Tópicos | Ayres Britto

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto considerou "juridicamente correta" a decisão da Justiça Federal de São Paulo que garantiu ao jornal O Estado de S. Paulo o direito de obter os testes de Covid-19 feitos pelo presidente Jair Bolsonaro. Na avaliação do ex-ministro, o Brasil tem o direito de saber da saúde do presidente.

Na segunda-feira (27), a juíza Ana Lúcia Petri Betto deu 48 horas para a União fornecer "os laudos de todos os exames" feitos pelo presidente da República para identificar a infecção ou não pelo novo coronavírus. Como só foi notificado nesta terça-feira, o governo tem até o dia 30 para apresentar os laudos.

##RECOMENDA##

"O País tem o direito de saber da saúde do seu presidente, até porque se trata de doença transmissível e, ao que se sabe, o presidente não se submeteu a nenhum isolamento físico", afirmou Ayres Britto. "No momento em que vivemos planetariamente, a matéria não se inscreve no âmbito da intimidade, e nem mesmo da vida privada do presidente. O próprio presidente antecipou o interesse coletivo no resultado do exame a que se submeteu ao tornar pública a realização desse mesmo exame", completou.

Bolsonaro já disse que o resultado dos exames foi negativo, mas se recusa a divulgar os papéis. Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, é "injustificável" Bolsonaro ainda não ter divulgado o resultado dos exames. "Em especial em uma situação de epidemia, torna-se relevante que o presidente seja transparente e divulgue o resultado oficial do seu exame, a exemplo do que fizeram vários líderes de países democráticos", disse Santa Cruz.

Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, entidade que defende o acesso à informação, o cerne da questão é o interesse público. "No caso específico de uma figura pública do nível do presidente da República, todas as informações sobre estado de saúde são de interesse público."

Parlamento

Depois da decisão favorável ao jornal, parlamentares passaram a exigir o resultado do exame do presidente. O diagnóstico vai definir o futuro da crise política na pandemia da Covid-19, de acordo com parlamentares.

"Eventual teste positivo configuraria mais um crime de responsabilidade do presidente, que afirmou publicamente não estar infectado e também participou de aglomeração durante o período", afirmou o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) após a decisão.

"Se ele teve o coronavírus, se expôs tanto à população após ter voltado dos Estados Unidos e mentiu, é um alto crime de responsabilidade com a Nação. Se ele teve a doença, pode ter sido o vetor de transmissão da doença até como portador assintomático", afirmou o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA).

Ao atender ao pedido do jornal, a juíza Ana Lúcia Petri Betto apontou que "no atual momento de pandemia que assola não só Brasil, mas o mundo inteiro, os fundamentos da República não podem ser negligenciados, em especial quanto aos deveres de informação e transparência". A Advocacia-Geral da União (AGU) já informou que vai recorrer. 

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, aponta inconstitucionalidades em dispositivos da Lei 13.869/2019, a Lei do Abuso de Autoridade - que dispõe sobre crimes atribuídos a agentes públicos -, em parecer jurídico elaborado a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), maior e mais importante entidade de classe.

O documento foi entregue pela AMB na sexta-feira, 25, ao ministro Celso de Mello, relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6.236 ajuizada pela entidade na Corte, em 28 de setembro.

##RECOMENDA##

De acordo com Ayres Britto, "a lei inibe a prestação jurisdicional e a independência do magistrado, que se vê criminalizado por uma interpretação dada a norma geral".

"Nenhum diploma jurídico infraconstitucional pode ter a pretensão de ditar as coordenadas mentais do juiz-juiz, ou instância judicante colegiada, para conhecer do descritor e do prescritor dessa ou daquela norma geral a aplicar por forma tipicamente jurisdicional", sustenta o ex-ministro.

"É exatamente essa autonomia de ordem técnica, autonomia de quem presta a jurisdição como atividade estatal-finalística ou por definição, que assiste a todo e qualquer magistrado, seja qual for o grau de jurisdição", segue Ayres Britto. "Agindo solitariamente ou então como integrante desse ou daquele tribunal judiciário."

Para ele, "essa autonomia técnica imprime ganhos de funcionalidade sistêmica ou plenitude de sentido às prorrogativas institucionais da independência, do autogoverno e da autonomia administrativa-financeira do Poder Judiciário".

De acordo com o parecer, são inconstitucionais (material e formal) os seguintes dispositivos da lei:

- Artigo 9.º (decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais);

- Artigo 10 (decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo);

- Artigo 20 (impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado);

- Artigo 25 (proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito);

- Artigo 36 (decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la);

- Artigo 43, que altera a Lei Federal 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil), estabelecendo como crime a violação das prerrogativas profissionais do advogado.

Sobre o artigo 43, ressalta o parecer de Ayres Britto que "o tema se inscreve nos concomitantes princípios da reserva de Constituição e da Lei Complementar veiculadora do Estatuto da Magistratura. Cabendo à Lei da Advocacia aportar outros meios de conciliar a aplicabilidade dos dois orgânicos diplomas, porém sem criminalizar jamais a interpretação judicial dessa ou daquela normal geral (o inconcebível crime de hermenêutica)".

A razoabilidade da duração do processo é um princípio esquecido, mas que precisa ser melhor aplicado para elevar a eficiência do sistema judiciário, afirmaram nesta terça-feira, 15, representantes do mundo jurídico. Em painel promovido pela radio Jovem Pan, em São Paulo, os debatedores criticaram ainda a proposta de reforma política apresentada no Congresso e defenderam o fim do foro privilegiado.

Para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, a ação penal 470, conhecida como o processo do mensalão, foi um divisor de águas no Brasil por estender o princípio de que todos são iguais perante a lei também à execução da lei penal. "Até então, malfeitores de colarinho branco não experimentavam esse princípio", disse o magistrado, elogiando também a Operação Lava Jato - que se transformou, segundo ele, em um "patrimônio da sociedade".

##RECOMENDA##

Claudio Lamachia, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), notou que um dos principais problemas nesse sentido é a demora na tramitação dos processos no País. O advogado criticou a falta de juízes no Brasil e também defendeu o fim do foro privilegiado, fatores que influenciariam na lentidão do sistema judiciário brasileiro.

Lamachia criticou, no entanto, a decisão do STF de permitir a aplicação provisória da pena para casos que foram julgados em segunda instância. "Precisamos combater o crime de acordo com os princípios constitucionais", declarou, após ser vaiado por parte do público presente.

Carlos Eduardo Sobral, presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal (ADPF), expressou um ponto de vista contrário, afirmando que a medida acelera as punições e não fere nenhum princípio. "O STF, ao decidir pela aplicação da pena após a 2ª instância, garantiu a ampla defesa e o duplo grau de jurisdição", disse. "A Constituição não garante um terceiro, quarto grau de jurisdição e seria um erro transformar o STF em uma corte de apelações", acrescentou.

O presidente da ADPF também defendeu que a Polícia Federal mantenha o direito de celebrar acordos de delação premiada. Ele foi contestado, no entanto, por Ayres Britto. Para o ex-ministro do STF, um poder armado não deveria ter essa prerrogativa. "MP pode conduzir (acordos de delação) porque é titular da ação penal e guardião da ordem jurídica", pontuou.

Os participantes do painel concordaram que é preciso fortalecer a sociedade e os movimentos sociais com vistas à eleição de 2018 e também lutar contra a proposta de reforma política em tramitação no Congresso, porque ela "só visa proteger aqueles que estão no poder, que querem manter o foro privilegiado", segundo o ex-ministro Miguel Reale Jr. "Vamos ficar assistindo a banda suja passar?", questionou um dos autores do pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

No médio prazo, houve consenso também em relação à necessidade de lutar contra o patrimonialismo, que se manifesta nas formas da corrupção sistêmica, do desperdício de dinheiro público e do corporativismo, segundo Ayres Britto.

Para Reale Jr., o corporativismo está inscrito dentro da Constituição de 1988 e é um dos pontos mais negativos do texto. "Todos os interesses estão lá. Eu digo que ali passaram da tanga à toga", criticou, lembrando que foram esses mesmos interesses também impediram a revisão do texto em 1993.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto engrossou as críticas contra o sistema de lista fechada, modelo em que o eleitor vota no partido, e não diretamente em um candidato para ocupar as vagas do Legislativo.

Em entrevista à reportagem, o ex-ministro afirmou que a mudança do sistema fere o artigo da Constituição que diz que "todo poder emana do povo". "Pela lista fechada, o candidato vai ficar situado entre o eleitor e o partido, isso não é soberania popular é soberania partidária. Se você colocar o partido como representante do povo, você substitui a democracia pela 'partidocracia'", disse.

##RECOMENDA##

Para Ayres Britto, o modelo vai fortalecer o "caciquismo", isto é, vai dar mais poder aos dirigentes das legendas, que seriam os responsáveis por definir quais nomes encabeçariam a lista e, portanto, teriam mais chances de ser eleitos. "O voto em lista fechada, além de reforçar o caciquismo partidário brasileiro, que é um dos nossos pontos de fragilidade estrutural, é inconstitucional. Para mim, quando a Constituição diz que o voto é direto, secreto e universal, ela diz que o voto é no candidato, não no partido."

Na opinião do ex-presidente do STF, o melhor sistema para a eleição de deputados federais, estaduais e vereadores seria o majoritário, como acontece hoje na escolha para presidente, senador, governador e prefeito. "Quem recebeu mais votos, vai ser eleito, é mais simples", disse.

O sistema de lista fechada tem sido defendido pela cúpula do Congresso, mas encontra resistência entre os parlamentares e foi um dos motes das manifestações realizadas em diferentes cidades no último domingo.

Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo na semana passada, a alteração do modelo de escolha de parlamentares vai constar no parecer que será apresentado pelo relator da comissão que discute reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), no próximo dia 4 de abril, mas não tem o apoio da maioria dos integrantes do colegiado.

Para os críticos da proposta, como a indicação dos candidatos será feita pelos partidos, essa seria uma maneira de garantir que nomes envolvidos na Operação Lava Jato e em outros escândalos de corrupção fossem reeleitos e conseguissem manter o foro privilegiado nas investigações.

Os que defendem o sistema afirmam que, com a proibição das doações de empresas, esse seria o único modelo possível, porque baratearia as campanhas, que terão que ser cada vez mais financiadas com recursos públicos.

Ex-presidente do Supremo Tribunal (STF), Carlos Ayres Britto afirmou que a sabatina do ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, indicado para uma vaga na Corte, coloca em "julgamento" o próprio presidente Michel Temer. "Durante a arguição, a sabatina, estão sob julgamento o provável futuro ministro e o presidente da República que o indicou. A reprovação de um poderia repercutir sobre o outro, sobre a Presidência da República", disse.

Nesta terça-feira (21), Moraes foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado por 19 votos a 7. A votação no plenário está marcada para esta quarta-feira (22).

##RECOMENDA##

Ex-ministros e especialistas ouvidos pela reportagem afirmaram que a sabatina no Senado para a confirmação de um nome para o Supremo tem uma importância constitucional, mas destacaram o caráter político das arguições. "As sabatinas são mais um ato político do que uma avaliação criteriosa sobre os méritos ou não do sabatinado", disse o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp. "As perguntas são feitas mais na intenção dos senadores aparecerem do que em ouvir o sabatinado", afirmou Dipp, que também foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e corregedor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O professor de Direito Administrativo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Carlos Ari Sundfeld também citou o tom político da sabatina, o que, segundo ele, pode não ser um problema. "Essas arguições acabam extrapolando seus objetivos específicos. Elas são carregadas no confronto e, por conta disso, os senadores colocam mais importância na revelação dos pecadilhos dos sabatinados. Isso não é necessariamente ruim."

Sobre o desempenho de Moraes, Sundfeld fez um prognóstico. "O Alexandre de Moraes é profissional. Ele passou por embates como esse em sua vida corporativa e acadêmica. Acho que ele vai ficar na média, tirar uns 8, e conseguir passar (no plenário)."

Filiação

O ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim disse que a discussão sobre a filiação partidária de indicados à Corte não é relevante. Moraes se desfiliou recentemente do PSDB, após ser indicado ao STF. "Não faz sentido discutir a filiação. Eu tinha filiação partidária, o Paulo Brossard (nomeado por José Sarney em 1989) tinha filiação partidária, Aliomar de Andrade Baleeiro (nomeado pelo presidente Castelo Branco em 1965) tinha filiação partidária, Oscar Corrêa (nomeado pelo presidente João Figueiredo em 1982) também."

Segundo Jobim, o STF não está, hoje, mais politizado do que antes. O que se vê no tribunal atualmente, segundo ele, é um cenário de judicialização da política. "E quem judicializa a política são os outros, não o Supremo. São os partidos. Não se soluciona controvérsia no âmbito político sem recorrer ao Judiciário", declarou o ex-ministro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O gesto do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de não acolher a decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, que ordenava o seu afastamento do cargo, foi uma "afronta" aos poderes da Corte, afirmou nesta sexta-feira, 9, o ex-ministro Carlos Ayres Britto. Segundo ele, o não cumprimento de uma ordem judicial foi o que houve de mais grave e lamentável no episódio que arranhou a imagem tanto do Judiciário quanto do Legislativo.

"No âmbito dos poderes quem fala por ultimo é o Judiciário. E no âmbito do Judiciário quem fala por ultimo é o Supremo", disse ele nesta sexta, logo após participar de um seminário em São Paulo. Ayres Brito foi ministro do Supremo entre os anos de 2003 e 2010.

##RECOMENDA##

"O que houve de mais lamentável neste episódio foi exatamente essa recusa de cumprir a decisão do ministro Marco Aurélio, porque não há hierarquia entre decisão monocrática, decisão judicial monocrática, decisão de turma e decisão judicial de pleno, num tribunal. As três modalidades de decisão gozam da mesma força impositiva. E deixar de cumprir a liminar do ministro Marco Aurélio me soou afrontoso da autoridade do Supremo", afirmou.

Para o ex-ministro, a Mesa Diretora não tem competência para descumprir uma ordem judicial e sua recusa, segundo ele, foi um "nada jurídico". "A Constituição não hipotetisa, por nenhum modo, esse tipo de descumprimento de uma ordem judicial", disse. Segundo ele, o certo seria acolher para posteriormente recorrer da decisão. "O recurso é no pressuposto do cumprimento".

Renan, no entanto, apresentou recurso ao Supremo mesmo sem ter recebido o oficial de Justiça que foi à residência oficial do presidente do Senado e ao Congresso lhe entregar a intimação. O gesto foi apoiado pela Mesa Diretora, que decidiu aguardar a manifestação do Pleno do STF usando o argumento que a liminar sobre o afastamento se tratava de uma decisão monocrática.

Ayres Britto observa que a atitude de Renan e da Mesa Diretora do Senado está prevista na Constituição como crimes de desobediência a ordem judicial, prevaricação e obstrução ao funcionamento da Justiça, a depender da interpretação. Ele, no entanto, esquivou-se de dizer se o Supremo deveria expedir ordem de prisão contra os senadores. "Há quem diga isso também", disse.

Em relação ao posterior julgamento do plenário do Supremo, que por 6 votos a 3 decidiu pelo não afastamento de Renan, Ayres Britto afirmou que tanto Marco Aurélio quanto os demais ministros decidiram de forma técnica e com base em fundamentos da Constituição.

"Numa Constituição cheia de princípios como a nossa e tão materialmente expandida, o equacionamento jurídico por vezes é entre o certo e o certo. A decisão do Ministro Marco Aurélio tinha fundamento na Constituição e ele explicitou. A decisão do ministro Celso de Mello, que inaugurou a divergência, também tinha fundamento na Constituição e ele explicitou", disse.

Segundo ele, quando se está diante de um dilema "entre o certo e o certo", a decisão que deve prevalecer é aquela "que tem a força de imprimir à Constituição maiores ganhos de funcionalidade sistêmica". Na opinião do ex-ministro, a liminar do ministro Marco Aurélio é a que reúne esta característica.

O ministro descartou a possibilidade de ter havido um acordo jurídico para que o plenário da Corte encerrasse a crise institucional causada pela liminar. "Não acredito (em acordo). Nos meus quase 10 anos nunca vi nada de acordo com outros membros de poder. Cada ministro votou de acordo com sua convicção pessoal. Não houve decisão política. Todo mundo decidiu tecnicamente", disse. Segundo o ministro, um "genérico e abstrato" como o constitucional é passível a mais de uma interpretação.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto avaliou que o baixo índice de reforma das decisões de Sérgio Moro nas instâncias superiores funcionam como uma espécie de "indulto" para o juiz federal responsável pela condução da Operação Lava Jato na primeira instância.

Para Ayres Britto, trata-se de um caso "emblemático de zona cinzenta". Na sua opinião, "não se pode descartar o conteúdo do manifesto" assinado por advogados que considera "de altíssimo preparo científico". "Por outro lado, você tem essa estatística judiciária em favor do juiz Sérgio Moro. São dados objetivos. As decisões não têm sido, como característica central, muito pelo contrário, reformadas pelas instâncias superiores a ele", afirmou o ex-ministro. "Esses dados são como indulto à lisura, à legitimidade das decisões dele."

##RECOMENDA##

Em defesa de Moro, Ayres Britto destacou que as entidades representativas dos procuradores da República e dos juízes federais reagiram prontamente com manifestações de desagravo ao magistrado da 13ª Vara Federal de Curitiba.

O ex-presidente do STF também discorda das críticas dos defensores, que apontaram risco de ameaça ao estado de direito no País. "Não vejo maior risco sistemático aos direitos e garantias fundamentais", afirmou. "Eu não subscreveria essa acusação de que estamos no vórtice de uma neoinquisição."

Para ilustrar sua opinião, ele recorreu a uma metáfora: "Quando a gente vai fazer uma limpeza necessária, é preciso tomar cuidado para não jogar o balde de água fora com a criança dentro. Então minha opinião é que não está acontecendo isso. A Lava Jato não chegou a esse ponto censurável de desvirtuamento a ponto de jogar a água suja fora com a criança dentro."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto afirmou que não caberia ação de impeachment da presidente Dilma Rousseff por eventuais fatos que tivessem ocorridos no mandato anterior. Ayres Britto sustenta a tese de que os mandatos presidenciais não se comunicam entre si para crimes de responsabilidade.

“É preciso ver como a Constituição fala do impeachment. À luz da Constituição, os mandatos não se intercalam. Os dois mandatos presidenciais se intervalam, para fim de crime de responsabilidade. Não para fim de crime eleitoral, não para fim de infração penal comum. Mas, para crime de responsabilidade, cada mandato novo é uma nova história. O mandato velho é uma página virada. Não tem serventia para crime de responsabilidade”, disse.

##RECOMENDA##

No último dia 17, o jurista Miguel Reale Júnior e a advogada Maria Lúcia Bicudo, filha do ex-deputado e um dos fundadores do PT Hélio Bicudo, entregaram à Câmara o complemento do pedido de impeachment da presidenta, protocolado no dia 10 deste mês. O presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dera prazo até o dia 23 para que Bicudo fizesse ajustes formais, como o reconhecimento de firma em cartório. O pedido é o 13º em análise sobre o tema. Outros cinco já foram arquivados.

Segundo o Ayres Britto, a presidenta só responderia por crime de responsabilidade por atos praticados no atual mandato. “Ela jurou, fez um novo compromisso, perante um novo Congresso, para manter, defender e cumprir a Constituição, no curso deste mandato, que se iniciou em 1º de janeiro. Então, não se pode dar pedaladas constitucionais. À luz da Constituição, o crime de responsabilidade incide a partir de atos atentatórios à Constituição, como diz o Artigo 85, na fluência deste mandato”, afirmou.

Para o ministro, crime de responsabilidade está ligado a fatos que atentem contra a Constituição. “É um comportamento grave, a ponto de corresponder a um insulto, a um desapreço pela Constituição. É como se ela, para incidir em crime de responsabilidade, decidisse governar de costas para a Constituição, levando o povo a ter que decidir entre a sua Constituição e a sua presidente.”

Quanto a crime eleitoral, Ayres Britto, que, além de ter presidido o STF, presidiu também o Tribunal Superior Eleitoral, disse que é possível ação contra a presidenta, mas lembrou que, caso a medida fosse contrária a Dilma, também alcançaria o mandato do vice-presidente Michel Temer.

“Há uma ação de impugnação de mandato eletivo tramitando pelo TSE. Se for julgada procedente a ação, a desinvestidura do cargo pode ocorrer. E dos dois cargos, com dupla vacância.”

Ayres Britto foi um dos palestrantes da conferência de encerramento do 15º Congresso Brasileiro de Direito do Estado, ocorrido no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. O evento homenageou o ministro do STF Luís Roberto Barroso.

Operação Lava Jato

Barroso comentou a recente decisão do Supremo de desmembrar parte da Operação Lava Jato, retirando processos sob a responsabilidade do juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná. Ele disse não acreditar que a medida vá enfraquecer o processo.

“Eu não tenho bola de cristal. Eu espero que não [vá enfraquecer], até porque existem muitos juízes no país competentes e igualmente comprometidos com a aplicação séria e eficiente da legislação penal. Precisamos confiar que, em outros juízos, se vai ter um tratamento com o mesmo grau de seriedade e eficiência”.

Para Barroso, a decisão do Supremo, quanto à livre distribuição e ao desmembramento, foi uma decisão técnica. “De uma certa forma, ela passa o recado de que todos os juízes têm competência e devem se empenhar para dar celeridade e eficiência a esses processos de corrupção”, afirmou.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral Carlos Ayres Britto afirmou ontem não ver "perigo de golpe" contra a presidente Dilma Rousseff, caso as instituições de investigação atuem "nos marcos da Constituição".

"Eu não vejo perigo de golpe se as instituições controladoras do poder, o Ministério Público, a própria cidadania, considerada como instituição extra pública estatal de investigação, os tribunais de contas, se todas atuarem nos limites, nos marcos da Constituição não há que se falar de golpe", disse.

##RECOMENDA##

Em resposta a movimentos de opositores e de setores da sociedade que defendem a saída da presidente antes do fim do mandato, Dilma e aliados do governo voltaram a rechaçar a ofensiva e definiram-na como "golpismo". "Ninguém está blindado contra a investigação", afirmou Britto.

Ao ser questionado sobre a situação atual da presidente - que é alvo de um processo no TSE movido pelo PSDB contra sua campanha no ano passado e também corre o risco de ter as contas de 2014 rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) - Ayres Britto reconheceu o cenário difícil vivido por Dilma. "Pelo andar da carruagem, a situação não está boa em nenhuma das duas instâncias."

O ex-ministro, contudo, evitou se manifestar pela condenação ou pela inocência de presidente em ambos os casos. "Não quero avançar em um juízo técnico de antecipação de resultado", comentou.

Mensalão

Durante a entrevista, Ayres Britto, que presidiu o Supremo no começo do julgamento do mensalão, relembrou o caso e disse que "o grande legado" do julgamento da ação penal 470 foi mostrar que a lei vale para todos.

Ao ser questionado sobre o impacto para os magistrados de julgar casos com grande repercussão popular, Ayres Britto disse que a opinião pública "incentiva o julgador". "Nesses momentos, de expectativa social mais aguda, evidente que o juiz é humano, ele sabe que os olhos mais acesos da própria Nação estão focados sobre ele. Ele se toma naturalmente de um empenho maior."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ex-ministro Ayres Britto, avaliou nesta segunda-feira (10) que o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, preenche as condições exigidas para se tornar membro da Suprema Corte. Desde a aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa, o nome de Cardozo é um dos mais cotados nos bastidores para assumir a vaga.

"Eduardo preenche as condições exigidas para ser ministro", respondeu ao ser questionado pelo Broadcast, serviço da Agência Estado de notícias em tempo real, sobre o que achava da possível indicação de Cardozo, que é advogado, professor de Direito Constitucional e procurador licenciado do Município de São Paulo. O ex-ministro fez questão de deixar claro, contudo, que só tem acompanhado a especulação em torno de nomes pela imprensa.

##RECOMENDA##

O nome de Cardozo estaria sendo rejeitado por alguns líderes do PMDB no Congresso, como os senadores José Sarney (AP), Eunício Oliveira (CE) e Lobão Filho (MA). Segundo reportagem publicada nesta segunda-feira pela Folha de S. Paulo, eles estariam se articulando para barrar a indicação porque ficaram incomodados com ações da Polícia Federal que atingiram alguns líderes do partido durante a campanha deste ano.

Gilmar Mendes

Ayres Britto evitou comentar a recente declaração do ministro Gilmar Mendes de que o tribunal corre o risco de se converter em uma "corte bolivariana" em razão da possibilidade de os governos petistas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff terem nomeado 10 dos 11 ministros que compõem o tribunal. "Prefiro me abster dessa discussão", afirmou.

Britto defendeu que é "chegada a hora de discutir com mais foco" a idade da aposentadoria compulsória, atualmente em 70 anos, "não apenas para o STF, mas para todo o funcionalismo público". Atualmente, tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 457/05, conhecida como "PEC da Bengala", que prorroga para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória de ministros do STF. A matéria foi aprovada em 2005 pelo Senado e aguarda votação da Câmara.

Questionado se concorda com essa ampliação, Ayres Britto se disse "mais favorável" a uma discussão sobre a adoção de mandatos para os ministros do STF do que em relação à idade para a compulsória. "Temos que discutir se é um mandato vitalício ou temporário e, entre os dois, me posiciono favorável ao temporário", afirmou, defendendo que os integrantes da Corte deveriam ter mandato entre nove e 12 anos, como, segundo ele, ocorre em outros países.

Aposentado compulsoriamente desde novembro de 2012 após nove anos como integrante do STF, o ex-ministro afirmou ainda que, na época em que estava na Corte, não moveu "uma palha" no sentido de tentar ampliar a idade para aposentadoria compulsória. "Se entrei só por uma vaga de alguém que se aposentou, como na minha vez vou me pronunciar sobre isso?", questionou Britto, para cuja vaga a presidente Dilma indicou o atual ministro Luís Roberto Barroso.

A discussão sobre a PEC das Bengalas voltou à tona após a reeleição de Dilma. Cinco dos dez ministros da composição atual (Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki e Rosa Weber) do STF farão 70 anos de idade nos próximos quatro anos. Com isso, até o fim do segundo mandato, a petista poderá indicar seis ministros para o STF (além dos cinco citados antes, a presidente vai indicar alguém para a vaga de Joaquim Barbosa). Isso fará com que, em 2016, somente um componente da Corte não tenha sido indicado por um governo do PT. No caso, Gilmar Mendes, indicado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Conhecido por seu notório discurso de defesa da liberdade plena de imprensa, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou na tarde desta quinta-feira, 26, sua avaliação de que a mídia é o espaço para o debate aberto e para as críticas, inclusive ao Judiciário. "Cada autoridade pública que se dote de fortaleza psicológica para administrar com sensatez e serenidade o que lhe possa parecer assédio da imprensa", disse o ex-ministro, em entrevista exclusiva ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, no mesmo dia em que seu colega ministro Celso de Mello afirmou, em entrevista à Folha de S. Paulo, que houve uma "tentativa de subjugação midiática da consciência crítica do juiz" durante a fase de análise dos embargos infringentes no processo conhecido como mensalão.

Britto afirmou que nunca se sentiu pressionado durante seus anos no STF e que o raciocínio é o mesmo para que a Corte se blinde da opinião pública no geral, não só da mídia: "os ministros do Supremo, os membros do Judiciário em geral que devem persistir no seu equilíbrio para administrar os transes da vida".

##RECOMENDA##

Ayres Britto deixou a Corte em novembro do ano passado, no meio do julgamento do processo do mensalão, ao completar 70 anos. Ele participou nesta quinta-feira de um seminário sobre direito constitucional na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ao responder uma pergunta da plateia sobre o que o STF ainda deve à sociedade, Britto lembrou que a Corte entendeu que a Constituição recepcionou a Lei de Anistia. "Eu fui voto vencido, eu disse que a Lei de Anistia não foi recebida pela Constituição. E esse tema me tortura."

Ele aproveitou a resposta para citar que "há remédios contra os excessos do judiciário" e mencionou o sistema recursal brasileiro. "Não se pode impedir a imprensa de falar primeiro sobre as coisas e não se pode impedir o Poder Judiciário de falar por último", disse o ex-ministro, que completou: "Eu não temo a tirania do Poder Judiciário porque a Constituição criou antídotos eficazes, como um sistema recursal que é pródigo como nenhum outro sistema recursal. E inclusive em matéria penal nós tivemos o exemplo recentemente".

Em sua palestra, o ex-ministro transmitiu a uma sala lotada de estudantes e juristas alguns de seus ensinamentos na área e também com seus poemas. "Eu vivo em estado de poesia", brincou o jurista, que citou Fernando Pessoa, Nelson Gonçalves e a cantora Ana Carolina em sua exposição.

A inércia do legislativo faz com que o Supremo Tribunal Federal (STF) seja jogado a um "experimentalismo decisório", em que os ministros precisam analisar questões específicas pela ausência de leis, avalia o ex-ministro da Corte Carlos Ayres Britto. "Nós estamos fazendo um experimentalismo decisório necessário, inevitável. Diante da inércia do legislador nós temos que nos apropriar conceitualmente de temas dificílimos, especialíssimos", comentou Britto, que ilustra com o julgamento de questões de caráter tributário como a análise de concessão de benefícios fiscais. Com a sua atuação, a Corte se expõe a críticas "de que está protagonizando ações normativas, de que tornou-se um Supremo ativista, substitutivo do Congresso Nacional, e portanto usurpador", aponta o ex-ministro.

"Diante de certas situações em que não há uma mediação clara entre a Constituição e seus destinatários, o legislativo não ocupou o espaço que lhe cabia, o Supremo se vê na contingência de extrair da própria constituição os conceitos, as normas, de que precisa para resolver", disse Britto, em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

##RECOMENDA##

As críticas de que o STF legisla no lugar do próprio Congresso não vêm de hoje. Em 2008, o ministro Gilmar Mendes já defendeu a casa dizendo que o Supremo não poderia se calar diante da inércia do legislativo. Para Britto, "a instância política busca soluções de compromisso, busca um consenso". "No Judiciário, a decisão que se impõe não é majoritária, é o preço que se paga pela independência. O Judiciário é independente para assumir posições antipáticas, assumir todos os riscos, inclusive essa acusação duríssima de que está usurpando função legislativa", disse o ex-ministro, nesta manhã, em palestra na capital paulista.

Ayres Britto citou o combate ao nepotismo como exemplo de posicionamento do STF frente a uma ausência de atuação do legislativo. "Se o Congresso Nacional quisesse conceituar o nepotismo, poderia fazer, mas não fez. O que disse o Supremo? Se a Constituição consagra os princípios da eficiência, igualdade, moralidade, impessoalidade, a todas as luzes o nepotismo é uma colisão frontal e mortal a esses quatro princípios", ilustrou. "O Supremo sabe que muitas vezes está diante de um vespeiro. Não cabe ao Supremo por exemplo fazer a reforma política, isso é papel do Congresso Nacional. Mas se o Congresso, volto a dizer, não tem a obrigação de legislar, o Judiciário é obrigado a julgar", disse o ex-ministro.

Há algumas semanas, a relação entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso ficou tensa por conta da liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes que sustou a votação de projeto de lei que dificulta a criação de novos partidos. A atuação foi vista como uma resposta para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que aprovou admissibilidade de emenda que limita os poderes da Corte. Representantes dos dois poderes chegaram a se encontrar para colocar panos quentes no imbróglio, mas houve críticas de ambos os lados. Para Britto, não há excessos no comportamento do Supremo e a liminar de Mendes, como decisão monocrática, é provisória, para uma situação emergencial. "Às vezes um ministro é obrigado a decidir sozinho, porque não há tempo para esperar pela decisão colegiada sob pena de se perpetrar um prejuízo praticamente irreparável. Quando falo de não excessividade, estou falando no plano colegiado".

A ausência de atuação do legislativo, lembra o ex-ministro, é um impasse que deixa o próprio Supremo em situação delicada. A Corte não tem poder de impor algo ao Congresso e, quando pede que o Legislativo produza uma norma em um determinado prazo, não pode cobrá-lo pelo não cumprimento. "Quando o Supremo impõe ao Congresso Nacional que em um prazo produza uma norma, está elaborando uma decisão fadada à ineficácia, porque o Congresso só acata se quiser. E não existe decisão judicial que signifique um mero conselho, um aviso."

Matéria tributária

Questionado sobre o alongamento das discussões constitucionais tributárias, o ex-ministro reiterou que o legislador "poderia ajudar muito" o Supremo, com uma atualização do Código Tributário Nacional, por exemplo. Atualmente, o STF já se manifestou sobre a chamada guerra fiscal - concessão de incentivos e benefícios pelos Estados -, mas a reforma do ICMS aguarda uma decisão do Congresso.

"O tributo cumpriria o papel de reduzir desigualdades regionais, mas na prática as respostas decisórias do Supremo têm sido lentas e isso tem gerado também perturbação no funcionamento do sistema tributário", reconhece Britto, que chamou de "caótico" o sistema tributário brasileiro.

"Nossos governantes padecem de uma voracidade fiscal. É impressionante como o Estado brasileiro confunde fisco com confisco", disse o ex-ministro do STF. Quem é governador de Estado se encontra no impasse, de acordo com Britto, se encontra no impasse: "ou cumprir rigorosamente a Constituição, até abrindo mão de todos os incentivos, ou não se viabiliza, não se dá governabilidade a seu Estado".

A inércia do legislativo faz com que o Supremo Tribunal Federal (STF) seja jogado a um "experimentalismo decisório", em que os ministros precisam analisar questões específicas pela ausência de leis, avalia o ex-ministro da Corte Carlos Ayres Britto. "Nós estamos fazendo um experimentalismo decisório necessário, inevitável. Diante da inércia do legislador nós temos que nos apropriar conceitualmente de temas dificílimos, especialíssimos", comentou Britto, que ilustra com o julgamento de questões de caráter tributário como a análise de concessão de benefícios fiscais. Com a sua atuação, a Corte se expõe a críticas "de que está protagonizando ações normativas, de que tornou-se um Supremo ativista, substitutivo do Congresso Nacional, e portanto usurpador", aponta o ex-ministro.

"Diante de certas situações em que não há uma mediação clara entre a Constituição e seus destinatários, o legislativo não ocupou o espaço que lhe cabia, o Supremo se vê na contingência de extrair da própria constituição os conceitos, as normas, de que precisa para resolver", disse Britto, em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

##RECOMENDA##

As críticas de que o STF legisla no lugar do próprio Congresso não vêm de hoje. Em 2008, o ministro Gilmar Mendes já defendeu a casa dizendo que o Supremo não poderia se calar diante da inércia do legislativo. Para Britto, "a instância política busca soluções de compromisso, busca um consenso". "No Judiciário, a decisão que se impõe não é majoritária, é o preço que se paga pela independência. O Judiciário é independente para assumir posições antipáticas, assumir todos os riscos, inclusive essa acusação duríssima de que está usurpando função legislativa", disse o ex-ministro, nesta manhã, em palestra na capital paulista.

Ayres Britto citou o combate ao nepotismo como exemplo de posicionamento do STF frente a uma ausência de atuação do legislativo. "Se o Congresso Nacional quisesse conceituar o nepotismo, poderia fazer, mas não fez. O que disse o Supremo? Se a Constituição consagra os princípios da eficiência, igualdade, moralidade, impessoalidade, a todas as luzes o nepotismo é uma colisão frontal e mortal a esses quatro princípios", ilustrou. "O Supremo sabe que muitas vezes está diante de um vespeiro. Não cabe ao Supremo por exemplo fazer a reforma política, isso é papel do Congresso Nacional. Mas se o Congresso, volto a dizer, não tem a obrigação de legislar, o Judiciário é obrigado a julgar", disse o ex-ministro.

Há algumas semanas, a relação entre o Supremo Tribunal Federal e o Congresso ficou tensa por conta da liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes que sustou a votação de projeto de lei que dificulta a criação de novos partidos. A atuação foi vista como uma resposta para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que aprovou admissibilidade de emenda que limita os poderes da Corte. Representantes dos dois poderes chegaram a se encontrar para colocar panos quentes no imbróglio, mas houve críticas de ambos os lados. Para Britto, não há excessos no comportamento do Supremo e a liminar de Mendes, como decisão monocrática, é provisória, para uma situação emergencial. "Às vezes um ministro é obrigado a decidir sozinho, porque não há tempo para esperar pela decisão colegiada sob pena de se perpetrar um prejuízo praticamente irreparável. Quando falo de não excessividade, estou falando no plano colegiado".

A ausência de atuação do legislativo, lembra o ex-ministro, é um impasse que deixa o próprio Supremo em situação delicada. A Corte não tem poder de impor algo ao Congresso e, quando pede que o Legislativo produza uma norma em um determinado prazo, não pode cobrá-lo pelo não cumprimento. "Quando o Supremo impõe ao Congresso Nacional que em um prazo produza uma norma, está elaborando uma decisão fadada à ineficácia, porque o Congresso só acata se quiser. E não existe decisão judicial que signifique um mero conselho, um aviso."

Matéria tributária

Questionado sobre o alongamento das discussões constitucionais tributárias, o ex-ministro reiterou que o legislador "poderia ajudar muito" o Supremo, com uma atualização do Código Tributário Nacional, por exemplo. Atualmente, o STF já se manifestou sobre a chamada guerra fiscal - concessão de incentivos e benefícios pelos Estados -, mas a reforma do ICMS aguarda uma decisão do Congresso.

"O tributo cumpriria o papel de reduzir desigualdades regionais, mas na prática as respostas decisórias do Supremo têm sido lentas e isso tem gerado também perturbação no funcionamento do sistema tributário", reconhece Britto, que chamou de "caótico" o sistema tributário brasileiro.

"Nossos governantes padecem de uma voracidade fiscal. É impressionante como o Estado brasileiro confunde fisco com confisco", disse o ex-ministro do STF. Quem é governador de Estado se encontra no impasse, de acordo com Britto, se encontra no impasse: "ou cumprir rigorosamente a Constituição, até abrindo mão de todos os incentivos, ou não se viabiliza, não se dá governabilidade a seu Estado".

O uso de recursos públicos para viagens de avião feito por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) não é um problema ético, desde que respeitada a resolução da própria casa que versa sobre o tema, defende o ex-ministro Carlos Ayres Britto. "Desde que você atue nos moldes da razoabilidade e da proporcionalidade de que trata a resolução, não há o que censurar", disse o ministro, na saída de palestra realizada na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo desta segunda-feira mostra que o total gasto pelo STF em passagens para os ministros e suas mulheres em quatro anos foi de R$ 2,2 milhões. Os dados foram levantados com base em informações oficiais divulgadas pela Corte. Entre os ministros que realizaram viagens com esposas, o jornal aponta o nome de Ayres Britto.

##RECOMENDA##

De acordo com o ministro, durante o período em que presidiu o STF recebeu convites para "quatro, cinco ou seis" conferências internacionais. Dentre estas, escolheu uma, para a qual "tinha contribuição para dar". "Eu como presidente viajei uma vez, fui fazer uma conferência em Veneza (Itália), em uma instituição de que o Supremo é signatário. Fui, fiz minha exposição, publiquei um texto, mas isso é regimentalmente previsto."

A resolução da Corte prevê o pagamento de passagens aéreas de acompanhantes de ministros em viagens internacionais. Além disso, os ministros têm uma cota fixa para viagens nacionais. "Eu não vejo problema (ético) se está documentado, se está autorizado, e se se usa com parcimônia, como tem sido a regra, eu quero crer", disse o ministro.

"Os ministros têm cotas de passagens e quando eles viajam em objeto de representação, por exemplo fazendo uma conferência, eles têm o direito de levar um acompanhante. Geralmente levam as esposas", explicou.

Ainda de acordo com a reportagem do jornal, entre 2009 e 2012 as mulheres de cinco ministros e ex-ministros realizaram 39 viagens, sendo 31 para o exterior.

Após uma palestra em que defendeu a democracia e a Constituição, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto disse que o julgamento do processo que ficou conhecido como mensalão foi um recado a todo o País. "O Supremo mandou um recado institucional muito claro para todo o País: ninguém está acima da lei", disse, em debate na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Ayres Britto não citou de forma nominal o mensalão - julgado como a ação penal 470 - e disse que não gostaria de entrar no mérito da causa, mas usou a decisão do STF para ilustrar o amadurecimento institucional brasileiro. Ele afirmou que além do contraditório entre acusação e defesa, houve também durante o julgamento o contraditório entre o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, e o ministro Ricardo Lewandowski, revisor. "E os dois tiveram todo o clima de liberdade para expor suas ideias, foi um momento institucional de grandeza", afirmou.

##RECOMENDA##

De acordo com ele, a democracia tem a virtude de "digerir as suas crises". "Agora é que estamos compreendendo que uma consciência de institucionalidade está tomando conta do País", disse.

Durante sua palestra para integrantes do conselho da associação, Ayres Britto afirmou que o combate à corrupção, pelos princípios trazidos pela Constituição, é feito com rigor. "Quando a corrupção é sistêmica, enquadrilhada, ela é uma declaração de guerra ao Estado de Direito e aos direitos sociais", afirmou.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto disse nesta segunda-feira, em Porto Alegre, que um conselho regulador da imprensa deve ser algo que nasça dos meios de comunicação, como é o caso do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para o Poder Judiciário. "Tem de ser algo interno", disse, ao se posicionar contra um conselho de comunicação social.

"O controle da imprensa só pode ser feito por regulação ou pela população pela liberdade da escolha. Quem é feito para controlar o governo não pode ser controlado pelo governo", afirmou. De acordo com Britto, o direito de informar é o direito do poder sem interferir no espaço de terceiros. Segundo ele, a imprensa tem de se convencer de que esse direito tem de se transformar em dever de informar corretamente. "A imprensa tem o poder da informação sem censura prévia e somente controlável por ela própria."

##RECOMENDA##

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto, aposentado desde 2012, afirmou nesta quarta-feira (19) nunca ter detectado a existência de suposto conluio entre advogados e juízes, denunciado nesta terça-feira pelo atual presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. Cauteloso, Ayres Britto evitou entrar diretamente na discussão do tema que, afirmou, deve ser investigado pelo Poder Judiciário e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em contraste com as recorrentes críticas de Barbosa, porém, destacou avaliar a Justiça de forma positiva.

"No mérito desta discussão prefiro não entrar", declarou o ex-ministro. "O meu testemunho, de membro do Poder Judiciário durante nove anos e meio e como presidente, é de que nunca detectei, nunca percebi esse conluio como característica central, absolutamente. O meu juízo sobre o Poder Judiciário brasileiro é favorável, é afirmativo. O Judiciário existe para isso (para investigar esse tipo de problema), o CNJ existe para isso. E vem cumprindo muito bem o seu papel, É de esperar que mais uma vez cumpra seu papel institucional."

##RECOMENDA##

Ayres Britto deu rápida entrevista depois de participar do painel Liberdade de Expressão Global, promovido pelo Columbia Global Centers Latin America (Rio de Janeiro), em conjunto com o Instituto Palavra Aberta, na sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Com a publicação nessa sexta-feira (16) do decreto assinado pela presidenta Dilma Rousseff (PT) no Diário Oficial da União (DOU), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Brito, estará aposentado a partir deste sábado (17). O ministro se retira de cena por chegar aos 70 anos, idade limite para os servidores públicos se aposentarem.

Durante o tempo que trabalhou como ministro e os sete meses em que esteve no comando do STF, Ayres participou de alguns julgamentos que chamaram a atenção dos brasileiros. Ele ressaltou processos que questionavam as leis relacionadas às pesquisas de células tronco, o caso Raposa Serra do Sol, cotas raciais, união estável entre pessoas do mesmo sexo e a aplicação da Lei da Ficha Limpa.

“Todos esses casos foram importantes, mas destaco aqui um caso em especial. Tiver a felicidade de promover uma jurisprudência na questão administrativa. Depois de cumprirem os 30 anos de contribuição ao INSS, os servidores poderão se aposentar e não vão perder o emprego. Isso beneficiou milhões de trabalhadores”, comentou Ayres Britto.

##RECOMENDA##

Um dos casos que mais chamou a atenção dos brasileiros é o que envolveu a compra de votos em troca de apoio político durante o governo de Lula, o julgamento do Mensalão, que levou 38 réus a responderam a uma ação penal. Mas a sentença final será proferida pelo ministro-relator do processo, que assumirá a presidência do STF, Joaquim Barbosa.

“Não perdi minha viagem como ministro e penso que 70 anos é a idade ideal para se aposentar. Conduzi muito processos entre a presteza e a segurança e o STF julgou sem se tornar refém da opinião pública", frisou. Sobre o fato de não proclamar o resultado do mensalão, ele afirmou não estar frustrado.

Ao se despedir durante a sessão da última quarta-feira (14), o ministro reforçou que o STF está mudando a cultura do País a partir da Constituição Federal. “Somos os guardiões da Constituição”, contou Ayres Brito, ao falar que não é saudosista e que não faz muitos planos para o futuro. “Agora que estou me aposentando, tenho um livro de poesia para publicar e outro sobre direito que vou terminar de escrever”, revelou.

Ayres Brito nasceu na cidade de Propriá, interior de Sergipe. Graduado em direito pela Universidade Federal de Sergipe (UFSE), ficou conhecimento no meio jurídico como professor universitário.

Em Sergipe também exerceu a função de Procurador Geral de Justiça e Procurador do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ele também trabalhou como assistente do atual vice-presidente da República, Michel Temer, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

Ayres Britto é autor de cinco livros sobre direito constitucional e administrativo, além de outros cinco livros de poesia. Assumiu o cargo de ministro ao ser indicado para a mais alta Corte do país pelo ex-presidente Lula (PT), em 2003.

O nome do substituto do ministro Carlos Ayres Britto - que se aposenta no domingo (18) ao completar 70 anos - no Supremo Tribunal Federal ainda não foi definido. Mas o perfil, sim. A presidente Dilma Rousseff quer alguém técnico e discreto, tal qual Teori Zavascki, sua escolha para substituir Cezar Peluso, que se aposentou em agosto. O novo nome não participará da dosimetria das penas do mensalão, mas certamente julgará os recursos que serão apresentados pelos advogados dos 25 condenados no ano que vem. E será este novo ministro o relator da ação penal do chamado mensalão mineiro - suposto esquema de desvio de dinheiro público para bancar a tentativa fracassada de reeleição do ex-governador mineiro e ex-presidente do PSDB, o hoje deputado Eduardo Azeredo -, processo que setores do PT veem como revanche contra a oposição.

Também será o próximo ministro que cuidará do processo aberto em setembro a partir do depoimento prestado pelo empresário Marcos Valério ao Ministério Público em meio ao julgamento do mensalão. No depoimento, há menções a Lula, ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e ao assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.

##RECOMENDA##

Novamente, o nome do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, aparece na lista de cotados. Desta vez, com um detalhe adicional. Adams foi sondado no último ano do governo Lula para ocupar uma das vagas do tribunal. O ex-presidente segurou a indicação e deixou o governo sem formalizar a escolha. Lula deixou para Dilma Rousseff a definição. Preterido pelo ministro Luiz Fux, foi dito a Adams que a vaga de Ayres Britto poderia ser sua.

Mas Adams é também peça disponível para a presidente mexer na reforma ministerial. Ele poderia deixar a AGU e ser nomeado para a Casa Civil na vaga de Gleisi Hoffmann. Neste caso, sua indicação para o Supremo poderia novamente ser frustrada ou simplesmente postergada. Outros nomes são mencionados nessa corrida. Heleno Torres, amigo pessoal de Adams, é tributarista e professor da Universidade de São Paulo. Humberto Bergmann Ávila, gaúcho, também tributarista, teve o currículo elogiado por auxiliares da presidente. Há pressão, ainda, para que Dilma nomeie um jurista do Nordeste, em substituição ao sergipano Ayres Britto.

A escolha, apostam auxiliares da presidente, deve ser rápida, assim como ocorreu com o ministro Teori Zavascki - uma semana após a aposentadoria de Cezar Peluso.

Até o fim do mandado da presidente Dilma, nenhum dos integrantes da Corte completará a idade limite de 70 anos. Entretanto, ministros do Supremo dão como provável a aposentadoria antecipada do ministro Celso de Mello. A possibilidade é aventada pelo próprio ministro faz três anos em razão, especialmente, de problemas de saúde. Segundo um colega, ele deve requerer a aposentadoria em março próximo. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, comanda nesta quarta-feira (14), pela última vez, o julgamento da Ação Penal 470, o processo do mensalão. Ele completa 70 anos no domingo (18) e, por isso, terá de se aposentar compulsoriamente. Na sexta-feira (16), Ayres Britto encerra o período na presidência da Corte Suprema. Ele disse que deixará a instituição com “o sentimento de dever cumprido”.

Ayres Britto não participará do fim do julgamento do mensalão, que deve ocorrer apenas em dezembro. Ele ficou no comando do STF desde o início do julgamento, há quatro meses. O presidente negou que se sinta frustrado por não participar do término do julgamento.

##RECOMENDA##

"Estou virando uma página e estou fazendo com alegria. Não perdi minha viagem como ministro do Supremo, estou certo disso, porque dei o máximo de mim. Fiz tudo com devoção, alegria, amor e responsabilidade. Isso me deixa extremamente feliz. Eu saio sem nenhuma nostalgia ou tristeza", disse o ministro.

Ayres Britto ficou menos de dois anos no comando do STF, devido à aposentadoria compulsória. A gestão foi marcada por julgamentos históricos, como o da Ação Penal 470 e o que autorizou a interrupção da gestação de anencéfalos, além da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Nessa terça-feira(13) ele se despediu do comando do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Britto negou que tenha sugerido um mutirão no Supremo para agilizar o fim do processo do mensalão. "Queria tocar o processo em um ritmo compatível entre presteza e segurança. O que eu não queria incidir, como não fiz, foi em pressa, porque isso prejudicaria a segurança do julgamento. Se não der para eu proclamar [as sentenças], o ministro Joaquim [Barbosa] o fará, e isso não me frustra em nada", explicou.

A partir de segunda-feira (19), a Corte Suprema será presidida interinamente pelo ministro Joaquim Barbosa – que é o relator do processo do mensalão. No dia 22, Barbosa assume como titular a presidência do STF e terá como vice-presidente Ricardo Lewandowski, que é o ministro revisor da Ação Penal 470. Barbosa disse que sua gestão deverá ser marcada pela transparência e simplicidade.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando