O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, visitou nesta terça-feira (20) a cidade de Bakhmut, que as tropas russas tentam controlar há vários meses e que representa um ponto crítico da frente de batalha no leste do país.
O chefe de Estado "se reuniu com militares, conversou com eles e condecorou nossos soldados", informou a Presidência, sem revelar mais detalhes.
A cidade é cenário há vários meses de combates violentos, nos quais a Rússia supostamente recorreu a mercenários, réus conscritos e jovens recrutas que são enviados em ondas para lutar contra as posições ucranianas.
A brutal guerra de trincheiras e artilharia destruiu áreas inteiras da cidade e de seus arredores, antes conhecidos pelos vinhedos e minas de sal.
"Me parece que os heróis de Bakhmut devem receber o que todo o mundo recebe", declarou Zelensky, de acordo com a imprensa estatal.
"Gostaria que houvesse luz, mas a situação é tão difícil que há luz e depois não há", disse, em referência aos cortes de energia elétrica provocados pelos bombardeios russos.
O presidente ucraniano já visitou diversos pontos da frente de batalha. Em novembro ele compareceu a Kherson (sul), após a retirada das tropas russas, e no início de dezembro viajou a Sloviansk, a algumas dezenas de quilômetros da frente leste.
Mas esta viagem parece a mais perigosa de todas que ele fez desde o início da guerra, pois as tropas russas reivindicaram a captura de vilarejos e áreas próximas de Bakhmut, embora a cidade permaneça sob controle de Kiev.
"Bakhmut é a fortaleza leste da Ucrânia", afirmou a vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar, que visitou a cidade, que tinha 70.000 habitantes antes da guerra, com Zelensky.
- Putin reconhece situação "difícil" -
Algumas horas antes, o presidente russo, Vladimir Putin, admitiu que a situação é "extremamente difícil" nos quatro territórios que Moscou alega ter anexado.
Putin anunciou em setembro a anexação das regiões de Lugansk e Donetsk, no leste, e de Kherson e Zaporizhzhia, no sul, após referendos organizados pelas autoridades designadas por Moscou, votações que Kiev e o Ocidente chamaram de farsa.
As tropas russas, no entanto, em nenhum momento controlaram os territórios por completo, como ficou demonstrado com a retirada de Kherson após meses de contraofensiva ucraniana.
"A situação nas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk e nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia é extremamente difícil", declarou Putin ao Serviço Federal de Segurança.
O chefe de Estado se dirigiu em particular aos agentes de segurança que vivem nas "novas regiões da Rússia".
As pessoas que moram nestas regiões, os cidadãos da Rússia, dependem de vocês, da sua proteção", declarou.
Putin também disse que precisa da "máxima compostura e concentração das forças" nas operações de contraespionagem da Rússia.
"É necessário suprimir rigorosamente as ações dos serviços de inteligência estrangeiros, identificar rapidamente os traidores, espiões e sabotadores", acrescentou.
- Com um olho em Belarus -
O presidente russo viajou na segunda-feira a Belarus para sua primeira visita em muitos anos a esta ex-república soviética, onde se reuniu com o presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, que permitiu a entrada de tropas russas na Ucrânia a partir de seu território no início da invasão, em fevereiro.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, minimizou a importância do encontro e o definiu como "outro baile" de Putin e Lukashenko.
"De acordo com as informações disponíveis, não foram tomadas decisões críticas no encontro. Independente do que aconteça, estamos preparados para qualquer cenário", disse Kuleba.
O comandante das forças conjuntas da Ucrânia, Sergiy Nayev, afirmou que o "nível de ameaça militar (a partir de Belarus) aumenta gradualmente" e destacou que o país monitora "de perto" a transferência de armas a partir da Rússia.
Putin negou ter planos para absorver Belarus durante a visita de segunda-feira, mas os países defenderam o aumento da cooperação militar.
O governo ucraniano afirmou que ataques russos em seu território provocaram cinco mortes, incluindo três na região de Donetsk, onde fica Bakhmut.
A guerra teve um impacto significativo na economia da Ucrânia. O FMI aprovou na segunda-feira um plano que ajudará Kiev a arrecadar fundos de doadores.