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 Nesta quinta-feira (18), a Polícia Militar do Maranhão prendeu vinte indígenas do povo Akróa-Gamella, no território Taquaritiua, no município de Viana. De acordo com testemunhas, a ação foi violenta, tendo deixado pessoas feridas, e incluiu apreensão de celulares e equipamentos fotográficos de indígenas que registravam a abordagem.

Dentre os indígenas presos, está um agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Maranhão, Kum´Tum Gamella. De acordo com a instituição, os conflitos se acirraram na última quarta (17), quando a empresa Equatorial Energia retomou as obras para construção de uma linha de transmissão que atravessa o território indígena.

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Nesta manhã, relatos dão conta de que seguranças armados, que se identificaram como funcionários da companhia energética, passaram a circular pela área, intimidando a população. "Eles chegaram aqui com bastante violência perguntando quantas pessoas tinha na casa...com as armas em punho, sempre com as pistola apontada pra gente... um dos policiais era muito agressivo e esse mesmo que machucou ainda o rosto de uma mulher indígena e de algumas outras pessoas também e jogou todo mundo no chão, sempre mandava as pessoa descer, deitar e pisava em cima”, contou uma das lideranças indígenas.

A CPT relata que a ação continuou com a chegada de diversas viaturas ao território, “abordando lideranças e revistando residências de dezenas de pessoas”, diz a nota da instituição. De acordo com os indígenas, nativos do território foram agredidos, bem como a PM disparou balas de efeito moral e spray de pimenta contra mulheres, crianças e idosos que estavam no local. Os vinte indígenas presos foram conduzidos para a delegacia de Viana, onde permanecem encarcerados.

Conflito

Segundo a CPT, o povo Akroá Gamella reivindica a titulação e seu território junto à FUNAI desde 2014. “A morosidade na demarcação do território ocasionou uma série de conflitos graves na região. Em 2017, políticos e fazendeiros da cidade de Viana, Penalva e Matinha, orquestraram um violento ataque ao território Taquaritiua, mobilizando centenas de pessoas da região para o que poderia ter sido um verdadeiro massacre”, explica a instituição.

Foi nessa ação que dois indígenas tiveram mãos e pernas decepadas e outros vinte, aproximadamente, foram feridos. O Conselho Indigenista Missionário Regional Maranhão já realizou diversas denúncias de violações contra os indígenas da localidade.

“Já denunciamos ao Ministério Público Federal, à 6ª Câmara [de Coordenação e Revisão -Índios e Minorias], para a Defensoria Pública da União. Já pedimos também para que suspendessem esses empreendimentos já que, até o momento, não foi conduzido da maneira correta. Ou seja, com a participação e consulta ao povo sobre o licenciamento”, explica a assessoria jurídica do Cimi, Lucimar Carvalho.

As investidas da empresa no sentido de dar continuidade ao processo de implantação do linhão de energia datam de 2016. “A ação dessa empresa é completamente descabida. Primeiro que o licenciamento corre pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, enquanto deveria ser pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. Além disso, deveriam respeitar o componente indígena, que é o termo de referência para essas situações. Os impactos no território sequer foram observados. Já passa um trecho de uma linha de transmissão e há uma tremenda devastação embaixo dessas linhas”, completa Lucimar Carvalho.

A vereadora da cidade do Rio de Janeiro Tainá de Paula (PT) denunciou, por meio de suas redes sociais, ter sofrido uma abordagem violenta da Polícia Militar, na Tijuca, na Zona Norte da capital carioca, durante a noite da última quinta (27). Ela afirma que estava acompanhada de seus assessores, todos negros, em um veículo, quando os policiais apontaram armas em suas cabeças. O incidente ocorreu há menos de um quilômetro do local no qual a vereadora Marielle Franco (Psol) foi morta a tiros.

“Não posso dizer que fiquei surpresa com o ocorrido, ontem. Esse tipo de abordagem faz parte de uma rotina perversa na vida de pessoas negras. O que precisamos responder é até quando situações como essa serão normalizadas. Não é normal”, afirmou Tainá de Paula.

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A vereadora disse ainda que ela e sua equipe foram postos para fora do carro com “berros de ‘mão na cabeça’” e ameaças. “Não é possível que pessoas negras num carro blindado possa causar tanta estranheza”, lamentou.

Por meio de nota, o PT Rio repudiou a conduta dos policiais, que categorizou como uma “abordagem truculenta e racista”. “Situações como essa que a vereadora Tainá de Paula e sua equipe de assessores foram vítimas, evidenciam como o racismo estrutural massacra, oprime e criminaliza a população negra em nosso país, precisamos ser firmes e lutar diariamente para que essa realidade mude, pois situações como essas não podem e não devem continuar acontecendo no dia a dia da população negra e periférica”, diz o posicionamento.

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Outras representações do partido também manifestaram apoio à vereadora e a seus assessores. “Toda a minha solidariedade a você, minha querida. É inadmissível essa abordagem violenta apenas por serem pessoas negras em um carro. Esse é o retrato do racismo estrutural”, publicou a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), em sua conta no Twitter.

Por sua vez, o ex-senador Lindberg Farias escreveu: “Minha solidariedade, companheira. É triste essa constatação diária do racismo estrutural no nosso país. Força, @tainadepaularj”.

Por meio de nota à imprensa, a PMERJ informou que aguarda notificação sobre o caso. "Diante da comunicação oficial, o comando da Corporação irá apurar as circunstâncias do fato", elucidou a instituição.

A região América Latina e Caribe é a mais violenta do planeta, com 39% dos homicídios, enquanto a taxa de roubo é o triplo da média e concentra 41 das 50 metrópoles mais perigosas.

Segundo um estudo do BID realizado em conjunto com o Instituto Igarapé do Brasil, com apenas 9% da população mundial, a região é a única do mundo onde a principal causa externa de morte é o homicídio (52% dos falecimentos). As cidades de Caracas, San Pedro Sula, San Salvador e Acapulco são as mais violentas, com taxas de homicídio de 10 a 20 vezes superiores a média mundial, acima de 80 para 100.000 habitantes.

Os índices de violência não diminuem apesar do desenvolvimento alcançado nos últimos anos. "Neste sentido, a região é uma anomalia", afirma o estudo "Crime e violência, obstáculos para o desenvolvimento das cidades da América Latina e Caribe", do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Entre 2004 e 2014, a maioria dos países experimentou taxas de crescimento econômico anual próximas de 4%, ao mesmo tempo que registrou diminuição da pobreza. Os cidadãos também "estão mais saudáveis e alcançaram um maior nível de estudo".

Mas "os indicadores mais revelantes de incidência criminosa, de vitimização e de percepção de insegurança se mantiveram elevados".

E a pouca confiança nas instituições é outro fator relevante, por isso "é necessário criar instituições eficientes, profissionalizar as polícias e aproximá-las dos cidadãos", ressaltou à AFP Nathalie Alvarado, diretora de Segurança Cidadã do BID.

Enquanto busca soluções, a América Latina se mantém como a região mais violenta do mundo: concentra 39% dos homicídios, contabilizando em menos de duas décadas mais de 2,5 milhões de homicídios, desses 75% cometidos com arma de fogo.

E o futuro não é promissor. Se a situação e a tendência foram mantidas, a taxa de homicídio vai passar de 22 assassinatos para cada 100.000 pessoas em 2017 para 35 em 2030.

A taxa de roubo também é elevada. Para cada 100.000 habitantes, a região registra 321,7 roubos, enquanto a média mundial é de 108.

- Triste recorde -

A rápida e desordenada urbanização, o estancamento da produtividade nas cidades e o desemprego juvenil são os fatores que estariam por trás deste triste recorde, segundo o BID.

Na região, há 7,1 milhões de jovens desempregados e 15,1 milhões que não estudam nem trabalham. "As análises apontam que um aumento de 1% no desemprego juvenil conduz a um aumento de 0,34 na taxa de homicídio", indica o relatório.

Há ainda "uma banalização" da violência, adverte Lucia Dammert, especialista em temas de segurança da Universidade de Santiago.

Soma-se a isso a presença do crime organizado - expresso em facções de tráfico de drogas, tráfico de pessoas e mineração ilegal -, além do alto uso de armas de fogo, especialmente na América Central.

"Com essa presença de armas, há um aumento no uso da violência para acabar com os problemas cotidianos", explicou Dammert à AFP.

Existe também uma baixa legitimidade da polícia e da justiça. Apenas 20 de cada 100 homicídios resultam em uma condenação, quase metade da taxa global de 43 por 100.

"Temos que criar sistemas que não sejam um obstáculo para a aplicação da justiça, porque é evidente a grande impunidade na América Latina", disse Alvarado.

Essa sensação de impunidade faz com que apenas 45% dos crimes sejam denunciados.

O relatório do BID, apresentado no marco da 10ª semana de Segurança Cidadã realizada em Santiago, no Chile, também alerta para o alto custo da criminalidade na região: 3,5% do seu PIB anual.

- Combate ao crime -

Para combater o crime, o BID recomenda respostas inovadoras centradas a nível municipal, na antecipação do crime e análise de dados em tempo real.

Fazer baixar os índices de insegurança "não é tarefa fácil, mas estamos vendo nesta semana da Segurança que muitas cidades da América Latina e muitos países baixaram suas taxas de homicídios", notou Alvarado.

"O que precisamos agora é descobrir quais foram os elementos que possibilitaram essas quedas" e assegurar que este conhecimento esteja disponível para toda a região, concluiu.

Na semana passada, o pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) causou mais uma vez após um vídeo mostrar o presidenciável ensinando uma criança a imitar uma arma. Algumas pessoas defenderam o deputado, mas também teve que criticou com veemência a atitude de Bolsonaro. Definindo Bolsonaro como “inominável”, a pré-candidata a presidente Manuela D’Ávila (PCdoB) também condenou a postura dele. 

D’Ávila disse que seu sonho é viver em um Brasil no qual nenhuma criança seja submetida a qualquer tipo de violência. “O inominável pegou no colo uma criança e fez, na mão de um ser ainda tão indefeso, o gesto que representava uma arma. O Brasil que eu sonho viver é aquele em que nenhuma criança seja submetida a qualquer tipo de violência. Em que educação forme brasileirinhas e brasileirinhos para a paz”, ressaltou. 

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A presidenciável também falou que a imagem é muito violenta. “Essa imagem é tão violenta, tão violenta que o sorriso na cara do inominável deve ser apenas uma expressão de deboche”, continuou criticando. 

Por sua vez, Bolsonaro minimizou as imagens e chegou a classificar como “frescura” os julgamentos negativos dos opositores. "Chega de frescura, quando eu era criança brincava de arma o tempo todo. Nas favelas, tem gente de fuzil por todo o lado", disse em entrevista ao jornal O Globo. 

 

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