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A sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Recife recebeu, na manhã desta terça-feira (18), cerca de 400 famílias agricultoras posseiras, que reivindicam o direito pelas terras que habitam há mais de 50 anos. Elas foram acompanhadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pela Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do estado de Pernambuco (Fetape).

De acordo com a CPT, as famílias reivindicam a desapropriação imediata de todas as áreas das usinas falidas que têm débito fiscal com o estado e com a União, e que têm débito trabalhista.

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Os grupos também pedem que sejam reativados a Comissão Estadual de Acompanhamento aos Conflitos Agrários de Pernambuco (CEACA/PE) e o Programa de Prevenção de Conflitos Agrários Coletivos (PPCAC), que estão suspensos desde o início do governo de Raquel Lyra. Os órgãos funcionavam como meios para garantir a segurança e a aquisição de terras de maneira pacífica.

A expectativa das famílias é de serem atendidas pelo superintendente do Incra Pernambuco, Givaldo Cavalcanti Ferreira, que foi noemado oficialmente na última sexta-feira (14), e que retornem para suas comunidades com a garantia de medidas que lhes permitam seguir produzindo alimentos saudáveis no campo, com dignidade e justiça social.

Desde a última quinta-feira (8), quatro drones despejam veneno contra terras de posseiros dos Engenhos Barro Branco, Caixa D’Água e Fervedouro, em Jaqueira, na Zona da Mata Norte pernambucana. Em situação de conflito fundiário, os trabalhadores já tinham sofrido ataques similares durante a pandemia de Covid-19. Em uma das ocasiões, camponeses chegaram a ser socorridos para uma unidade de saúde local.

Agora, um dos agricultores conseguiu registrar o momento em que o veículo aéreo não tripulado despeja o material tóxico, que põe em risco, além das plantações e dos trabalhadores, as fontes de água que abastecem as famílias que vivem nas comunidades. A população pede que as autoridades locais façam a coleta de material e averiguem a contaminação. 

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"Hoje deu pra notar que as folhas do pé de imbaúba já estão murchando, por causa do veneno. Hoje viemos na área atingida e ainda dá para sentir o fedor de veneno. De ontem pra hoje senti uma leve de dor de cabeça e garganta querendo inflamar", lamenta o agricultor Carlos Andrade, que reside no Engenho Fervedouro. Ele teme que mais veneno volte a ser despejado sobre as terras na noite deste sábado (10).

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Em abril de 2021, o LeiaJá esteve no Engenho Fervedouro para acompanhar a situação da comunidade que vive no local. Na ocasião, os agricultores informaram que drones também costumam ser utilizados para vigiar a população, inclusive violando a privacidade de suas residências.

Conflito

Em 2017, a empresa Negócio Imobiliária S/A - que posteriormente mudou seu nome para Agropecuária Mata Sul S/A- tornou-se cessionária de arrendamento de parte da desativada Usina Frei Caneca. A área compreende cinco mil hectares, que correspondem a 60% de todo o município de Jaqueira. Neste perímetro, vivem cerca de 1.200 famílias camponesas, distribuídas nas comunidades rurais de Caixa D’água, Barro Branco, Laranjeira, Fervedouro, Várzea Velha, dentre outras. Esta população vive no local há pelo menos 70 anos e reivindica a regularização de suas posses junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Segundo os trabalhadores, o empresário Guilherme Cavalcanti Petribú Albuquerque se intitula dono da Agropecuária Mata Sul S/A. Membro de uma tradicional família do estado, Guilherme é irmão de Marcello Maranhão (PSB), prefeito de Ribeirão, vizinha a Jaqueira. Desde a chegada da empresa na região, as comunidades que vivem nas áreas arrendadas denunciam uma série de violações, a exemplo de atropelamentos de camponeses, chuvas de agrotóxicos sobre as lavouras, vigilância constante com drones, emboscadas à mão armada, destruição de fontes d'água, ameaças e perseguições, além de esbulho de suas posses, por meio do cercamento das terras. Em agosto do ano passado, passou a circular uma lista com os nomes de dez camponeses marcados para morrer.

O LeiaJá apurou, por meio de consulta à Certidão Narrativa de Débitos Fiscais, que a empresa deve R$ 62.522.544,58 à Fazenda Estadual. Já junto ao Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT6), foi possível constatar que a empresa está envolvida em 121 ações trabalhistas. Assessores jurídicos da CPT informam que existe ainda uma dívida com o governo federal, de mais de R$ 92 milhões. Assim, camponeses reivindicam a desapropriação das terras.

A reportagem já havia levado essa demanda para o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Pernambuco (Iterpe), que garantiu que a dívida da usina com o Estado está sendo cobrada pelo Governo de Pernambuco, por meio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a partir de 16 ações de execução fiscal, as quais tramitam na Justiça. O Instituto informa que os processos são físicos e que já há, inclusive, penhora de engenhos para possibilitar o pagamento da dívida.

Nesta quarta-feira (17), cerca de 600 trabalhadores e trabalhadoras da Zona da Mata de Pernambuco marcham pelo Centro do Recife para cobrar desapropriação ou adjudicação de terras de usinas falidas e desativadas na região. A manifestação, que partiu da praça do Derby, cruzou a Avenida Conde da Boa Vista em direção ao Palácio do Campo das Princesas, onde uma comissão formada por representantes das comunidades e de organizações sociais como a Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) deve ser recebida pelo governador Paulo Câmara, às 16h.

De acordo com a CPT, as s famílias presentes no ato exercem posse sobre essas áreas há várias décadas, o que lhes dá direito de permanecer no local. Ocorre que seus lotes tornaram-se alvo constante de leilões judiciais que desoneram as empresas de açúcar e álcool de suas dúvidas milionárias, inclusive, as trabalhistas, as quais seguem ativas.

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Os camponeses também cobram uma maior fiscalização dos leilões judiciais de terras e temem ser despejados com o fim da lei que proíbe os despejos durante a pandemia, prorrogada até 30 de outubro. “Somos pobres, trabalhadores, agricultores, mas não invadimos nada de ninguém não. Estamos pedindo nossos direitos. Era assalariado e hoje estou plantando nas terras que meu pai deixou pra mim. E de lá eu não quero sair nem tão cedo, quero criar meus netos, meus filhos, porque eu não sei fazer outra coisa. Sei plantar banana, macaxeira, milho”, ressalta Manoel Messias, da comunidade Barro Branco, município de Jaqueira, na Mata Sul.

Moradora da comunidade de Barra do Dia, localizada na cidade de Palmares, Edna Maria da Silva, relata que está prestes a ser expulsa das terras em que produz e vive. "Um usineiro que se diz dono das terras está querendo tomar tudo da gente. Só que ele não conseguiu até hoje nos provar que é dono de lá. A comunidade em si, não temos um levantamento, mas tem gente idosa, com 80 anos, nascida e criada lá", relata.

Ao chegar no Palácio, a mobilização foi recebida por duas barreiras de segurança. "A gente se sente mal. É um descaso com o trabalhador que bota a comida na mesa dele [do governador], ele depende da gente e não a gente dele. Isso a gente não aceita, é um descaso a gente ser tratado como marginal. Estamos lutando por um direito nosso, cuidamos da terra, protegemos ela. Somos agricultores, não bandidos", desabafa Edna Maria.

Histórico

A ameaça de despejo provocada pelos leilões judiciais vem intensificando o quadro de violência e conflitos agrários na região, que já havia sofrido agravamento durante o período de pandemia de covid-19, sobretudo na Mata Sul. Os relatos das famílias camponesas envolvem situações de ameaças, intimidações, perseguições, utilização de drones para vigilância, aplicação de agrotóxicos nas plantações e destruição de lavouras e esbulho de suas posses por empresários que querem ocupar as terras para criar gado. Em agosto de 2020, o LeiaJá relatou o drama dos camponeses jurados de morte na região.

Em fevereiro deste ano, o menino Jonatas Oliveira, de 8 anos, foi assassinado dentro de sua casa, no Engenho Roncadorzinho, uma das comunidades em conflito. O caso foi denunciado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa de Pernambuco como um crime ligado à disputa pela terra.

Diálogo

Na última segunda-feira (15), a Comissão Estadual de Acompanhamento dos Conflitos Agrários de Pernambuco (CEACA/PE), instituída por decreto pelo governador Paulo Câmara, promoveu uma reunião extraordinária com o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Cloves Benevides, com o objetivo de debater os principais pontos reivindicados pelas comunidades do campo. Essa foi a quinta reunião realizada desde a criação da CEACA, um espaço de diálogo entre sociedade civil e governo visando ao fim dos conflitos agrários e à garantia do direito à terra pelas famílias.

Segundo posseiros, três casas foram demolidas nas últimas semanas. (Rafael Negrão/cortesia)

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À sombra da pandemia da Covid-19, que já soma mais de 20 mil casos em Pernambuco, o Complexo Industrial Portuário de Suape vem intensificando, nas últimas três semanas, as demolições de casas e o confisco de bens de posseiros residentes no Engenho Ilha, localizado no Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife. É o que denuncia a população do local, que já havia sido visitado pelo LeiaJá em março, quando destroços de estruturas residenciais e alojamentos- necessários para estocagem de equipamentos e produtos produzidos pelos agricultores- foram observados pela reportagem. Agora, os posseiros descumprem o isolamento social preventivo, preconizado pelo próprio Governo de Pernambuco, na tentativa de defender seu patrimônio da ação da empresa pública.

Com 305 moradores, o Engenho Ilha é uma área de conflito fundiário entre posseiros- que habitam o local há décadas e vivem da agricultura- e o Complexo de Suape, concessionária das terras, que deseja retirar a comunidade para reduzir seu passivo relacionado à compensação ambiental. Até o momento,contudo, nenhuma indenização foi paga pela empresa. De acordo com a presidente da Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, Vera Lúcia Melo, boa parte da população do Engenho Ilha é composta por idosos, com grande número de diabéticos e hipertensos.

“Muita gente que é grupo de risco para a Covid-19 e deveria estar dentro de casa descansando, mas precisa sair para defender o que é nosso. Diante das ações truculentas de Suape, tivemos casos de pessoas com os sintomas da doença presentes em aglomerações de posseiros. A população é obrigada a ficar em estado de alerta, porque a movimentação do vigilantes é intensa, com ofensivas duas vezes ao dia e muita agressividade”, comenta.

Vera coloca que a Sociedade vem realizando um trabalho educativo de prevenção ao novo coronavírus junto aos agricultores da região. “Passamos todas as informações e a população está obedecendo, todos utilizando máscaras e tentando ficar em casa. Acontece que para a vigilância de Suape, que rodeia diretamente os terrenos, não há quarentena, então como podemos ter?”, completa.

Vera lembra que boa parte da população do Engenho Ilha é composta por idosos. (Rafael Negrão/cortesia)

Segundo os posseiros a abordagem da vigilância privada da empresa vem sendo intimidatória. Membro do Departamento Jurídico do Sindicato dos Vigilantes de Pernambuco (SINDESV-PE), Carlos Gomes, defende que Suape utiliza indevidamente os profissionais de segurança particular, terceirizados da empresa Servi-san. “O vigilante é treinado e formado para tomar conta do patrimônio a que presta serviço. Ele não tem autorização para se meter em conflitos da empresa, para ir até a casa daquele posseiro. Suape alega que a terra é deles e o trabalhador fica no meio dos conflitos da empresa”, explica.

A Polícia Federal, por meio da Delegacia de Controle de Segurança Privada (Delesp), é o órgão responsável por fiscalizar a atuação dos serviços de segurança privada. Em 2011, a instituição chegou a realizar diligências na área, verificando o envolvimento de vigilantes na derrubada de imóveis. Como consequência, a empresa “Servi-san Vigilância e Transporte de Valores foi autuada e, ao final, cancelada punitivamente”. Diante dos novos incidentes a reportagem voltou a contactar a instituição, que, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não pode iniciar as diligências na área sem que alguma denúncia seja formalizada pelos posseiros.

No dia 2 de fevereiro de 2015, foi aberto pela 3ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania do Cabo de Santo Agostinho, do Ministério Público, um procedimento preparatório voltado para a atuação de milícias armadas a serviço de Suape. A ação- que levou em consideração os relatos líderes comunitários dos Engenhos Massangana, Vila Tatuoca, Boa Vista, Ilha, Serraria, Tabatinga e Algodoais- notificou a empresa a se manifestar em um prazo de 15 dias. A despeito das fotografias e evidências anexadas ao documento, Suape negou envolvimento nas ações criminosas. “Precipuamente, reitera-se que inexiste por parte desta Empresa Pública, quer por seus funcionários ou prestadores de serviços, qualquer ato truculento ou fora da legalidade, sobretudo quanto ao tratamento dispensado às famílias residentes no Complexo", respondeu a empresa, em 20 de março de 2015.

“Só paro quando morrer”

Posseiros relatam visitas diárias da vigilância de Suape. (Rafael Negrão/cortesia)

Aos 34 anos, o apicultor Luciano Plácido da Silva nunca morou em outro lugar que não o Engenho Ilha, onde herdou o ofício do pai. “Minha área é fria, os manguezais fazem flor para as abelhas, assim como os coqueiros que eu havia plantado. Suape, se aproveitando de que eu estou em casa, de quarentena, foi até o meu sítio e derrubou 80 pés de coqueiros, levou minhas estacas. Como vou trabalhar? Tenho clientes de 15 anos”, questiona. Agora desempregado, Luciano está vivendo das sobras do meu coletado no último verão, mas se preocupa com suas abelhas, que foram deixadas no local, dentro de caixas. “Tenho medo do que eles voltem no sítio e toque fogo nelas. Além disso, tem pessoas que têm o hábito de passear por aquelas terras e, como o terreno teve as cercas retiradas, podem correr risco de vida caso cheguem perto das abelhas, que são de um espécie africana agressiva. Se alguém morrer? Como vai ficar?”, comenta.

Luciano destaca que as abordagens da vigilância de Suape costumam ser agressivas, motivo pelo qual tem medo de voltar ao sítio. “Já soube que os vigilantes, depois da derrubada, apareceram lá algumas vezes, perguntando por mim. Eles são bem agressivos, não respeitam a gente. Eu amo as abelhas, estar cultivando. Não sei o que vou fazer”, desabafa.

A história da agricultora Ademildes Maria de Melo com o Engenho Ilha começou há 40 anos, quando seu pai resolveu transformar um terreno tomado por mato em sustento para a família. Aos 61 anos, ela se mantém cuidando da casa e plantando frutas e macaxeira no local, a maior parte destinada à subsistência da família. “Eu gosto muito de trabalhar na terra, só paro quando morrer. Queria que deixassem a gente trabalhar em paz, estamos ajudando a população, produzindo alimentos saudáveis”, apela. Ademildes diz que teve sua casa derrubada por Suape nas ações ocorridas este mês e que, antes disso, já havia tido uma horta de melancias destruída por agentes da empresa. “Você pensa que eu desanimo? Planto de novo. Eles vêm ao sítio todos os dias, tiram foto de tudo, da gente”, completa.

Plantações também são destruídas na área. (Rafael Negrão/cortesia)

Na intervenção mais recente da empresa, a agricultora diz que foi obrigada a romper o isolamento social mesmo estando com suspeita de estar acometida pela Covid-19, para tentar defender as terras. “Tive febre, até agora ainda não sinto nem gosto nem cheiro de nada, além do problema de pressão que tenho. Já gastei tanto nesse sonho, essa terra é minha e já lutei muito por ela. Vou desistir?”, argumenta.

Longevidade da Comunidade

O LeiaJá teve acesso à ata de fundação da Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, que data de 22 de maio de 1988, sendo um indício da longevidade da ocupação dos trabalhadores na área. Outro documento, um termo de recebimento da Associação dos Agricultores de Suape, atesta, em dois de novembro de 1990, que a então Diretoria de terras e Cartografia (DTC) da Secretaria de Agricultura do Estado de Pernambuco chegou a concluir um estudo topográfico na área denominada de Suape- II, correspondente aos engenhos Ilha, Cedro, Jurissaca e Boa Vista.

Apesar disso, Suape deu a entender, em resposta ao LeiaJá, que a ocupação no Engenho Ilha é recente. A empresa alegou que desconhece quaisquer ações em propriedades alheias na área, onde “invasões seriam constantes”, e que tem “obrigação de atuar com o que se chama desforço imediato, ou seja, coibir as invasões no território do Complexo, no momento em que elas estão acontecendo, ação prevista no Código Civil (artigo 1.210)”. Leia o posicionamento na íntegra:

"Por lei, Suape tem a obrigação de atuar com o que se chama desforço imediato, ou seja, coibir as invasões no território do Complexo, no momento em que elas estão acontecendo, ação prevista no Código Civil (artigo 1.210). Conforme a Diretoria de Patrimônio e Gestão Fundiária, é o que ocorre no Engenho Ilha, onde as tentativas de invasões são constantes. Há, inclusive, processos de reintegração de posse na Justiça, pois, uma vez que sejam identificadas moradias já instaladas, não há atuação direta de Suape sobre elas, apenas juridicamente. Desconhecemos qualquer ação sobre propriedade alheia no local. E mantemos aberto à população canal de denúncia, via email (canaldedenuncia@suape.pe.gov.br) ou telefone: 3527.5005".

A situação do Engenho Ilha é tratada pelo Ministério Público Federal (MPF), onde há um um inquérito civil público instaurado pela Procuradoria da República, no município do Cabo de Santo Agostinho. “Nesse inquérito, existe um parecer antropológico, elaborado pela equipe técnica do MPF, constatando que se trata de uma comunidade muito antiga, de pessoas que estão na área desde até antes do surgimento de Suape. Então não é verdade a informação de que a ocupação é recente”, comenta a advogada do Fórum Suape Luísa Duque. Assim, não caberia a utilização do desforço imediato por parte de Suape, porque trata-se de um instituto aplicável apenas em casos de posses não consolidadas. “Esse instituto assegura ao possuidor o direito de proteger a sua posse com a sua própria força, mas, no caso do Engenho Ilha, Suape pode até ter adquirido a terra, mas quem exerce de fato a posse são aquelas famílias. Uma coisa é propriedade, outra é posse”, comenta a advogada.

Além disso, Luísa afirma que desconhece o pedido de reintegração de posse feito por Suape. “O simples fato de ter ajuizado uma reintegração de posse não é o suficiente para dar o direito de avançar sobre a posse dos posseiros. É preciso que haja uma decisão judicial e que o posseiro seja intimado dessa decisão, coisa que não aconteceu. Dessa forma, ainda que fossem posses novas, esses atos não estariam justificados e não perderiam o seu caráter ilegal e criminoso”, conclui.

 

Foi preciso que a reportagem caminhasse quase três horas para percorrer a trilha que liga os engenhos Ilha e Jurissaca, no Cabo de Santo Agostinho. Cerca de dez posseiros nos convidaram a conhecer o perímetro depois que o Complexo Industrial Portuário de Suape iniciou uma nova onda de demolições de casas e remoções de cercas de arame e estacas que demarcavam as propriedades de agricultores instalados nas terras, localizadas no entorno da recém-inaugurada fábrica dos laboratórios Aché.

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O empreendimento, inaugurado em outubro de 2019, motivou uma série de desapropriações, sendo 41 delas ligadas a famílias que ainda não receberam indenização. Com a destruição da estrada de acesso à zona rural, encerrada agora por muros gigantescos, o caminho para as propriedades tornou-se um suplício. Mata adentro, uma trilha aberta pelos próprios posseiros não dá passagem para carros ou motos. Só se passa a pé.

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Diante do amontoado de tijolos que por 30 anos foi a casa que garantiu a subsistência de sua família, o posseiro José Severino dos Santos, de 64 anos, conta que apenas assistiu, de longe, à derrubada do imóvel. “Não encostei por medo. Cheguei no terreno e vi de longe. Era um grupo de seis homens (segurança privada de Suape) com martelos, marretas e picaretas, derrubando a casa da minha irmã”, conta. Se no passado a área era repleta de vizinhos e de chão bom para o plantio de batata, macaxeira, maxixe e milho, agora apenas um enorme descampado circunda os destroços da casa. “Indenizaram todos os terrenos ao redor desse, menos a gente e minha irmã ficou sozinha. Depois, apareceu um gado que ninguém sabe de quem é e destrói tudo. Eles vão isolando, para a turma correr”, conclui.

Mas correr para onde? Desde que foi expulsa das terras em que morava e trabalhava, a posseira Maria Joseilda da Silva precisa enfrentar 12km todos os dias para plantar e colher feijão, no Engenho Jurissaca. “O nosso terreno era no Posto do Padre, o que aconteceu foi que me chamaram para fazer o acordo e nunca pagaram a indenização. Ninguém vive de boniteza nem de brisa e preguiça de trabalhar eu não tenho”, comenta.

Maria Joseilda: "não posso é deixar meus filhos morrerem de fome". (Rafael Negrão/cortesia)

Mesmo em época de colheita farta, Maria não apura mais do que R$ 60 por semana, somando, nos melhores meses, a renda de R$ 240, com a qual sustenta três filhos. “Sou viúva e o INSS cortou a pensão que eu recebia do meu marido. Queria perguntar ao governador qual foi o desenvolvimento que ele trouxe para cá, porque meus filhos estão todos desempregados. A gente vê povo trabalhando na fábrica, mas ninguém daqui”, critica. Por vezes, a agricultora, é obrigada a trabalhar sob a observação da segurança privada de Suape. “Ficam ali debaixo de um pé de azeitona, perguntando se venho sozinha, se tenho medo, se tenho marido...Eles dizem que não posso plantar, mas o que não posso é deixar meus filhos morrerem de fome”, argumenta.

Vista com admiração por outros posseiros e constantemente descrita como uma mulher dotada de uma coragem “que muito homem não tem”, Maria foi uma das agricultoras realocadas para uma nova área depois de uma onda de expulsões executadas a mando de Suape, há cerca de dois anos. “Os posseiros acabaram ficando muito distantes uns dos outros e reagrupá-los para que eles se fortaleçam foi nossa estratégia”, explica Vera Lúcia Melo, presidente da Sociedade de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos.

Milícias a serviço de Suape?

Durante trilha que liga engenhos, é possível notar os resquícios de estacas arrancadas. (Rafael Negrão/cortesia)

Com uma garrafa em uma das mãos e algumas frutas na outra, o posseiro José Amaro Bezerra, de 68 anos, é um dos muitos idosos que acompanham nossa equipe pelo entorno da Fábrica Aché. Com a camisa encharcada de suor, em determinado momento do percurso ele aponta para uma fileira de tocos de madeira teimosamente cravados no chão. “Vieram (vigilantes de Suape), derrubaram as estacas e aí falei que eram minhas. Eles disseram que se eu estivesse certo, iam devolver o material. Ainda perguntaram se eu tinha medo de ficar aqui”, lamenta Bezerra.

Tal experiência parece comum aos demais posseiros. Isolado graças à derrubada das casas de todos os vizinhos, a mobilidade comprometida e a energia elétrica cortada, Bezerra foi impossibilitado de permanecer no terreno onde viveu pelos últimos trinta anos. Sobre as motivações que teriam levado sua a família a ser a última a deixar o local, após a saída e indenização de todos os vizinhos, Isaneide Bezerra, filha do posseiro, conclui: “até hoje, me pergunto o porquê, mas só acho que o que Suape quis fazer foi nos intimidar”.

Base de casa de posseira destruída por Suape já em 2020. (Rafael Negrão/cortesia)

Agricultora aponta resquícios de estrutura de alojamento derrubada. (Rafael Negrão/cortesia)

Além de cortar as estacas, agentes da vigilância do complexo industrial teriam ainda derrubado as cercas feitas com o arame adquirido por Bezerra, com seus próprios recursos financeiros. “Agora estamos nos virando nos trinta, porque meu marido é pescador e há três meses está doente. Para não cruzar os braços, faço artesanato. Pagava aluguel até domingo (três dias antes da entrevista), hoje estou morando em uma invasão”, desabafa Isaneide.

No dia 16 de novembro de 2019, família Bezerra foi uma das que registrou Boletim de Ocorrência contra Suape. “No dia quinze de outubro do ano em curso, pelo período da tarde, foi abordado em seu sítio, por cinco elementos desconhecidos, os quais pertenciam ao corpo funcional de Suape, sendo que três estavam em uma caminhonete e dois motorizados e armados”, comunica o documento. Além deste, a reportagem do LeiaJá teve acesso a mais seis BO’s feitos por posseiros dos engenhos Jurissaca e Ilha, entre março de 2017 e janeiro deste ano. Em cinco das ações, é mencionada a presença de Romero Correia da Fonseca, chefe de segurança de Suape. Ele também é denunciado por portar armas de fogo, assim como membros da vigilância particular do complexo.

Em um vídeo gravado neste ano, Romero discute com Vera Lúcia de Melo, que tenta impedi-lo de deixar o Engenho Ilha após a demolição da base da casa de uma moradora. É possível assistir ao momento em que ele, a bordo de uma caminhonete com a logomarca de Suape, arranca com a carroceria repleta de estacas. “Eu tive uma prova tremenda do que é ser mulher negra e liderança. Tive que parar o carro com ele acelerando e colocando o veículo para cima de mim. Para ser bem educada, vou colocar ele como sendo um cara desumano, desprezível”, define Vera, que, devido aos conflitos em Suape, integra o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PEPDDH), desde 2016.

Segundo relatos de moradores da região que preferem não se identificar, durante as ações de remoção, Romero costuma se utilizar de armas de fogo para intimidar a população, identificando-se como policial. O LeiaJá pediu esclarecimentos à Polícia Civil a respeito da conduta do chefe de segurança. Por meio de assessoria de imprensa, a instituição disse que não confirmaria se Romero é policial ou não, alegando que assim respeitaria a Lei de Abuso de Autoridade. A reportagem localizou, contudo, em um Boletim Interno de Serviço da Polícia Civil de Pernambuco, datado de 11 de abril de 2008, o comunicado de aposentadoria de um escrivão chamado Romero Correia da Fonseca, que atuou por 33 anos na corporação.

Romero Fonseca é flagrado levando estacas de posseira em carro de Suape:

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Carlos Gomes, membro do Departamento Jurídico do Sindicato dos Vigilantes de Pernambuco (SINDESV-PE), defende que Suape utiliza indevidamente os profissionais de segurança particular, terceirizados da empresa Servi-san. “O vigilante é treinado e formado para tomar conta do patrimônio a que presta serviço. Ele não tem autorização para se meter em conflitos da empresa, para ir até a casa daquele posseiro. O porto alega que a terra é deles e o trabalhador fica no meio dos conflitos da empresa”, explica. Gomes acrescenta que o vigilante pode sim utilizar armas de fogo no perímetro que está autorizado a atuar.

A Polícia Federal, por meio da Delegacia de Controle de Segurança Privada (Delesp), é o órgão responsável por fiscalizar a atuação dos serviços de segurança privada. Por meio de assessoria de imprensa, a instituição informou que, no ano de 2011, realizou diligências na área, verificando o envolvimento de vigilantes na derrubada de imóveis. Como consequência, a empresa “Servi-san Vigilância e Transporte de Valores foi autuada e, ao final, cancelada punitivamente”. A PF colocou ainda que não estava ciente das novas denúncias, as quais irá apurar e, caso sejam confirmadas, poderão motivar “eventual punição sobre a empresa de segurança de privada”.

À esquerda, José Severino dos Santos, que se escondeu ao avistar funcionários de Suape derrubando a casa de sua irmã. (Rafael Negrão/cortesia)

No dia 2 de fevereiro de 2015, foi aberto pela 3ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania do Cabo de Santo Agostinho, do Ministério Público, um procedimento preparatório voltado para a atuação de milícias armadas a serviço de Suape. A ação- que levou em consideração os relatos líderes comunitários dos Engenhos Massangana, Vila Tatuoca, Boa Vista, Ilha, Serraria, Tabatinga e Algodoais- notificou a empresa a se manifestar em um prazo de 15 dias. A despeito das fotografias e evidências anexadas ao documento, Suape negou envolvimento nas ações criminosas. “Precipuamente, reitera-se que inexiste por parte desta Empresa Pública, quer por seus funcionários ou prestadores de serviços, qualquer ato truculento ou fora da legalidade, sobretudo quanto ao tratamento dispensado às famílias residentes no Complexo", respondeu a empresa, em 20 de março de 2015.

“Meu pai teve um AVC três dias depois da reunião com Suape”

Aos 63 anos, Severino Florêncio Filho travou sua última batalha contra Suape. O agricultor assistiu, um a um, à saída todos os vizinhos da qual havia tirado o sustento de sua família pelos últimos 30 anos. Com os oito filhos crescidos, sua principal companhia passou a ser uma pergunta: por que apenas ele não havia sido indenizado? “Ele ficou ‘aperreado’ de não ter uma resposta. Meu pai teve um AVC três dias depois da última reunião com Suape”, conta Walkíria Florêncio.

Walkíria diante do terreno que foi a roça em que cresceu. (Rafael Negrão/cortesia)

Um dos mais próximos ao muro da Fábrica Aché, o terreno inabitado logo se transformou em um enorme matagal. “O sentimento é de tristeza, a gente lembra tudo que viveu aqui. Com tanto dinheiro, não pagam a indenização. Para fazerem o que eles querem com as terras e a gente seguir nossa vida”, conclui Walkíria.

O nome de Severino Florêncio Filho é o 34º, dentre outros 43, a aparecer em um estudo cartográfico feito por Suape, em março 2019, sobre a localização dos ocupantes das terras que circundam fábrica Aché. O documento em si, aliás, é a melhor evidência de que a empresa reconhece a existência dos remanescentes que ainda não receberam suas indenizações.

Mapa de Suape em que constam nomes de posseiros que ainda não foram indenizados. 

No dia 28 de fevereiro de 2019, um novo procedimento foi aberto, desta vez, para apurar o não pagamento das indenizações de posseiros removidos de suas casas por Suape. A ata da reunião anexada ao documento, promovida pelo MPPE no dia 22 de janeiro do mesmo ano, registra a denúncia feita pelos posseiros a respeito de um laudo das benfeitorias de suas terras realizado pelos funcionários de Suape, que retiraram as mudas e plantações sob a promessa de pagamento da indenização em um prazo de noventa dias. Sete anos depois, os agricultores seguem sem receber o dinheiro.

O relatório “Complexos Industriais e Violações de Direitos”, publicado pela Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil em 2018, denuncia que as indenizações oferecidas por Suape costumam ser incompatíveis com o que é estabelecido pela Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape). “Mais de 12 laudos de avaliação do valor indenizatório de sítios desapropriados na localidade precisaram ser refeitos graças ao trabalho da Associação de Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos”, expõe o documento.

Pequenas passagens de pau precariamente instaladas pelos posseiros para criar acesso às terras. (Rafael Negrão/cortesia)

O LeiaJá solicitou entrevista com a atual promotora responsável pelo caso, Evânia Citian de Aguiar Pereira. O MPPE, contudo, disse que se manifestaria por meio de nota. Apesar da supracitada relação de posseiros a serem indenizados feita pela própria Suape, a instituição afirmou que “instaurou um procedimento para investigar quantas pessoas estão sendo atingidas pela construção do laboratório Aché, no complexo industrial de Suape, e a quantificação desse dano causado a elas”. O posicionamento menciona ainda uma reunião feita no dia 16 de agosto de 2019, com a presença de representantes do laboratório Aché, de Suape, do Fórum Suape, e a presidente da Sociedade dos Pequenos Agricultores. “Na ocasião, ficou acordado que o Fórum Suape deveria apresentar quais eram as pessoas atingidas pela construção do laboratório Aché, bem como a quantificação do dano por elas sofrido. A solicitação foi respondida no dia 28 de janeiro de 2020, por meio da coordenadora do Fórum Suape Espaço Socioambiental, Kássia de Souza. Porém, não foi informada a quantificação do dano causado, assim, o Ministério Público requereu mais diligências”, conclui o posicionamento.

Vera Lúcia Melo critica a morosidade da atuação da instituição. “A gente apresenta provas, dá toda a situação para ela, documentos, vídeos, foto e ela continua pedindo mais, já faz mais de um ano”, queixa-se.

História

Vera chama atenção para o grande tempo de ocupação das comunidades que habitam o entorno da fábrica Aché. “A gente se considera comunidade tradicional. O Engenho Ilha foi fundado em cima da cana de açúcar, as famílias que residem nesse arruado sempre trabalharam com agricultura”, comenta. A ata de fundação da Sociedade dos Pequenos Agricultores de Ponte dos Carvalhos, de 22 de maio de 1988, é um indício da longevidade da ocupação dos trabalhadores na área que circunda a fábrica Aché. Outro documento, um termo de recebimento da Associação dos Agricultores de Suape, atesta, em dois de novembro de 1990, que a então Diretoria de terras e Cartografia (DTC) da Secretaria de Agricultura do Estado de Pernambuco chegou a concluir um estudo topográfico na área denominada de Suape- II, correspondente aos engenhos Ilha, Cedro, Jurissaca e Boa Vista.

Na ocasião, o próprio estado de Pernambuco demarcou 265 lotes e áreas comunitárias, tendo ainda apresentado as divisas das regiões a seus ocupantes. "Declaramos que os serviços foram concluídos a contento e que as áreas onde os candidatos não compareceram, trocaram de lotes ou ocupam partes de lotes, terão seus problemas resolvidos pela própria associação juntamente com a direção de Suape. Sendo assim, a diretoria da associação abaixo assinada, dá como recebido os trabalhos de demarcação dos lotes supracitado (sic)", conclui o documento, assinado também por Suape e DTC.

Enorme, Muro da Fábrica Aché obriga posseiros a fazer caminho ainda maior para chegar às pequenas plantações. (Rafael Negrão/cortesia)

A Superintendência do Patrimônio da União (SPU) confirmou a posse de parte das terras correspondentes ao engenho Ilha, as quais tipifica como “terreno de marinha”. As terras estão regularizadas, por direito de ocupação, em nome de Suape. Sobre o Engenho Jurissaca, a instituição afirmou que seria necessário informar alguma localização exata, com endereço completo, pois “usando somente a denominação não foi possível identificar no sistema”.

Suape nega acusações

Por meio de nota, Suape negou que tenha ordenado a derrubada de casas de posseiros, confiscado objetos de posse de terceiros ou se utilizado de vigilantes portando armas de fogo para intimidar a população. A empresa ainda afirmou que não possui quaisquer pendências em relação a indenizações a posseiros.

Confira a nota na íntegra:

“Pela Lei 10.406/2002 (Código Civil), Suape tem a obrigação de impedir invasões no território com o objetivo de proteger o patrimônio público. Se identificarmos o momento em que um imóvel está sendo construído, devemos agir imediatamente, impedindo a continuidade da obra. Quando a invasão é detectada posteriormente, nós entramos na justiça solicitando reintegração de posse.  Pode ocorrer de sermos convocados pelo Ministério Público a participar da reintegração de posse. Mas, sem ordem judicial, Suape não interfere em moradias já consolidadas.

Vale salientar que o Complexo de Suape foi concebido com um grande território (mais de metade dele de área preservada) por um motivo. Se o porto sofre pressão urbana, ele perde sua capacidade de crescer, de acompanhar as novas demandas do setor, de ser competitivo e de gerar novos empregos e renda para a população. São 23 mil empregos gerados no território, atualmente. E temos capacidade para gerar muito mais.

Com relação aos Engenhos Ilha e Jurissaca, Suape negociou a saída de 126 famílias dessas áreas e todas elas foram indenizadas e tiveram a opção de escolher uma casa no Conjunto Habitacional Nova Vila Claudete ou cinco hectares de terra em assentamentos rurais. Outras 43 famílias solicitaram indenização para sair da área, mas essa questão não foi negociada por Suape, portanto, não procede a informação de pendências em indenizações.

As equipes de segurança de Suape que atuam no controle territorial trabalham sem armamento e com identificação. E qualquer material recolhido pela equipe fica à disposição dos proprietários.

Nenhum boletim de ocorrência de truculência foi gerado na atual gestão, iniciada em janeiro do ano passado.  E orientamos a população que qualquer comportamento indevido seja registrado, para que possamos apurar o fato e tomar as medidas cabíveis.

Sobre a empresa Ache, o empreendimento ainda não teve sua planta concluída e está em obras.

Por fim, destacamos que nos últimos dias temos visto uma série de vídeos antigos circulando nas redes sociais como se fossem novos, justamente no momento em que Suape desenvolve projetos socioambientais nas comunidades consolidadas do território. Diante disso, registramos o interesse e a prática da atual gestão em manter o diálogo com as comunidades e fomentar a economia e a melhoria da qualidade de vida das famílias consolidadas no território”.

“Piada de mal gosto”

Vera Lúcia, presidente da Sociedade de Pequenos Agricultores, integra o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PEPDDH), desde 2016. (Rafael Negrão/cortesia)

Vera Lúcia de Melo classifica a resposta de Suape como uma “piada de mal gosto”. “Em algumas áreas do Engenho Ilha não indenizaram ninguém, somando com Jurissaca faltam 41 famílias. Ninguém é invasor”, comenta. Sobre a colocação de que a empresa não interfere em moradias já consolidadas sem reintegração de posse junto ao Ministério Público, a advogada do Fórum Suape- que defende os interesses dos posseiros- Mariana Vidal lembra que a própria Suape já afirmou, em ofícios encaminhados à justiça, que se utiliza do desforço imediato. “Esse é um instituto de autotutela, utilizado quando a própria parte que supostamente teve um direito violado não precisa recorrer ao judiciário para reaver sua coisa. A violação seria tão recente que a parte teria o direito de reaver a área supostamente invadida”, acrescenta.

Vidal reitera que os primeiros posseiros ocupam as terras há pelo menos trinta anos. “Isso confere a eles o direito de usarem o terreno como bem entenderem, contato que isso não fira a lei. Se os posseiros querem construir uma casa, uma cerca, dentro da área onde eles exercem a posse, podem fazer isso. Só que Suape se acha no direito de destruir qualquer construção nova, mesmo quando elas estão em terrenos de famílias que exercem a posse há muito tempo”, completa.

Fábrica Aché, no Engenho Jurissaca. (Rafael Negrão/cortesia)

A advogada critica ainda a falta de diálogo com a comunidade durante o processo de instalação da Fábrica Aché, que reforçou um longo processo histórico de invisibilização desses agricultores. “A Aché alega que não tinha conhecimento da existência de famílias no local. O estudo ambiental que embasou o processo de licenciamento ambiental não menciona nenhuma delas, então, consequentemente, não prevê medidas compensatórias e mitigadoras dos impactos que irão recair sobre essa comunidade, tanto oriundos da instalação quanto da operação do empreendimento”, conclui Mariana.

Também advogada do Fórum Suape, Luísa Duque argumenta ainda que Suape chegou a fazer a contagem das benfeitorias dos terrenos, o que gerou nos posseiros grande expectativa da indenização. “Até porque a forma como a empresa procedeu com as indenizações e os reassentamentos de parte da comunidade foi de forma a tornar os sítios remanescentes isolados, deixando a vida das pessoas insegura”, declara. Vidal complementa: “E, agora, tudo que a comunidade quer é ser indenizada para sair de lá. O Ministério Público não tem feito nada em relação a isso, enquanto as pessoas vão ficando idosas e tentando sair da área por conta própria”.

A moradora está inquieta, anda de um lado para o outro dentro dos cômodos inacabados ainda com respingos de cimento pelas paredes de sua casa. Com as mãos muito trêmulas, ela segura uma xícara de café com alguma dificuldade. O olhar atento e o semblante de tristeza revela a angústia que Josefa Joaquina de Lima, 75, sente naqueles minutos de apreensão. Ela mora há mais de cinquenta anos nas terras do antigo Engenho Suassuna, dentro da Usina Jaboatão, desativada desde 1996 e atualmente com as ruínas em estado completo de abandono. Dona Zefa, como é chamada pelos mais próximos, é constantemente ameaçada de despejo e ao perceber a aproximação do carro da reportagem, associou o veículo como pertencente “aos homens” que alegam serem os novos donos das terras habitadas por ela e mais um grupo de pouco mais de 50 famílias sitiantes.

Zefa custou a acreditar que, na verdade, a aproximação da equipe de jornalismo seria para ouvi-la sobre os motivos pelos quais ela e seus vizinhos, companheiros de décadas, estariam sendo obrigados a deixarem suas casas ou vê-las sendo demolidas pelos temidos tratores, do dia para a noite, de maneira arbitrária. No terraço de casa, ela se senta na cadeira de balanço e aos poucos o tom de voz estremecido vai desaparecendo, mas não completamente. O nervosismo não é exclusivo da moradora, o sentimento também é partilhado, principalmente, pelos ex-empregados da usina e seus familiares. Eles apontam uma série de ilegalidades, violência psicológica e física contra os posseiros. Mas, apesar da descrença nas autoridades públicas, eles ainda resistem na contramão da especulação imobiliária em Jaboatão dos Guararapes.

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Há vinte e três anos, os antigos donos da Usina Jaboatão, também conhecida como Indústria Açucareira Antônio Martins de Albuquerque, que fica localizada no bairro de Muribequinha, decretaram falência e fecharam as portas. Josefa lembra bem das dificuldades que passou principalmente após o ano de 1996 ao lado de seu marido Octacílio José, já falecido, que era tratorista da usina. Ela conta que a empresa fechou e seu esposo não recebeu nenhuma verba trabalhista pelos anos trabalhados.

A situação deles é também a de centenas de ex-empregados que não tiveram créditos trabalhistas e rescisórios quitados, mesmo após acionarem a Justiça. As poucas exceções foram alguns funcionários que tiveram seus débitos pagos por meio de adjudicação de glebas de terra do engenho, tornando-se então os proprietários desses terrenos. Quem não recebeu nada, optou por permanecer nas terras do Engenho Suassuna, onde já residia com a família e passou a trabalhar na agricultura, plantando alimentos como macaxeira, laranja e verduras.

Mãe de seis filhos, dos quais dois morreram, Josefa continuou nas terras do engenho após o marido falecer. Nascida em Limoeiro do Norte, no Ceará, ela relembra que conheceu Jaboatão dos Guararapes porque vinha sempre à usina visitar um tio que prestava serviços para os latifundiários. Aos doze anos, em uma dessas viagens, conheceu o marido e se apaixonou. Não demorou para que Zefa e Octacílio se casassem. Eles vieram morar na Fazenda Suassuna porque ele trabalhava no local. É tanto tempo morando naquelas terras que Zefa já perdeu as contas exatas, mas ao observar alguma documentações e a carteira de trabalho, já muito surrada e cheia de remendos, de seu esposo, ela calcula que está naquela terra há mais de cinquenta anos.

Ela não morou sempre na casa atual, já de alvenaria. Precisou assistir três moradias feitas de taipa, doadas pela administração da usina na época, caírem por falta de estrutura. “Eram feitas de barro e não aguentavam o desgaste. Nessa última casa que estou morando agora, não foi a usina que me deu como nas outras vezes. Eles me disseram que estavam falindo e não tinha condições de construir mais uma casa para a gente. Eu vendi um terreno em Marcos Freire, na época, e consegui levantar esse meu cantinho de tijolo, mas nem consegui terminar direito, pode ir olhar”, diz Zefa, que busca em várias caixas bem guardadas a documentação para comprovar que seu marido trabalhou para a usina e mostrar que ela não é uma invasora de terra.

Josefa reside sozinha atualmente na Gleba 5, termo utilizado para fins do processo judicial. Para ela, esse novo termo pouco importa. Aquele pedaço de terra representa tudo que restou de uma vida de muito trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar ao lado do marido e nas cozinhas, quando trabalhou como doméstica no Recife. Ela relembra os momentos de abordagem para convencê-la a sair do seu pedaço de terra, a sua moradia. “Esses novos donos vieram negociar comigo perguntando se eu tinha vontade de sair da minha casa e se não aceitava um terreno fora daqui. Eu falei logo que não porque a minha vida é aqui, sempre foi e só saio é morta ou se o trator passar por cima do meu corpo”, complementa Zefa lamentando que esteja passando por isso após tantos anos de dedicação ao engenho. 

Para ela, a relação afetiva com a sua morada está acima até das relações familiares. “Todas essas pessoas que trabalhavam na usina moravam aqui, sabe? Eu gosto demais de morar nessa minha terra. Quando minha filha me leva para passar algumas semanas em outros bairros, eu fico doidinha e já quero voltar. Passo o dia lendo a palavra do Senhor perto da árvore e tudo aqui é uma paz. Muitas pessoas recebem ameaça aqui e eu ouço muito isso, só os vejo passando. Escuto os meus vizinhos dizendo que são os homens”, conta.

Segundo o pesquisador Gaston Bachelard, no livro ‘A Poética do Espaço’ a casa é nosso canto no mundo. “É um sucedâneo do útero, primeira morada, cuja memória talvez persista em nós, onde estávamos tão seguros e nos sentíamos tão a gosto (...)”. Para o estudioso, a moradia vai além do geométrico, é um espaço afetivo sempre envolto de emoções.

 

A advogada Mariana Vidal, representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e uma das profissionais à frente do caso, detalha que a área do Engenho Suassuna estava destinada a ser desapropriada para fins de reforma agrária, juntamente com mais três engenhos e o caso era acompanhado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pelo Ministério Público Federal. “Após alguns anos, o Incra considerou que o imóvel como um todo tinha sofrido um processo de urbanização, ocupação e já tinha perdido o caráter de imóvel rural, embora algumas áreas ainda conservem essas características, como é o caso de parte dessa comunidade que estamos tratando’, explica Vidal.

 

Ela pontua que em meados de 2015 a CPT começou a acompanhar o caso porque os moradores da região passaram a receber visitas de homens armados, intimidando os moradores e sitiantes para que saíssem das terras. Casas e plantações foram destruídas por esses supostos proprietários. “A gente começou a atuar perante o MPF porque existia um processo que tratava sobre a área, já que antes a terra iria ser desapropriada e assim já se tinha um inquérito civil público a respeito dessa comunidade. Mas, como o Incra não iria mais desapropriar as terras, o MPF deixa de atuar porque o caso perde a atribuição federal e segue para o MPPE, a nível estadual”, resume a advogada.

Assim como parte da terra do Engenho Suassuna foi dividida em glebas para a partilha das terras entre os supostos novos proprietários, para fins didáticos, a reportagem também vai utilizar os termos do processo judicial. As duas áreas em questão são a Gleba 5 e a Gleba 1. (Não há informações sobre o tamanho exato dessas duas áreas, mas estima-se em mais de 60 hectares de terra). A primeira ainda tem caráter de zona rural, com características pouco alteradas ao longo dos anos, sendo composta por vários hectares de terras com sítios e agricultores que usam da terra para subsidiar a alimentação familiar e para comercializar essas os alimentos colhidos. Nessas terras moram cerca de cinquenta famílias há mais de cinquenta anos, em sua maioria, são ex-empregados da Usina Jaboatão e seus familiares.

 

Já a Gleba 1 sofreu muitas alterações físicas ao longo dos anos após o fechamento da usina. O local ganhou um aspecto de urbanização e tem até vias pavimentadas. Em sua maioria, as mais de 150 famílias que estão nessas terras mais populosas e menos rurais ocuparam as terras em meados de 1995 para reivindicar a reforma agrária na região, já improdutiva. Essas famílias também começaram a plantar roçados e apesar de características mais urbanas, também possuem plantações e curral com animais para as devidas necessidades de sobrevivência.

 

Mariana explica que na divisão das terras, a Gleba 5 foi destinada para o ex-funcionário José Batista de Arruda Filho e a Gleba 1 foi adjudicada para José Gonzaga David. Os dois venderam os dois terrenos para a empresa Destak Serviços e Empreendimentos Ltda. – EPP, pertencente aos sócios Auvandir Oliveira Pereira e Marília Gabriella Pedrosa de Sousa, em 2016. Na documentação consta que o imóvel foi adquirido para a posterior implantação de um empreendimento para moradia. Seria construído, exatamente na área da Gleba 5, o ‘Loteamento Village Jaboatão’.

“Os proprietários adquiriram as terras, mas a comunidade da Gleba 5 está lá há muitas décadas. Apesar de o local ter sido decretado pela Prefeitura como área de expansão urbana, o imóvel é ocupado e possui as características rurais. Essas família denunciam que a própria Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes e os novos donos da terra agem em conjunto para que eles saiam do local que vivem há décadas, sem ao menos um acordo coerente”, aponta Mariana Vidal.

 

O casal de aposentados Maria Severina, 71, e José da Hora Santiago, 77, construíram uma família no quintal do Engenho Suassuna, na Rua Tanque de Mel, que fica na Gleba 5. Eles se conhecem desde a juventude e após Zé da Hora ser efetivado para prestar serviços na Usina Jaboatão, passaram a morar na região. No início dos anos 2000 as indagações de quem era o verdadeiro dono da terra começaram. Visitas surpresas, ameaças nem um pouco veladas, arma de fogo para intimidar e a constante presença de homens alegando que se os sitiantes não saíssem teriam a única residência derrubada, mesmo estando ali por décadas e terem direito a exercer a posse do imóvel.

 

Essas ameaças e a derrubada de mais de dez casas se fortaleceram em 2015, pouco antes da terra ser passada para a Destak. Maria Severina tem medo de acontecer uma tragédia a qualquer momento, mas é firme e sabe dos anos que levaram para ter uma casa própria de alvenaria. Ao lado de seu marido, morou por muito tempo nos barracões do Engenho Suassuna, sem ao menos energia elétrica. Ela percorre os cômodos da casa e a relação afetiva com o local é vibrante. É o seu único espaço e da sua família. E nem lá conseguem ter paz.

“Somos posseiros e não invasores. A minha família já trabalhava aqui há muito tempo quando eu vim morar. O antigo usineiro, o doutor Guilherme era muito bom com a gente, mas os filhos dele não prestam. Não aguento mais ver todos os meus familiares sofrendo todos esses anos, eles nos ameaçam com maquinário. Nenhuma autoridade faz nada, a gente já registrou tanto boletim de ocorrência. É cada um que venha e diga que é o dono da terra, todo dia é uma fofoca”, lamenta a idosa, aos prantos com medo de colocar o pé para fora de casa e assisti-la sendo demolida.

O seu esposo, José da Hora, começou a trabalhar na Usina Jaboatão em 1957 porque a mãe arrumou o serviço com um conhecido. Foram anos ao lado da foice cortando cana para o engenho moer. “Também trabalhei como tratorista conservando a estrada da usina por todos os engenhos e carregando material para os pedreiros. O dinheiro era muito pouco e eu sempre fazia oias carregando vagão de açúcar para entregar a rede ferroviária”, relembra.

 

 

Só em até fevereiro de 1964 foi efetivado e teve a primeira carteira de trabalho assinada. “Eles viram que eu tinha disposição para trabalhar e me chamaram para formalizar meu documento. Lembro que pagava até o sindicato do açúcar”, conta Zé da Hora. Mas, em 1996, quando a empresa fechou as portas, ele foi mais um que não recebeu nenhum direito trabalhista. “Apareceu gente de todo canto para ganhar terras, mas os trabalhadores antigos não ganharam foi nada. E ainda querem tomar a minha casa. Tomaram já parte do meu sítio”.

José da Hora e Maria Severina passaram por muitos momento difíceis e choram ao lembrar das dificuldades para construir a primeira casa. “Passei muita fome. Largava de meia-noite da usina e não ia dormir. Pegava a foice e ia lá pra cima cortar mais cana porque tinha muito débito no barracão, que era onde eu morava na época. Quase não dormia. Minha esposa ia levar um rango para mim e me ajudava no serviço. Depois saia de lá às 10h da manhã e ia para a usina”, diz.

Uma vida inteira dedicada a um empreendimento que apesar da situação atual, ainda lhe traz boas lembranças do tempo do engenho e dos antigos patrões. A dedicação de Zé da Hora e Maria Severina agora corre risco de sumir. “Hoje eu não durmo pensando nisso e preciso tomar remédio controlado para conseguir me deitar. Fico pensando em ser jogado na rua sem ter onde morar até porque minha aposentadoria é pouca. O espaço que me restou planto inhame, abacate, um pé de planta e uma fruta. A enxada para mim serve como terapia também para entreter a minha mente”, avalia Zé. Apesar da lamentação, ele e a família ainda acreditam na vitória, que significa continuar na sua casa. “Daqui eu não saio”, conclui.

 

 

As pressões desses proprietários consistiam em derrubada de casas, ameaças e coação para que as famílias não mais plantassem na área que era tradicionalmente voltada para o uso coletivo da comunidade. Eles alegam uma série de violações dos Direitos Humanos e irregularidades cometidas contra os moradores mais antigos, principalmente. De acordo com uma série de boletins de ocorrências registrados na Polícia Civil, dentre as pessoas que passaram a intimidar e a violentar as famílias são citadas o sargento da Polícia Militar Ronaldo Severiano de Melo, José Gonzaga David, Amaury César Rezende Filho, Clenivaldo dos Santos Ribeiro e o comissário da Polícia Civil Eduardo Ferrer de Santana.

 

Os moradores afirmam que esses homens citados falavam que embora a casa fosse deles, a terra não era e iriam sair de qualquer jeito. Com medo após amigos perderem suas casas, essas famílias da Gleba 5, principal terreno em questão pelas características menos modificadas e onde teoricamente seria construído o loteamento, se uniram aos moradores da Gleba 1 e fundaram a Associação dos Moradores Sitiantes Agricultores da Fazenda Suassuna.

De acordo com a CPT, o único processo a respeito das terras do Engenho Suassuna que está na Justiça é movido pelos supostos novos proprietários justamente contra o presidente da associação, o réu Fábio Ferreira da Silva, morador da Gleba 1. Ele chegou para ocupar a área em 2007 e em 2015 ajudou na fundação da associação por ser uma das vozes de liderança na área. “Fui ameaçado de morte e tentaram tirar a minha vida de todo jeito porque eu lutava pelo direito desses ex-empregados. Eles têm o direito a essa terra e não estamos pedindo favor a ninguém”, comenta.

 

Ele denuncia que até policiais não param de pressionar a comunidade cometendo atos contra a legislação, com abuso de poder. Após uma série de ataques que sofreu, Fábio foi inserido no Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PEPDDH), ligado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco. “Já foram 19 casas derrubadas e até tentamos prestar queixas da polícia. Algumas conseguimos, mas outras só eram possíveis na presença de advogados porque eles tinham conhecimento das autoridades e simplesmente não registravam a ocorrência”, diz Fábio, que atualmente não pode mais entrar na Gleba 5 por causa do processo movido pela Destak.

 

O grupo imobiliário ajuizou uma ação de ‘interdito proibitório’ contra Fábio, alegando que ele liderava um grupo de pessoas residentes na Gleba 1 (sem determinar quem seriam tais pessoas) que se deslocavam até a Gleba 5 com o intuito de obstaculizar as obras de infraestrutura para implantação de um loteamento que a empresa estaria realizando no local.

O que a Destak diz para a Justiça é que as pessoas da Gleba 1 entram na Gleba 5 para construir casas e atrapalham o processo de construção do loteamento. Mas não existe obra nenhuma na região. Os moradores só observam os tratores quando chegam para demolir as casas. Não há movimentação por lá e já até filmamos isso para mostrar ao juiz”, explica a advogada Mariana. Ela diz ainda que a Destak nega, de qualquer forma, que existem moradores há décadas na Gleba 5, sendo esses pessoas vindas para atrapalhar a evolução do empreendimento.

Apesar da atuação da CPT em provar a existência de mais de 50 famílias de ex-empregados da usina, a Destak ganhou na Justiça uma liminar para manter Fábio e 'qualquer pessoa' do grupo dele longe da Gleba 5. “Sendo que isso foi muito arbitrário, já que não se especificou quem seriam essas pessoas”, avalia Mariana.

Em trecho retirado do Relatório de Monitoramento Presencial do PEPDDH, o órgão da gestão estadual afirma que já acompanha o caso.

"O Governo do Estado de Pernambuco acompanha o conflito fundiário do Engenho Suassuna por meio do Programa Estadual de Proteção a Defensores de Direitos Humanos (PEPDDH/PE), da Secretaria Executiva de Direitos Humanos de Pernambuco, desde 2016, em decorrência de violações do direito à moradia, à terra, ao trabalho e à alimentação, além da ocorrência de dano, ameaças e intimidações às cerca de 160 famílias residentes na área, e especificamente direcionadas também ao Sr. Fábio Ferreira da Silva, liderança comunitária local.

Instituído pela Lei Estadual no 14.912, de 27 de Dezembro de 2012, e nos moldes do Decreto regulamentar no 6.044, de 12 de Fevereiro de 2007, o PEPDDH/PE visa a proteger pessoas, grupos e entidades que tenham seus direitos ameaçados em decorrência de sua atuação na promoção ou na proteção dos direitos humanos no Estado. O caso em tela, especificamente, versa sobre a contraposição, de um lado, do direito à terra e à moradia de dezenas de famílias, garantidos constitucionalmente e por tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário, e, de outro, interesses particulares, que, segundo relatos dos moradores, diversos Boletins de Ocorrência e Inquéritos Policiais instaurados, impõem-se por meio de ameaças, intimidações e derrubadas de casas sem ordem judicial. A área, na década de 1990, foi decretada apta à desapropriação para fins de reforma agrária, sendo posteriormente considerada área de expansão urbana. A despeito disso, diversas famílias ainda vivem da agricultura familiar na localidade, sendo que algumas delas foram forçadas a paralisar as atividades de plantio devido às ameaças referidas".

 

 

No dia 16 de agosto de 2018 por volta das 10h da manhã, o aposentado Antônio Manoel do Nascimento, 64, teve parte da vida destruída em alguns segundos. De acordo com os autos do processo, uma equipe de representantes da sociedade empresária, dentre eles Auvandir Oliveira Pereira, o advogado Francisco Assis de Lima, e Eduardo Ferrer de Santana, estiveram no sítio onde Antônio morava há mais de 23 (vinte e três) anos. Com um trator, empregados da Destak demoliram a casa de Antônio Manoel, com todos os móveis e eletrodomésticos dentro. No dia, as pessoas da família passaram muito mal e precisaram ser socorridas pelo SAMU, que compareceu ao local.

 

“Os prepostos da parte Autora procederam à destruição da casa sob pretexto de estarem cumprindo a ordem de interdito proibitório. Note-se, contudo, que um mandado de interdito proibitório não confere poderes para demolição de casas e destruição de plantações. É um mandado com finalidade meramente preventiva, e, no caso específico, destinava-se ao Réu (Fábio Ferreira) e outros que supostamente “estivessem sendo liderados por ele”) não impedisse a continuidade das “obras que estão sendo realizadas” pela Autora”, diz trecho do processo que corre na Justiça.

Antônio Manoel é ex-empregado da antiga Usina Jaboatão e também permaneceu nas terras após a falência. Ele estava há 23 anos exercendo posse sobre a terra onde residia e trabalhava, tempo suficiente para configuração da usucapião.

Na legislação brasileira, a propriedade é quando o imóvel tem registro em cartório e o indivíduo é dono de uma coisa, mediante comprovação. "O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha", trecho do art. 1.228 do Código Civil.

Já a posse significa ter, reter, ocupar, estar, desfrutar de alguma coisa e não necessariamente ter um registro ou documento comprobatório. De acordo com o art. 1.228 do Código Civil: "o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha".

“Quando as pessoas vão se defender, lutar pela casa, eles alegam que estão atrapalhando o seguimento das obras, que nem existem. Notificam como invasão e alegam que a pessoa não morava lá. Eles não podem cumprir essas decisões de derrubar as casas das pessoas que nem estão no processo. Já que o único nome posto no documento é o de Fábio, citado como um líder dos moradores. Eles simulam essa situação, invisibilizam essa comunidade que está ali há décadas para parecer que são invasores”, resume Mariana Vidal sobre a problemática nas Glebas 1 e 5.

A pesquisa 'A produção capitalista da habitação: o caso do mercado imobiliário do município de Jaboatão dos Guararapes (PE) baseado nas novas reconfigurações produtivas da RMR, realizada por Mariana Freire, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU/UFPE), avalia os espaços urbanos e as transformações em mercadorias, na esfera da comercialização. 

"Já é possível observar o início deste processo no município de Jaboatão dos Guararapes, onde o grande investimento do capital tem sido a comercialização de habitações (não de interesse social, mas voltada para a reprodução capitalista), em virtude, principalmente, do crescimento do Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS) e a proximidade do município com relação a este empreendimento, levando aqueles que possuem poder aquisitivo a instalar-se em áreas próximas ao complexo", revela estudo. 

Moradores da região, inclusive, alegam que carros com a marca de 'Suape' foram vistos trafegando pelo engenhos junto aos policiais, nos dias em que casas foram derrubadas. "A gente não sabe exatamente o que esses veículos estavam fazendo lá, se estão planejando algo grande por lá e se há interesse econômico", complementa Mariana. 

Ainda de acordo com a pesquisa, a estudiosa detalha que esse é o modus operandi mais comum. "É dessa forma que vem acontecendo o fenômeno do aquecimento imobiliário em Jaboatão dos Guararapes, onde o espaço torna-se mercadoria à medida que ocorre o movimento da transformação do uso em troca e os agentes imobiliários transformam o espaço em mercadoria ao comprar e vender terrenos, dando início também a um processo de especulação imobiliária", trecho retirado do estudo.

 

Vídeo filmado pelos próprios moradores:

 

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A agricultora Márcia Maria de Lima, 47, uma das filhas de Josefa, também teve uma casa destruída quando morava na Gleba 5, nas proximidades da residência de sua mãe, que é enferma. Ela também é uma voz forte na região e tentou organizar os moradores por anos, seja com movimentos pelo direito à terra ou em pequenas reuniões. Mas, o tempo deixou Márcia descrente na resolução do problema. Ela assistiu sua casa ser destruída por policiais e precisou sair do território rural por medo de perder a vida.

 

Ela hoje mora em uma ocupação urbana dentro do terreno da Fazenda Suassuna, mas fora do perímetro da Gleba mais valiosa aos olhos dos empreendedores imobiliários. “Hoje eu sou sem teto porque eu não posso ficar perto da minha mãe por causa dessas ameaças desses latifundiários e grileiros. Eu tinha essa casa de taipa na beira do rio, já tinha metade de alvenaria. Aí o sargento Ronaldo e Amaury vieram e derrubaram tudo. Entrei em luta corporal com eles, prestei queixa na polícia. Mas, espero uma providência até hoje”, lamenta. O grileiro é a pessoa que se apodera ou procura se apossar de terras alheias, mediante falsas escrituras de propriedade.

Márcia alega que não há acordo com os donos da terra. “Não querem indenizar os moradores e o diálogo é na base da ameaça de despejo”, diz. Como agricultora ela foi muito afetada porque distante da área rural não há onde plantar. Agora precisa da renda do Bolsa Família para sustentar a família e não passar fome. “Fico muito preocupada com a minha mãe lá em cima. Tenho medo de ter um despejo e eles derrubarem a casa dela, sabe? Ela é muito atacada dos nervos”.

Mariana destaca ainda que um dos pontos que a defesa ainda está apurando, afinal a investigação do caso não chegou ao fim, é como esses dois trabalhadores, o Gonzaga e Batista, tão citados pela comunidade teriam ganho todos esses hectares de terra apenas por uma causa trabalhista. “O que os moradores nos contam é que eles trabalharam por poucos anos como seguranças e conseguiram um pedaço de terra de em média 60 hectares. Isso causa muito estranhamento e é provável que possam ser laranjas. Ganharam as terras e depois repassaram. Mas são poucas respostas sobre quem ganhou terra e quem não ganhou. Não descartamos fraudes, mas essas perguntas seguem sem respostas”.

O termos "laranja" designa a pessoa que intermedia transações financeiras fraudulentas, emprestando seu nome, documentos ou conta bancária para ocultar a identidade de quem a contrata.

 

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Os moradores da Gleba 5 contam que só ouvem ameaças de despejo e quando são questionados com acordo para deixarem as suas casas, esses não correspondem com a realidade dos sitiantes que vivem da terra. Mas, a advogada da CPT também esclarece que judicialmente a Destak diz que não há ninguém morando nas terras e caso seja encontrado alguém por lá, seria um invasor trazido por Fábio da Gleba 1. “São duas conversas, uma oficial e outra não. Quando esses empresários procuram os moradores, eles dizem que vão doar um pedaço de terra de 250m² na Gleba 1, mas tem morador com sítio medindo 2 hectares de terra, não é justo”, informa Mariana.

 

A Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes pouco tem atuado no sentido de mediar a situação e chegar a um comum acordo entre as partes. “A gestão se coloca ao lado da imobiliária porque eles têm interesse na construção desse loteamento e até nos negaram documentação”, complementa. Para o Direito, esses moradores estão exercendo posse e isso é protegido pela lei. Todos esse anos já poderia configurar o usucapião.

“Não é só a propriedade que importa. A prefeitura começou a pressionar o pessoal da Gleba 5 para aceitar o acordo feito por Auvandir e diziam que se eles não aceitassem, não teriam chance”, denuncia Mariana.

 

Atualmente, em março de 2019, o processo movido pela Destak está parado, sendo a última movimentação as de alegações finais, esperando apenas um pronunciamento do juiz. Ele pode dar uma sentença ou atender o pedido dos advogados da CPT, que é promover a citação dos outros moradores da Gleba 5, pelo menos um representante de cada família, já que só Fábio é réu e esses sitiantes estão invisíveis e seguem não sendo ouvidos.

O Ministério Público de Pernambuco já foi acionado inúmeras vezes pelos moradores, mas o órgão, na visão dos posseiros, não dá importância ao caso e tende a facilitar para os novos proprietários. Mariana aponta que a CPT não sabe o nível de informação que o órgão tem do assunto, mas o contato é constante para narrar as ilegalidades.

Procurado para se posicionar e esclarecer como tem avaliado as questões do Engenho Suassuna, o MPPE informou que a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Jaboatão dos Guararapes está acompanhando a situação dos moradores da Fazenda Suassuna.

“Na última semana, o MPPE se reuniu com representantes da Prefeitura de Jaboatão, que se comprometeram a apresentar relatório das tratativas adotadas pelo poder público a fim de mediar a relação entre os posseiros e as pessoas que compraram parte do terreno. No momento, o MPPE aguarda o envio do documento por parte da Prefeitura para designar nova reunião com todos os envolvidos”, diz a nota.

A reportagem também procurou a Polícia Civil para pedir explicações sobre o comissário Eduardo Ferrer e suas condutas com os moradores do engenho. Uma série de boletins de ocorrência foram registrados contra o agente. Também por meio de nota, a PCPE esclarece que em momento algum, houve negativa de registro de boletim de ocorrência, mesmo os moradores alegando isso.

“A Polícia Civil de Pernambuco, por meio da 6ª Delegacia Seccional de Jaboatão dos Guararapes, esclarece que, em momento algum, houve negativa de registro de Boletim de Ocorrência. Tanto é que a própria demanda da imprensa informa que quatro boletins foram registrados na Delegacia de Jaboatão Centro. Com base nesses registros, o policial civil também citado na demanda foi indiciado por abuso de autoridade. Cópia deste procedimento policial foi encaminhada para a Corregedoria da SDS para as medidas administrativas cabíveis. As matérias que tratam da posse de terra, do usucapião e de sua eventual reintegração já estão sendo tratadas na esfera cível, não sendo competência da polícia judiciária solucionar estes conflitos”.

De acordo com a assessoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), foi aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para investigar a atuação do policial no caso relatado. “O processo tramita sob sigilo, como é de praxe em procedimentos correicionais, sendo garantido o direito à ampla defesa e ao contraditório. A conclusão do PAD será publicada no Boletim Geral da SDS”.

Por telefone, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes disse que não iria comentar o caso porque o terreno é privado e a demanda compete apenas aos posseiros e donos. A reportagem também procurou a empresa Destak, mas o advogado comunicou que os donos do imóvel só falariam em juízo (em depoimento à Justiça).

 

 

 

De acordo com os registros históricos da biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Usina Jaboatão foi fundada pelos irmãos Diogo Soares e Fernão Soares, no ano de 1573. O nome do engenho foi dado por causa do Riacho Suassuna, que cortava a região.

 

O antigo Engenho Suassuna encontra-se hoje em ruínas e sua casa-grande, datada de 1790, foi saqueada. É a mais antiga casa de engenho do município que ainda está de pé. Atualmente, famílias de ex-empregados da usina ocupam o local.

Em 1929, pertencia ao coronel Antônio Martins de Albuquerque. Tinha capacidade para processar 400 toneladas de cana e fabricar 4.000 litros de álcool em 22 horas.

O engenho possuía 13 propriedades agrícolas e pequenos sítios, uma via férrea de 40 quilômetros com diversas locomotivas e vagões. Foi posteriormente vendida a Antônio Martins de Albuquerque e atualmente pertence aos seus herdeiros.

A Polícia Militar deu início nesta terça-feira (10) ao cumprimento de ação de reintegração de posse do imóvel localizado no quilômetro 7 da rodovia Arthur Bernardes, no bairro da Pratinha, em Icoaraci, periferia de Belém. Os oficiais de justiça atendem a determinação da juíza Lailce Cardoso, titular da 9ª Vara Cível da Capital.

A reintegração de posse ocorre após um ano e oito meses de ocupação do terreno de 80 mil m². Na área particular, ocupada em março de 2014, estima-se que já foram construídas 800 casas de madeira e alvenaria. Cerca de três mil pessoas permanecem de forma irregular no espaço invadido.

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Para o cumprimento do mandado judicial, foram mobilizados 300 integrantes do Comando de Missões Especiais da Polícia Militar. Além da PM, estarão atuando também a Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Grupamentos Aéreo e Fluvial de Segurança Pública, Secretaria Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) e órgãos como a Fundação Pro Paz e Companhia de Habitação do Pará (Cohab). Marinha e Aeronáutica estarão no apoio da operação. Duas ambulâncias estarão em locais estratégicos para possíveis atendimentos e primeiros-socorros. O objetivo da atuação da força-tarefa policial é de possibilitar segurança no cumprimento da diligência dos oficiais de justiça.

Trânsito – Para evitar transtornos aos moradores do entorno da área que será desocupada e daqueles que utilizam a rodovia Arthur Bernardes, a Semob, entre 5h30 e 7 horas, bloqueou aquela via no perímetro que compreende a rotatória (próxima ao aeroporto Internacional de Belém) até a rodovia do Tapanã (ou até a rua Haroldo Veloso).

Com informações da Agência Pará.

JOÃO PESSOA (PB) - A Polícia Militar da Paraíba realizou, na manhã desta quinta-feira (6), uma ação judicial para retirada de posseiros de uma terra na cidade de Mogeiro, localizada a 110 km de João Pessoa. Houve conflitos entre os ocupantes e os militares.

Ao todo, são 30 famílias alojadas em 700 hectares na Fazenda Paraíso. A assessoria de imprensa do deputado estadual Frei Anastácio (PT), que milita nos movimentos de sem terra, informou que estão acontecendo ações de capangagem no local e, em junho, foi enviado ofício à Secretaria de Segurança Pública, solicitando providências.

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“Os capangas já queimaram casa e utensílios domésticos, destruíram lavouras e promovem constantes tiroteios na área”, afirmou o deputado. Ainda de acordo com a assessoria, já foram prestadas queixas na delegacia, mas não foram feitos boletins de ocorrência.

A PM garantiu que a desocupação foi realizada de forma pacífica, após horas de negociação.

Há três anos, a Fazenda 1200, localizada em Ourilândia do Norte (PA), do pecuarista capixaba Eutimio Lippaus, foi ocupada por famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). "Tudo começou com a invasão na propriedade vizinha, há oito anos. Há três anos invadiram a minha e já estão vendendo lotes da minha terra", disse Lippaus.

A área total da propriedade é de aproximadamente 6 mil hectares, dos quais metade de pastagem. "Já tive um rebanho de quase 12 mil cabeças e hoje tenho 5,6 mil cabeças. Estou perdendo meus animais porque ou eles são roubados ou mortos ou não têm mais pasto para comerem, porque os posseiros estão queimando toda a minha fazenda", disse o pecuarista.

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Segundo ele, as autoridades da região já foram avisadas da invasão e dos atos cometidos pelos posseiros, mas nenhuma providência foi tomada. "O superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) uma vez disse que iria mandar polícia, mas nunca veio ninguém. Se você precisa da Justiça, aqui não tem."

Lippaus vive com a mulher na fazenda. Os filhos estão no Espírito Santo à frente da Distribuidora Lippaus Schincariol, que presta serviços de transporte à cervejaria. O pecuarista teve de cercar sua casa com muros para sua segurança e também proteção contra o fogo, além de ter hoje 12 cachorros.

A Agência Estado não conversou com as pessoas que invadiram a fazenda 1200, mas agentes do mercado dizem que a fazenda de Lippaus está regularizada. Os invasores, no entanto, podem ter encontrado alguma "brecha" na legislação para justificar a ocupação, argumentam. Na região, Lippaus é conhecido por produzir gado "bom" para abate e de também ser bom pagador para seus fornecedores. Um dos principais compradores dos animais de Lippaus é o frigorifico Frigol, que entrou em recuperação judicial em julho de 2010, mas que, segundo o pecuarista, está operando e pagando em dia pelos animais adquiridos (em sua maioria à vista).

Questionado se, por conta dessa situação, poderia voltar para o Espírito Santo e desistir da atividade, Lippaus diz ainda não saber. "A Vale se interessou em comprar a minha fazenda, mas ela não adquire propriedades invadidas. Se vou voltar para o Espírito Santo, nem sei dizer", desabafou o pecuarista de 75 anos e 25 anos na atividade.

O Rally da Pecuária, organizado pelas consultorias Bigma e Agroconsult, passará por nove Estados brasileiros, percorrendo cerca de 40 mil quilômetros, onde se concentra 75% do rebanho e 85% da produção de carne bovina do País. Nessa edição, ocorrerão também encontros com produtores, além dos eventos já programados.

Hoje, a Equipe 2 percorrerá o trecho de São Félix do Xingu (PA) até Xinguara (PA) novamente, percorrendo cerca de 252 quilômetros. Até domingo (2) a expedição passará pelas cidades de Santana do Araguaia (PA), Querência (MT), Água Boa (MT), Primavera do Leste (MT), encerrando trajeto em Cuiabá (MT).

*A repórter viaja a convite da Agroconsult e Bigma

Depois de aproximadamente quatro horas de protesto, os manifestantes (associações de moradores, de pescadores e movimentos sociais) que bloquearam a PE-60, na manhã desta quinta-feira, liberaram a rodovia pacificamente e o trânsito começou a voltar ao normal. O grupo reinvidicava contra o governo de Pernambuco e a administração do Complexo de Suape.

Segundo informações do Corpo de Bombeiros, que foi acionado para conter as chamas nos pneus, o fogo foi apagado e a área já foi liberada sem maiores problemas. Antes de se dispersarem, os representantes do movimento - que contam com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Sintraf) -, informaram que irão entregar uma pauta com 11 reivindicações para o governo de Pernambuco e a administração do Complexo de Suape. O grupo deve seguir até Suape para entregar uma carta com as solicitações à diretoria do Complexo.

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De acordo com a assessoria de comunicação do porto, os manifestantes ainda não chegaram ao local e não entregaram a pauta. “Só poderemos nos pronunciar sobre o ocorrido depois que a direção analisar o documento”, informou a assessoria.  

A pauta – Movimentos sociais, sindicatos e associações de moradores e de pescadores protestaram contra o Governo de Pernambuco e a diretoria do Complexo de Suape, principalmente, sobre o valor das indenizações destinadas aos posseiros. Na pauta, está entre as 11 solicitações a retirada dos processos de reintegração de posse de Suape contra as famílias e a revisão dos valores das indenizações.

Informações dão conta de que o ato está sendo realizado por associações de moradores e de pescadores, além de movimentos sociais contra o governo de Pernambuco e administração do Complexo de Suape. O grupo deve seguir até Suape para entregar uma carta com 11 solicitações a diretoria do Complexo.

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