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Desde domingo, 5, a Polícia Federal e o Ibama executam a Operação Xapiri, que visa combater o garimpo ilegal na Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas. Segundo informou a PF, até agora a força-tarefa já destruiu 26 dragas, oito barcos, quatro rebocadores e 42,5 mil litros de diesel. Também foram apreendidas nove antenas Starlink e 3,2 kg de mercúrio.

A operação é realizada nos rios Jandiatuba, Boia, Jutaí, Igarapé Preto e Igarapé do Mutum.

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Segundo a PF, os xapiri ‘são guardiões invisíveis das florestas, espíritos nos quais os ancestrais animais dos povos Yanomami se transformaram’. "Eles são evocados nos rituais xamânicos para refrescar a terra, curar o corpo e afastar as epidemias."

Das 26 dragas destruídas entre domingo e hoje, seis eram de grande porte, avaliadas em cerca de R$ 5 milhões. Estima-se que retiravam 1 kg de ouro por mês da região.

Os barcos e rebocadores eram usados no apoio aos garimpeiros, e os 42,5 mil litros de diesel abasteciam os motores das dragas.

"As antenas facilitavam a comunicação dos criminosos sobre a presença da fiscalização", informou a PF.

Os investigadores destacam que o avanço do garimpo ilegal ameaça os povos do Vale do Javari, que reúne a maior concentração de grupos indígenas isolados do mundo.

Em época de seca, os indígenas se aproximam mais dos rios em busca de água e alimento, aumentando a probabilidade de contato com criminosos.

A estiagem dificulta a locomoção de dragas por grandes distâncias, favorecendo as incursões aéreas do Ibama e da PF.

Danos ambientais causados por dragas de garimpo incluem a destruição de mananciais, beiras de rios e igarapés. O material dragado é lançado nos rios, causando assoreamento.

A PF constatou que o aumento de sedimentos no rio dificulta a procriação de peixes e plantas, impactando a cadeia alimentar e as comunidades que vivem da pesca. O mercúrio usado para purificar o ouro contamina a água, causando graves danos ao meio ambiente e à saúde.

Nos últimos meses, a força-tarefa PF-Ibama deflagraram duas fases da Operação Draga Zero, com o objetivo de combater a extração ouro ilegal no Amazonas.

A primeira etapa da operação teve início no final de agosto e perdurou por doze dias, destruindo mais de 302 balsas espalhadas nos trechos do Rio Madeira. Sua segunda fase foi realizada no início de outubro, e mais nove dragas foram inutilizadas.

Coberto com pinturas vermelhas como as manchas de uma onça, um indígena acessa o TikTok na aldeia de Nova Esperança, no Vale do Javari, e dá risada ao assistir ao vídeo "Se eu fosse rico".

O povo matsés tem acesso à internet do Starlink, uma conexão através da constelação de satélites do bilionário americano Elon Musk.

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O sinal chegou faz pouco tempo no Vale do Javari, onde vivem as comunidades indígenas mais isoladas da Amazônia, com um projeto financiado pelas autoridades locais.

Os moradores de Nova Esperança se reuniram para ver a instalação da antena e do painel solar que a alimenta. O processo levou menos de 30 minutos e os trabalhadores usaram uma frágil escada para posicionar os equipamentos no telhado da escola.

A mais de 500 quilômetros e três dias de canoa de qualquer área urbana, os 200 moradores desta aldeia poderão desfrutar gratuitamente de uma conexão com a internet, um privilégio desta região do Brasil, na fronteira tríplice com Peru e Colômbia.

"Aí sim a gente tem sonho para o futuro [...] para ter formado engenheiro, engenheiro civil, geólogo, arquiteto [...] Isso é nosso sonho futuro", disse à AFP César Mayuruna, único vereador indígena de Atalaia do Norte, o município mais próximo da aldeia.

Mas a conexão poderosa via satélite - que já tem cerca de 50.000 usuários em todo o Brasil - preocupa os que zelam pelas tradições ancestrais. A rede também poderia servir para criminosos que exploram a terra indígena sem permissão.

- 'Difícil' -

Os matsés são um dos sete povos contatados do Javari, a segunda maior reserva indígena do de Brasil, onde ainda existem pelo menos 19 grupos indígenas que vivem em isolamento voluntário.

Povo nômade e guerreiro, os matsés fizeram seu primeiro contato com a modernidade na década de 1970. Hoje, continuam exibindo seus adornos faciais feitos de ossos e marfim, caçam e pescam, apesar de terem adotado trajes ocidentais. Os mais idosos têm tatuagens na face.

Os moradores que têm telefone celular - em sua maioria jovens que frequentam a cidade de Atalaia - estão entrando na rede pela primeira vez.

Raul, o cacique, também tem celular. Ele até utiliza o WhatsApp, mas "só para mensagens de áudio, não de texto", explica seu filho Assis, que usa vários aplicativos.

Graças à internet, os matsés de Javari poderão se comunicar sem ter que se deslocar dias e noites em canoa.

Para Bené Mayuruna, presidente da Organização Geral do Povo Matsés (OGM), significa poder estar em Atalaia do Norte, onde desempenha suas responsabilidades políticas, sem perder contato com sua família na aldeia.

"Nova Esperança é muito distante, é difícil para acessar, é difícil para comunicar", ressalta.

- Garimpo? -

Além de seu uso na educação e para alguns trâmites oficiais, a internet deveria facilitar o trabalho da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), que atende quase todas as comunidades do Javari.

Em caso de emergência - como, por exemplo, mordidas de cobra - o Starlink vai proporcionar uma ligação mais confiável do que o único transmissor de rádio da aldeia.

"Às vezes a radiofonia está quebrada, bateria, placa, então é um grande avanço para a comunidade de Nova Esperança", comemora Fábio Rodrigues, enfermeiro do SESAI.

Mas alguns matsés preocupados pelas tradições se mantém receosos. Enquanto a antena era instalada, os mais antigos convocaram uma reunião para discutir as normas de uso.

Decidiram pela vedação total do serviço durante à noite, com exceções para professores, pessoal de saúde e líderes comunitários. Também se reservaram o direito de desligar o sinal nos dias de caça, pesca e cerimônias tribais.

"A internet ajuda muito né, para comunicar. Mas, por outro lado, a internet traz para juventude para não fazer atividades tradicionais, para não ajudar a mãe. Quando a mãe faz atividade, fazer roça, ela chama e ele não vai por causa do celular né, assiste vídeo. Isso é muito preocupante né", afirma Bené Mayuruna.

Por outro lado, a comunidade espera que estar online traga segurança ao perigoso rio Javari, onde pescadores ilegais, traficantes e piratas atacam regularmente os indígenas.

Mas os criminosos tampouco estão alheios à tecnologia de Musk: entre fevereiro e julho, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreendeu 11 kits da Starlink de garimpeiros ilegais na terra indígena Yanomami, cerca de 1.400 quilômetros a nordeste do Vale do Javari.

A conexão também sofre com problemas de manutenção, já que as únicas fontes de energia são geradores e painéis solares.

A prefeitura de Atalaia do Norte se comprometeu a equipar, até o final do ano, as 62 aldeias da região de Javari, que totalizam quase 6.000 pessoas. Faltando menos de dois anos para as próximas eleições municipais, a rede também entra no jogo político local.

Entretanto, alguns matsés se preguntam quais são os interesses de Musk na Amazônia. Segundo um ancião da aldeia, se existe algo que os indígenas entenderam sobre a sociedade ocidental, é que "com os brancos, nada é de graça".

A Polícia Federal, liderada pelo delegado Andrei Passos Rodrigues, impôs sigilo sobre a quantidade de policiais destacados para atuar na delegacia de Tabatinga (AM), na fronteira com a Colômbia e com o Peru. Durante o governo de Jair Bolsonaro essa informação era pública. A unidade é responsável pelo combate ao crime nas cercanias do Vale do Javari, terra indígena onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assassinados no ano passado.

Em resposta a um pedido formulado por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), os dados apresentados pela gestão anterior da PF permitiram a constatação de que o número de policiais em Tabatinga vinha caindo ao longo dos anos. Sob Bolsonaro, atingiu o menor patamar em uma década.

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O combate ao crime organizado na região é considerado complexo por causa da forte atuação do tráfico internacional de drogas e das peculiaridades da fronteira. Como mostrou o Estadão, cartéis internacionais de drogas atuam dentro da terra indígena e exercem influência sobre nativos e ribeirinhos para operar rotas de escoamento de drogas e de armas longe da fiscalização.

A um novo pedido de dados sobre o efetivo policial nas delegacias do Amazonas, idêntico ao feito em julho do ano passado, a resposta foi a de as informações solicitadas são classificadas como secretas. Em recurso à negativa, a reportagem alegou que o pedido era idêntico ao que havia sido atendido meses atrás pela própria PF.

Em resposta ao recurso, o diretor-geral, Andrei Passos Rodrigues, afirmou que o pedido é "desarrazoado" e em "desconformidade com os interesses públicos do Estado em prol da sociedade". Para Passos Rodrigues, a disponibilização dos dados pela gestão passada foi equivocada.

"Cabe ressaltar que o eventual fornecimento equivocado de informações semelhantes em outro processo não determina que as mesmas sejam novamente fornecidas", afirmou, na resposta apresentada ao pedido de LAI.

Em julho de 2022 havia 32 policiais federais lotados em Tabatinga, sendo três delegados, cinco escrivães e 24 agentes. É o mesmo quantitativo de 2012. Nos anos seguintes, até 2020, a delegacia de Tabatinga variou entre 34 e 38 profissionais. Em 2021, caiu ao menor patamar do período, com 30 policiais.

Segundo investigadores, indigenistas e servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai), o crime organizado se beneficia da tímida presença do Estado na região do Javari. Policiais federais ouvidos dizem, sob a condição de anonimato, que o efetivo não é suficiente para dar resposta à quantidade de crimes de que se tem notícia.

Na semana passada, a Polícia Federal deslocou uma balsa de sua frota de Manaus para Atalaia do Norte, município que dá acesso à terra indígena do Vale do Javari e está na fronteira com o Peru. A embarcação com capacidade para comportar até 300 pessoas, segundo as informações oficiais, "cumprirá diversas diligências no decorrer dos próximos dias".

A balsa foi enviada à cidade semanas após uma visita à região feita pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. A princípio, a estrutura ficará por tempo indeterminado em Atalaia do Norte. A PF não informou o número de policiais enviados junto com a embarcação. Uma das principais críticas de lideranças indígenas da região é a de que as ações federais no Javari são pontuais e esparsas, e que a estrutura policial e de amparo aos povos indígenas não é reforçada.

Foi aprovado nesta quarta-feira (30) o parecer final da comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha a investigação do assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na região do Vale do Javari (AM). O documento pede a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar crimes praticados na região, entre outras medidas.

A relatora, deputada Vivi Reis (Psol-PA), destacou a “omissão planejada do governo em favor do crime organizado” e a falta de atuação de autoridades diante de "tragédia anunciada", referindo-se ao potencial de conflitos envolvendo diversos interesses na região.

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A principal conclusão do texto é a necessidade de aprofundamento das investigações.  “Até o momento, não foi dada uma resposta adequada, e não vamos deixar que um tão repugnante crime caia no esquecimento. É preciso fazer justiça e honrar a memória de Bruno e Dom”, reforçou a parlamentar.  

Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no 5 de junho. Ambos estavam recebendo ameaças de pessoas que atuam ilegalmente na região. Até o momento, Amarildo da Costa, Osney da Costa e Jefferson da Silva foram denunciados e presos pela participação no assassinato, mas ainda não foram ouvidos em juízo.

A relatora observa que a princípio a Polícia Federal negava a a existência de uma organização criminosa, baseando a investigação na atuação exclusiva dos três denunciados. No entanto, com pressão de indígenas e indigenistas, as investigações passaram a envolver outros delitos, como o tráfico de drogas.

“Está nítida a existência de associações que não financiam apenas a pesca ilegal, mas que também podem estar utilizando essa prática para lavagem de dinheiro proveniente de tráfico internacional de drogas”, ressaltou Vivi Reis.

No entanto, o parecer aponta um retrocesso no caso: no início de outubro, uma decisão da Justiça Federal no Amazonas concedeu ao suspeito apontado como mandante do crime, Rubens Villar Coelho, o "Colômbia", o direito de cumprir prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.  

A relatora reiterou que essa decisão intensificou o clima de tensão e medo na região. "A prisão do “Colômbia”  foi fruto do grito daqueles que não se conformaram com as conclusões precipitadas, daqueles que não aceitaram a afirmação do Ministro da Justiça de que se tratava de um caso isolado extremamente normal", frisou a deputada.

O relatório também pede a exoneração imediata do presidente da Funai, Marcelo Xavier da Silva, bem como a apuração, pelo Ministério Público Federal (MPF), de suposta ilicitude na conduta de Xavier e de outros gestores da fundação, que teriam atuado para viabilizar o garimpo e a pesca ilegal em territórios indígenas. 

"A manutenção de Marcelo Xavier na presidência é uma afronta aos servidores da Funai, aos colaboradores da União dos Povos Indígenas do Vala do Javari (Univaja) e de outras entidades indigenistas. É um ultraje a todos que se preocupam com a vida humana e com os povos indígenas da Amazônia", justifica a relatora.  O deputado José Ricardo (PT-AM), coordenador do colegiado, afirmou que o texto aprovado vai ser crucial para o novo governo, que assume em janeiro. 

“Todas essas medidas são muito importantes para que a gente cobre do próximo governo que realmente fortaleça todas as estruturas do Estado; além do ministério, temos todas as outras áreas que são importantes para atender aos povos indígenas”, defendeu o deputado. 

*Da Agência Câmara de Notícias

A Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte aprovou seu relatório final nesta terça-feira (16). No documento, de 37 páginas, o relator Nelsinho Trad (PSD-MS) defende o emprego das Forças Armadas de forma emergencial para garantia da lei e da ordem na região do Vale do Javari e na Terra Indígena Ianomâmi, onde há invasão crescente de garimpeiros. 

 O colegiado também propõe alteração na Lei Complementar 97, de 1999, para estabelecer a competência permanente e subsidiária das Forças Armadas para atuar na prevenção e repressão de delitos que atentem contra direitos transindividuais de coletividades indígenas, em acréscimo aos delitos transfronteiriços e ambientais, já previstos na legislação. 

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  "As Forças Armadas dispõem de meios e capilaridade muito superiores aos dos órgãos de segurança pública na região amazônica, incluindo sofisticados sistemas de vigilância. Há décadas, os nossos militares acolhem, nas suas fileiras, indígenas, caboclos e ribeirinhos, o que ajuda a consolidar o sentimento de nacionalidade. Reforçar, na lei, a parceria atende aos valores da paz e da ordem", afirmou o relator. 

Os senadores apresentaram também uma proposta de alteração no Estatuto do Desarmamento, para conceder o porte de arma de fogo aos integrantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) em atividades de fiscalização, e na Lei de Crimes Ambientais, a fim de agravar penas em delitos cometidos em terras indígenas. 

 O relatório final destaca que a Floresta Amazônica está presente em oito países, por isso é preciso reforçar no Parlamento Amazônico (Parlamaz) "o diálogo franco sobre a união de governos e povos para proteger a Amazônia e promover o desenvolvimento da região com respeito ao meio ambiente e aos povos originários".

  Estado ausente

Depois de quase dois meses de trabalho, os parlamentares e a equipe técnica da comissão constataram que a pobreza e a desassistência são fatores que agravam a exposição de comunidades inteiras à violência. Por isso, os indígenas necessitam de assistência social, políticas de saúde, educação e apoio às suas atividades produtivas, para que possam prosperar e diminuir sua vulnerabilidade social. 

"O Estado tem negligenciado o seu especial dever de proteção. Mesmo que se possa discutir a legitimidade dos interesses de não indígenas sobre áreas não homologadas, como defende a atual gestão da Funai, não há sombra de dúvida de que a presença de invasores nas terras já homologadas, como a do Vale do Javari, é um emaranhado de crimes contra os indígenas, contra a União e contra os interesses nacionais", disse o relator.   

Conforme o relatório, a ausência do Estado favorece o crescimento de mercados ilícitos de grilagem de terras, queimadas, exploração da madeira, garimpo, pesca, caça, pirataria e transporte de drogas e de armas.

No vácuo de poder, organizações criminosas são formadas ou migram para explorar essas atividades.  "Conforme constatado por esta comissão in loco, é preciso investir no fortalecimento de mecanismos integrados de comando e controle, que conectem esferas federal e estadual e, em especial, diferentes órgãos e Poderes (principalmente polícias, Ministério Público, defensorias, Funai, Ibama, ICMBio, Incra e Judiciário).  Segundo Nelsinho Trad, há quem acuse os indígenas de se aliar a organizações não governamentais e a governos estrangeiros para solapar a soberania nacional, usando como pretexto a defesa do meio ambiente; mas o que se vê, na verdade, são indígenas clamando insistentemente pela presença do Estado brasileiro e pela defesa de sua cidadania". 

 Voto de repúdio 

Depois da apresentação do relatório, os parlamentares aprovaram um voto de repúdio, a pedido do senador Fabiano Contarato (PT-ES), contra declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro; do vice-presidente, Hamilton Mourão; e do presidente da Funai, Marcelo Xavier, sobre as mortes do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinados em junho passado no Vale do Javari. 

 Segundo o senador, os representantes do Executivo transferiram de forma inaceitável a responsabilidade pelo crime às vítimas. Contarato pediu respeito e reverência à memória dos dois e disse que "três pessoas revestidas de autoridade pública não contiveram a própria torpeza e investiram contra quem não mais poderia se defender". 

 CPI O representante do Espírito Santo aproveitou para pedir a inclusão no relatório final de um pedido de criação de uma comissão parlamentar de inquérito para apurar todos os ataques que povos indígenas e o meio ambiente vêm sofrendo no Brasil. 

 O relator se mostrou contra a iniciativa e disse que, com exceção da CPI da Pandemia, nunca viu alguma comissão de inquérito ter algum resultado prático. Diante do impasse, o presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), já avisou que vai iniciar a coleta de assinaturas para a instalação do novo grupo de investigação. 

Providências A comissão temporária foi criada em 20 de junho para, no prazo de 60 dias, investigar as causas do aumento da criminalidade e de atentados contra povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos na Região Norte e em outros estados, assim como fiscalizar as providências adotadas diante do crime que vitimou Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips. 

No relatório, os senadores deixam claro que o colegiado temporário não tem poderes de uma comissão de inquérito (CPI) e que a situação dos povos indígenas segue sob acompanhamento da Comissão de Direitos Humanos (CDH). 

"Se os problemas apresentados a esta comissão decorrem, como acusam os indigenistas, de desvio de finalidade, é assunto, em última análise, para o Ministério Público e o Poder Judiciário. A nós, do Poder Legislativo, reunidos em uma comissão voltada para a melhor compreensão da violência na Região Norte e o acompanhamento do caso de Dom e Bruno, cabe cobrar providências do Poder Executivo, como já fizemos", disse o relator. 

 O documento aprovado nesta terça-feira será entregue agora ao Ministério Público, Tribunal de Contas da União, à Presidência do Senado e à CDH.   

*Da Agência Senado

Ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro até abril de 2020, o ex-juiz Sérgio Moro afirmou ontem ao Estadão que a Força Nacional ficou "muito reativa" em sua atuação no Norte do País. Questionado sobre o fato de apenas seis agentes da tropa de elite terem sido enviados durante sua gestão para a região do Vale do Javari - que tem 85 mil km² -, Moro admitiu que o efetivo é pequeno e disse que a ampliação do contingente esbarrou em divergências políticas.

"A Força Nacional ficou muito reativa, mas acabou sendo espalhada para atender também essa situações em lugares ermos onde a população local está sendo ameaçada, como a população indígena em regiões como Altamira e Amazonas. O problema não é uma falta de estratégia, mas de efetivo. Isso o País deveria discutir profundamente", afirmou Moro. "O governo estadual é que tem que atender essas situações ermas e remotas ou o governo federal deve assumir maiores responsabilidades? Eu defendo um aumento do efetivo da Força Nacional, o que acabou não sendo politicamente viável. A gente discutiu isso quando eu era ministro da Justiça, mas acabou não sendo viável por conta das rusgas do presidente da República com o Congresso Nacional."

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A tropa de elite nacional é formada por policiais militares, bombeiros militares e policiais civis. Reportagem do Estadão publicada ontem mostrou que os seis agentes foram enviados para a Terra Indígena do Vale do Javari em 2019; desde então, o efetivo é renovado. Ao menos seis pedidos foram feitos neste ano ao governo federal para o reforço da proteção na região. Foram rejeitadas todas as solicitações da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

FUNAI

Filiado ao União Brasil e pré-candidato nas eleições deste ano, Moro disse que a exoneração do indigenista Bruno Pereira da Fundação Nacional do Índio (Funai) não tem sua assinatura. "Muitas dessas questões não chegam até o ministro. A exoneração do Bruno Pereira (da Funai) não passou por mim. Não tem minha assinatura nisso. No fundo a Funai tem a sua autonomia para proferir suas decisões." O ex-ministro lamentou o caso e afirmou conheceu o jornalista britânico Dom Phillips.

Conforme o Estadão revelou, cartéis de drogas de Miami, Medellín e Sinaloa mantêm um Estado paralelo no Alto Solimões, na Amazônia. "Isso suscita uma discussão importante, que é o espaço da Amazônia. O que o Brasil pretende? A falta da presença do Estado é uma questão grave. Do governo federal e do Estado. Dimensões grandes do território são dominadas por gangues", afirmou Moro.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O barco de alumínio atraca na beira do Rio Quixito. André Marubo salta para a terra e sobe por uma escada vacilante de madeira, até chegar à guarita improvisada do posto de vigilância que ajudou a erguer 13 anos atrás. Do barranco da Base do Quixito, escondida nos extremos da Amazônia entre o Brasil e o Peru, o marubo mostra o que sobrou do pequeno casebre onde vai passar alguns dias, antes de partir para a sua aldeia. Algumas estruturas do posto de vigilância ainda estão em bom estado, mas parte das vigas apodreceu. A palha da caranã que cobria o teto se esparramou pelo assoalho. André pouco fala. Ao ser questionado como é ver o esfacelamento do lugar que construiu, responde: "É triste. Tudo vai indo embora".

A decadência que aos poucos corrói cada lasca de madeira da Base do Quixito, unidade de fiscalização controlada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), é um exemplo de como tem sido a condução de ações de proteção dos povos do Vale do Javari, terra indígena que concentra o maior número de índios isolados e de recente contato em todo o mundo.

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Equipes formadas por indígenas e agentes da Funai procuram proteger a terra nesses extremos da Amazônia, uma área que abrange 84.570 quilômetros quadrados, o equivalente a dois Estados do Rio.

Essa imensidão de floresta contava, até pouco tempo atrás, com quatro bases da Funai em funcionamento para proteger cerca de 5 mil índios isolados e de recente contato. Cabia aos postos do Ituí-Itaquaí, Quixito, Curuçá e Jandiatuba barrarem a ação predatória que avança sobre a terra demarcada. Hoje esse trabalho está perto de ser inviabilizado.

Por nove dias, o Estado percorreu rios, trilhas e matas fechadas, trabalho que envolveu mais de 320 km de viagens de barco. A expedição em terra incluiu 22 km de caminhadas e foi autorizada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Isolado

No ano passado, Marco Targino, indigenista da Funai responsável pelo posto Quixito, chegou a ficar 192 dias isolado na base, porque não havia quem pudesse substituí-lo na função. "Foram seis meses e 12 dias no mato. Saí daqui surtado", lembra.

Até o início deste ano, havia apenas 19 servidores da Funai responsáveis por tomar conta de toda terra indígena em ações de fiscalização. Aos constantes cortes de orçamento da estatal, somam-se o encolhimento de seu quadro profissional e a desidratação de seus programas.

O Ministério da Justiça, que comanda a Funai, prefere não comentar. A Funai afirma que tem procurado formas de dar continuidade às atuais políticas de fiscalização. "A Funai seguirá trabalhando para tomar as providências necessárias à proteção desses grupos", afirma.

São palavras de difícil compreensão para André Marubo, que tenta arrumar um canto para dormir na Base do Quixito. Seu povo está entre aqueles de recente contato com não índios e, portanto, depende das ações de proteção. "Não somos nós que saímos daqui", diz. "Vocês é que vieram para cá." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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