"Doação de sêmen para mulheres e casais que querem engravidar de maneira sigilosa, prática e simples" é a descrição de uma página no Facebook com 1,3 mil curtidores. O serviço paralelo de venda e doação de esperma ocorre em grupos também, tanto do Facebook quanto do WhatsApp.
Segundo a página, as clínicas de fertilidade, apesar de realizar o sonho da gravidez, faz disso "um mercado caríssimo". "Como ficam as mulheres e casais que não tem condições de custear as tentativas de fertilização?", escreveu em uma publicação de 2015.
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Em outra publicação, a própria página alerta dos riscos possíveis da doação informal. "Lembrando que a doação informal é diferente da fertilização em clínicas que seguem normas e leis. Na fertilização caseira informal, há também os riscos de saúde, por mais que você peça exames ao doador 'caseiro'. As clínicas por sua vez seguem rígidos procedimentos para garantir a eficácia e saúde da futura gravidez. Na doação informal, você precisa ter o mínimo de contato com o doador, mesmo que opte por fazer a fertilização sem contato sexual. Até para ter a garantia mínima dos aspectos físicos e de saúde do doador. Mas se você tenta engravidar transando com um e outro por aí, isso não parece ser tão importante, né?", assinala.
A página também reforça que, preferencialmente, as pessoas não vendam, mas façam a doação apenas no intuito de ajudar. Entretanto, a pessoa interessada arca com o custo da viagem do doador e outras eventuais necessidades. Em uma das publicações, uma pessoa diz que paga R$ 8 mil por um doador de classe alta.
Um grupo fechado no Facebook tem mais de 3,7 mil pessoas. As regras desse grupo destacam mais de uma vez que se trata de doação e não venda. "Proibida a venda de sêmen ou qualquer outro serviço e afins", explicita a regra número 1.
Em vários casos da página, as pessoas interessadas dizem ser lésbicas em busca do sonho de ser mãe. Muitos outros relatos são de mulheres casadas com homens estéreis. "Até me interessei, pois também gostaria de ter um filho, mas a inseminação é absurdamente cara no Brasil... Em breve mandarei mensagem no inbox", escreve uma pessoa. "Eu e meu esposo estamos juntos há dois anos e nós somos loucos para ter um filho, mas meu esposo não tem condições", destaca outra interessada.
Já os doadores e vendedores costumam descrever suas características físicas e seu histórico distante de doenças. "Olá... sou vendedor de esperma, moro em MG, sou loiro, 1.97 de altura, loiro, olhos azuis, exames em dia, saúde também, pois prezo por uma vida saudável... Quem se interessar, me chame no privado", afirma um. "Sou doador, sou de MG e já realizei o sonho de duas mulheres que desejavam ser mães independentes com inseminação natural. Totalmente anônimo e discreto, se alguma mulher se interessar é so chamar", pontua outro.
Perigo
Essse tipo de inseminação caseira é peremptoriamente não recomendada pelos especialistas. Os principais riscos são o de contrair as Doenças Sexualmente Transmissíveis. Além disso, a mulher pode sofrer alergias ou até mesmo um choque anafilático.
"A inseminação artificial deve ser feita de uma forma científica e séria. O esperma, além do espermatozóide, tem várias proteínas, que precisam ser retiradas e o que se coloca dentro do útero é apenas o espermatozóide tratado", resume o ginecologista obstetra José Carlos de Lima, do Hospital Guararapes. São as proteínas contidas no sêmen que podem gerar as alergias.
O médico conta que a lei ainda não alcançou esse tipo de situação, mas crava que a atitude se configura exercício ilegal da profissão. "É exercício ilegal da profissão porque é um procedimento médico. Qualquer pessoa que faz isso estaria promovendo o exercício ilegal e poderia ser penalizado", complementa.
Segundo José Carlos de Lima, uma inseminação artificial custa cerca de R$ 3 mil a R$ 5 mil em clínicas por tentativa. Já a fertilização em vitro - procedimento em que se separa o espermatozóide do homem e, através de uma micropunção, coloca-o no óvulo da mulher - sai em torno de R$ 15 mil a tentativa, cuja taxa de sucesso varia entre 20% a 30%. "De fato, são procedimentos caros. O SUS precisa avançar muito em relação a isso, oferecer acesso a esse tipo de procedimento. No desespero enorme de realizar o seu sonho, a pessoa se aventura nisso com gente não habilitada e faz a inseminação em local não adequado", finaliza.