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O registro e posterior derrubada de objetos voadores não identificados (óvnis) nos Estados Unidos e Canadá têm chamado a atenção nos últimos dias. A aparição desses objetos em espaços aéreos nacionais, no entanto, não é de hoje.

No Brasil, de 1952 até 2016, houve um total de 743 registros sobre a aparição de óvnis. A informação é de um relatório do Ministério da Justiça, divulgado em 2018, que reuniu relatos, áudios, fotos e vídeos guardados pela Força Aérea Brasileira (FAB) e enviados ao Arquivo Nacional (AN).

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Por mais que a palavra óvni pareça remeter imediatamente a extraterrestres, a sigla é usada para se referir a qualquer objeto no céu do qual não se sabe a "origem natural". Logo, pode ser um drone, uma estrela, um satélite ou um balão meteorológico, por exemplo.

No Arquivo Nacional, o primeiro documento sobre a aparição de um óvni é de um registro na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, em 1952. Deste evento, há nove fotos. Em uma delas, o objeto é comparado à nave DC-5, porém, as outras fotografias mostram que ele tinha formato de disco, lembrando um prato.

Os documentos mais famosos são de algumas décadas depois, em 1986, quando ocorreu, em 19 de maio, a "Noite Oficial dos Óvnis". Nessa data, foram detectados cerca de 21 objetos voadores não identificados. Jatos da FAB foram enviados para persegui-los, mas nenhum obteve sucesso, conforme o relatório de 2018.

"Tudo começou quando o operador da torre do Aeroporto de São José dos Campos, São Paulo, observou pontos luminosos que mudavam de cor, com a predominância da tonalidade vermelha, e perguntou ao piloto Alcir Pereira se ele estava vendo a mesma coisa", diz o relatório.

"Após a confirmação de Alcir, a Torre de Controle de São Paulo captou sinais sem identificação e o Cindacta I, em Brasília, detectou óvnis nos radares de Goiás, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Por causa da velocidade dos objetos, o Centro de Operações de Defesa Aérea (CODA) decidiu enviar os caças para persegui-los e interceptá-los", afirma.

Em novembro do ano passado, pilotos relataram terem visto luzes "não identificadas" enquanto sobrevoavam Porto Alegre. Segundo as descrições dos profissionais, eram luzes que "se cruzavam" ao sul da capital gaúcha. As conversas que vieram a público foram gravadas por um canal do YouTube que registra a comunicação da Central de Controle do Aeroporto Salgado Filho.

"Por gentileza, só por curiosidade, tem algum ‘reporte’ de algum objeto na posição de 10 para 11 horas, praticamente sobre Porto Alegre, um pouquinho ao sul?", questiona o piloto, que se identifica como responsável pelo voo 3406 da Latam. Ele recebeu resposta negativa da atendente.

Questionado pela controladora, um outro piloto, do voo 4657, da Azul, responde: "ah, ia informar vocês, mas iam falar que estou louco. Na verdade, estamos vendo essas luzes desde lá de Confins (Belo Horizonte). São três luzes girando em espiral entre elas, bem forte", afirmou.

O voo da Azul partiu de Belo Horizonte por volta das 21h25, com chegada em Porto Alegre às 23h42. Já o voo Latam 3406 deixou o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, às 21h55, e pousou em Porto Alegre às 23h31. Na época, por meio de nota, ambas as companhias disseram que qualquer eventualidade é reportada de forma imediata por seus tripulantes.

“Desde que o governo Bolsonaro começou, já havia um clima de apreensão interna em relação a como trabalhar essas questões dos arquivos da Ditadura, mas, com o tempo, as chefias traziam várias orientações em várias áreas. Alguns assuntos deviam ser evitados”.

Funcionários do Arquivo Nacional, órgão responsável por preservar e divulgar documentos históricos do Brasil, relataram ao Brasil de Fato um cenário de "censura não escrita", mas presente na rotina interna: ordens para evitar ao máximo divulgação de datas e documentos do regime militar.

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A reportagem ouviu três servidores de carreira do órgão, sob a condição de anonimato. Além do clima de vigilância e de possíveis retaliações, os três apontaram manobras nas gestões ligadas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) para minar o trabalho em temas considerados incômodos.

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Uma delas é a mudança nas regras de gratificações, consideradas diferenciadas no funcionalismo público, que "ficaram maiores para cargos de chefia e menores para quem realmente toca o trabalho do dia a dia".

Eles também comentaram as consequências do Decreto 10.148, assinado pelo ex-ministro Sergio Moro em 2019, quando ainda estava à frente do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que retira do Arquivo Nacional a prerrogativa de decidir sobre a eliminação, ou não, de documentos produzidos pelos diferentes órgãos públicos.

Nenhum dos profissionais disse ter conhecimento sobre a destruição deliberada de documentos públicos que já constam na base de dados de arquivos relativos à Comissão Nacional da Verdade (CNV) ou outros que possam ser considerados ameaçadores, mas temem pela integridade dos que ainda estão em posse dos diferentes ministérios e órgãos de governo.

Decreto esvaziou atribuição do órgão para avaliar eliminação de documentos

Jaime Antunes, ex-diretor do Arquivo Nacional e longevo ex-presidente do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), explica que a norma retira da entidade a função de arbitrar sobre as decisões de preservação, ou não, de documentos em ministérios como o da Defesa, por exemplo.

Em sua opinião, esse decreto é um "balão de ensaio para um outro que ainda não saiu, mas que já está no governo federal" e que fere o conteúdo do artigo 18 da lei 8.159 de 1991. 

"A intenção está no porvir. Eles querem que o órgão passe a ser o que produz o documento, aplica uma tabela de temporalidade criada pelo Arquivo Nacional e que também passe a ser o guardião da documentação considerada permanente", comenta o arquivista que também alerta para o fato de os documentos digitais serem mais vulneráveis a interferências que os documentos físicos. "Eu não sei se os ministérios estão dando conta de fazer uma boa gestão desse volume de informação".

Bruno Morasutti, advogado e membro do Fórum de Acesso a Informações Públicas, critica que uma decisão "tão importante" tenha sido tomada sem ser debatido com a sociedade, que é a maior interessada no controle da administração pública, inclusive por fóruns de controle externos, como os tribunais de contas regionais ou federais.

"Nos preocupa que a gestão e destinação de documentos públicos estejam sendo tomadas por pessoas que, em muitos casos, não possuem qualificação adequada para isso e que não observam critérios reconhecidamente importantes para fins de preservação de conhecimento”, protesta.

Por sua vez, a direção do Arquivo Nacional refuta as acusações de desvio de finalidade e argumenta em seu site oficial que o decreto possui o aval do corpo técnico e visa dar "maior autonomia técnica e responsabilidade para os órgãos e entidades da APF [administração pública federal] na análise e destinação final dos documentos públicos por elas produzidos e recebidos".

Ex-diretor vê "descontinuamento" de ações de memória da Ditadura

Antunes, que já está desvinculado de suas antigas funções, relembra os esforços que envolveram a busca, catálogo e muitas vezes restauração de documentos relacionados à ditadura militar (1964-1985), que fazem parte do acervo da Comissão Nacional da Verdade, cujos trabalhos ocorreram entre 2011 e 2014.

Ele acredita que o material está sendo pouco aproveitado e menciona o prêmio bianual Memórias Reveladas, que tradicionalmente seleciona e publica as melhores monografias com base em fontes documentais desse período, mas que tem sido ignorado. A quarta e última edição do prêmio ocorreu em 2018.

“Eles não fecharam o Memórias Reveladas, que tem uma base de dados disponível, mas nunca mais convocaram o conselho deliberativo. Ou seja, descontinuaram. Isso significa definir critérios para a visão de cada gestor de que aquilo não tem significância para o momento. Então, se são capazes disso, me parece que são capazes de outras coisas. Não creio que seja de eliminar documentos, porque, como eles estão na base de dados, isso seria mais visível", reforça.

Decisão judicial retirou trechos de relatório da Comissão da Verdade 

A ameaça real sobre a preservação da memória sobre os ditos "Anos de Chumbo" ficou escancarada em um episódio que veio a público em fevereiro deste ano. A Justiça Federal de Pernambuco determinou que o nome do ex-coronel da Polícia Militar Olinto de Souza Ferraz fosse retirado de relatórios da Comissão da Verdade. Tarjas pretas foram dispostas em pelo menos três páginas do relatório sobre o nome dele.

Ferraz era listado como autor de graves violações aos direitos humanos enquanto dirigia a Casa de Detenção do Recife. Em 1971, a morte de Amaro Luiz de Carvalho (1931-1971), militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR), no presídio foi relatada à época como envenamento "por seus pares".

Mais tarde, a Comissão da Verdade concluiu que Amaro foi morto "por ações impetradas pelo Estado", tendo em vista que o atestado de óbito apontava para uma "hemorragia pulmonar decorrente de traumatismo de tórax por instrumento cortante".

Bruno Morasutti considera que a decisão "isolada de um juiz" abre um precedente que pode ser explorado em outras situações no futuro. "Ela é bem equivocada do ponto de vista da legislação, representa um retrocesso, mas é importante deixar claro que o próprio Supremo Tribunal Federal [STF] já possui entendimento de que no Brasil não existe direito ao esquecimento”.

Antunes também lamenta não apenas a decisão em uma matéria que correu "anonimamente" no âmbito do Arquivo Nacional, mas também a postura da Advocacia-Geral da União (AGU) no episódio, que determinou a execução imediata do apagamento do arquivo.

Segundo ele, há outras soluções já previstas que poderiam ser tomadas para preservar a integridade dos documentos. “Se a pessoa se sente atingida, o mais correto seria a documentação não ceder parte alguma e possibilitar que seja anexada a versão da pessoa que se sentiu lesada", elucida o ex-diretor no que considera ser a saída mais democrática. "Ao consultar as informações, o pesquisador pode confrontar as informações e ter acesso ao contraditório", detalha.

*Por Paulo Motoryn e Alex Mirkhan, para o Brasil de Fato

O governador Paulo Câmara participou, na manhã desta segunda-feira (08.02), da solenidade de comemoração aos 200 anos de criação do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), inicialmente chamado de Tribunal da Relação. Durante a solenidade – que aconteceu na Sala de Sessões do Pleno Desembargador Antônio de Brito Alves, no Palácio da Justiça, no Recife –  o governador foi agraciado com a Medalha Comemorativa do Mérito Judiciário 200 Anos e, em seu discurso, destacou a importância dos serviços prestados pelo Judiciário pernambucano, que conquistou notório grau e excelência na realização de sua nobre missão.

“Me sinto honrado e privilegiado em ser contemporâneo nas homenagens pelos dois séculos do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Um órgão constitucional e essencial para o funcionamento do Estado e para a existência de uma sociedade civilizada e pacífica”, enfatizou Paulo Câmara. O Tribunal da Relação foi criado em 6 de fevereiro de 1821, por Alvará Régio. O seu bicentenário foi celebrado com a exposição da cópia do documento, cedida pelo Arquivo Nacional.

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Segundo o presidente do TJPE, desembargador Fernando Cerqueira, o Tribunal é fruto de uma construção coletiva, e a celebração do seu bicentenário é um momento histórico. “O Tribunal resistiu aos desgastes do tempo e continuará a se projetar no futuro, desafiando turbulências e instabilidades sociais e econômicas”, salientou Cerqueira.

Também participaram da solenidade o secretário da Fazenda, Décio Padilha; o presidente da Assembleia Legislativa (Alepe), deputado Eriberto Medeiros; o procurador-geral do Estado, Ernani Médicis; o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Paulo Augusto de Freitas Oliveira; e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Pernambuco (OAB-PE), Bruno Baptista.

TRIBUNAL – O TJPE foi o quarto tribunal a ser criado no Brasil, e o último do período colonial. Antes da sua concepção, o Tribunal da Bahia, o primeiro do País, tinha jurisdição sobre Pernambuco. Originado antes da Independência do Brasil, assim como os anteriores, o Tribunal de Relação de Pernambuco era subordinado ao governo do Reino de Portugal, e possuía como principais competências tratar das leis da administração da Justiça e de questões referentes à segurança pessoal e aos direitos de propriedade.

No Alvará Régio, foram explicitadas justificativas para a criação de uma Corte Recursal em Pernambuco, inclusive indicando ter sido motivada em atendimento a um pleito da Câmara de Olinda. Alegou-se que os habitantes da região passavam por muitas dificuldades ao terem que recorrer das decisões de primeira instância ao Tribunal na Bahia, pois havia o incômodo causado pela grande distância, bem como as despesas com deslocamento e, ainda, a separação de suas famílias e a interrupção dos trabalhos, dos quais tiravam a sua subsistência.

*Da Secretaria de Imprensa de PE

 

O ministro da Justiça, Sergio Moro, se recusou a responder uma pergunta do Broadcast na manhã desta segunda-feira (26), no Rio de Janeiro, enquanto fazia uma visita ao Arquivo Nacional. Acompanhado de assessores e seguranças, Moro chegou por volta das 9h20 para conhecer as instalações do arquivo e visitar uma exposição especialmente montada para ele.

A princípio sorridente, Moro mudou de expressão ao ser perguntado como avaliava as manifestações de domingo (25), em vários Estados, que protestavam contra o projeto de lei contra abuso de autoridade. O projeto depende apenas da sanção do presidente Jair Bolsonaro, que ainda não declarou se irá vetar o texto, considerado pelos apoiadores da Lava Jato como uma porta aberta para a volta da corrupção.

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Com a insistência da reportagem do Broadcast Moro afirmou: "Não haverá declaração para a imprensa". Em seguida, saiu para uma reunião com a direção do Arquivo, um órgão do Ministério da Justiça. Durante a visita, Moro vai conhecer documentos que normalmente não são expostos por risco de deterioração, como a Constituição Brasileira de 1824 e a carta da Lei Áurea.

Depois do Arquivo, Moro fará uma visita à Superintendência da Polícia Federal, também no Rio de Janeiro.

A pouco menos de cinco quilômetros do Museu Nacional, que foi destruído por um grande incêndio, um edifício de sete andares com hidrantes desativados e sem alarme de incêndio abriga a Lei Áurea, os autos da Inconfidência Mineira, os acervos da Casa Edison e da TV Tupi e outros documentos da história do Brasil. É o prédio F do Arquivo Nacional, instituição que completou 180 anos em 2 de janeiro. Desde o início de 2017, há um laudo que aponta sua precariedade para enfrentar o fogo.

Um ano e cinco meses após a elaboração do documento, que constatou a necessidade de substituição dos hidrantes, uma verba de R$ 4 milhões foi liberada em agosto pelo Ministério da Justiça (ao qual o Arquivo é subordinado) para a adequação do prédio às exigências feitas pelos bombeiros.

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O Arquivo prevê que a licitação para as obras de cumprimento do que foi exigido seja lançada em outubro. Os bombeiros concederam prazo até março de 2019 para essa adequação. "Quando soube do incêndio no Museu Nacional, fiquei imaginando que o Arquivo pode ser o próximo. A situação é grave", afirma o presidente da Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (Assan), Rodrigo Mourelle.

No fim de fevereiro de 2017, a empresa C.M. Couto Sistemas Contra Incêndios realizou testes para avaliar a rede de combate a incêndios no prédio F. "O sistema de hidrantes encontra-se em avançado estado de deterioração por corrosão. Está desativado e sem possibilidade de reativação", afirma o laudo emitido em março daquele ano.

"Considerando que a atual canalização tem mais de 50 anos, não recomendamos o reparo, pois a vida útil média é de 20 anos", continua o documento, assinado pelo coronel bombeiro Jorge Benedito de Oliveira. "Considerando o alto valor dos ativos e informações históricas arquivadas na instalação, é imperiosa a necessidade de substituir a canalização de combate a incêndio em caráter emergencial", continua.

Gestão

Enquanto o Arquivo trocava de comando cinco vezes nos últimos dois anos, os documentos que guarda permaneciam sob risco. Um corte no orçamento (inicialmente previsto em R$ 22 milhões) quase paralisou o órgão em 2017 e levou o Ministério Público Federal a emitir recomendação, em setembro daquele ano, para que o Ministério da Justiça complementasse o valor, o que foi feito, segundo a pasta.

Em dezembro de 2017 foi lançada uma licitação para a adequação do conjunto de prédios do Arquivo Nacional às exigências dos bombeiros, mas ela acabou anulada porque não contemplava todos os andares do prédio F. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma das instituições mais antigas do Estado brasileiro, o Arquivo Nacional (AN) completa 180 anos neste mês sem festa à vista. Vinculado ao Ministério da Justiça, o maior órgão arquivístico brasileiro, que guarda documentos públicos datados desde o século 16, sofre com a falta de recursos para seu custeio básico e tem assistido a trocas na sua direção ao sabor de acontecimentos políticos de Brasília. Só em 2017, foram três diretores-gerais. Os problemas quase levaram ao fechamento da unidade símbolo da memória do País.

A atual direção da instituição assumiu em novembro. A escolhida pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, foi a advogada Carolina Chaves de Azevedo. Seu último cargo público foi como secretária da área de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida da prefeitura do Rio durante a gestão de Eduardo Paes (PMDB). Carolina é afilhada política da deputada federal Cristiane Brasil (PTB), filha do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional da PTB. Na sua posse, Cristiane estava ao seu lado na foto oficial.

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Carolina sucedeu José Ricardo Marques, ex-secretário de Cultura do Distrito Federal, que tinha como padrinho político o deputado federal Ronaldo Fonseca (PROS-DF). Marques teve duas passagens pelo comando da instituição. A primeira foi encerrada em abril de 2016, quando o seu padrinho político votou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ele voltaria depois na gestão Michel Temer (PMDB), mas foi novamente retirado quando, em abril de 2017, Fonseca, o padrinho político, disse "não" na Câmara à reforma trabalhista, tema tratado como prioridade pelo novo governo. Quem assumiu o AN, então, foi o então vice-diretor, Diego Barbosa da Silva, servidor de carreira.

Histórico

Já fora da direção, Marques, que é evangélico, foi condenado em primeira instância por improbidade administrativa. Ele foi acusado de promover cultos semanais no auditório principal da instituição, utilizando-se, inclusive, do trabalho de servidores e de equipamentos de áudio e vídeo da casa. A reportagem procurou Marques para entrevistá-lo, mas ele não foi encontrado. Em novembro, a 32.ª Vara Federal do Rio condenou o ex-diretor a ressarcir o erário em R$ 24 mil, e pagar multa de R$ 36 mil.

"É um descaso com o Arquivo, não se pode fingir que não está acontecendo nada. Mesmo sendo um cargo de confiança da administração direta, a escolha do diretor de uma instituição como o Arquivo Nacional não pode estar ligada à barganha política, não pode ser tratado como apenas mais um cargo. O que queremos é que se levante o debate da eleição geral, com votos de servidores, quem sabe o envio de uma lista tríplice ao ministério", sugeriu Rodrigo Mourelle, presidente da Associação dos Servidores do Arquivo Nacional.

Mourelle disse que por causa do contingenciamento de 2017, que levou a um corte de quase 40% do orçamento da instituição que no ano foi de R$ 22 milhões, um terço dos funcionários terceirizados foi cortado. A medida gerou atrasos. Quem, por exemplo, requisita o histórico de entrada de antepassados estrangeiros no Brasil para requerer cidadania de outros países tem de esperar até 60 dias.

Defesas

O jornal O Estado de S. Paulo, por cinco dias, pediu uma entrevista a Carolina Chaves de Azevedo. A direção do Arquivo Nacional informou que ela "não teve tempo" por estar em reuniões.

A unidade também não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a indicação política de Carolina e a atual situação financeira do arquivo mandadas por e-mail. A deputada Cristiane Brasil também não atendeu aos pedidos do jornal.

Em nota, o Ministério da Justiça informou que o orçamento do Arquivo Nacional foi recomposto após o contingenciamento. "Houve o descontingenciamento integral do orçamento, além de uma suplementação/ampliação de R$ 4 milhões, que foi articulada por este ministério e fez com que o Arquivo terminasse o exercício de 2017 com valor acima do que estava previsto inicialmente no Projeto de Lei Orçamentária Anual", divulgou o ministério, segundo o qual o AN fecha 2017 com total de R$ 22,6 milhões de créditos.

Para 2018, há previsão de aumento, chegando-se a R$ 23,4 milhões. Mas o procurador Renato Machado, que em outubro expediu recomendação ao ministério para rever as restrições orçamentárias ao AN, lembra que o prédio histórico do centro do Rio, onde o AN é sediado, tem necessidades que vão além do pagamento de contas de luz e água - para o que faltou dinheiro este ano.

É preciso adequar o prédio anexo, onde fica 90% do acervo, a quesitos de segurança estipulados pelo Corpo de Bombeiros já há dois anos. O Arquivo também tem instalações em Brasília. "Sem isso, o acervo corre certo risco", alertou o procurador. "Os servidores não podem viver nesse terrorismo, tendo de fazer malabarismo para o Arquivo funcionar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma série de documentos que ajudam a traçar um panorama da história do País estará em exposição na mostra "Arquivos do Brasil, Memória do Mundo", que será inaugurada na sede do Arquivo Nacional, no centro do Rio de Janeiro, no próximo dia 26. A exibição, com mais de 400 documentos, reúne itens de 45 instituições brasileiras que possuem acervos reconhecidos pelo Programa Memórias do Mundo (Memory of the World), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Uma das principais peças da exposição é o original da Lei Áurea, que completa 125 anos no próximo dia 13 de maio. Assinada pela Princesa Isabel, a lei que aboliu a escravatura no Brasil é manuscrita em pergaminho e será mostrada em seu estojo original, feito de couro com detalhes em folha de ouro. "Ela foi feita mesmo para ser um documento-monumento", ressalta a curadora Denise de Morais Bastos, pesquisadora do núcleo de Pesquisa e Difusão do Arquivo Nacional. Mas, devido à sua raridade, a Lei ficará exposta somente durante os primeiros 15 dias da mostra, para não danificar as luminuras e os pigmentos da peça, e será substituída por um fac-símile que está sendo confeccionado no próprio Arquivo.

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Tiradentes

Será mostrado também um dos nove volumes que compõem os Autos da Devassa, uma coletânea sobre a Inconfidência Mineira, movimento contrário à Coroa Portuguesa iniciado em 1789 pela elite local de Vila Rica, atual Ouro Preto. O documento escolhido para integrar a exposição é a sentença dada a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Assinada em dia 18 de abril de 1792, ela traz com detalhes a punição dada ao alferes, que foi morto por enforcamento três dias depois e teve seu corpo esquartejado e exposto em praça pública.

Dividida em nove módulos, a mostra reúne itens que vão do período colonial até o início do século 20. Ali estarão reproduções de atos da Câmara de Salvador sobre a chegada da família Real Portuguesa ao Brasil, o Dia do Fico e a Aclamação do Imperador. Há também um inventário sobre os locais de origem de alguns escravos e a reprodução das cicatrizes marcadas em seus corpos - tanto as tribais quanto as infligidas pelos senhores de engenho.

Iconografia

Projeções de fotos, filmes e desenhos de peças relacionadas aos povos indígenas e a políticas indigenistas também serão mostradas. Duas seções são dedicadas à participação do Brasil em guerras, como a do Paraguai, às rebeliões, como o movimento de Canudos, e à repressão às lutas políticas e sociais no País e na América Latina.

Há ainda reproduções de manuscritos de Machado de Assis e os exercícios e as pesquisas de linguagem feitas por Guimarães Rosa, além de partituras da ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Um dos módulos é dedicado à cartografia e outro à ciência - o maior da exposição. Neste, é possível encontrar estudos dos séculos 18 ao 20, correspondências de pesquisadores célebres como o antropólogo francês e professor da Universidade de São Paulo (USP) Claude Lévi-Strauss, e reproduções do diário de viagens de D. Pedro II - são anotações de termos indígenas e desenhos feitos pelo próprio Imperador, um grande incentivador da ciência.

A ideia é que a mostra seja itinerante e passe por outras das 45 instituições envolvidas no programa. "Um dos objetivos da exposição é tornar esses documentos mais conhecidos, aproximá-los da sociedade. Eles só vão ser mesmo preservados se houver uma demanda tanto dos pesquisadores quanto do público em geral", diz Denise. Visitas guiadas são oferecidas nas manhãs de terça e nas quintas à tarde. O agendamento deve ser feito pelo telefone (0XX21) 2179-1228. A exposição é gratuita e vai até o dia 7 de junho.

Em tempo de abertura de documentos do regime militar, os funcionários do Arquivo Nacional entraram em greve. A paralisação atinge 80% dos serviços da unidade de Brasília, que recebeu nesta semana acervos do Estado-Maior das Forças Armadas (Emfa) e da extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), estimam sindicalistas. Já no Rio, o movimento teria recebido a adesão de 100% dos 400 servidores.

O movimento foi deflagrado para cobrar do governo um plano de carreira. Há sete meses, representantes da Associação dos Servidores do Arquivo Nacional (Assan), do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado do Rio de Janeiro (Sintrasef) e da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef) enviaram, por meio do Ministério da Justiça, pasta ao qual o arquivo está subordinado, um plano de reestruturação das carreiras para o Ministério do Planejamento. Eles reclamam que a proposta foi arquivada.

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Os servidores reclamam que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não recebe os sindicatos para negociar. O comitê de greve afirma que a média salarial dos servidores de nível médio é de R$ 3 mil e a dos de nível superior, R$ 5 mil. Eles reclamam que a categoria foi ignorada nos últimos anos pela política de valorização do servidor público.

Maria Rita Aderaldo, vice-presidente da Assan, estima que a reestruturação das carreiras custaria um R$ 1 milhão por ano. "Não estamos pedindo reajuste, mas a incorporação de uma gratificação temporária que corresponde à metade dos salários", diz. "Nós podemos perder essa gratificação a qualquer tempo."

Maria Rita afirma que dezenas de servidores com tempo suficiente para se aposentar continuam em atividade para não perder a gratificação temporária. O benefício da aposentadoria não contempla o dinheiro da gratificação. Os sindicalistas querem que a reestruturação passe a valer já no próximo ano. Para isso, dizem eles, o governo precisaria enviar a proposta até 31 de agosto ao Congresso Nacional, prazo de apresentação do texto da Lei Orçamentária.

Ao decidirem pela greve por tempo indeterminado, numa assembleia no último dia 27, os servidores ainda incluíram no manifesto de paralisação um pedido ao governo para substituir o diretor-geral do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, que está no cargo desde 1992.

O órgão era subordinado à Casa Civil. No começo do governo Dilma Rousseff, o arquivo foi transferido para a estrutura do Ministério da Justiça, o que motivou reclamações de parte dos servidores. Eles argumentaram que o órgão perderia prestígio. A entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação e o início dos trabalhos da Comissão da Verdade, criada para investigar crimes cometidos pelo Estado entre 1946 e 1988, no entanto, colocaram o arquivo em evidência. Os servidores dizem que, agora, é a oportunidade da categoria ser valorizada no quadro de pessoal do governo.

A documentação Rede de informações e Contrainformação do Regime Militar no Brasil (1964-1985), que integra o acervo do Arquivo Nacional, recebeu o certificado internacional do Programa Memória do Mundo, da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A certificação representa o reconhecimento dessa documentação como patrimônio da humanidade e foi entregue na última sexta-feira (2) ao Arquivo Nacional, em solenidade na Ilha Fiscal, na Baía de Guanabara, junto ao centro do Rio. Esta é a primeira vez que a instituição recebe da Unesco o registro em nível internacional.

O conjunto de documentos agora reconhecido pela Unesco incorpora acervos de órgãos centrais do antigo Sistema Nacional de Informações (SNI), atualmente sob a guarda do Arquivo Nacional, e de órgãos de informação das unidades da Federação, estes custodiados por arquivos estaduais ou por entidades. Esse conjunto de arquivos integra o Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) – Memórias Reveladas, projeto do governo federal coordenado pelo Arquivo Nacional. O Memórias Reveladas serviu de base para a exposição Registros de uma Guerra Surda, exibida em abril deste ano na sede do órgão, no centro do Rio de Janeiro.

A Unesco também contemplou com o certificado de reconhecimento, no âmbito nacional, o Fundo Francisco Bhering – A Carta do Brasil ao Milionésimo, que reúne documentos cartográficos das primeiras décadas do século 20. “Essa documentação foi o ponto de partida para a construção da cartografia nacional nos moldes internacionais”, disse o supervisor de Documentação Cartográfica do Arquivo Nacional, José Luiz de Faria Santos.

Segundo ele, o engenheiro e professor Franciso Bhering, que dá nome ao fundo, foi o relator da comissão que, nos anos 1920, começou a construir a cartografia brasileira na escala 1:1.000.000, utilizada até hoje. São mapas de linhas telegráficas do Brasil e de países fronteiriços, ferrovias, urbanismo, estados e municípios brasileiros, hidrografia, terras indígenas, colonização e atividades bélicas.

Este é o quinto documento do acervo a obter o reconhecimento da Unesco no âmbito nacional, dentro do programa criado em 1992. Os demais são os conjuntos documentais Inconfidência em Minas – Levante de Tiradentes, Lei Áurea, Relações de Vapores SPMAF/SP-Santos e Agência Nacional: a Informação a Serviço do Estado, este último referente à agência de notícias antecessora da atual Agência Brasil.

Criado em 1992, o Programa Memória do Mundo da Unesco tem como objetivo preservar e difundir amplamente documentos, arquivos e bibliotecas de grande valor mundial, buscando impedir, assim, que o patrimônio da humanidade seja esquecido. Para isto, o programa reconhece documentos de significância para a memória coletiva dos povos do mundo, concedendo a eles registros nos âmbitos internacional, regional ou nacional.

Como parte da programação do Momento Itália-Brasil 2011/2012, o Arquivo Nacional inaugurou nesta quinta-feira (3), a exposição "Viagens Italianas". Compõem a mostra mais de 400 documentos e imagens que registram a cultura e a história da Itália e sua relação com o Brasil, em diferentes épocas. A exposição, com entrada franca, abre para o público a partir desta sexta-feira (4) e fica em cartaz até 10 de fevereiro de 2012.

O principal módulo é o que trata da imigração italiana para o Brasil, do século 19 até a década de 1940. Nesse período, a Itália foi responsável por 35% do fluxo migratório para o Brasil, que hoje abriga a maior colônia de orgiem italiana do mundo, com cerca de 30 milhões de pessoas.

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“São documentos de registro de entrada, saída e expulsão, que muitas vezes poderiam até parecer um pouco frios ou impessoais, mas que contam a vida desses imigrantes, suas expectativas, profissões e procedência na Itália”, disse a historiadora Cláudia Heynemman, uma das curadoras da exposição, juntamente com a também historiadora Renata William Santos do Vale. Segundo ela, embora o expressivo acervo do Arquivo Nacional constitua a base da mostra, há importantes imagens cedidas pelo Arquivo do Estado, de Roma. “São imagens inéditas, que mostram o processo migratório pela visão italiana”.

A campanha do Brasil na Itália durante a 2ª Guerra Mundial é destaque na exposição, com fotos e filmes que pertenceram aos acervos do extinto jornal Correio da Manhã e da Agência Nacional, hoje de posse do Arquivo Nacional. Também nesse módulo, as imagens do arquivo do governo italiano documentam a guerra pelo lado dos fascistas.

Um dos destaques é o conjunto de obras raríssimas do acervo do Arquivo Nacional. “Nós vamos expor pela primeira vez em mais de 50 anos três exemplares de Livros de Horas, manuscritos iluminados* raríssimos do século 15”, ressalta Cláudia Heynemann. Os Livros de Horas eram livros pessoais de orações, produzidos pelos melhores calígrafos e ilustradores da época medieval. A propriedade desses livros era um privilégio dos integrantes da nobreza. Segundo ela, finda a mostra, essas obras não poderão continuar em exposição, “devido ao seu estado de conservação”.

O Momento Itália-Brasil tem como objetivo estreitar as relações culturais e comerciais entre os dois países. O projeto é resultado de um protocolo de intenções assinado em junho de 2010 entre o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi.

Além da exposição Viagens Italianas, o Arquivo Nacional sediará, no âmbito do Momento Itália, o Festival Internacional de Cinema de Arquivo (Recine 2011), que terá como tema a influência da cultura italiana no cinema brasileiro. O Recine será realizado de 7 a 11 de novembro.

 

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