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A revista satírica Charlie Hebdo, cuja equipe foi dizimada no atentado realizado por dois homens armados na quarta-feira, será publicada na próxima semana, como estava previsto, informou um dos editorialistas sobreviventes à AFP nesta quinta-feira.

A publicação na próxima quarta-feira mostrará desafiadoramente que "a estupidez não vai ganhar", declarou Patrick Pelloux, acrescentando que o restante da equipe irá se reunir em breve.

Toda a França manteve nesta quinta-feira às 12h00 (09h00 de Brasília) um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do atentado contra a revista Charlie Hebdo, que deixou doze mortos na quarta-feira em Paris.

Esta quinta-feira foi declarada dia de luto nacional e todas as bandeiras ondeavam a meio mastro nos edifícios públicos.

"Barbárie", "Guerra contra a liberdade". A comoção provocada pelo sangrento atentado contra a revista satírica francesa Charlie Hebdo se reflete nesta quinta-feira na primeira página dos jornais.

Na imprensa francesa, fundos pretos e desenhos prestam homenagem aos 12 mortos, entre eles famosos cartunistas, no atentado com kalashnikov cometido na quarta-feira em Paris contra a revista.

"Todos somos Charlie", afirma o jornal Libération (esquerda). A frase, apresentada por muitos manifestantes na noite de quarta-feira, figura em muitas manchetes de jornais.

"A liberdade assassinada", afirma, por sua vez, o jornal conservador Le Figaro, que publica as fotos de seis vítimas: os cartunistas Cabu, Charb, Honoré, Tignous, Wolinski e o cronista Bernard Maris.

Em um editorial intitulado "A guerra", o diretor do jornal anuncia "uma verdadeira guerra, obra não de assassinos na sombra, mas de assassinos metódicos e organizados, cuja selvageria gela o sangue".

O jornal Les Echos convoca a "Enfrentar a barbárie" e publica o último desenho de Charb.

O editorial arremete contra "canalhas encapuzados (que) declararam guerra contra a França, contra nossa democracia, nossos valores".

"Barbárie", sobre um fundo preto, também é a manchete escolhida pelo jornal gratuito 20 Minutes.

Na Bélgica, o jornal econômico L'Echo intitula "Todos Charlie" sobre um fundo preto, no centro de sua primeira página, que reproduz 17 capas da Charlie Hebdo. Seu irmão flamengo De Tijd, mais sóbrio, apresenta uma primeira página quase toda preta com as palavras "Sou Charlie", em francês.

Toda a primeira página do jornal flamengo De Morgen é ocupada por um desenho que representa em vermelho sobre um fundo branco um terrorista que segura uma kalashnikov e exclama "Estão armados!" diante de um personagem com um lápis.

O editorialista do La Libre Belgique Francis Van de Woestyne estima que "este ataque é, por seu impacto, sua violência, tão importante quanto o que atingiu Nova York em 11 de setembro de 2001".

"Não ceder"

Na imprensa britânica, o Daily Mail e o Daily Telegraph intitularam "Guerra contra a liberdade" e publicaram na primeira página a foto dos agressores no momento em que matam um policial ferido no chão.

No mesmo sentido, o The Times intitulou "Ataque à liberdade" e o The Guardian "Ataque contra a democracia".

"O ataque contra os jornalistas do Charlie Hebdo aponta contra o coração da democracia, a liberdade de imprensa", escreveu em seu site o jornal conservador alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).

"Na luta contra o terrorismo não se deve retroceder", acrescentou.

"Sou Charlie!", escreveu o site Tageszeitung (esquerda).

"O objetivo dos terroristas é sempre propagar o medo e o terror. Com o ataque de quarta-feira o medo se instaurou nas salas de redação", disse o Tageszeitung.

"A Europa não tem medo", afirmou a edição internet da publicação portuguesa Expresso, que destaca que milhares de europeus saíram às ruas para defender a liberdade de expressão.

"Não se deve ceder à chantagem repugnante do terror", afirma o jornal Público de Portugal.

A rádio espanhola Cadena Ser insistiu que é preciso "combater o fanatismo, o ódio irracional, o obscurantismo e a ignorância".

O jornal dinamarquês Berlingske publica em sua primeira página um desenho que representa uma folha em branco com o nome da Charlie Hebdo cercado por 12 marcas de tiros, correspondendo aos doze mortos no ataque.

"O profeta vingado com sangue", afirmou o jornal conservador polonês Rzeczpospolita, que diz que a "Charlie Hebdo é uma vítima da guerra que os islamitas declararam à França".

O jornal internet Gazeta.pl, da publicação Gazeta Wyborcza, publicou as 13 "capas mais impactantes da história da Charlie Hebdo", das quais várias dedicadas ao Papa.

"Não poupavam ninguém, nada era sagrado para eles", comentou a Gazeta.pl.

Vários suspeitos foram presos durante a madrugada após o ataque terrorista à redação do jornal Charlie Hebdo. A informação foi dada pelo primeiro-ministro francês, Manuel Valls. Em entrevista à rádio RTL, o político citou que os dois suspeitos que ainda estão sendo procurados pela polícia seriam conhecidos dos serviços de inteligência e já estariam sendo procurados antes mesmo dos ataques.

Informações não confirmadas citam que teriam sido sete detidos nas últimas horas, especialmente pessoas próximas a Said Kouachi, de 34 anos, e Chérif Kouachi, de 32. Autoridades estariam interrogando essas pessoas para saber mais sobre os suspeitos. Os irmãos Kouachi são apontados como principais responsáveis pelo ataque que também teria contado com a participação de Hamyd Mourad, de 18 anos. O jovem se entregou à polícia durante a noite.

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O ataque ao Charlie Hebdo matou 12 pessoas ontem. Entre as vítimas, estão jornalistas e chargistas da publicação.

"Somos todos franceses" e #EuSouCharlie (do francês #JeSuisCharlie): o mundo condenou, nesta quarta-feira, nas redes sociais e em pronunciamentos de diferentes líderes, o ataque ao semanário francês Charlie Hebdo, em Paris, denunciando-o como um ato de terrorismo contra a liberdade de expressão.

Doze pessoas morreram e 11 ficaram feridas na sede da publicação, onde homens armados realizaram o ataque, antes de fugir.

O atentado foi condenado de forma unânime por líderes mundiais, como o presidente americano, Barack Obama, e vítimas da intolerância, como o escritor britânico Salman Rushdie, suscitando gestos de solidariedade de inúmeros veículos de comunicação e manifestações espontâneas. Somente na França, mais de 100 mil pessoas foram às ruas, de acordo com a polícia local.

O semanário já havia recebido ameaças por reproduzir as polêmicas charges do profeta Maomé, publicadas na Dinamarca em 2005, e que causaram grande revolta no mundo muçulmano. Os agressores concluíram o ataque de hoje aos gritos de que Maomé havia sido vingado.

"As religiões, assim como todas as outras ideias, merecem críticas, sátiras e, sim, nossa falta de respeito sem medo", defendeu em nota o escritor Rushdie, autor de "Os versos satânicos" (1988), livro que o forçou a viver anos escondido.

Na época, o líder iraniano Aiatolá Khomeini colocou sua cabeça a prêmio. "Esse totalitarismo religioso provocou uma mutação fatal no coração do Islã, cujas consequências se viram hoje em Paris", avaliou Rushdie, que aderiu no Twitter à hashtag #jeSuisCharlie, em solidariedade à revista francesa.

Vários jornais reproduziram algumas das controversas charges, além de imagens de seus cartunistas apontando seus lápis, em apoio aos colegas da "Charlie Hebdo".

"Atacar uma redação com armas pesadas é o tipo de violência que vemos no Iraque, Somália, ou Paquistão", declarou o secretário-geral da organização internacional de defesa da imprensa Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire, diante da sede da revista. "Mas podíamos esperar viver este horror na França? Este pesadelo se tornou real. Este ataque terrorista é um dia negro na história do nosso país", acrescentou Deloire.

O presidente francês, François Hollande, decretou a quinta-feira "dia de luto nacional" na França e renovou seu apelo à união do país. "Nossa melhor arma é nossa união. Nada pode nos dividir, nada deve nos separar", declarou o chefe de Estado, durante discurso curto e solene à Nação, transmitido por emissoras de televisão.

EUA condenam ataque covarde e assassino

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não demorou a condenar energicamente o ataque. "Nosso pensamento e orações estão com as vítimas deste ataque terrorista e com o povo da França neste momento difícil", afirmou o presidente em nota oficial, lembrando que "a França é um dos nossos mais antigos e fortes aliados".

"Para nós, ver o tipo de ataque do mal, covarde, que aconteceu hoje, eu acho, reforça, mais uma vez, por que é tão importante sermos solidários com eles, assim como eles são solidários conosco", acrescentou.

"O fato de que tenha sido um ataque contra jornalistas, um ataque contra nossa liberdade de imprensa, também destaca o grau em que esses terroristas temem a liberdade - de expressão e liberdade de imprensa", insistiu Obama.

"Mas a coisa sobre a qual eu tenho muita confiança é que os valores que compartilhamos com o povo francês - a crença, uma crença universal na liberdade de expressão - é algo que não pode ser silenciado pela violência sem sentido da minoria", afirmou o presidente americano.

Obama ofereceu, ainda, toda ajuda necessária para a investigação dos ataques desta quarta-feira.

Em francês, o secretário de Estado americano, John Kerry, dirigiu-se ao povo da França para falar desse "ataque assassino", declarando: "todos os americanos estão do seu lado". "A caneta é um instrumento de liberdade, não de medo", lembrou Kerry, acrescentando que "a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são valores centrais, princípios que podem ser atacados, mas nunca erradicados".

Os autores do ataque "se atreveram a dizer que 'Charlie Hebdo' morreu", disse o secretário.

"Não se enganem: hoje e amanhã, na França e em todo o mundo, a liberdade de expressão que essa revista representou, além dos sentimentos de cada um sobre ela, não pode ser apagada", sentenciou Kerry.

Já o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, disse estar "horrorizado com este bárbaro ato terrorista cometido na França", em declarações em sua conta no Twitter.

Mundo fica em choque

Primeiro a se manifestar, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reagiu com revolta à notícia e expressou solidariedade com a França na luta contra o terrorismo. "Os assassinatos em Paris são revoltantes. Estamos ao lado do povo francês na luta contra o terrorismo e na defesa da liberdade de imprensa", declarou Cameron, em sua conta no Twitter.

A rainha da Inglaterra, Elizabeth II, transmitiu seus pêsames. "Enviamos nossas mais sinceras condolências às famílias dos mortos e dos feridos no atentado desta manhã em Paris", disse a monarca, em nota divulgada em seu nome e de seu marido, o príncipe Philip.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, criticou o que chamou de "um ato intolerável, uma barbárie".

"Estou profundamente consternado com o ataque brutal e desumano contra a redação da Charlie Hebdo. É um ato intolerável, uma barbárie que questiona todos nós como seres humanos e europeus", afirmou Juncker, em um comunicado.

A chanceler alemã, Angela Merkel, definiu o atentado como abominável.

"Um ataque que ninguém pode justificar contra a liberdade de imprensa e de opinião, um fundamento de nossa cultura livre e democrática", criticou, em um comunicado.

O jornal dinamarquês que publicou as charges, "Jyllands-Posten", anunciou que reforçará sua segurança, temendo represálias, enquanto a primeira-ministra dinamarquesa, Helle Thorning-Schmidt, uniu-se ao coro dos que condenaram o ataque.

"A sociedade francesa, como a nossa, é aberta, democrática e se baseia em uma imprensa livre e crítica. São valores enraizados em todos nós que precisam ser protegidos", defendeu.

O presidente russo, Vladimir Putin, condenou "energicamente o terrorismo em todas as suas formas", de acordo com seu porta-voz, Dmitry Peskov, citado pela agência russa de notícias TASS, acrescentando que Putin expressou suas condolências aos franceses.

Segundo nota do Kremlin, o presidente russo "condenou duramente este crime cínico e confirmou sua disposição a seguir com a cooperação ativa na batalha contra a ameaça do terrorismo".

O governo da Espanha, através do Ministério das Relações Exteriores, manifestou sua mais "enérgica condenação". "A Espanha aposta hoje com mais força do que nunca na liberdade de imprensa como um direito fundamental e irrenunciável", declarou, acrescentando que Madri "reitera sua repulsa categórica frente a qualquer tipo de ato terrorista".

Já o chefe do governo italiano, Matteo Renzi, escreveu no Twitter: "horror e consternação pelo massacre de Paris, proximidade total com (o presidente francês François) Hollande neste momento terrível, a violência sempre perderá para a liberdade".

Evocando a França como "símbolo da liberdade", Renzi disse, em francês: "somos todos franceses, porque pensamos em que a liberdade é a única razão de ser da Europa e dos cidadãos europeus".

A diretora geral da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Irina Bokova, também disse estar horrorizada. "Meu pensamento está com as famílias das vítimas e dos feridos. Também é um ataque contra a imprensa e contra a liberdade de expressão", afirmou. "A comunidade internacional não pode deixar que os extremistas semeiem o terror e impeçam a livre circulação das opiniões e ideias", acrescentou Bokova.

O papa Francisco expressou "sua firme condenação do horrível atentado". No comunicado divulgado pela assessoria do Vaticano, o sumo pontífice manifesta ainda "sua proximidade e solidariedade espiritual" a todos os afetados pelo atentado e frisou que "nenhuma razão" justifica "a violência abominável".

"O Santo Padre manifesta sua firme condenação pelo horrível atentado que afetou a cidade de Paris com um alto número de vítimas, semeando a morte, deixando a sociedade francesa inteira consternada", destacou a nota.

"O papa participa com a oração no sofrimento dos feridos e no das famílias dos falecidos e pede a todos que se oponham, com todos os meios, à propagação do ódio e de toda forma de violência, física e moral, que destrói a vida humana, viola a dignidade das pessoas e mina a convivência pacífica entre pessoas e povos", completou a nota.

A presidente Dilma Rousseff classificou o ato de barbárie intolerável e expressou sua solidariedade para com o presidente e o povo franceses. Também criticou o "inaceitável ataque à liberdade de imprensa".

No mesmo tom, o presidente colombiano, José Manuel Santos, lembrou que "a liberdade de expressão e de imprensa são direitos universais invioláveis". O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, enviou hoje uma mensagem de pêsames à França e pediu unidade na luta contra "o terrorismo islamita".

"Em nome do povo israelense, expresso meus pêsames ao presidente francês, às famílias em luto e a todo o povo francês", declarou Netanyahu. "O terrorismo islamita não tem fronteiras e não aponta para Israel em primeiro lugar. Aponta para destruir todas as sociedades dos países livres [...] busca desarraigar toda cultura humanista para impor a tirania em seu lugar", acrescentou Netanyahu.

O Irã também denunciou o atentado, afirmando que "todo ato terrorista contra inocentes é estranho ao pensamento e aos ensinamentos do Islã".

Esses atos são "a continuidade de uma onda de radicalismo e de uma violência física e mental sem precedentes", que "se difundiram no mundo nesses últimos dez anos", declarou a porta-voz da Diplomacia iraniana, Marzieh Afkham, citada pela agência oficial de notícias Irna.

Segundo ela, esses atos foram provocados "pelas políticas ruins e de dois pesos e duas medidas frente à violência e ao extremismo".

Adotando um tom crítico, a porta-voz evocou o caso das charges de Maomé publicadas em diferentes jornais europeus em 2005-2006, que provocou manifestações em massa em Teerã, com ataques às embaixadas desses países.

"Servir-se da liberdade de expressão e de ideias radicais (...) e humilhar as religiões, assim como seus valores e símbolos, é inaceitável", frisou.

Mundo muçulmano se solidariza

A Liga Árabe e a Universidade Al Azhar, principal autoridade do Islã sunita, condenaram igualmente o massacre. Al Azhar lamentou o ataque, que classificou de "criminoso", e destacou que "o Islã denuncia qualquer tipo de violência", enquanto a organização árabe condenou o que chamou de "ato terrorista".

A Arábia Saudita condenou o ato "covarde, que é rejeitado pelo Islã, assim como é rejeitado pelas outras religiões" e manifestou suas condolências.

Em entrevista à CNN-Türk, o ministro turco da Cultura, Omer Celik, disse que "é um atentado contra a humanidade" e tem como objetivo aumentar a islamofobia.

"Rejeito qualquer identificação do Islã com esse ato covarde. Não podemos defender o Islã com este massacre. O ataque tem por objetivo reforçar a percepção negativa que pesa sobre estrangeiros e muçulmanos no clima que reina na Europa, onde a islamofobia e o racismo aumentam", prosseguiu.

O governo do Catar, em geral acusado de dar apoio a grupos jihadistas da Líbia e da Síria, considerou que um ataque a "civis desarmados contradiz todos os princípios morais e os valores humanos".

O presidente palestino, Mahmud Abbas, lamentou "um ato horrível, que vai de encontro a princípios da religião e da moral".

Em mensagem de pêsames à França, o presidente da Argélia, Abdelaziz Buteflika, ressaltou que "o povo argelino, que sofreu durante longos anos os horrores do terrorismo, entende a emoção do povo francês amigo".

Na Tunísia, o presidente do partido islâmico Ennahda, Rached Ghannuchi, disse estar "horrorizado e indignado com o ato covarde e criminoso". "Condenamos, nos termos mais duros, esses atos terroristas, seus autores, seus instigadores e todos os que os apoiam", completou, na nota divulgada em francês.

No Marrocos, o rei Mohammed VI disse ter tomado conhecimento com "profunda emoção da triste notícia do covarde atentado terrorista" e condenou "duramente esse ato odioso".

Na Turquia, o governo islâmico de tendência conservadora de Recep Tayyip Erdogan condenou duramente o ataque e alertou contra o risco de islamofobia.

"Apresentamos nossas condolências à França, nossa amiga e nossa aliada, nesse dia de tristeza, e esperamos que os autores desse ataque sejam capturados e apresentados à Justiça o mais rápido possível", declarou o presidente.

Cercado de vários de seus ministros, o premiê turco, Ahmet Davutoglu, defendeu que "nenhuma relação pode ser estabelecida entre este ataque e o Islã".

A União Internacional dos Ulemás Muçulmanos, situada em Doha, classificou o ataque de "pecado, quaisquer que sejam os culpados e os que os apoiam". Liderada pelo influente pregador islâmico Yussef al-Qaradaui, considerado a eminência parda da Irmandade Muçulmana, a organização convoca "as autoridades e o povo francês a se unirem contra o extremismo".

Da mesma forma, o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) condenou o atentado de inspiração islâmica.

"Este ato bárbaro de uma extrema gravidade também é um ataque contra a democracia e a liberdade de imprensa", afirma, em nome dos "muçulmanos da França", esta instância representativa da comunidade muçulmana mais numerosa da Europa, formada por entre 3,5 milhões e 5 milhões de pessoas.

O papa Francisco condenou com a "maior firmeza" o "horrível atentado", cometido nesta quarta-feira contra o semanário satírico Charlie Hebdo, em Paris, declarou seu porta-voz, padra Federico Lombardi.

"O Santo Papa expressa sua mais forte condenação pelo horrível atentado, que deixou de luto, esta manhã, a cidade de Paris", indicou o porta-voz do Vaticano, em um comunicado.

Nesta condenação sem ambiguidade, Jorge Bergoglio lançou ainda um apelo a todos que "se oponham com todos os meios à difusão do ódio e a toda forma de violência, física ou moral, que destrói a vida humana, viola a dignidade da pessoa".

"O que quer que possa ser a motivação, a violência mortal é abominável, nunca é justificada, a vida e a dignidade devem ser garantidas", declarou, ainda, o Papa, segundo o comunicado.

"Qualquer instigação ao ódio deve ser repudiada", avaliou, ainda, o Papa.

Aos gritos de "Allah Akbar" (Alá é maior), pelo menos dois homens armados atacaram nesta quarta-feira, em Paris, o semanário satírico Charlie Hebdo, matando a sangue frio 12 pessoas, entre elas personalidades importantes do semanário, que já tinham sido alvo de ameaças por fazer caricaturas do profeta Maomé.

A Charlie Hebdo costuma satirizar a religião Católica, assim como as outras, colocando o Papa ou o Vaticano em situações humorísticas.

A todo momento, usuários do Twitter postam conteúdos relacionados ao ataque à sede da revista francesa Charlie Hebdo na manhã desta quarta (7). Na rede social, os internautas publicam condolências aos que foram vítimas do ataque. "Vocês podem matar pessoas, mas não podem matar a ideia de uma sociedade livre e a liberdade de expressão!", publicou o internauta Ali Utlu.

Outros usuários preferiram publicar frases ou charges de jornalistas e cartunistas que trabalhavam na revista.Até mesmo novas charges, comparando o ataque ao veículo de comunicação francês ao atentado do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, estão sendo publicadas pelos usuários.  

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Alguns dos internautas da rede social também criticam o ataque e o terrorismo islâmico. "O ataque à Charlie Hebdo levanta novas questões sobre até onde o terrorismo islâmico é uma resposta aos nossos valores ou políticas estrangeiras", twittou o usuário Max Abrahms. A discussão também levou à criação de novas hashtags relacionadas ao atentado, como #JeSuisCarlie (Eu sou Charlie), referindo-se ao nome da publicação.

O ataque à sede da revista "Charlie Hebdo", nesta quarta-feira (7), foi classificado pela presidente Dilma Rousseff (PT) como um ato "sangrento e intolerável". A petista afirmou, em nota, estar "indignada" com a "barbárie".  O atentado aconteceu em Paris, na França, e resultou com a morte de 12 pessoas. 

"Nesse momento de dor e sofrimento, desejo estender aos familiares das vítimas minhas condolências. Quero expressar, igualmente ao Presidente Hollande e ao povo francês a solidariedade de meu governo e da nação brasileira", diz a presidente no texto. Dilma também mencionou a gravidade do ataque para a liberdade de expressão. "Esse ato de barbárie, além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas - a liberdade de imprensa", completa. 

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O crime aconteceu na manhã desta quarta no escritório da revista, que já havia sido alvo de uma ataque no passado após publicar uma caricatura do profeta Maomé. Entre os mortos estão dois policiais e 10 funcionários da revista. 

A revista satírica francesa de esquerda Charlie Hebdo, alvo nesta quarta-feira (7) de um atentado devastador com armas automáticas, reivindicava seu lado provocante e era alvo constante de ameaças desde que publicou em 2006 uma série de charges de Maomé que indignaram o mundo islâmico.

Após a publicação das controversas caricaturas do profeta, inicialmente divulgadas pela revista dinamarquesa Jyllands-Posten, a redação da Charlie Hebdo vivia em estado de alerta.

"Havia ameaças permanentes desde a publicação das caricaturas de Maomé", declarou o advogado da revista, Richard Malka, após o ataque desta quarta-feira por desconhecidos que abriram fogo com armas automáticas e que custou a vida de várias das figuras mais famosas da redação, incluindo Cabu, Charb, Wolinski e Tignous.

"Vivíamos há oito anos sob ameaças, estávamos protegidos, mas não há nada que possa ser feito contra bárbaros que invadem com kalachnikovs", acrescentou o advogado. "É uma revista que apenas defendeu a liberdade de expressão, ou simplesmente a liberdade", disse.

A última edição da revista, lançada nesta quarta-feira, inclui na capa uma caricatura do escritor Michel Houllebecq, autor do polêmico livro "Submissão" publicado neste mesmo dia e que imagina uma França islamizada.

"Em 2015 perco meus dentes, em 2023 faço o Ramadã", afirma a caricatura do escritor na capa da Charlie Hebdo, cujos números se esgotaram nas bancas logo depois do atentado que deixou a França em estado de comoção. Outro desenho mostra o cartunista dizendo: "Em 2036, o Estado Islâmico entrará na Europa".

Após a divulgação em 2011 de uma edição que fazia piada com a sharia, ou lei islâmica, um atentado com coquetéis molotov incendiou parte da sede da revista no distrito 11 do leste de Paris.

Ameaça permanente

Apesar disso, a Charlie Hebdo permaneceu fiel a sua linha de conduta e dizia não ser inimiga do Islã. "Há provocação, como fazemos todas as semanas, mas não mais contra o Islã que com outros temas", afirmou em 2012, após o atentado incendiário, seu diretor de publicação Charb, que morreu no ataque desta quarta-feira.

Após o primeiro atentado de 2011, Charb e outros membros da redação viviam sob proteção policial e sua sede era alvo de custódia pela polícia francesa.

"Prevíamos o pior, e o ministério do Interior havia avaliado as ameaças a tal nível que vivíamos sob proteção permanente, mas não foi suficiente", disse o advogado Richard Malka.

O equivalente na França à revista argentina "Humor" ou à espanhola "El Jueves", a Charlie Hebdo foi fundada em 1970, quando substituiu "Hara Kiri", semanário que reivindicava seu tom "estúpido e malvado", fundado por Cavanna - falecido no ano passado - e Georges Bernier.

A linha inicial era anticlerical e denunciava a ordem burguesa, mas buscava, principalmente, fazer seus leitores rirem com um humor corrosivo implacável.

Em 1970, misturando o drama de uma discoteca no qual 146 pessoas morreram com o falecimento de Charles De Gaulle, a revista intitulou "Baile trágico em Colombey (a localidade onde o general morreu): um morto". O governo proibiu imediatamente a difusão da Hara Kiri.

A redação optou, então, por uma nova fórmula editorial que combinava quadrinhos com posições parecidas com as da Hara Kiri, mas sob um novo título, Charlie Hebdo, em referência a Charlie Brown, o Charlie dos Peanuts, as famosas tirinhas americanas de Charles Schulz.

A partir de então, cultivou uma linha editorial irreverente com uma ótica de esquerda radical forjada durante a presidência de Valéry Giscard d'Estaing (centro-direita, 1974-81).

Em sua longa história choveram julgamentos por difamação. Os processos da Igreja, de empresários, ministros ou famosos que eram alvo permanente de suas sátiras acabaram derrubando uma revista que em 1981, ano da eleição do socialista François Mitterrand, havia perdido muitos leitores.

Passaram-se 11 anos antes que Charlie Hebdo voltasse a ser publicada, em 1992. Desde então, a revista abriu suas colunas aos melhores cartunistas irreverentes da França, de Wolinski a Cabu, ambos mortos no atentado.

O número de 2006 que havia reproduzido as caricaturas da imprensa dinamarquesa alcançou um recorde de vendas de 400.000 exemplares. Até o dia do atentado, a revista, que passava por dificuldades financeiras, publicava semanalmente cerca de 30.000 exemplares.

Um video divulgado em diversos meios de comunicação e feito por um cinegrafista amador mostra o momento em que os atiradores, armados com rifles automáticos AK-47, abriram fogo contra o estúdio da publicação, onde estavam jornalistas do Charlie Hebdo. O video mostra também o momento em que um dos terroristas executa friamente um policial.

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Subiu para 12 o número de mortos no ataque a sede da revista satírica Charlie Hebdo, em Paris. Outras dez pessoas também teriam ficado feridas durante o atentado. 

Há suspeita de que homens armados com rifles automáticos AK-47 abriram fogo contra o estúdio da publicação. Segundo a polícia, eles teriam fugido em veículos logo após o ataque; um dos carros foi localizado e está sendo periciado.

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A ação teria sido realizada após a revista publicar uma charge utilizando a imagem do profeta Maomé, considerada ofensiva pelos militantes islamitas. 

O presidente francês, François Hollande, classificou a tragédia como uma “ato terrorista”. Conforme a imprensa do país, os terroristas seriam franceses de origem argelina. A segurança na capital foi reforçada.

Em entrevista dada à TV France Info, o advogado da revista confirmou que Stephane Charbonnier – o Charb (jornalista e diretor), Jean Cabut – o Cabu, Tignous e Georges Wolinski (três dos principais cartunistas) estão entre os mortos. A página no Twitter "Itele" divulgou fotos dessas quatro vítimas. Dois policiais também teriam morrido.

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Pelo menos dez pessoas foram mortas depois de homens armados terem atacado o escritório da revista satírica Charlie Hebdo nesta quarta-feira, em Paris, informou um policial.

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Os homens abriram fogo contra o estúdio da publicação com rifles automáticos AK-47 antes de fugirem do local, revelou a fonte.

Em 2011 houve um incêndio no escritório da revista horas antes de uma edição especial da publicação semanal com o profeta Maomé ir às bancas. A representação de Maomé é inaceitável para os muçulmanos.

Segundo Luc Poignard, funcionário do sindicato dos policiais de Paris, os homens que realizaram o ataque deixaram o local em dois veículos.

Os franceses estão divididos entre a liberdade de expressão e a condenação de um "excesso", após a publicação de caricaturas de Maomé por um jornal semanal satírico, em um contexto de violência no mundo provocado por um filme ofensivo ao Islã. Depois da distribuição do último número da Charlie Hebdo, a reação foi imediata, com medidas de segurança e apelos por calma.

Temendo manifestações, enquanto no restante do mundo o filme "A inocência dos muçulmanos" causou protestos mortais, as autoridades decidiram fechar suas embaixadas, escolas e instituições culturais na sexta-feira em doze países e proibiu protestos em Paris no sábado diante da representação diplomática americana.

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Já o reitor da Grande Mesquita de Paris, Boubakeur, anunciou para sexta-feira, o dia da grande oração semanal, "a leitura de uma mensagem de paz" nas mesquitas. Enquanto o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM, que representa essa religião nos órgãos públicos) pediu "para não ceder à provocação".

Na rua, a revista Charlie Hebdo, que publicou uma dúzia de desenhos retratando fundamentalistas muçulmanos e onde Maomé é representado duas vezes nu, teve seus exemplares esgotados em algumas bancas nesta quarta-feira, enquanto em outras, eles foram rasgados. As caricaturas suscitaram um acirrado debate na França sobre qual é o limite da liberdade de imprensa diante da responsabilidade.

Desde terça-feira, o governo socialista reitera que a liberdade de expressão é um "direito fundamental" (Manuel Valls, ministro do Interior), ao mesmo tempo que desaprova "qualquer excesso" (Jean-Marc Ayrault, primeiro-ministro) e "provocação" (Laurent Fabius, chefe da diplomacia).

O posicionamento foi "tímido", segundo o editorial do jornal La République des Pyrénées, e que permeia toda a sociedade em um país dedicado à liberdade de imprensa (adquirida em 1881), mas também "provavelmente um pouco paranoico", de acordo com a Nova República do Centro, outro jornal regional.

À direita, o ex-primeiro-ministro François Fillon defende "a liberdade de expressão e pensa que não devemos ceder um centímetro de terra nesse âmbito", mas seu ex-ministro Rama Yade denuncia "manchetes exageradas com o objetivo de provocação".

O mesmo debate toma conta das redes sociais. "Eu odeio a Charlie Hebdo, mas luto pela liberdade de expressão. Esta é uma República Democrática", escreveu um internauta no Twitter. "Existe a liberdade de expressão. Charlie Hebdo, você acabou de inventar a liberdade de ser estúpido!", respondeu um outro.

Na França, onde a separação entre Estado e Igreja data de 1905, o anticlericalismo e a veia cartunista são cultivados há mais um século, lembram os especialistas. "Podemos blasfemar o tanto quanto quisermos todas as religiões. No contexto atual, o que a Charlie Hebdo fez é provocativo, mas é sua função dizer que em um Estado laico e republicano temos o direito de zombar de tudo que é sagrado", considera o historiador da imprensa na Sorbonne, Patrick Eveno.

"Se começarmos a dizer, porque há 250 agitados que protestam em frente à embaixada dos Estados Unidos, que devemos adiar ou não publicar os desenhos, isso significa que são eles que fazem a lei França", argumentou o editor do jornal, o desenhista Charb.

Sim, mas, respondem os outros, "a liberdade de expressão encontra um limite na violência simbólica que inflige aos outros", ressalta o cientista político Philippe Braud.

A reprodução de caricaturas de Maomé em um jornal dinamarquês em 2005 desencadeou uma onda de fúria no mundo muçulmano e em novembro de 2011 a Charlie Hebdo foi vítima de um incêndio criminoso após a publicação de uma série rebatizada de "Sharia hebdo", com representações do profeta muçulmano.

Em seu editorial desta quarta-feira, o jornal Le Monde levanta a questão: "Fundamentalismo: devemos jogar lenha na fogueira?"

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