A saudade dos foliões está tomando o Centro do Recife: acabada a espera, após dois anos sem ver o Galo da Madrugada, fãs do maior bloco carnavalesco do mundo já apreciam e celebram a alegoria finalizada, erguida na noite dessa quinta-feira (16). O Galo Ancestral, que tem em sua base o lema "Xô Preconceito", é assinado pelo artista plástico Leopoldo Nóbrega e homenageia a população preta e parda, pilares da cultura popular pernambucana.
Na manhã desta sexta-feira (17), o Galo esteve rodeado de admiradores — famílias completas, idosos, artistas de rua. Uma banda orquestrou frevo para quem estava passando e o clima foi de animação, dança e muita disputa para encontrar um canto vazio e garantir a foto junto ao dono da festa.
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"Daqui eu não saio e daqui ninguém me tira", disse a pedagoga Guida Barreto, de 58 anos, moradora da Mustardinha, na Zona Oeste do Recife. Tendo morado no Rio de Janeiro por 42 anos, Guida se diz encantada com o Carnaval da cidade natal, de onde saiu quando ainda era criança. "Aqui o carnaval é de rua, o que eu gosto mais, e tem o Galo da Madrugada, que realmente é um fenômeno. Eu gosto demais do Carnaval do Rio, mas não volto mais pra lá. Meu negócio agora é o Galo, eu me apaixonei. Eu saí daqui pequena, mas era o meu sonho voltar a morar aqui. Agora que os meus filhos estão criados, eu voltei”, completou a pedagoga.
Quando perguntada sobre a saída no sábado (18), Guida disse que vai andando da Mustardinha até o Centro da cidade. Ela também se disse tocada pela escolha do tema. "O Galo este ano está sensacional, principalmente pela proposta de ser um galo negro e de trabalhar a ancestralidade. Eu sou branca, mas a minha família por parte de mãe é toda negra e isso, pra mim, é uma representatividade deles, da raça negra toda. Amanhã, eu não perco o bloco de jeito nenhum. É do começo da manhã até acabar”, finalizou.
O LeiaJá também encontrou, no meio da folia para a recepção do Galo, o senhor José Flaviano Fonseca, de 58 anos, conhecido como o “Tampa do Carnaval”. Ele é morador de Santo Amaro e uma figura conhecida na festa popular da capital.
“Está muito bonito. Todo ano eu acho bonito. Os outros abusam, falam que 'tá' feio, mas é bonito. É o símbolo do meu Pernambuco. Eu dou valor a minha terra. Não dou valor a Rio e nem São Paulo, porque bonita é a minha terra. Amanhã eu venho, chego cedo. Tenho minha fantasia já. [Nos últimos dois anos] eu senti a falta do Galo, mas fazer o quê? A gente fez um 'galinho' do lado da ponte, umas ‘muganguinhas’, e ficou lá, só pra não passar em branco. No galo pequenininho mesmo. Eu amo o carnaval”, disse Tampa. O “galinho” se trata de uma escultura pequena na ponte Duarte Coelho, em frente à rua da Aurora, e que também virou atração local.
Para o folião Marcos Lopes, de Olinda, o ritmo do Galo da Madrugada, no dia oficial, é muito pesado. Aos seus 54 anos, o autônomo prefere sair de casa quando o sol dá uma trégua, mas não deixou de ir apreciar a alegoria do município vizinho na manhã desta quinta-feira (17). "Maravilhoso. Estava há quatro anos sem brincar, aí tenho que vir, né? É o Galo. Eu vinha todo ano. Agora não aguento mais por causa da temperatura, meu corpo não aguenta, mas aí venho um dia antes e fico aqui, brincando, é mais tranquilo. Amanhã eu troco o Galo pelo Homem da Meia-Noite", declarou.
Galo da Madrugada 2023
Foram utilizadas sete toneladas de insumos na confecção da escultura, que tem 28 metros de altura, sustentada por um guindaste. O trabalho para colocar o Galo gigante de pé durou cerca de 20 horas. O evento, que tem como tema “Viva a Vida, viva o Frevo, viva Enéas” e homenageia ainda o artista plástico Ary Nóbrega e o cantor Claudionor Germano, tem início às 9h do sábado (18) de Carnaval, partindo do Forte das Cinco Pontas com destino à Rua do Sol, contando com seis carros alegóricos e 30 trios elétricos.