Tópicos | Laurentino Gomes

No dia 4 de agosto, a Fundação Joaquim Nabuco receberá o escritor e jornalista Laurentino Gomes. Como parte das ações da Fundaj sobre o Bicentenário da Independência do Brasil, Laurentino vai realizar a palestra A Escravidão e o seu Legado no Brasil de Hoje, aproveitando sua passagem para também lançar o terceiro volume da série de livros Escravidão.

Durante o evento, o vencedor do Prêmio Jabuti irá abordar no debate o término do momento colonial do país com a continuidade da estrutura econômica e social escravocrata. O último volume da obra de Laurentino, que tem o subtítulo da Independência do Brasil à Lei Áurea, levanta essa questão.

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O novo trabalho de Laurentino Gomes conta com ensaios dos historiadores Heloisa Murgel Starling, Jean Marcelo Carvalho França e Jurandir Malerba. Com mais de 500 páginas, o exemplar lançado neste ano consta as últimas sete décadas do período escravista do Brasil.

Serviço

Palestra A Escravidão e o seu Legado no Brasil de Hoje, com Laurentino Gomes

4 de agosto | 17h

Auditório Benício Dias/Cinema da Fundação, Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte

Entrada gratuita

O Brasil se tornou, em 1888, o último país das Américas a abolir a escravidão, mas "nunca enfrentou seu legado" de racismo e discriminação - afirma o escritor Laurentino Gomes, em entrevista à AFP.

Após sua bem-sucedida trilogia "1808", "1822" e "1889", sobre a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, a Independência e a proclamação da República, Laurentino volta agora com "Escravidão", o primeiro de outra série de três livros históricos sobre o brutal comércio de escravos entre a África e seu país.

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O autor, de 63 anos, visitou 12 países africanos, europeus e americanos para explicar esta "tragédia humana de proporções gigantescas", especialmente no Brasil, que recebeu cinco milhões de escravos.

P: Você conta no livro que o comércio de escravos da África era tão intenso, que os tubarões adaptaram sua rota.

R: Os números da escravidão são assustadores. Saíram da África 12,5 milhões de pessoas embarcadas em navios negreiros: 10,7 milhões desembarcaram, e 1,8 milhão morreram na travessia. Se você dividir esse número pelos dias, vai dar 14 cadáveres, em média, lançados ao mar todos os dias ao longo de 350 anos. A ponto de haver relatos, na época, de que isso mudou o comportamento dos cardumes de tubarões no Atlântico, que passaram a seguir os navios negreiros. Têm relatos de capitães de navios negreiros, dizendo que, no golfo de Benin, tão logo chegavam os navios negreiros, os cardumes de tubarões passavam a cercar esses navios na espera de cadáveres que caíssem ao mar enquanto o navio estava sendo carregado.

P: E morriam de quê?

R: Para mim, isso foi a coisa mais assustadora. As pessoas morriam de tudo. De doenças, de falta de alimentação, de água, mas morriam também de uma coisa chamada "banzo", que era um surto de depressão e que fazia com que a pessoa parasse de comer, ficasse completamente inanimada. Algumas pulavam dos navios e, por isso, os navios tinham redes de proteção em volta para que as pessoas não pulassem no mar, suicídios... O índice de suicídios era muito grande.

- 'Uma abolição branca' -

P: Você afirma que a escravidão é o tema mais definidor da identidade brasileira.

R: E o assunto mais importante da história do Brasil. O Brasil foi o maior território escravista da América. Recebeu quase 5 milhões de escravos africanos, 40% do total dos cativos que embarcaram para a América, cerca de 12,5 milhões. Foi o país que mais dependeu da escravidão no novo mundo. Todos os nossos ciclos econômicos, o pau-brasil, a cana-de-açúcar, ouro e diamantes, tabaco, algodão, pecuária, café... Tudo foi construído por mão de obra escrava. Todos os nossos principais acontecimentos históricos (guerra contra os holandeses em Pernambuco, a Monarquia, a Independência) não se entendem sem observar a escravidão.

P: É uma ferida aberta?

R: Os abolicionistas do século XIX diziam que não bastava enfrentar o legado da escravidão, era preciso também enfrentar o legado da escravidão nos âmbitos da educação, terras, trabalho, oportunidades para os ex-escravos e seus descendentes. O Brasil não fez isso. O Brasil fez uma abolição branca, livrar o Brasil de uma mancha que comprometia sua imagem perante o mundo supostamente civilizado, a selvageria, a barbárie da escravidão. Então, o Brasil promove a Lei Áurea e abandona os afrodescendentes à própria sorte. O resultado aparece hoje nas estatísticas, que mostram que, de qualquer ponto de vista que você tente medir o Brasil (renda, educação, trabalho, segurança, saúde, moradia) há um abismo de oportunidades entre a população branca descendente de europeus e a população descendente de africanos.

P: Quais, por exemplo?

R: Um homem negro no Brasil tem oito vezes mais chances de ser vítima de homicídio do que um homem branco. Os negros são a maior população carcerária do Brasil. Então, você vê que a escravidão está presente na realidade brasileira de hoje. Está na geografia, na paisagem brasileira. Se você vai ao Rio de Janeiro e observa quem mora na periferia, nas favelas perigosas, violentas, dominadas pelo crime organizado, sem qualquer assistência do Estado, você vê a população afrodescendente. Se você vai à Zona Sul, Leblon, Ipanema, Copacabana, boa qualidade de vida, população descendente de europeus brancos.

- Ação e reação -

P: Nenhum governo fez nada para integrar realmente a população negra?

R: Nenhum. Houve algumas conquistas muito cosméticas, como dar direito de voto aos negros. Mas isso não resultou em benefícios concretos. Os esforços reais de correção estão surgindo, curiosamente, no Brasil da democracia, começando a surgir políticas públicas muito polêmicas, como as cotas raciais para filhos de afrodescendentes, de negros, de mestiços nas universidades, na administração pública. Isso é uma coisa concreta, real, e que deve ser estimulada.

Mas, ao mesmo tempo, esse assunto é tão sensível, porque envolve distribuição de recursos, de privilégios, de benefícios, de oportunidades, que há também uma reação, que é o que está acontecendo no governo atual.

Se você observar o governo atual, ele é um governo racista, ele é um governo supremacista branco. Não é à toa que, na campanha eleitoral, o assunto escravidão veio forte. O candidato [Jair Bolsonaro] dizia que os portugueses nunca entraram na África, que eram os próprios africanos que escravizavam africanos.

P: Isso em parte é verdade?

R: Sim, isso é uma verdade histórica. Onde houve ser humano até hoje, na Babilônia, na Grécia, no Egito Antigo, em Roma, houve escravidão. E também na África. O problema é usar esse argumento histórico como um discurso racista, para dizer "A escravidão é problema deles, eu não tenho nada a ver com isso, eles se escravizaram. Então eu, brasileiro, branco, do século XXI que tive todas as oportunidades e virei presidente da República, não tenho nada a ver com isso".

Esse argumento (de que os negros escravizaram negros) está sendo usado agora como um discurso para combater políticas públicas, cujo objetivo é enfrentar o legado da escravidão.

P: É possível culpar alguém pela escravidão?

R: Reinos e impérios surgiram em países da África para capturar escravos e fornecer aos europeus. Claro que os europeus estimularam isso, fornecendo armas, munições, bebidas alcoólicas que desestabilizaram a geopolítica da África. Mas muitas das dinastias atuais africanas nasceram com o tráfico de escravos. Quem vai indenizar quem? No Brasil, muitos ex-escravos também eram donos de escravos.

Se discute muito sobre se os grandes países exportadores de africanos, como Portugal, Espanha, França, Brasil, deveriam indenizar os países africanos. Acredito que, depois de tanto tempo, seja muito difícil identificar quem foram as vítimas e quem foram os algozes. Tenho dúvidas sobre se é possível fazer um acerto de contas.

P: Que papel a Igreja católica teve na escravidão?

R: Isso é um tema muito sensível, e uma contradição entre o evangelho da misericórdia, do amor, do acolhimento e a escravidão. Porque a Igreja católica participou e lucrou do tráfico de escravos e do trabalho cativo até o final do século XIX, até as vésperas da Lei Áurea no Brasil. A Igreja nunca se pronunciou de forma categórica, decisiva, contra a escravidão. Ao contrário, todas as grandes ordens religiosas do Brasil, os jesuítas, os carmelitas, beneditinos, franciscanos, eram donos de grandes plantéis de escravos.

O 56º Prêmio Jabuti anunciou os vencedores da premiação literária nesta quinta-feira (16). Entre os vencedores estão Bernardo Carvalho (romance), Rubem Fonseca (conto), Lira Neto (biografia), Laurentino Gomes (reportagem), Marina Colasanti (infantil), Meire de Oliveira (ilustração), Ricardo Azevedo (juvenil) e Renato Moriconi (ilustração infantil ou juvenil). O primeiro colocado ganha R$ 3.500 e o troféu. Os outros dois ganham apenas o troféu. 

O prêmio literário Jabuti é o que mais contempla as obras literárias do Brasil. A premiação reconhece obras de diferentes gêneros, desde o romance à economia, além das diversas etapas da produção de um livro. Nesta 56ª edição, foram inscritos 2.240 livros publicados em 2013. No ano passado, concorreram 2.050 obras. 

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A cerimônia de premiação será no dia 18 de novembro, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo.Na ocasião, serão revelados os vencedores do Livro do Ano Ficção e Livro do Ano Não Ficção, que paga mais R$ 35 mil.

Confira alguns vencedores do 56º Prêmio Jabuti:

Romance

1º Reprodução (Companhia das Letras, de Bernardo Carvalho)

2º A Maçã Envenenada (Companhia das Letras), de Michel Laub

3º Opsanie Swiata (Cosac Naify), de Veronica Stigger

Contos e Crônicas

1º Amálgama (Nova Fronteira), de Rubem Fonseca

2º Você Verá (Record), de Luiz Vilela

3º Nu, de Botas (Companhia das Letras), de Antonio Prata, e Um Solitário à Espreita (Companhia das Letras), de Miltom Hatoum

Biografia

1º Getúlio - Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo (1930-1945) (Companhia das Letras), de Lira Neto

2º Wilson Baptista: O Samba foi sua Glória (Casa da Palavra), de Rodrigo Alzuguir

3º O Castelo de Papel (Rocco), de Mary del Priore

Reportagem

1º 1889 (Globo), de Laurentino Gomes

2º Holocausto Brasileiro (Geração), de Daniela Arbex

3º Um Gosto Amargo de Bala (Civilizaçao Brasileira), de Vera Gertel

Infantil

1º Breve História de um Pequeno Amor (FTD), de Marina Colasanti

2º Da Guerra dos Mares e das Areias: Fábula sobre as Marés (Quatro Cantos), de Pedro Veludo

3º Poemas que Escolhi para Crianças (Moderna), de Ruth Rocha

Juvenil

1º Fragosas Brenhas do Mataréu (Ática), de Ricardo Azevedo

2º As Gêmeas da Família (Globo), de Stella Maris Rezende

3º Uma Escuridão Bonita (Pallas), de Ondjaki

Capa

1º A São Paulo de German Lorca (Imprensa Oficial), de Edson Lemos

2º Graffitti Fine Art (Sesi), de Raquel Matsushita

3º Murphy (Cosac Naify), de Paulo André Chagas

Ilustração

1º Brasil: Imagens sob a Ótica da Artista Meire de Oliveira (Meire de Oliveira), de Meire de Oliveira

2º Storynhas (Companhia das Letras), de Laerte

3º Decameron: Giovanni Boccaccio (Cosac Naify), de Alex Cervany

Ilustração de livro infantil ou juvenil

1º Bárbaro (Companhia das Letras), de Renato Moriconi

2º Naninquiá - A Moça Bonita (DCL), de Ciça Fittipaldi 

3º Conselho (Escrita Fina), de Odilon Moraes

O restante das premiações podem ser conferidas no site oficial do prêmio.

Com a chegada do feriado da Independência do Brasil, professores e alunos das redes públicas e particulares do Recife preparam eventos comemorativos à data. Para entender melhor o fato histórico a dica é o ler o livro “1822”, de Laurentino Gomes.  O livro conta de uma forma ficcionall todos os passos que levaram Dom Pedro a declarar a independência nas margens do Rio Ipiranga.

O autor descreve o a história do seu livro da seguinte maneira “ Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado.” 

SERVIÇO:

Livro: 1822
Autor: Laurentino Gomes
Editora: Nova Fronteira
Assunto:  História do Brasil

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