Cento e cinquenta agentes da Força Nacional de Segurança (FNS) ocuparam, no fim da manhã desta sexta-feira, o Morro Santo Amaro, no bairro do Catete, na zona sul do Rio, para dar início ao plano "Crack, é possível vencer" na cidade. Lançado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro do ano passado, o plano já atua nos Estados de Alagoas, Pernambuco e do Rio Grande do Sul. Porém, o Rio foi o primeiro Estado a requisitar a presença da FNS. Portaria publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial da União estipula prazo de permanência de 180 dias da FNS no Rio, que pode ser prorrogado se necessário.
Questionada pela reportagem, a Secretaria Nacional de Segurança Pública não informou quanto será gasto para manter a tropa na cidade pelos próximos seis meses. A partir de agora, os policiais da FNS vão permanecer 24 horas por dia na comunidade (até então dominada pelo tráfico de drogas) para dar segurança aos funcionários da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) que vão oferecer tratamento para os dependentes de crack e seus familiares.
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Regina Miki, secretária Nacional de Segurança Pública, disse que após a saída da FNS, o Santo Amaro ganhará uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). "Ficaremos o tempo necessário para que o Rio de Janeiro forme policiais para implantar uma UPP na comunidade". A Secretaria de Segurança do Estado do Rio, porém, não confirmou a informação. Segundo a Secretaria, "não se pode confundir o programa de combate ao crack do governo federal com a `Pacificação', que é um projeto de Estado".
Cerca de 50 policiais civis e militares foram os primeiros a chegar à favela, por volta das 5h30. A comunidade foi ocupada em 15 minutos, e não houve resistência dos traficantes. Os agentes encontraram um terreno baldio, à beira de uma encosta íngreme, que foi transformado numa cracolândia há cerca de quatro anos, segundo moradores. Três dependentes foram detidos no local, ainda de madrugada. Além de muito lixo, garis retiraram do terreno barracas, colchões, sofás, roupas, armários e mesas improvisados, espelhos e até um quadro de Jesus Cristo.
O Morro Santo Amaro foi escolhido por ser um ponto de distribuição de drogas para toda a zona sul e o bairro boêmio da Lapa. "O Santo Amaro tem uma característica diferente das outras 11 cracolândias identificadas no Rio. Há poucos consumidores na favela. A maioria compra a droga e vai usá-la em outros locais, como o Aterro do Flamengo, o Catete, a Glória e o Largo do Machado. Então, se houver a paralisação da venda de crack, rapidamente vamos acabar com o consumo espalhado de crack pela cidade", destacou o secretário Municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem.
A operação, planejada em sigilo durante três meses, vazou. Moradores da favela disseram que já sabiam da operação desde a noite de quinta-feira. "Os donos dos quiosques que foram derrubados já tinham retirado tudo de dentro para diminuir o prejuízo. Vários traficantes fugiram. E eu não deixei o carro na rua, como sempre faço", contou uma moradora, que pediu para não ser identificada.
Dois contêineres foram instalados no alto do morro para abrigar os agentes da FNS. Um terceiro contêiner ficará na parte baixa da favela, onde trabalharão os assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e educadores da SMAS. Além de garantir tratamento a dependentes químicos, os agentes vão cadastrar moradores no Bolsa Família, e encaminhá-los a serviços de saúde e educação.
Até o início da noite desta sexta-feira, 89 adultos e 11 adolescentes, a maioria usuários de drogas, foram acolhidos pelas equipes da SMAS no morro e em bairros do entorno. Eles foram encaminhados a abrigos da prefeitura. Agentes da Secretaria Especial da Ordem Pública (SEOP) derrubaram três quiosques instalados irregularmente em calçadas da comunidade, e apreenderam 17 carros estacionados em locais proibidos. Apesar de estar preso desde 2000, a venda de drogas no Santo Amaro era chefiada por Marcos Antônio Pereira Firmino da Silva, o My Thor. Informações da inteligência apontam que as bocas de fumo eram controladas por familiares do traficante, que cumpre pena no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná.