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A Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio) divulgou um relatório de 240 páginas, com a íntegra dos depoimentos prestados em março pelo coronel reformado do Exército Paulo Malhães, torturador confesso de presos políticos durante a ditadura militar. Em 23 horas de gravação, o militar revelou que ajudou a deportar perseguidos políticos argentinos, integrantes de grupos guerrilheiros como Montoneros, Exército Revolucionário do Povo (ERP) e Tupamaros. O oficial também disse que compartilhou informações e treinou agentes da repressão de Angola, Chile, Uruguai e Argentina. Com os militares dos dois últimos países, disse ter "um relacionamento ótimo".

Malhães disse que durante os anos de chumbo, percebeu a entrada maciça de argentinos no Rio e resolveu fotografá-los e acompanhá-los. Posteriormente, policiais e militares argentinos pediram ajuda do Brasil e conseguiram identificar alguns líderes guerrilheiros que estavam exilados no País.

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No depoimento, o coronel citou o caso de um líder do grupo Montoneros, que desembarcou no Brasil em um voo que seguia para a Venezuela para um encontro da Junta de Coordenação Revolucionária (que reunia organismos revolucionários de vários países da América Latina). Um dublê seguiu com o passaporte e os documentos do detido para Caracas.

Aqui, o líder guerrilheiro foi capturado e detido pelos agentes da repressão argentina. Um médico argentino veio ao Brasil para dopar o guerrilheiro e levá-lo de volta para a Buenos Aires. O homem foi engessado e transportado dormindo em um avião "com atestado (médico) de que foi acidentado". "A gente dava um estalo e dava a solução para o problema".

O militar também contou que ganhou "uma porção de frasquinhos" que "serviam para várias coisas", inclusive para fazer uma pessoa ter um enfarte "definitivo". O material chegou a ser usado pelo Serviço Nacional de Informação (SNI).

Questionado pelo ex-presidente Emílio Garrastazu Médici, de quem disse ter se tornado amigo íntimo, o coronel contou a versão verdadeira e ironizou. "(O líder dos Montoneros) Passou, realmente, por aqui. Mas embarcou para a Venezuela. Se sumiu, sumiu na Venezuela, no Brasil não foi".

Malhães também descreveu uma conversa com o ex-presidente militar: "Aconteciam problemas, o Médici mandava me chamar (...) no palácio. Ele perguntava, 'E aí?'. Eu dizia, 'O senhor quer que eu resolva? Eu resolvo'. (Médici respondia) 'Então tá, Malhães, resolve'".

Na apresentação do documento, nessa sexta-feira, 30, o presidente da CEV-Rio, Wadih Damous voltou a questionar a linha investigativa da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, que segue a tese de latrocínio (roubo seguido de morte). Para ele, "há detalhes que não foram explicados" e a tese de queima de arquivo não pode ser descartada. Na manhã de sexta, o pedreiro Anderson Pires foi preso no bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, ele é acusado de participar do assalto que culminou com a morte do coronel.

O Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro denunciou cinco militares reformados do Exército por homicídio e ocultação de cadáver do deputado Rubens Paiva, em janeiro de 1971. O parlamentar foi morto nas dependências do Destacamento de Operações de Informações (Doi), em prédio do Batalhão da Polícia do Exército na Tijuca, zona norte.

De acordo com o MPF, documentos recolhidos no sítio em que vivia o coronel reformado Paulo Malhães, na periferia do Rio, sustentam as denúncias contra o ex-comandante do DOI general José Antônio Nogueira Belham, o ex-integrante do Centro de Informações do Exército (CIE), coronel Rubens Paim Sampaio, o coronel Raimundo Ronaldo Campos e os militares Jurandyr e Jacy Ochsendorf de Souza.

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Belham e Sampaio foram denunciados sob a acusação de prática de homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e associação criminosa armada. Se condenados, podem ter penas de até 37 anos e seis meses de prisão.

Campos e os irmãos Ochsendorf de Souza são acusados pelos crimes de ocultação de cadáver, fraude processual e associação criminosa armada, com penas de até dez anos de prisão.

O MPF sustenta que novas provas documentais e testemunhais justificam a denúncia, entre elas documentos encontrados na casa de Malhães, que morreu em circunstâncias misteriosas durante assalto ao sítio localizado em Nova Iguaçu, cidade na Baixada Fluminense, em 24 de abril deste ano.

Os documentos, segundo o MPF, foram apreendidos quatro dias após a morte do coronel reformado, em cumprimento a ordem judicial de busca e apreensão no sítio. Os detalhes da denúncia serão revelados em entrevista dos procuradores na tarde desta segunda-feira, 19.

Em nota, os procuradores sustentam que não há prescrição porque são crimes cometidos contra a humanidade, previstos no Direito Internacional e praticados em "um contexto de ataque sistemático e generalizado contra a população civil por um sistema semiclandestino de repressão política".

Após reunião com a cúpula da Polícia Civil, a presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Ana Rita (PT-ES), mudou o tom das declarações sobre as investigações das motivações para a morte do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães. Depois do encontro com o chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, e os delegados da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) responsáveis pelo caso, a senadora disse que "a Polícia Civil demonstrou estar empenhada no caso" e que "eles estão fazendo isso (investigação) com muita firmeza".

No início da manhã desta terça-feira, ela afirmou que "há indícios de que (o assassinato) foi em função (do depoimento à Comissão da Verdade, em março). Não descartamos a possibilidade de queima de arquivo". Depois de conversar com o caseiro Rogério Pires, ela afirmou que ele "não confessou o crime e disse que não participou de nada". A principal linha investigativa para a morte ainda é de latrocínio (roubo seguido de morte).

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"O processo está sob segredo de Justiça e todas as informações que nós pedimos foram respondidas. O chefe de Polícia Civil afirmou que todas as linhas de investigação são consideradas e não descarta nenhuma hipótese". Ana Rita afirmou que os delegados "não falaram sobre ele (Rogério Pires) ter confessado o crime. O caseiro presta informações desencontradas por isso e estão investigando (as três hipóteses sobre o assassinato: latrocínio, homicídio por vingança e queima de arquivo)".

A Comissão também afirmou que pedirá à Defensoria Pública do Rio que um advogado acompanhe o caso e os depoimentos prestados pelo caseiro. Na reunião com a cúpula da Polícia Civil foram informados de que o advogado já havia sido requisitado. No início da manhã, os senadores consideraram "muito estranho" o fato de Pires, mesmo sendo analfabeto, ter prestado depoimento sem um advogado. "O depoimento e a confissão podem ser feitos sem o advogado desde que haja testemunhas de leitura. As contradições foram evidenciadas diante do material investigativo e ele acabou confessando o envolvimento no crime. A participação dele no crime é irrefutável", disse o delegado titular da DHBF, Pedro Henrique Medina.

O delegado ressaltou que o homem encapuzado que participou do assalto ainda não foi identificado e que há dois mandados de prisão em aberto contra Anderson e Rodrigo Pires, irmãos do caseiro. O laudo do Instituto Médico Legal sobre as causas da morte deve ser entregue até o dia 15. Segundo o delegado responsável pelo caso, Wiliam Pena Jr., o perito solicitou prorrogação do prazo inicial de dez dias para conclusão do documento.

Três senadores da Comissão de Direitos Humanos (CDH) conversaram na manhã desta terça-feira (6) com o caseiro Rogério Pires, que teria confessado participação no assalto que resultou na morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães. No entanto, Pires deu uma versão diferente daquela prestada à Polícia Civil do Rio no dia 29 de abril. Na conversa com os senadores, o caseiro negou ter participado do assalto à casa do coronel.

"Ele demonstrou firmeza. Vamos solicitar uma cópia do inquérito e do depoimento dele à Polícia Civil", disse a senadora Ana Rita (PT-ES), que estava acompanhada do presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, e dos senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). "Ele (o caseiro) é analfabeto e não tem advogado. Vamos pedir um defensor público para ele", disse Damous.

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De acordo com a versão apresentada aos senadores, Pires não participou nem planejou o crime, mas reconheceu os irmãos Anderson e Rodrigo Pires como autores. Segundo ele, os dois chegaram ao sítio, na área rural de Nova Iguaçu (cidade na Baixada Fluminense) por volta das 10h no dia do assassinato (25 de abril). Malhães só teria chegado ao imóvel três horas depois.

Durante o assalto, os criminosos teriam se comunicado por telefone com uma pessoa que estava fora da casa, disse o senador Randolfe Rodrigues. Os parlamentares pedirão proteção para o caseiro e a família dele, além da viúva Cristina Batista Malhães.

Os senadores contestam a condução da Polícia Civil sobre o caso. Para os parlamentares a hipótese de queima de arquivo também deve ser investigada. "Entendemos que este assassinato após o depoimento (na Comissão da Verdade, em março) tem indícios de que foi em função disso e que ele tinha muitas informações a prestar. Não descartamos a possibilidade de queima de arquivo", disse Ana Rita.

Antes de receber autorização para conversar com o caseiro, o senador Randolfe afirmou que "é evidente a má vontade do Estado do Rio com este caso". Para Ana Rita, "é fundamental ouvir o preso" porque Pires teve contato direto com Malhães, torturador confesso de presos políticos durante a ditadura militar.

Ainda nesta terça, o grupo conversará com o chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso. Eles reiteraram o pedido feito ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que o caso seja acompanhado pela Polícia Federal. Para o presidente da Comissão da Verdade do Estado, Wadih Damous, "falta boa vontade da Polícia Civil do Rio".

"A participação da Polícia Federal ampliará o escopo da investigação. Continuamos entendendo que não é um crime banal, mas de um importante agente da ditadura que nos últimos tempos começou a revelar coisas até então desconhecidas da população", afirmou.

"Malhães foi o primeiro dos mais importantes torturadores que expôs as mazelas da ditadura e, inclusive, falou sobre o comando, mostrando que as ordens para desaparecer com os corpos vinha diretamente do Palácio do Planalto", disse o senador João Capiberibe (PSB-AP).

Um mês antes de ser assassinado, no dia 24 de abril, Malhães prestou depoimento para a Comissão da Verdade em que confessou ter participado do desaparecimento do corpo do ex-deputado Rubens Paiva.

Os senadores Ana Rita (PT-ES), João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), membros da Comissão de Direitos Humanos do Senado, irão ao Rio na próxima terça-feira, 6, para acompanhar as investigações da Polícia Civil sobre a morte do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães, na quinta-feira, 24, no sítio onde morava, na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Nessa terça-feira, 29, o grupo se reuniu com o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo que afirmou que, por determinação dele, a Polícia Federal acompanhará e apoiará as investigações no que for necessário. Na terça, o caseiro de Malhães, Rogério Pires, foi preso após confessar que facilitou a entrada dos criminosos. O plano era roubar armas e bens.

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"Não estão descartadas outras possibilidades (de queima de arquivo ou homicídio por vingança). Apesar de as evidências serem mínimas (é possível) que haja um autor intelectual que tenha fins escusos como se fosse uma queima de arquivo, mas é uma possibilidade muito pequena. O crime contra o patrimônio estava planejado (há um mês)", afirmou ontem o delegado titular da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), Pedro Henrique Medina.

O caseiro Rogério Pires, que trabalhava no sítio onde o coronel da reserva do Exército Paulo Malhães morava, na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, confessou ter participado do assalto que terminou com a morte do militar, na última quinta-feira. Rogério entregou os próprios irmãos Anderson e Rodrigo, que seriam os mentores do crime.

De acordo com os delegados responsáveis pelo caso, a intenção do trio era roubar armas e bens do oficial. A morte teria sido acidental. Malhães confessou ter participado de torturas de presos políticos durante a ditadura militar brasileira (1964-85). O crime vinha sendo planejado desde o início de março. Rogério conhecia bem a rotina da família porque trabalhou no sítio de Malhães por sete anos e regressou há um mês e meio.

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Os irmãos tentaram alterar a cena do crime para esconder o envolvimento do caseiro. O caseiro acompanhou nesta terça-feira os policiais em diversos locais onde os irmãos - que trabalham como pedreiros - poderiam estar, mas ninguém foi encontrado. O caseiro chegou rindo à Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).

Inicialmente, Rogério disse ter sido feito refém pelos criminosos. Ele, no entanto, deu diferentes versões sobre o local em que teria sido mantido durante o assalto - ora afirmava que ficou isolado no quarto, ora contava que estava na sala. Outro indício que chamou a atenção dos policiais foi que um dos cachorros do sítio, extremamente feroz, não estranhou a presença dos assaltantes. "O plano era subtrair bens. Ainda apuramos se a morte foi acidental. A investigação está bem encaminhada para latrocínio", afirmou o delegado-titular da DHBF, Pedro Henrique Medina.

À polícia, Rogério disse que gostava do coronel e não tinha a intenção de matar o militar, que o teria ajudado em outras oportunidades. "Ele demonstra arrependimento quando fala da morte do coronel", disse o delegado responsável pelo caso, William Pena Júnior. De acordo com o delegado Medina, o quarto homem que participou do latrocínio e usava um capuz ainda não foi identificado. Rogério afirmou que não recebeu nada pela participação no crime - o dinheiro pela venda das armas só seria dividido depois que os bens fossem vendidos. Medina não descartou a hipótese de que alguém da família tenha colaborado com o crime. No entanto, Pena Júnior afirmou que "inicialmente não há envolvimento da família no caso".

O delegado-substituto Marcos Castro afirmou que hipótese de homicídio por vingança ou queima de arquivo não foram descartadas, apesar de haver poucos indícios. "Não encontramos nenhum registro de ocorrência de ameaça ou qualquer tipo de violência da parte dele. Ninguém nega o que o coronel praticou no passado, mas não tenho nenhum dado concreto que me faça avançar nessa linha (homicídio por vingança)".

A viúva Cristina Batista Malhães e familiares dos três irmãos estiveram hoje na DHBF para depoimento. Os mandados de prisão de Rodrigo e Anderson já foram expedidos e eles são considerados foragidos da Justiça. O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, disse que a CNV não tem um posicionamento fechado sobre as circunstâncias da morte de Malhães e não se propõe a comentar as investigações. "Não temos uma opinião sobre o que ocorreu. Estamos na expectativa de que sejam apresentadas as conclusões da investigação. O que queremos é que não se afaste a hipótese de que ele tenha morrido em decorrência do depoimento à CNV (em março)".

"Não temos motivos para desconfiar da polícia do Rio, que considera, a princípio, se tratar de um crime comum. Achamos o caso suspeitíssimo, mas não cabe fazer juízo de valor nesse momento. A morte de Juscelino Kubitschek também era e foi só um acidente", ponderou o integrante da CNV José Paulo Cacalcanti.

O caseiro do tenente-coronel da reserva Paulo Malhães, Rogério Pires, foi preso na manhã dessa terça-feira, 29, por participação no latrocínio (roubo seguido de morte) do militar. Ele confessou ter participado do crime durante depoimento aos policiais da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). O delegado William Medeiros, um dos responsáveis pelas investigações dará entrevista coletiva nesta tarde para detalhar o caso.

Malhães, que há um mês declarou ter participado de prisões e torturas durante a ditadura militar, foi encontrado morto na semana passada, no sítio em que morava, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense).

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De acordo com o delegado-titular da DHBF, Pedro Henrique Medina, em entrevista à rádio CBN, Pires se contradisse durante o depoimento. A principal motivação do crime era realmente o roubo das armas e não homicídio por vingança ou queima de arquivo, hipóteses levantadas logo que o militar foi morto no sítio na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na quinta-feira, 24.

O caseiro, que ficou em um quarto separado da viúva Cristina Batista Malhães e do coronel, não era o homem encapuzado que participou da ação. Os outros dois homens que invadiram a casa já foram identificados, mas os retratos falados ainda não foram divulgados.

O presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, quer que a Polícia Federal acompanhe as investigações da Polícia Civil sobre a morte do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães. Ele defenderá a proposta amanhã, em reunião da Comissão de Direitos Humanos do Senado. Damous estranha que a morte - inicialmente investigada como causada por asfixia mecânica - tenha sido atribuída, na guia de sepultamento, a problemas cardíacos.

"A investigação e a conclusão sobre a morte de Malhães não podem ser baseadas apenas nessa perícia", disse Damous. Para ele, o caso não pode ser tratado como consequência de um assalto comum. A hipótese de latrocínio (roubo com morte) tem sido investigada pela Divisão de Homicídios/Baixada Fluminense.

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Um dos mais notórios torturadores da ditadura de 1964-85, o oficial foi achado morto na última quinta-feira em um dos quartos de sua casa, em Nova Iguaçu. Fora mantido prisioneiro por assaltantes por quase dez horas. Sua mulher, Cristina Batista, e o caseiro, identificado apenas como Rogério, também foram rendidos no assalto.

Uma hipótese para explicar o crime seria "queima de arquivo". Em depoimentos às Comissões da Verdade do Rio e Nacional, Malhães deu detalhes sobre assassinatos, torturas e desaparecimentos de presos políticos na ditadura. Os três invasores fugiram levando uma coleção de armas, joias, dinheiro e dois computadores.

Pedro Dallari, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, também defende que a PF entre no caso. Em nota divulgada na sexta-feira, ele informou ter pedido ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a participação de policiais federais nas investigações.

Até agora, porém, essa possibilidade tem sido descartada. Os crimes sob investigação - homicídio e latrocínio (roubo seguido de morte) - são da esfera estadual. Um dos invasores, segundo a viúva de Malhães confidenciou a pessoas que chegaram ao local do crime na manhã de sexta, teria dito ter parente de uma vítima do oficial.

A Polícia Civil do Rio já tem o retrato falado de dois dos três homens que invadiram, na quinta-feira passada, o sítio onde o coronel da reserva do Exército Paulo Malhães morava, na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Os criminosos, no entanto, ainda não foram identificados. A Polícia também aguarda a conclusão do laudo cadavérico que apontará a verdadeira causa da morte do militar. Malhães confessou ter participado de torturas em presos políticos durante a ditadura militar.

Inicialmente, acreditava-se que o militar havia morrido por asfixia, no entanto, a guia de sepultamento apontou que ele teve complicações cardíacas. O laudo cadavérico do Instituto Médico Legal era esperado nesta segunda-feira, 28, na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), porém o prazo oficial para conclusão é de até 30 dias após o crime. No sábado, os policiais fizeram uma perícia complementar minuciosa no sítio e colheram impressões digitais.

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Ontem, duas filhas do militar, Karla e Ísis, prestaram novo depoimento para tentar identificar ex-funcionários do coronel e também possíveis desafetos. De acordo com o delegado da DHBF Marcus Castro, que atua junto com o delegado responsável pelo caso, William Pena Júnior, o militar foi descrito como um "homem problemático e de difícil trato social".

Mesmo sem revelar o teor dos depoimentos prestados até o momento, Castro garantiu que nenhuma testemunha associou Malhães a grupos de extermínio ou milícias. O bairro Marapicu, onde o coronel morava com a mulher Cristina Batista Malhães, é disputado por facções rivais. "(Os depoimentos) das filhas vão nos ajudar a entender quem era a vítima, ver como eram os relacionamentos sociais com funcionários e vizinhos. Isso vai nos ajudar a identificar eventuais e possíveis ameaças contra a vida dele, seja para roubar ou para realmente executá-lo. De concreto (sobre o passado de Malhães) só temos as declarações dele na Comissão da Verdade (em março)".

O delegado reafirmou que a principal linha de investigação é latrocínio, porém as hipóteses de homicídio por vingança e queima de arquivo ainda não foram descartadas. Além dos três homens que invadiram a casa, outros dois que apoiavam a fuga teriam sido vistos do lado de fora por uma testemunha. "Estamos na eminência de solucionar o caso? Não. Ainda estamos trabalhando, investigando. Checamos todas as informações que chegam até nós, seja pelo Disque Denúncia ou outro meio, para solucionar o caso o mais rápido possível".

Sobre uma possível participação da Polícia Federal nas investigações, o delegado garantiu que "a DHBF é capaz de solucionar esse caso sozinha". O delegado também disse estar aberto à participação oficial da Comissão da Verdade do Rio nas investigações. "Estamos abertos à participação de autoridades que nos levem a um denominador comum: a investigação, identificação e prisão de quem fez isso (matou Malhães)".

A Organização das Nações Unidas (ONU) cobra das autoridades brasileiras uma "investigação imediata" da morte do coronel da reserva do Exército, Paulo Malhães. Seu assassinato ocorreu na noite da quinta-feira, 24, em um suposto assalto no sítio em que morava na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

A possibilidade da morte ter relação com o depoimento de Malhães na Comissão da Verdade é investigada. Em março deste ano, Malhães prestou à Comissão Estadual da Verdade do Rio depoimento em que relatava ter participado de prisões e torturas na ditadura. Disse também que foi encarregado pelo Exército de desenterrar e sumir com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971.

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Dias depois, à Comissão Nacional da Verdade, reafirmou ter tomado parte em torturas, mas mudou sua versão sobre o sumiço dos restos mortais de Paiva. O corpo desenterrado, segundo ele, não poderia ser identificado por estar em decomposição.

Agora, a ONU quer esclarecimentos sobre sua morte. "É necessário que haja uma investigação imediata para esclarecer os fatos em relação ao caso e aqueles responsáveis precisam ler levados à Justiça", declarou ao jornal O Estado de S. Paulo a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani. A ONU diz que novas informações estão sendo coletadas sobre o caso e que a Organização deve se pronunciar ainda nesta semana sobre o assunto.

Os esforços do Brasil para lidar com seu passado foram elogiados ao longo dos últimos meses pela ONU. Mas a Organização exige do País que os responsáveis por torturas, assassinatos e crimes contra a Humanidade sejam processados. A ONU também já se pronunciou contra a manutenção da lei de anistia no Brasil, alegando que crimes como o da tortura não podem ser protegidos por uma lei.

Está previsto para hoje (26) às 15h o enterro do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães, no cemitério de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, de acordo com a funerária São Salvador. Ex-integrante de órgãos de repressão política da ditadura, Malhães foi assassinado na última quinta-feira (24), no sítio em que morava em Marapicu, zona rural de Nova Iguaçu.

A Polícia Civil não descarta nenhuma possibilidade para a morte do coronel, desde homicídio por motivo de vingança a latrocínio (roubo seguido de morte). A possibilidade de a morte ter relação com o depoimento de Malhães na Comissão da Verdade também é investigada. Na ocasião, ele afirmou ter participado de torturas, assassinatos e desaparecimentos de militantes políticos, inclusive dos restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva.

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À Comissão da Verdade, ele também contou detalhes sobre o funcionamento da Casa da Morte de Petrópolis, na Região Serrana fluminense, um centro clandestino de tortura e homicídios mantido pelo Centro de Informações do Exército (CIE).

Histórico

Na tarde da última quinta-feira (24), três homens invadiram o sítio de Malhães e fizeram ele, a mulher Cristina Batista Malhães e o caseiro Rogério de reféns por nove horas. Os criminosos levaram dois computadores, pelos menos três armas antigas colecionadas pelo militar, um aparelho de som, joias e cerca de R$ 700,00 em dinheiro.

Malhães foi mantido em seu próprio quarto, onde foi encontrado morto supostamente por asfixia. O corpo estava de bruços, com o rosto contra um travesseiro e apresentava sinais de cianose, que são características de sufocamento. Os criminosos amarraram Rogério e Cristina e foram embora depois do crime.

O coronel Paulo Malhães vivia com a mulher, Cristina, 26 anos mais nova, em um sítio em local ermo, sem qualquer esquema de segurança, praticamente sem porteira, na área rural de Nova Iguaçu, uma das cidades pobres na periferia do Rio. Era um homem doente, que se movia com a ajuda de andador por causa de dores na coluna. A acompanhá-lo, apenas cães e gatos. A fragilidade o tornava alvo fácil para algum ato violento, admitiu ao receber a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em 28 de março deste ano.

Na conversa de duas horas, repetiu o que dissera três dias antes à Comissão Nacional da Verdade, em depoimento no Rio. Falou sobre o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, em 1971; sobre a Casa da Morte em Petrópolis (região serrana do Rio); sobre a violência política durante a ditadura militar, "em que foi necessário o uso da força para coibir os atos da tal esquerda revolucionária". E comentou a possibilidade de vir a sofrer represálias.

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"Na comissão, ele (o ex-ministro José Carlos Dias) me perguntou se eu tinha sido ameaçado. Até agora, não. Mas tenho cinco filhos e seis netos. E poderiam sofrer consequências. Eu não temo muito por isso, não. Pode ser que me peguem na rua. Mas se tiver chance de devolver, eles vão ter que trotar", afirmou, acrescentando andar armado. "Vou me defender como? Vou dizer Shazan e virar o capitão Marvel Júnior?".

O tema foi recorrente na conversa. Malhães negou, mas sem veemência, a fama local de ser um homem violento, envolvido na morte de criminosos. "(Fama) de justiceiro, de matador? Não. A fama de querer ser respeitado, tem. Meter porrada, criar problema. De matar os outros, não. Aqui tem tráfico. Só não é na minha porta. Nem encosta na minha propriedade. Esse respeito eu exijo. E enfrento eles, se preciso for. Conheci muito justiceiro aqui. Estou vivo por acaso, porque minha promissória ainda não venceu."

Na entrevista, Malhães apresentou as razões para ter rompido quatro décadas de silêncio: "Eu achei que já era tempo. Chega. Embora tudo o que eu fiz, eu fiz sob ordens, como uma missão. Já era especialista em informações naquela época, entrei de cara na condução do problema. Então, resolvi falar. A Comissão da Verdade me chamou, não tinha como me negar. Eu disse a verdade. Não tenho medo da verdade".

O oficial disse ter recebido ordens do Exército para desenterrar e dar sumiço definitivo ao cadáver de Rubens Paiva. Segundo ele, os restos mortais do político tinham sido enterrados na praia do Recreio dos Bandeirantes, zona oeste carioca.

"Coordenei uma operação de transbordo de corpo, certo? Foi um rio em Petrópolis (destino final do corpo). Achei que era hora de abrir. E abri."

Imóvel usado como centro de detenções ilegais, torturas e assassinatos, a Casa da Morte foi frequentada por Malhães na primeira metade dos anos 70. Ele disse que havia uma organização funcional na propriedade. Era chamado de Dr. Pablo. "Era uma casa cheia de quarto. Cada quarto era uma cela. Cada cela tinha um dono. E você tinha direito de levar quem você quisesse para lá. No meu caso, o que eu mais gostava de fazer era cantar os outros para mudar de lado. E você não tinha direito de peruar a cela dos outros nem os outros tinham direito de peruar na sua cela. Isso era particular de cada um. A gente fazia muita questão disso. As pessoas presas não se viam."

Parlamentares receberam "com espanto" a notícia da morte do coronel reformado do Exército Paulo Malhães e cobraram a entrada da Polícia Federal nas investigações. Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade em março, Malhães relatara ter participado de prisões e torturas durante a ditadura militar no Brasil. Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a morte do militar foi um "crime político para apagar as marcas do arbítrio e da tortura". "É urgente e necessário a entrada da Polícia Federal no caso do assassinato de Paulo Malhães para esclarecer o ocorrido", cobrou o senador.

O coronel reformado foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira no sítio em que morava em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense). Seu corpo apresentava marcas de asfixia, segundo a Polícia Civil.

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Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado Assis do Couto (PT-PR) lamentou o ocorrido e argumentou que Malhães tinha importantes informações sobre o período militar no País. "Recebi (a notícia) um pouco chocado e com espanto, porque a gente estava tratando desse assunto (na comissão)", relatou o deputado. Ele evitou comentar, no entanto, sobre possíveis motivações políticas do crime. "É a perda de alguém que estava, nesse ponto de vista, contribuindo para informações necessárias neste momento da história", disse o deputado. Ele também pontuou que as circunstâncias da morte de Malhães podem prejudicar o trabalho da Comissão Nacional da Verdade e de outros órgãos que apuram fatos ocorridos no regime militar, uma vez que testemunhas podem ter medo de prestar novos depoimentos.

A Comissão de Direitos Humanos aprovou nesta semana um requerimento para realizar uma audiência pública para debater a chamada Chacina do Parque, ocorrida em 1974 no Parque Nacional de Iguaçu, quando seis pessoas foram mortas. Malhães - um dos convidados a comparecer na audiência - havia dito em depoimento à Comissão Nacional da Verdade ter participado da chacina.

De acordo com o relato da viúva do coronel Cristina Batista Malhães, três homens invadiram o sítio de Malhães na noite de quinta-feira procurando armas. Cristina disse que ela e o caseiro foram amarrados e trancados em um cômodo, das 13h às 22h de quinta pelos invasores.

O delegado-adjunto da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, Fábio Salvadoretti, afirmou no fim da tarde desta sexta-feira, 25, não descartar nenhuma hipótese para explicar o assassinato do coronel da reserva do Exército Paulo Malhães, morto na noite dessa quinta-feira, 24, em um suposto assalto no sítio em que morava na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A possibilidade da morte ter relação com o depoimento de Malhães na Comissão da Verdade também é investigada.

"Não estamos descartando nenhuma hipótese. Pode ter sido um homicídio por motivo de vingança e até mesmo um latrocínio, uma vez que foram levados vários pertences da vítima". Segundo o delegado, os criminosos levaram dois computadores, pelos menos três armas antigas colecionadas pelo militar, um aparelho de som, joias e cerca de R$ 700 em dinheiro.

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Segundo o policial, os assaltantes arrombaram a casa por volta de 13h de ontem e ficaram esperando a chegada de Malhães e de sua mulher Cristina Batista Malhães para rendê-los. O caseiro, identificado apenas com Rogério, que estava no terreno da propriedade, não teria percebido a invasão e também foi rendido.

Apenas um dos integrantes do bando estava encapuzado e, segundo o policial, eles tinham duas armas curtas e uma longa. Uma testemunha não identificada afirmou ter visto do lado de fora da propriedade outras duas pessoas supostamente responsáveis pela fuga.

O assalto durou até as 22h de quinta. Depois de render as vítimas, os criminosos separaram as três vítimas dentro da casa perguntando insistentemente por armas e joias e obrigando o caseiro e a mulher de Malhães a procurá-las.

Malhães foi mantido em seu próprio quarto, onde foi encontrado morto supostamente por asfixia. O corpo estava de bruços, com o rosto contra um travesseiro e apresentava sinais de cianose, que são características de sufocamento. Os criminosos amarraram Rogério e Cristina e foram embora depois do crime.

A mulher conseguiu se libertar das cordas durante a madrugada e chamou a Polícia Militar, mas os policiais alegaram que a área é perigosa e só chegaram de manhã. De acordo com o delegado Salvadoretti, a região da antiga Estrada de Madureira é objeto de disputa de várias facções criminosas.

Ex-integrante de órgãos de repressão política da ditadura civil-miltar de 1964-85, Malhães afirmou ter participado de torturas, assassinatos e desaparecimentos de militantes políticos, inclusive dos restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva. À Comissão da Verdade, ele também contou detalhes sobre o funcionamento da Casa da Morte de Petrópolis, na Região Serrana fluminense, um centro clandestino de tortura e homicídios mantido pelo Centro de Informações do Exército.

 

A médica Karla Malhães, mais velha dos cinco filhos do coronel reformado Paulo Malhães, encontrado morto com sinais de asfixia no sítio onde morava, no município de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense) disse, na tarde desta sexta-feira, que a família "está surpresa e não sabe o que pensar" sobre o crime.

Karla contou que conversou com o pai no domingo, 20, e chegou a perguntar se ele havia sofrido ameaças por conta dos depoimentos prestados às Comissões Nacional e Estadual da Verdade. Malhães negou ter sido ameaçado. "É tudo muito, muito assustador, muito surpreendente, não sabemos o que pensar. Por enquanto é latrocínio, roubo seguido de morte", afirmou Karla, no sítio do pai.

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A médica foi avisada da morte de Malhães na manhã de hoje, ao receber o telefonema de um policial militar que estava na casa do coronel. Segundo Karla, a viúva, Cristina Malhães, e o caseiro foram amarrados pelos criminosos, que fugiram levando as armas da coleção do coronel, além de eletrodomésticos. Alguns objetos foram deixados no mato pelos assaltantes. Em março, Malhães revelou às comissões da verdade ter participado de torturas de opositores do regime militar, durante a ditadura. Disse ainda ter sido o responsável pelo sumiço do corpo do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971.

Karla contou que na infância não sabia das atividades do pai. A filha disse só ter tomado conhecimento das prisões e torturas depois dos depoimentos às comissões da verdade. "Não sabíamos de nada e ficamos surpresos. Dissemos a ele que não devia ter falado, tanto tempo depois, ainda mais sem nos preparar. Nunca entendemos por que ele decidiu falar. Sempre foi uma pessoa muito reservada, muito difícil. Não era de conversar", afirmou Karla. Segundo a filha, Malhães se isolou ainda mais da família depois dos depoimentos. O coronel completou 77 anos no dia 17 de abril, sem qualquer comemoração, disse Karla. A Divisão de Homicídios da Baixada investiga o caso. As Comissões Estadual e Nacional da Verdade pedem que a Polícia Federal participe da apuração da morte do coronel. A família ainda não decidiu sobre o enterro.

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, solicitou nesta sexta-feira, 25, ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal acompanhe as investigações da Polícia Civil do Rio sobre o assassinato do ex-agente do Centro de Informações do Exército (CIE), Paulo Malhães, ocorrido nesta quinta-feira, 24, à noite na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Dallari e Cardozo conversaram por telefone.

Malhães prestou depoimento à CNV em 25 de março, quando deu sua versão sobre operação do Exército para desaparecer com os restos mortais do deputado federal Rubens Paiva. Informou também que agentes do CIE mutilavam corpos de vítimas da repressão assassinadas na Casa da Morte, em Petrópolis (Região Serrana do Rio), arrancando suas arcadas dentárias e as pontas dos dedos para impedir a identificação, caso os corpos fossem encontrados.

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Para a CNV, a morte de Manhães e a eventual relação desse crime com as revelações feitas por ele à CNV, à Comissão Estadual da Verdade do Rio e à imprensa devem ser investigadas com rigor e rapidez. "Por se tratar de uma situação que envolve investigação conduzida pela CNV, que é órgão federal , pedi que a Policia Federal fosse acionada para acompanhar as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio", afirmou Dallari.

O coronel da reserva Paulo Malhães, que havia assumido ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, voltou atrás nesta terça-feira (25) nas declarações ao prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade. Pressionado pelos integrantes da comissão, Malhães confirmou ter torturado presos políticos e ter "matado pouca gente". Ele se negou a fornecer nomes de presos assassinados durante a ditadura militar, de agentes da repressão e a informar o número de pessoas que passaram pela Casa da Morte, centro de tortura clandestino que funcionou em Petrópolis (RJ).

"Eu acho que foi um depoimento importante, esclarecedor. Ele acabou por reconhecer que é um torturador. Poucas vezes nós tivemos a confissão de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo critério para o crime comum, e ele assumiu que sim - para o roubo, para o tráfico. E que não tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, integrante da CNV, que interrogou Malhães.

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Inicialmente, o coronel da reserva aceitou comparecer à audiência, mas queria ser ouvido reservadamente. Por fim, aceitou falar com a presença da imprensa, desde que repórteres não fizessem pergunta. Ele chegou ao Arquivo Nacional às 14 horas, e se locomoveu numa cadeira de rodas. Malhães não se encontrou com a historiadora Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, que participou da audiência na parte da manhã.

Malhães disse que foi mal interpretado nas entrevistas aos jornais O Dia e O Globo, quando falou "por meio de parábolas". Ele disse que chegou a receber a missão de dar sumiço no corpo de Rubens Paiva, mas foi deslocado para outra função. "Eu só disse que fui eu porque eu acho uma história muito triste quando a família diz que leva 38 anos querendo saber o paradeiro do corpo. Não sou sentimental, não. (Falei) Para não começar uma guerra para saber onde estava o corpo".

Segundo ele, os restos mortais de Rubens Paiva eram "uma massa morta, enterrada e desenterrada". "Não tinha mais nada. Nem sei se aquela massa era realmente dele". O coronel negou que tivesse sofrido ameaças por conta das declarações, mas afirmou que seus cinco filhos e oito netos sofreram "sanções" depois que suas declarações foram publicadas.

Malhães falou por 2 horas e 11 minutos. Ele minimizou o que era a Casa da Morte. Para o militar, o local era uma "casa de conveniência, onde se procurava ganhar o preso para ele voltar como infiltrado na própria organização". "Conseguimos vários", disse, sem informar nomes. O coronel foi evasivo em várias respostas. Disse que a casa funcionou por quatro ou cinco anos e defendeu a tortura como meio de se obter informações de "elementos de grande periculosidade". "Não diria que ele tenha sido corajoso. Foi um exibicionista, mostrando todo este lado mórbido que está presente no caráter dele", afirmou Dias. "O caso Rubens Paiva está esclarecido. Ele diz que não participou da missão, mas não importa, porque ele reconheceu que houve a missão".

O coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos, chegou por volta das 14h desta terça-feira, 25, para prestar depoimento à Comissão Nacional da Verdade, em audiência no Rio sobre a Casa da Morte, centro clandestino de tortura que funcionou em Petrópolis, na Região Serrana do Estado do Rio, nos anos 70.

Malhães contou recentemente em depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio que foi o responsável por sumir com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva. Ele também detalhou os métodos para se livrar dos presos políticos mortos no local sob tortura.

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A audiência começou às 10h. O coordenador da CNV, Pedro Dallari, detalhou as investigações. Foi revelado que Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, reconheceu há dez dias, por fotografias, cinco algozes: o coronel Freddie Perdigão Pereira (já morto); o sargento da reserva Rubens Gomes Carneiro; o comissário da Polícia Civil Luiz Claudio Vianna; o oficial Antonio Fernando Hughes de Carvalho; e o tenente-coronel da reserva Rubens Pain Sampaio. Até então, Inês só havia reconhecido o médico Amílcar Lobo (já falecido) e o subtenente Ubirajara Ribeiro de Souza. Ubirajara e Rubens Sampaio foram convocados para depor à comissão nesta terça, mas não compareceram.

Para Dallari, as investigações deixam claro que a Casa da Morte não foi uma iniciativa isolada, mas era "uma política de Estado de tortura operada por integrantes do Centro de Operações do Exército". A Comissão Nacional da Verdade chegou a pelo menos 20 nomes de presos políticos mortos na casa. Ele espera que Paulo Malhães forneça outros nomes de vítimas.

Os próximos passos da CNV é identificar outras casas que funcionaram como centros de tortura, como a de Petrópolis.

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