A cantora Daniela Mercury fez um desabafo no palco do Festival de Inverno de Garanhuns na madrugada deste domingo (22) sobre a proibição por parte da prefeitura da execução da peça que traz Jesus como um transsexual.
Durante o show, transmitido ao vivo pela TV Nova, Daniela fez duras críticas ao que chamou de censura. "Me choca profundamente que os políticos desse país censurem uma peça de teatro. Que censurem uma exposição de arte, de grandes artistas. É de uma petulância absurda. Porque assim, se nós tivéssemos protestos de pessoas que são da religião, que não compreendem a arte, que não entendem que arte não tem dogma, que arte é crítica social, que arte é reflexão sobre nós, que arte é essencialmente livre, é singular, é uma palavra escrita, desenhada, um gesto, uma atitude, uma instalação. A arte é pra incomodar, é pra fazer pensar, é pra refletir, a arte é pra libertar a cabeça de m...", esbravejou.
##RECOMENDA##A baiana não parou por aí, disparando contra a decisão do prefeito de Garanhuns."Censurar uma peça de teatro por convicções religiosas é o maior absurdo. Isso não pode ser permitido. A nossa constituição não deixa isso. A nossa constituição não é a bíblia. Eu sou de família católica e respeito profundamente, mas a nossa constituição permite sim lidar com símbolos religiosos. Falei com a Renata Carvalho no telefone. Ela tá muito magoada... Ela é jesus cristo sim. Jesus Cristo eu estou aqui. Eu sou gay, eu sou lésbica. E daí", questionou Daniela.
Ao encerrar seu protesto, Daniela pediu que seus músicos mudassem o ritmo do show. "Eu to precisando muito de um rock. To precisando muito de gente que não é careta porra. Tá chato para c... esse país. Que m... Vai policiar a p... que lhe pariu. Bichos escrotos saiam dos esgotos, venham enfeitar meu lar, meu jantar", completou ela, antes de começar a cantar Tempo Perdido, da banda Legião Urbana.
Entenda - No final de junho, o prefeito de Garanhuns, Izaías Régis (PTB), pronunciou-se contrário à apresentação de 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu' durante o FIG. Mesmo com garantias da manutenção da peça no evento, dadas pelo secretário de Cultura, Marcelino Granja, diante da pressão, a encenação foi cancelada.
A partir disso, iniciou-se uma mobilização para angariar recursos para custear passagens, hospedagens e alimentação da equipe do espetáculo. Com meta inicial de R$ 6 mil, a 'vaquinha' virtual arrecadou o equivalente a R$ 10 mil.
Escrita pela autora trans inglesa Jo Clifford (que em 2006, aos 56 anos, abriu mão do nome John), a peça traz Renata Carvalho interpretando Jesus como se ele vivesse nos dias atuais como uma travesti, e provoca reflexões sobre temas como gênero e inclusão.
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