas redes sociais, compartilhando conteúdos de forma espontânea e sobre assuntos do dia a dia. Como você pensou em começar a compartilhar esse tipo de conteúdo na rede?

MA: Comecei através do Facebook, mas isso já mudou. Tenho contas no Instagram e Youtube. Essa ideia surgiu justamente por ser uma repórter de redação e, nesses espaços, você vai ser pautado a escrever sobre coisas que eventualmente não gosta e não quer. Muitos desses assuntos é algo que não faz parte da sua realidade. Então, eu quis fazer meus vídeos para compartilhar coisas que eram de meu interesse e conversar sobre assuntos do meu cotidiano e de mulheres que, assim como eu, vivem narrativas interessantes.

Futuro - Como tanta história para contar, Tia Má planeja lançar em breve um livro, compartilhando as vivências de sua carreira como jornalista e influenciadora digital. A youtuber também conta que está na preparação de projetos ainda “secretos”. Mas, quando questionada sobre o desejo de ter um programa solo na TV disse que “seria um prazer”.

Nos dias 24, 25 e 28 de julho, a Prefeitura do Recife irá promover atividades para celebrar o Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha. Nesta terça-feira (24), a partir das 17h, a jornalista Maíra Azevedo, a Tia Má, estará no Pátio de São Pedro para debater sobre o feminismo negro. 

A baiana, uma das integrantes do programa "Encontro", de Fátima Bernardes, retrata no seu canal do YouTube assuntos do cotidiano, como racismo, autoestima, machismo e relação amorosa, através de muito humor.

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Com pontos espalhados em diversos lugares na área central do Recife, a "Feira da Ancestralidade e Resistência" será composta por debates, serviços sociais, oficinas e apresentações artísticas.

Programação da Feira da Ancestralidade e Resistência nesta quarta-feira (24), em comemoração ao Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha:

8h30 - Alvorada - com apresentação de afoxé

9h às 12h - Oficina gastronomia - Religiões de matriz áfrica, afro-brasileira e a gastronomia afro no empoderamento feminino. Cinthia Fabiana e Jorge Arruda. 

14h30 - Oficina de poesia com Adailta Alves - Ancestralidade

16h às 18h- Programação infantil -  contação de histórias oriundas do continente africano

16h - Roda de diálogo - Essa ciranda é de todas nós – Arte e ancestralidade da mulher negra latinoamericana e caribenha, com as artistas Lia de Itamaracá e Janaína Gomes e mediação da jornalista Karol Pacheco.

17h - Roda de diálogo - reExistência – a quem será que se destina? Novas plataformas de difusão do feminismo negro com as youtubers Tia Má, de Salvador, Uana Mahin, de Recife. A mediação é da jornalista de Lenne Ferreira. 

18h - Recital Boca no Trombone + Slam das Minas

Programação musical (com curadoria da Aqualtune Produções):

19h - Lia de Camaragibe

20h - Flor de Mulungu

Perfomance Aurora Boreal

21h - Isaar

22h - 808 Crew

22h30 - Rayssa Dias

Dj Mayara Cajueiro nos intervalos 

Após ataques racistas contra a Jornalista Maíra Azevedo, mais conhecida como Tia Má, um homem já foi identificado pelas autoridades policiais por ter feito ameaças de morte e ter cometido injúria racial. O suspeito foi intimado a comparecer nesta terça-feira, 6, na 1ª Delegacia Territoral dos Barris, em Salvador.

Segundo a Delegala Maria Dail, o suspeito e a família foram intimados a comparecer para prestar depoimentos. Para não atrapalhar as investigações, o nome do homem não foi divulgado. Ele afirma não ser o autor dos crimes.

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De acordo com a delegada, ela teria entrado em contato com o homem por telefone. “Nesse primeiro contato ele negou as acusações, disse que não foi ele que cometeu os crimes, mas temos o número dele”, disse. A polícia conseguiu encontrá-lo após quebra de sigilo telefônico do aparelho que ele fazia as publicações.

Relembre o caso

Tudo começou após uma transmissão ao vivo no Instagram, quando o suspeito a chamou de "Monkey", que significa "Macaco" em inglês, e o suspeito ainda colocou a imagem de um emoticom. Devido a repercussão do caso, a jornalista passou a receber ameaças de morte do agressor.

Maíra não se calou nas redes sociais "Jamais vou me furtar do meu direito de seguir combatendo as mais diversas formas de discriminação. Não quer ser exposto? Não cometa crimes! Não vai me intimidar com ameaças!", disse a digital influencer. 

 

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Foto: Reprodução / Facebook

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