As preocupações em torno do setor imobiliário na China pressiona o minério de ferro, que atingiu nesta sexta-feira, 16, o preço mais baixo em 20 meses. A percepção é de que a deterioração da indústria siderúrgica chinesa, diante de preços do aço com tendência de queda, o que, na visão de especialistas, poderá trazer o preço da matéria-prima ainda mais para baixo, caso os investimentos na China não voltem a crescer. Neste ano, o preço do minério de ferro já caiu mais de 25% e alcançou hoje US$ 100,7 a tonelada. A queda deverá afetar os resultados da Vale no segundo trimestre, mas sua posição competitiva está mantida.
Mesmo com pressão negativa sobre as ações em Bolsa, a Vale deve atravessar esse momento de preços mais baixos do minério em posição privilegiada por conta do seu produto de qualidade superior, inclusive em relação aos seus principais concorrentes. A percepção de analistas é de que a companhia deverá continuar como destaque nos embarques transoceânicos. "A Vale continua como um player completamente competitivo em relação ao minério de ferro. As siderúrgicas chinesas precisam do minério da Vale pela qualidade, o que as ajuda em relação às questões ambientais", disse ao Broadcast o especialista em mineração e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e consultor da J.Mendo, José Mendo de Souza.
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O minério com maior teor de ferro é menos poluente. O projeto da Vale Serra Sul, o S11, por exemplo, que entrará em operação em 2016, tem um teor médio de ferro de 66,7%, muito acima do minério que é explorado na China, com teor abaixo 15%.
O preço em queda neste ano já pesou nos resultados da mineradora no primeiro trimestre. Um dos motivos para a companhia ter apresentado uma geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) menor do que o esperado foram as vendas, no período, baseadas no preço futuro do minério de ferro. Como caiu, a Vale teve que ajustar o preço para baixo.
No mês passado, o diretor-executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale José Carlos Martins, disse, em teleconferência, que, caso a companhia não trabalhe dessa forma, os clientes chineses acabam "cancelando" o pedido, caso o preço recue no intervalo do momento da compra e o recebimento do produto. Quando isso ocorre, preferem ir ao mercado à vista, o que é negativo para a companhia.
"O spot realmente tem sido muito volátil nos últimos anos, mas, sempre ficou abaixo de US$ 100 a tonelada apenas por alguns dias", disse um analista, que falou na condição de não ser identificado. A última vez que o preço do minério de ferro foi negociado no mercado à vista abaixo de US$ 100 a tonelada foi em setembro de 2012, quando ficou abaixo desse patamar por aproximadamente duas semanas e depois voltou a subir.
A percepção de analistas é de queda dos preços do minério de ferro. O UBS, por exemplo, acaba de revisar suas estimativas. Para este ano, a previsão caiu de US$ 121 para US$ 111 a tonelada. Em relatório enviado a clientes, a instituição financeira destaca que apesar dos dados da produção de aço estarem mostrando alta, uma parcela relevante desse produto está sendo destinada à exportação, o que pode ser uma sinalização de que o "consumo interno não está tão forte quando os dados de produção podem sugerir".
O analista do UBS, Andreas Bokkenheuser, destaca que o risco para o preço do insumo é sim de baixa, já que demanda pelo produto não estar compensando o aumento da oferta que está vindo neste ano da Austrália, país que ao lado do Brasil é a grande fornecedor mundial de minério de ferro, onde estão as gigantes Rio Tinto e BHP Billinton. "A demanda sazonal deverá atingir o pico nos próximos dois meses, seguido por um abrandamento da atividade de construção e, dessa forma, passando por uma desaceleração na demanda por minério de ferro. Por isso acreditamos que a tendência do preço é para o lado negativo", disse o analista ao Broadcast. As estimativas chinesas mostram, ainda, que os portos chineses possuem mais de 100 milhões de toneladas de minério de ferro em estoque, outro fator negativo.
Além disso, ainda segundo levantamento da equipe de commodities do UBS, o fornecimento global de minério de ferro deverá crescer 8% neste ano. Depois disso a alta anual deverá ser de 4% até 2018. Os fornecimento marítimo, por outro lado, segundo a instituição financeira, deverá ter uma extensão ainda maior, de 10,3% neste ano em relação ao ano anterior. O UBS espera um aumento da oferta de minério de ferro de 112 milhões neste ano, apenas vindo da Austrália.