A profissão de digital influencer surgiu por intermédio das redes sociais. Pessoas com milhares de seguidores e marcas perceberam a internet como uma oportunidade de negócio, uma vez que, com a ascensão do número de usuários, influencers, sobretudo do Instagram, passaram a ser vistos e valorizados graças ao seu alcance por meio de likes, comentários e compartilhamentos.
Ainda cercada de pré-conceitos, a profissão de digital influencer foi a escolha de pessoas que se consideram formadores de opinião. Nanda Figueiras (@nandafigueiras), como é conhecida Fernanda Figueiras, 20 anos, no Instagram, é estudante de moda e já conquistou mais de 50 mil seguidores na rede. De acordo com a influenciadora digital, perceber que poderia utilizar o alcance das publicações para gerar receita foi um marco.
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Ao LeiaJá, Nanda também falou da mudança na forma que ela passou a lidar com as empresas interessadas em publicidade. “[As empresas] estavam acostumadas a pagar pelas ações através de mimos, um vestido ou outra peça de roupa”, conta. “Aí eu percebi que poderia fazer contratos e profissionalizar aquilo”, conclui Nanda, que interrompeu a faculdade de publicidade e propaganda para se dedicar à profissão.
Com a grande falha das redes sociais no último mês, ficou evidente, para os influenciadores e empresas, a necessidade de criação de outros canais de comunicação com seu público e até mesmo de outra fonte de renda. Thaliane Pereira (@thalianepereira), 21, tem 141 mil seguidores, também no Instagram. A influenciadora utiliza de sua visibilidade para promover um negócio próprio, uma loja física de roupas, além das parcerias com diversas marcas e empresas. Da mesma forma que Nanda, Thaliane percebeu logo cedo que o Instagram poderia ser algo além da permuta, da troca, e se tornar algo profissionalizado.
Sociedade líquida
Para o professor e sociólogo Pedro Botelho, o principal malefício da tecnologia é quando o jovem toma o digital influencer como verdade absoluta e ignora o mundo real, fora das redes. De acordo com Pedro, ainda há uma carência nos estudos relacionados aos efeitos da internet na vida dos indivíduos. “Podemos destacar estudos sobre a cybercultura do fim do século passado, mas ainda não temos estudos conclusivos sobre essa nova era do advento da internet. Como professor, é perceptível que os alunos já sofrem com dificuldade em focar no conteúdo e outras coisas relacionadas ao uso excessivo das redes sociais.”.
Botelho também afirmou que é difícil prever um cenário para a profissão devido à natureza líquida da sociedade em que vivemos. Citando essa efemeridade, Pedro fala que, de acordo com o escritor e sociólogo polonês Zygmunt Bauman, a sociedade está dividida em duas categorias. “Temos a categoria dos cidadãos de jure, que são as pessoas que conseguem acompanhar a velocidade da internet, que conseguiriam se adaptar a uma nova rede social, por exemplo, e temos os cidadãos periféricos, que são os indivíduos que não conseguem ou têm dificuldade em acompanhar essa evolução, como alguns indivíduos de idade mais avançada”.
Bauman se destaca, também, por relatar a falta de referenciais sociais, como noção de família, noções de consumo e até referenciais pedagógicos na geração atual, em complemento ao relato do professor. “Os malefícios e benefícios do uso das redes sociais e até da internet, de modo geral, devem ser observados atentamente.”, conclui Pedro.
Para Isabela Andrade, sócia-diretora da Berlim Digital, academia de treinamento em comunicação digital, “se não houver profissionalização e consistência na criação e produção do conteúdo, não é algo sustentável”. Isabela também conta que tanto empresas quanto influencers precisam observar o seu público em busca de identificar personas. “A profissionalização, até por meio de mídia kits, pode ser um diferencial quando a meta é transformar as contas nas redes sociais em uma fonte de renda.”.
Os mídia kits são uma espécie de panfleto digital onde dados como alcance e engajamento podem ser descritos pelo digital influencer a fim de fechar parcerias e acordos com marcas e empresas interessadas com a plataforma que eles têm a oferecer. A especialista também conta que, quando o influencer não consegue se adaptar às especificações da marca ou empresa, é comum que o engajamento, o retorno da campanha realizada, não seja satisfatório, se tornando, por muitas vezes, insustentável.
Tanto influenciadoras como especialistas relataram a necessidade de adaptação que a profissão requer, sobretudo pelos canais de comunicação utilizados para alcançar seus seguidores. "Junto com minha equipe, eu penso em criar um canal no Youtube para poder interagir com quem me segue em outra plataforma, de outra maneira", conta Nanda Figueiras, no que diz respeito à apreensão em torno de uma possível queda prolongada das redes sociais.