Tópicos | Inconfidência Mineira

Pintiura feita por Pedro Américo de Tiradentes morto em praça pública no dia 21 de abril de 1792 / Foto: Creative

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O dia 21 de abril marca a execução de um dos maiores ícones da história republicana do Brasil. Nesta mesma data, no ano de 1792, Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como “Tiradentes”, era executado em praça pública, no campo da Lampadosa. Tido como o maior expoente da revolta intitulada de “Inconfidência Mineira”, ocorrida no estado de Minas Gerais no ano de 1789, o alferes e dentista é constantemente abordado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Professores comentaram o período e contexto histórico vivido por Tiradentes no Brasil

Segundo o historiador Everaldo Marques, Tiradentes foi escolhido com o símbolo da defesa na instalação do Brasil República devido a sua atuação e o papel de protagonismo que teve durante a Inconfidência Mineira. “Tiradentes era maçom e fez parte de um movimento conspiratório aqui no Brasil, chamado de Inconfidência Mineira. A história oficial do Brasil coloca Tiradentes como sendo um herói nacional porque ele tinha uma origem humilde, participou desse movimento conspiratório e em 1889 quando os militares proclamaram a República, eles precisavam criar um símbolo que tivesse apelo popular. O símbolo republicano, já que estávamos vindo de uma monarquia. Tiradentes acabou sendo escolhido pelos militares como esse símbolo republicano por conta da sua origem humilde, representando o povo brasileiro. Morreu lutando por uma República, assim como a Inconfidência defendia”, explica.  

O professor de história Pedro Botelho destaca que para compreender o período que Inconfidência Mineira eclodiu, é preciso recapitular o contexto histórico pelo qual passava a Europa da época. “O fera que está estudando o período no qual Tiradentes e a Inconfidência atuaram, precisa compreender algumas coisas fundamentais que cercavam o século XVIII, tanto no Brasil quanto no centro do Absolutismo, a Europa. Vamos relembrar pelo menos três aspectos importantes: o Ciclo do Ouro, o Iluminismo e a Crise no Sistema Colonial. Investigando as pontes que conectam esses conteúdos, o estudante certamente compreenderá as necessidades e objetivos da atuação de Joaquim José da Silva Xavier e seus companheiros”, pontua.

Ciclo do Ouro

O docente enfoca a presença de autoridades portuguesas na administração da extração do ouro e prata, principais fontes de renda que mantinha o sistema colonial português no Brasil. “A busca por ouro e prata sempre foi o grande motor da colonização portuguesa na América. Ao mesmo tempo que as elites rurais investiam na produção de açúcar, demais produtos tropicais como algodão, tabaco, drogas do sertão e pecuária, as autoridades coloniais e os bandeirantes se preocupavam na descoberta de metais preciosos. A busca se encerrou por volta de 1694, na região das Minas Gerais, com o início da exploração aurífera”, diz.

“A Coroa Portuguesa rapidamente criou um sistema minucioso para administrar, fiscalizar e conceder a retirada do ouro. A presença das autoridades mineiras era constante e implacável para evitar contrabandos e subornos. Ao passo que a região das Minas se tornava repleta de centros urbanos, comerciantes, tropeiros, estrangeiros e escravos, a presença da fiscalização do Reino aumentava”, completa.

Ainda sobre o chamado “Ciclo do Ouro”, o historiador Pedro Botelho destaca a forte cobrança de impostos sobre a extração. “O Quinto (cobrança de 20% do ouro extraído), a criação das Casas de Fundição, os pedágios e demais mecanismos de controle tornaram-se exaustivos e atingiram seu nível máximo com a criação da derrama: contribuição anual de 100 arrobas de ouro ou cobrança em bens e propriedades aos devedores da Coroa. Essa medida ameaçava os interesses das elites mineiras, que se colocaram contra aos objetivos de Portugal. Esse desgaste foi o primeiro passo para a formação da Inconfidência”, conclui.

Iluminismo

Segundo o professor de história Pedro Botelho, os avanços dos ideais iluministas, desenvolvidas na Europa, sobretudo em países com Inglaterra e França, influenciaram as elites mineiras a conspirar por um sistema republicano no Brasil. “O século XVIII é tradicionalmente denominado como “século das luzes” pela renovação científica e intelectual ocorrida na Inglaterra e França, a partir do surgimento das ideias liberais que defendiam os direitos naturais, civis e políticos do Homem. A concepção de contrato social, na qual o poder do governante é uma concessão da sociedade, fez surgir a ideia de que o povo poderia redefinir seus próprios governos através da sua própria vontade coletiva”, afirma.

O docente ainda pontua que “as elites rurais brasileiras foram influenciadas pelo Iluminismo através das universidades europeias, onde buscavam a formação no ensino superior e acabavam entrando em contato com as ideias liberais. Retornando ao Brasil, grande parte dessas elites se colocaram contra o Sistema Colonial, típico do Antigo Regime, demonstrando suas contradições e opressões contra a liberdade, igualdade e o direito à propriedade”, destaca.

Crise no sistema colonial

O professor aponta a crise no sistema colonial português como um dos principais fatores para a eclosão de conspirações. “Com a chegada das ideias iluministas na América Portuguesa, o cenário se transformou. As elites mineiras, encurraladas pela derrama e outros impostos, se encontravam em dívidas e dificuldades. A saída proposta foi a conspiração para uma revolta com grandes objetivos: emancipar a região de Minas Gerais”.

Botelho enfatiza que “assim como outras revoltas que ocorreram, a Inconfidência Mineira demonstra como o sistema colonial se tornou entravado, contraditório e que refletia um conflito de interesses por parte dos brasileiros e do governo de Portugal. Décadas mais tarde, na América Espanhola, por exemplo, essas contradições coloniais serviram de motivação para os movimentos de emancipação e independência”

Por fim, o docente destaca que os estudantes precisam ter em mente que Tiradentes foi uma das principais vozes da inconfidência mineira por denunciar as desigualdades do sistema colonial. “O que o fera precisa compreender sobre a figura de Tiradentes é de que, assim como outros membros das revoltas coloniais, ele esteve dependente da ação das elites para a execução e planejamento da conspiração. Ele era um homem que passou boa parte da vida exercendo diversas profissões e tentando encontrar uma estabilidade social que estava quase sempre ameaçada pelas arbitrariedades das autoridades da Coroa. Viu na Inconfidência uma voz para expressar suas perspectivas e denunciar as desigualdades e desmandos de um governo que pouco se integrava ao povo mineiro”, conclui.

 

Com a implantação da república no Brasil, em 1889, o novo governo elevou alguns personagens da história do País para substituir as figuras monárquicas, como D.Pedro I e D.Pedro II. Assim, Zumbi dos Palmares e Tiradentes alcançaram patamares de heróis nacionais. O último citado é sempre lembrado no dia 21 de abril – dia que é feriado no Brasil. A história relata que Tiradentes foi um dos principais atores da Inconfidência Mineira – revolta contra a opressão do governo português em 1789. Contudo, vários pesquisadores tentam desconstruir o “endeusamento” do personagem mineiro.

"O início da construção do mito de Tiradentes remete ao século XIX, momento em que o Brasil estava construindo seu Estado Nacional e, portanto, precisava de um símbolo de identificação. Com a revelação de importantes documentos (como os autos da devassa de Ouro Preto), a disputa entre Monarquistas e Republicanos confrontou as imagens de D. Pedro I e Tiradentes como mártires. Foi então que a imagem do conspirador mineiro, embora ambivalente, foi associada a um Cristo que foi benevolente com seus executores”, relata o historiador Diogo Barreto.

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Uma das imagens que eleva a figura de Tiradentes, o comparando até com Jesus Cristo é o quadro de Pedro Américo feita, em 1893 (quadro ao lado). “Ele representa exatamente essa imagem do homem humilde que foi adotado pela República na formação de uma comunidade imaginada, ou seja, de que necessitávamos de uma base resgatada de raízes populares para nos tornarmos nação”, afirmou o historiador.

Segundo Barreto, no decorrer da República os presidentes brasileiros continuaram a exaltar a figura de Tiradentes. “ Vargas e os Governos Militares (em especial Castelo Branco) fizeram de Tiradentes o "patrono cívico da nação" -o último por força de lei - nº4.897 de 09 de dezembro de 1965" , frisou.

O presidente do PSDB-PE, deputado federal Bruno Araújo, vai receber, nesta segunda-feira (21), a Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto. A honraria - maior comenda entregue pelo governo de Minas Gerais no Dia de Tiradentes - será entregue às 19h, na Praça Tiradentes. Também participará da solenidade o senador e presidenciável, Aécio Neves (PSDB). Ele será o orador do evento, pela primeira vez. 

Tradição - A Medalha da Inconfidência é concedida pelo governo de Minas Gerais a personalidades que contribuíram para o prestígio e a projeção mineira. Foi criada em 1952, durante o governo de Juscelino Kubitschek e é entregue sempre no dia 21 de abril com quatro designações: Grande Colar (Comenda Extraordinária), Grande Medalha, Medalha de Honra e Medalha da Inconfidência.

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O 20º Janeiro de Grandes Espetáculos (JGE) chegou ao fim na noite deste domingo (26) com a apresentação da Companhia Teatro de Serafim, que levou ao palco do Teatro Barreto Júnior, no Pina, a montagem As Confrarias - inspirada na obra de Jorge Andrade. O espetáculo, aprovado no Funcultura 2012, conta no elenco com a presença da atriz Lúcia Machado, uma das homenageadas do festival de artes cênicas deste ano. 

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A Companhia Teatro de Seraphim atua na cena pernambucana desde 1990 e levou ao público uma história que se passa no Brasil do século XVIII, mais precisamente na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto). Um período de forte agitação popular por conta da Inconfidência Mineira e da decadência do ouro. 

Durante a apresentação é narrada a trajetória de uma senhora chamada Marte, interpretada por Lúcia Machado. A personagem visita quatro confrarias da cidade carregando o filho morto, José, com o intuito de enterrá-lo num destes solos sagrados, pois não havia cemitérios públicos disponíveis na cidade. 

Com este gancho, Jorge Andrade ressalta no texto dramaturgo a hipocrisia da sociedade colonial diante de temas como o racismo, o sexo e até a ocupação profissional das pessoas daquela épca – no texto, José é ator e por este motivo é tratado como um ser inferior, bem como os negros no Brasil da escravidão. Um debate que continua a acontecer ainda nos dias atuais.

Destaque para a cenografia da peça, feita por Doris Rollemberg, com estruturas em forma de coxias que revelam e ocultam cortes do cenário. Outro detalhe são as cenas de nudez, que seguem a linha do combate às opressões e dão um tom libertino à montagem diante da religiosidade das confrarias, representadas na obra pela Irmandade do Carmo (dos brancos), a Irmandade do Rosário (dos negros puros), a Irmandade de São José (dos pardos, que aceita artistas) e a Ordem Terceira das Mercês (mistura de negros, brancos e mulatos). 

A personagem Marta, por outro lado, parece não apenas ter a intenção de enterrar o filho, mas sim também expor, através de um jogo cheio de drama, os interesses econômicos e os preconceitos de cada confraria. Toda a história se passa em apenas um dia, mas com o uso intenso do recurso do ‘flashback’ há uma noção de passeio entre o presente e o passado dos personagens principais.

“A gente escolheu As Confrarias pra fechar o festival porque este é um espetáculo grande da Seraphim, uma companhia local de muitos anos bastante respeitada e com um elenco talentoso. Ficamos muito contentes em encerrar com uma produção da terra e com a casa lotada”, disse Paula de Renor, uma das produtoras do JGE, ao LeiaJá. Na próxima quarta-feira (29), às 22h, a produção do festival realiza uma avaliação do evento na Caixa Cultural Recife, no Bairro do Recife. 

Paula de Renor: "Legado do JGE são ações de continuidade"

Além da Lúcia Machado, o elenco da montagem é formado por atores e atrizes como Alexsandro Marcos, Brenda Ligia, Calos Lira, Gilson Paz, Ivo Barreto, Marcelino Dias, Marinho Falcão, Mauro Monezi, Nilza Lisboa, Ricardo Angeiras, Roberto Brandão, Rudimar Constâncio e Taveira Júnior. O espetáculo teve a direção de Antonio Cadengue. 

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